Parte 101AuroraA luz do quarto estava suave, dourada, como se até ela soubesse que o dia tinha sido pesado demais e que eu precisava de uma boa noite pra me recuperar. Me troquei em silêncio, de costas para ele, ouvindo o som da água pingando da torneira do banheiro e os passos lentos dele sobre o piso de madeira.— Você está cansada - ele disse atrás de mim, a voz baixa, rouca de sono ou de tudo que ficou preso na garganta durante o dia.— Estou mesmo – me virei devagar, com a camiseta dele pendurada no corpo. — Mas acho que meu coração está mais cansado que o resto. Foi muita coisa, meu Deus!Ele parou diante de mim, estudando meu rosto como se quisesse decorar cada detalhe antes de apagar a luz. Me tocou com as pontas dos dedos na cintura, quase sem peso, bem de leve e depois subiu devagar pelas minhas costas até entrelaçar os braços ao meu redor.— Você foi forte hoje - murmurou perto do meu ouvido. — Mais forte do que qualquer um esperava. Adoro esse seu jeito de me surpreender

Parte 103...Aurora— Eu imagino que esteja nervosa com tudo o que vem acontecendo, mas pelo menos você não pode reclamar de tédio em sua vida.— Isso é verdade, mas de repente, um pouco de tédio até que cairia bem.Bateram na porta. Era Carlo.— Posso entrar? – abriu um pouco a porta.— Pode sim. Estamos só conversando.— Bom, eu sinto muito cortar vocês, mas temos que ir embora.— Pensei que fossem ficar para almoçar com a gente.— Dessa vez não vai dar, a não ser que você queira ficar, amor – enrolou o dedo no cabelo de Diana — Eu mando um dos seguranças te levar depois.— E por que não dá pra você ficar? – perguntei cruzando os braços.— Tenho que falar com um associado sobre um novo acordo.Carlo lançou aquele olhar de quem não quer dar mais detalhes. O tipo de olhar que significa que tem coisa demais por trás. Eu nem vou perguntar porque aprendi em casa com meu pai, que quanto menos eu souber desse trabalho deles, é melhor.Sempre que minha mãe questionava algo, logo depois vinh

Parte 105...DomenicoEu liguei para Carlo e ele atendeu já no terceiro toque. Sua voz parecia normal.— Carlo, o que está fazendo? – sondei.— Ora, o que eu posso estar fazendo meu irmão? Eu disse que tinha um encontro com um associado. Ele acabou de sair daqui e...— Então, você não está sabendo ainda?— Sabendo de que, homem?Eu puxei o ar, coçando a testa com preocupação. Eu seria o primeiro a contar. É de lascar.— Fale logo, Domenico. O que foi?— É a Diana. Ela sumiu.Silêncio. Tive que continuar, mesmo com o gosto de amargo na boca porque sei que ele deve ter ficado puto.— Ela saiu de casa mais cedo, a babá ligou dizendo que o Giancarlo engasgou com comida, e ela ficou bem preocupada, querendo ir para casa e não queria esperar para que você mandasse alguém. Eu não sabia que ela ia sair, estava ajeitando a reforma da casa da piscina. Ela pegou um táxi. Não chegou em casa ainda e nem ligou para Aurora.A respiração dele mudou no ato. Era de se esperar isso. Eu nem sei o que far

Parte 107...DianaMeu pai vai ficar possesso quando souber e vai vir com tudo em cima dele, Teodoro sabe disso e por isso deve estar tão estressado. Sua expressão e seu modo agitado me dizem isso. É a última tentativa dele. O que é mais preocupante.— Você acha que eu não sei o que está em jogo? Pois eu sei mais do que você, sua moleca mimada, acostumada a ser paparicada por todos.— Seria muito mais inteligente de sua parte que você me deixasse ir – tentei negociar — E pode aproveitar e entregar os nomes de quem está te ajudando a se esconder, vai ser bem melhor e isso pode lhe dar alguma vantagem, meu marido pode até deixar que você desapareça de novo.Ele riu. Mas não foi uma risada normal. Foi rouca, trêmula, como se cada som arranhasse por dentro antes de sair. Passou a mão pelos cabelos desgrenhados, que pareciam mais grisalhos do que da última vez que o vi. Seus olhos estavam fundos, vermelhos, e algo neles me dizia que ele já não estava inteiro ali. Talvez nunca tivesse estad