《Matteo》Levo alguns segundos para processar tudo o que acabo de descobrir. Meu sangue ferve. Não posso — e não vou — deixar as coisas como estão.Levanto da cadeira com um impulso seco. O arrastar do móvel contra o piso ressoa alto, destoando do silêncio sufocado da sala. Meus passos ganham ritmo, duros, decididos, como se cada pisada servisse para conter a raiva que me consome por dentro.Aperto o botão do elevador com força desnecessária e, assim que as portas se abrem, entro como se estivesse atravessando um campo de batalha. Desço direto para o sexto andar, onde sei que encontrarei Rubia — a secretária de Diego.Assim que me vê, os olhos dela se arregalam por um instante, e ela se levanta de imediato, visivelmente tensa.— Bom dia, senhor. Como posso ajudá-lo?— Diego já chegou? — disparo, seco, direto. Estou tão tomado pela irritação que mal consigo controlar o tom de voz.— Sim, ele está... — ela começa a responder, mas não espero que termine. Passo por ela sem hesitar, em dire

《Diego》 Subo direto para a cobertura. Meus passos ecoam no corredor silencioso, abafados pelo carpete espesso que cobre o chão. As luzes frias embutidas no teto lançam um brilho clínico sobre as paredes de vidro fosco da sala de reuniões. Ao empurrar a porta, deparo apenas com Matteo, Felix e Catarina. Meus olhos percorrem o espaço, atentos. Esperava encontrar mais gente ali — sócios, acionistas, alguém gritando, questionando, batendo na mesa. Nada. Um silêncio estranho, como se estivéssemos dentro do olho do furacão. Talvez os outros ainda não tenham lido a matéria. Talvez estejam reunidos em outro andar, digerindo o escândalo em silêncio. Um alívio temporário... mas isso não me preocupa. Se for preciso, eu mesmo me encarrego de levá-los até o caos. — Desculpa a demora — digo, ajustando o tom para parecer neutro, quase distraído. — Não sabia dessa reunião. Catarina está sentada de pernas cruzadas, o salto balançando discretamente. Sua pose tenta sugerir elegância, mas a tensão

《Pablo》 Depois do episódio no restaurante, comecei a investigar Matteo com mais afinco. Vasculhei tudo — os amigos, os hábitos, os rastros que deixava. Queria saber de onde vinha o dinheiro. Sempre me perguntei como aquele idiota conseguiu abrir aquela espelunca que insiste em chamar de restaurante. Estava convencido de que havia algo sujo por trás. Talvez lavagem de dinheiro. Talvez desvio. Qualquer coisa. Mas, para minha decepção, acabei descobrindo que ele era funcionário de uma das maiores — senão a melhor — empresa de tecnologia de Nova York. Aquilo me irritou profundamente. Queria vê-lo cair. Queria vê-lo demitido, arruinado. Sem status, sem carreira, sem valor. Tinha plena certeza de que Sthephania não ficaria ao lado de um fracassado, e que Cárter jamais aceitaria que a filha se envolvesse com um homem falido e sem perspectivas. Bastava destruir sua base. Foi então que descobri Diego. Um dos amigos próximos de Matteo, aparentemente leal... mas atolado em dívidas por c

《Pablo》 A sala de reuniões estava abafada, o ar denso como se pesasse sobre os ombros. Cárter falava no tom habitual — preciso, frio, quase mecânico — enquanto meu pai o ouvia com aquela expressão pétrea. Eu tentava acompanhar, mas as palavras escapavam, dissolvendo-se em estratégias processuais, clientes, números… Tudo distante, irrelevante. O toque estridente do celular cortou o marasmo como uma lâmina. A vibração ecoou sobre a mesa polida, denunciando minha presença. Meu pai e Cárter me fitaram, igualmente irritados. Recusei a ligação. Segundos depois, o aparelho voltou a chamar, insistente. — Atenda. — A voz do meu pai foi seca, irrefutável. Levantei-me, ajeitei o paletó e saí. O corredor silencioso me envolveu como um suspiro de alívio. 📱 Ligação — Quem é? — rosnei. — Finalmente! — a voz de Diego carregava um peso sufocante, misto de urgência e desespero. — Preciso da sua ajuda. Uma risada seca escapou de mim, carregada de incredulidade. — Da minha ajuda? — r

《Sthephania》 Havia se passado quase um mês desde os acontecimentos do dia em que Matteo revelou ser o rosto por trás da L&V Technology. Nesse intervalo, muita coisa aconteceu. Diego morreu na prisão durante uma tentativa frustrada de fuga. O silêncio que se seguiu à notícia foi pesado, como se ninguém ousasse comentar. Poucos dias depois, Catarina reapareceu. Já não era a mulher altiva e calculista que eu conhecia. Estava diferente — os ombros menos erguidos, a voz mais baixa, quase trêmula. Veio pedir desculpas a Matteo… e, para minha surpresa, também a mim. Disse que lamentava tudo e que estava deixando a cidade. No começo, desconfiei, claro. Mas, ao olhar bem em seus olhos, algo me dizia que falava a verdade. O brilho arrogante de antes havia desaparecido; em seu lugar, restava um cansaço profundo, quase resignado. ——— Hoje, como em todas as manhãs, despertei sentindo o calor de Matteo ao meu lado. Seu braço repousava sobre minha cintura num abraço suave, mas firme, como se, mes