Ponto de vista do CalvinA Stevie estava ali há três dias, e eu comecei a achar que ela estava começando a ficar incomodada com o fato de todo mundo tentar cuidar dela.Ela passava a maior parte do tempo trancada no quarto de hóspedes, aparecendo apenas quando era absolutamente necessário, como na hora das refeições. Mesmo assim, ela sempre parecia se preparar para uma emboscada. Era frustrante, mas eu entendia. Ela era independente a ponto de ser teimosa, e aquele arranjo provavelmente parecia uma armadilha elaborada.Mas eu não a trouxe para lá para fazer ela se sentir encurralada. Eu a trouxe para manter ela segura, mesmo que levasse mais tempo do que eu gostaria para ela enxergar aquilo daquela forma.Eu olhei para o relógio e fechei o laptop. Ainda era pouco mais de meio-dia, e eu já tinha participado de duas chamadas de conferência e revisado um relatório de 50 páginas. Normalmente, eu teria continuado com o restante da minha lista de tarefas sem pensar duas vezes, mas naquele di

Ponto de vista do CalvinStevie estava inquieta novamente. Eu podia ver aquilo pelo jeito que ela ficava ajustando o cobertor no colo e batendo os dedos contra o braço do sofá. Ela tentava esconder, mas eu sabia melhor.— Você está entediada. — Eu disse, observando ela de longe, da sala.— Não estou. — Ela respondeu, com um tom defensivo.Levantei uma sobrancelha.— Você está mudando os mesmos três canais o tempo todo. Ou você está entediada, ou desenvolveu uma obsessão bem específica por infomerciais.Ela suspirou e jogou o controle remoto na mesa de café.— Tá bom, tá bom. Eu estou entediada. Feliz agora?— Não muito. — Eu disse, me levantando. — Mas eu posso resolver isso.Os olhos dela estreitaram.— O que isso significa?— Você vai ver. — Eu falei, indo em direção ao corredor.— Calvin! — Ela me chamou, com a voz suspeita.Eu não respondi.********************Uma hora depois, as luzes da cobertura estavam baixas e a sala de estar estava transformada. Eu tinha organizado uma exibi

Ponto de vista da StevieO zumbido suave do sistema de ventilação da cobertura estava me irritando mais do que o normal naquele dia. Ou talvez fosse só a minha inquietação que deixava tudo mais evidente， o som do meu pé batendo no chão, o tique-taque quase inaudível de um relógio absurdamente caro que o Calvin jurava ser "decorativo".Ficava passando o dedo pela tela do celular, sem nem prestar atenção de verdade, só tentando não entrar em parafuso. Aí o Calvin entrou, carregando uma caixa como se fosse o Papai Noel.— O que é isso? — Perguntei, olhando para ele com desconfiança.— Um projeto. — Respondeu ele, colocando a caixa na mesa de centro.— Um projeto? — Repeti. — Você fala como se fosse tirar tinta guache da mochila.Ele deu aquele sorriso convencido.— Não exatamente. Mas acho que você vai gostar.Aquele era o problema com o Calvin. Ele era irritantemente confiante. E aquilo conseguia ser ao mesmo tempo frustrante e... Intrigante. Ele abriu a caixa e revelou...Livros. Um mon

Ponto de vista da StevieO envelope parecia caro. Papel grosso, cor creme, letras douradas em relevo e o nome do Calvin escrito com uma caligrafia que provavelmente custava mais do que minhas compras do mês. Ele o encarava como se fosse uma intimação judicial.— O que é isso? — Perguntei, encostando no balcão da cozinha com minha caneca de chá na mão.— Um convite. — Respondeu ele, com o tom seco.Revirei os olhos e continuei:— Isso eu percebi, Sherlock. Mas para quê?Calvin suspirou e jogou o envelope no balcão.— Um evento da família Lancaster. Baile anual. Um exagero ridículo.— Parece divertido. — Falei, com um sorriso de canto.— Na verdade, não é. — Retrucou ele, sem emoção.Eu ri e disse:— Ah, qual é. Pode ser tão ruim assim? Roupa chique, comida de graça, provavelmente um open bar...Ele arqueou uma sobrancelha.— Você está grávida.— Tá bom. Drinks sem álcool. — Falei, largando a caneca. — Ainda parece melhor do que ficar aqui parada.A expressão dele suavizou, mas havia hes

Ponto de Vista da StevieO salão de baile Lancaster brilhava como algo saído de um sonho, todo à luz de velas suaves e reflexos de cristal. Mas a tensão que pairava no ar não tinha nada de onírica.Eu estava encostada perto de uma escadaria imponente, rolando as fotos na câmera para ter certeza de que não estavam completamente horríveis. A maioria saíra boa, algumas até bem decentes, mas era difícil me concentrar com o burburinho constante de sussurros e olhares.Ajustei a alça da câmera no ombro e dei uma olhada ao redor do salão. Calvin estava do outro lado, conversando com um grupo de homens que pareciam todos trabalhar como CEOs nas horas vagas. Ele cruzou o olhar comigo por um segundo, e eu juro que vi alguma coisa no olhar dele. Preocupação, talvez. Ou irritação.Tanto faz. Eu estava bem.— Está se divertindo?A voz soou cortante, familiar, carregada de uma polidez falsa. Eu nem precisei me virar para saber que era a Victoria St. James.Olhei por cima do ombro e vi ela parada ali