narração: SaraNão era pra eu estar ali. Não com o coração doendo daquele jeito. Mas Luciano era tão leve, tão... diferente. E às vezes, quando a gente tá no fundo do poço, qualquer luzinha parece sol.Ele segurava a taça de vinho com aquela cara de quem tava pronto pra arrancar um segredo de mim. E eu, já um caco humano, com vontade de desabafar tudo.— E por que você não vai beber?Sorri sem graça. Não era hora de entrar em detalhes. Só balancei a cabeça, olhando pro anel no meu dedo como se ele soubesse das dores que eu carregava.— Não posso... deixa pra outro dia.Ele se inclinou como um fofoqueiro de plantão, farejando escândalo.— Ok! Mas me conta sobre esse amor escondido agora, tô curioso!Soltei uma risada triste. Aquelas que vêm com um gosto de saudade e arrependimento.— Às vezes eu acho que Deus pensou em tudo, só escolheu o homem errado... kkkk.Os olhos dele arregalaram como se eu tivesse dito que namorei um alien.— Como assim?Respirei fundo. Já tava ali mesmo, né? Qu

narração: SaraEu tinha feito o teste, mas meu corpo gritava a verdade que eu teimava em ignorar. Eu estava grávida. E, pior, ainda amava o pai da criança com uma intensidade doentia.— sim,tem bebê — murmurei, sentindo um arrepio me tomar. — Eu tô grávida mesmo. Mas não diz nada pra Carmem nem pro Rodrigo, ainda não tô preparada... Depois de tudo, eu não sei se é o momento certo...Luciano me olhou com aquele sorriso de quem sabe mais do que devia, mas manteve o respeito.— Eu não vou falar nada, gata. A vida é sua...Olhei para o relógio e suspirei. Já eram três da manhã. Vinícius, se fosse como antes, já teria chegado em casa. E eu estaria acordando com o cheiro do banho dele, com ele me provocando com aquele corpo molhado, deitado ao meu lado.— Essa hora ele já estaria em casa... — murmurei, com a garganta apertada. — Me acordando com o cheiro de quem acabou de tomar banho... E a gente...Luciano riu, debochado:— Ei, não sonha com ele na minha cama, viu?Tentei sorrir.— Vai se

Narrado por ViníciusEla tava brava. Mas era aquele bravo que me fazia rir. Tipo um filhote de gato tentando rosnar.— Você sempre arruma um jeito de se livrar, não é?Ai, Sara... se ela soubesse. Eu não queria me livrar de nada, só queria ficar grudado nela o resto da vida.— Não, eu não quero me livrar de nada, só quero você, meu amor. Olha, vamos sair pra almoçar fora, depois tenho uma surpresa pra você. O que me diz?Ela olhou pra mim daquele jeito que misturava raiva e vontade. Eu já conhecia bem.— Ah, meu Deus... Tá bom, mas agora deixa eu tomar banho, anda! Você me deixou assim, toda suada...Toda suada. Toda minha. Toda perfeita.— Não, eu vou tomar banho com você.— Não, você não vai! Sai!Ai... tá bom. Saí. Com cara de cachorro sem dono. Nem nego. Saí tipo criança que teve o doce arrancado da mão. Mas no fundo, tava satisfeito. Ela me xingava, mas tava derretida. Eu sabia. Ela me ama. E, por Deus, eu amo essa mulher.E ela ainda resmungava, achando que eu não ouvia:— Ai,

Narração: ViníciusO fim de tarde estava com cara de filme de romance. Céu laranja, vento leve, e eu do lado da mulher mais linda — e mais difícil — que já conheci. Meu coração tava uma mistura de ansiedade com medo, mas também um certo orgulho besta, tipo: “Olha onde você chegou, Vinícius. Quase perdeu tudo, mas ainda tem uma chance...”Eu tentei quebrar o silêncio antes que minha cabeça inventasse mil catástrofes.— Então você viu... Ela não me expulsou porque você estava comigo. Eu disse mais Claro que a Sara não perdeu a chance de debochar. E eu juro que essa parte dela é irresistível — mesmo quando me dá vontade de socar a parede.— Kkk, ela nem lembra de você.— Lembra sim! A cara que ela olhou pra mim... Meu Deus, ela lembra sim! — dramatizei, colocando a mão no peito, fingindo que tava morrendo. Mas acabei rindo junto. Era impossível manter a pose do machão com ela do lado.A gente seguiu andando, rindo à toa, e por dentro eu tava em contagem regressiva pra mostrar o que tinh

Narrado por SaraEra só mais um dia comum. Quer dizer, deveria ser. Mas aí Vinícius me apareceu com um livro na mão e um olhar misterioso, desses que ele usa quando está prestes a aprontar alguma coisa. Meu coração já começou a acelerar antes mesmo dele abrir a boca.Quando ele disse que tinha conseguido uma dedicatória do Anônimos Celos, eu achei que fosse brincadeira. Era bom demais pra ser verdade. Quase pulei do banco, me sentindo como uma adolescente ganhando ingresso pra ver a banda favorita. Eu queria agarrar o livro, devorar aquela página, mas ele ficou enrolando. Fazendo aquele teatrinho idiota que só ele sabe fazer — e que, irritantemente, me diverte.Mas quando eu vi que ele tava levando a sério aquela história de "prometer segredo", meu sinal de alerta apitou. Vinícius nunca é tão solene assim sem motivo. Ainda assim, jurei. Por mais idiota que fosse, eu jurei. Pela chance de ler uma dedicatória feita especialmente pra mim por aquele autor misterioso que eu tanto admirava.