Jorge pensou por um momento e não escondeu nada dela:— Por enquanto, ela ainda não voltou para o país. Parece que sofreu um pouco lá dentro... O Isaac foi buscar ela. Não se preocupe demais.Isabela entendeu. Ser enganada e levada para um lugar daqueles, sair viva já era muita sorte.Claro que ela sofreria um pouco.— Desde que esteja viva, já está bom.Naquele ponto, só dava para pensar pelo lado bom.Tanta gente nem saiu com vida... Ela, no fim das contas, teve sorte.Se não fosse o Jorge, provavelmente nem teria conseguido sair.— Fique tranquila. Vou pedir para o Isaac arrumar os melhores médicos para ela. Vamos tentar cuidar dela o melhor possível. — Disse Jorge.— Chega de falar dela. — Isabela se virou e passou os braços pelo pescoço dele. — A gente já fez o que pôde. O que vier daqui para frente, vai depender dela.Ela sabia bem o risco que tudo aquilo envolvia.O próprio Jorge quase se meteu numa enrascada por causa daquilo.E ela... Levou um tiro.Eles tinham feito mais do q

Jorge levantou o olhar.— Foi ela quem te contou isso?— Foi sim, e quem mais? Aliás, você está junto com a sua namorada agora?— Quem te falou isso? — Jorge foi até a cama grande e se sentou. Isabela o observava, pensando por que ele não tinha saído para atender a chamada.Do outro lado, veio a voz da Clara:— Ouvi o Roberto falando.Jorge franziu a testa.— Esse cara não tem nada para fazer, né?— Não é isso, eu só peguei um pouco da conversa quando ele ligou. Quero falar coisa séria com você, já é quase ano novo, quero voltar para casa. Não vai me deixar passar o ano novo longe, né?— Tá bom, pode ir. — Jorge concordou com o pedido dela.Mesmo que ela não estivesse se esforçando para estudar direito, o Roberto disse que ela tinha amadurecido um pouco.Claro que aquilo era mérito do Roberto.Jorge só queria dar um jeito naquela teimosia dela.Era hora de crescer.— Sério? — Clara ficou animada, parecia surpresa que Jorge tivesse concordado.Ela achava que ia ficar presa ali para semp

Isaac percebeu que Isabela estava preocupada com a prima, então não insistiu. Pediu aos subordinados que dividissem a comida e a consumissem, já que jogá-la fora seria um desperdício e os alimentos com aquele clima não permitiam que se guardasse por muito tempo.— Quando você sentir fome, eu mando comprar de novo. — Disse ele.— Tá bom. — Isabela assentiu com a cabeça.Por volta das três da tarde, o médico apareceu para avaliar o estado de Gisele.— Como ela está? — Perguntou Isabela.— Ela sofreu bastante, tanto física quanto emocionalmente. Vai precisar de tempo para se recuperar. O quanto vai conseguir melhorar depende da capacidade dela de lidar com o que passou. Se com o tempo ela conseguir processar tudo, o estado mental pode não deixar sequelas graves. Mas os danos físicos... Esses não têm como voltar ao normal.Isabela disse que entendia.Gisele tinha sofrido um trauma duplo: o corpo já não tinha chance de voltar a ser como antes, e o emocional dependeria só dela. Se fosse fort

Isabela pensou na tensão que viveu no Sudão, seu rosto ficou um pouco tenso, mas logo ela conseguiu se recompor e sorriu:— Foi por pouco.— Desde que a Gisele se meteu nessa confusão, a gente viu na internet muita gente que foi enganada para sair do país e quase ninguém voltou vivo. É assustador demais... — Comentou Lara.A voz de Isabela ficou um pouco distante:— É, aquele lugar é muito perigoso. Se não fosse o Jorge, eu jamais teria conseguido tirar a Gisele de lá.Ela sabia que, mesmo que tentasse todas as conexões que tinha, era praticamente impossível resgatar alguém dali.Antes, talvez ainda tivesse alguma esperança, achando que bastava procurar ajuda para salvar a Gisele, mas depois de tudo que viveu, entendeu que quase ninguém conseguia tirar de lá quem foi enganado para sair do país.Falando em Jorge, os olhos de Lara brilharam:— E cadê o Jorge?Ela olhou para os lados.— Ele teve que resolver umas coisas da empresa, não voltou comigo. — Explicou Isabela.Não que ele não ti

Quando chegou em casa, Felícia já tinha arrumado tudo. Assim que viu Isabela entrar, correu para abraçar ela.— Obrigada por ter trazido a Gisele de volta.Isabela deu uns tapinhas de leve nas costas dela.— De nada.Felícia, como se tivesse lembrado de algo, se afastou rapidamente, foi até a mesa e pegou um envelope que já tinha deixado preparado. Entregou para Isabela.— Não é muito, mas eu e o Tomas não podíamos deixar de agradecer. Quando a gente estiver melhor de grana, a gente te dá mais.O envelope estava bem cheio, devia ter uns dez mil reais ali.Por causa da Gisele, todo o dinheiro da família já tinha sido gasto, aqueles dez mil eram o máximo que Tomas e Felícia conseguiram juntar.Isabela entendeu o gesto. O que importava era a intenção, e o fato de eles se lembrarem daquilo já bastava.Ela pegou o envelope, foi até o sofá e o colocou no colo do bebê.— É o presente da tia Isabela para ele, já que é a primeira vez que vem aqui em casa. — Disse ela, sorrindo.Os olhos de Felí