04 Fracasso número 1

Não se apaixonar.

Pontuar a performance de 0 a 5

Postar uma vez por semana, no mínimo

Essas eram as 3 regras básicas do nosso Clube.

Isso significava transar com um cara diferente por semana e dizer pra quem quisesse ler, como é que foi… e claro, não se apaixonar nunca, por mais que o orgasmo tivesse sido apaixonante e o cara beijasse bem, inclusive, se ele ligasse no dia seguinte ou mandasse flores, não devíamos responder. Repetir a foda então, nem pensar...

A primeira de nós a cair na pegação, foi claro, a Ruth. Sem novidades aí, é a que mais ia em festas e trocava de namorados… foi meio óbvio.

Ruth fez o nosso site com um layout lindo! Tinha no banner inicial uma foto nossa de calcinha baixadas na perna em pé em cima do sofá da casa da Drica. Não, calma, não dava para ver nosso rosto, só os pés e a calcinha. O legal da foto era que cada uma de nós tinha uma calcinha diferente e um sapato diferente que combinava perfeitamente com nossa personalidade.

Será que você advinha quem é quem?

A do meio usava uma calcinha preta, toda de renda fechada e um peep-toe branco e lilás. A da ponta esquerda, fio dental vermelho e saltos agulha prateados… já a outra, uma calcinha que podia ser de uma criança, branca e sem graça, meias listradas e allstar amarelo!

Tá, viu como foi fácil? A Drica no meio, toda elegante, a Ruth devassa no canto e eu lá perdida nas explosões de estrógeno das duas, de calcinha dia-a-dia. Mas eu ainda não tinha entendido a pegada da brincadeira, tanto que quando o primeiro post da Ruth saiu no blog, eu morri de vergonha de fazer parte daquilo.

Usávamos codenomes e eu não contei pra ninguém sobre o blog. Já Drica e Ruth, ao contrário, saíram distribuindo cartões de visita pras amigas. Mandamos fazer os cartões em uma gráfica e eu recebi duzentas unidades — o de cada uma tinha uma flor diferente combinando com a imagem da foto: a Drica uma orquídea branca e rosa, a Ruth uma rosa vermelha e o meu uma tulipa sem graça e amarela.

Eu vou poupar vocês de lerem o post da Ruth, que descrevia com detalhes até o órgão sexual do rapaz com quem ela saiu, o tipo de orgasmo que ela teve... já dá pra imaginar o conteúdo erótico e eu já estou vermelha só de lembrar!

Empolgada com o post da Ruth, a Drica respondeu à altura, saindo com um colega de trabalho que tinha fama de pegador, mas que na hora “h” broxou. Ela também contou tudo em detalhes, referindo-se a ele como Sr. G. Mas todos que trabalhavam com ela sabiam que era G de Gilberto. A Drica quase perdeu o emprego por isso, o tal do Giberto tentou processá-la, mas como não tinha nome e teoricamente ela nunca contou pra ninguém (ao vivo e a cores) que eles ficaram, o processo contra calúnia e difamação não foi pra frente e como tudo no mundo dos adultos, o papo ficou esquecido dentro da empresa — mas o Gilberto nunca mais olhou na cara dela e depois pediu demissão mudando de emprego.

A Ruth toda semana postava coisa nova e a Drica divertiu-se achando que era a Bruna Surfistinha no blog… e bem, eu… fiquei foi com medo de começar a colocar em prática o que elas estavam fazendo.

Confesso: parte de mim achava crueldade tratar os homens dessa forma. Eu sempre esperei um príncipe encantado, alguém para casar e ter filhos. Não alguém para viver em uma eterna guerra dos sexos dentro de casa… eu queria respeitar e ser respeitada… e achava que isso não tinha que ficar lá no mundo dos sonhos encantados, mas na vida real.

Só que a vida real é bem diferente. Não tem nada de encantado nela e na prática, achar alguém pra respeitar e que te respeite é algo muito, muito difícil. Sabe, nem os casais que se dizem mais felizes escapam daquele momento em que o homem pede uma cerveja e é a mulher que levanta a bunda do sofá e vai buscar. Em alguma casa, com certeza a mulher pede o o homem busca, mas acho que deve ser excessão, já que o mundo é todo muito machista e se a gente fala alguma coisa sobre isso já somos taxadas de reacionárias ou comparadas àquelas ativistas sem sutiã que chamam a atenção na rua sem perceber que no fundo, utilizam-se dos recursos que combatem para fazer a voz ativa. É complicado lutar pelos direitos iguais, viu?

E sim, você pensou certo, eu estava com muito medo de começarem a me chamar de puta, promíscua, vaca, rodada e tantos outros apelidos que se inventam para qualquer mulher mais liberal que não tenha vergonha de explorar a sua sexualidade. Olha, de forma simples: se um homem vai num puteiro, ele tá fazendo apenas o que a sociedade acha que deve ser feito, mas se a mulher chama um michê, ela é o quê? Safada!

Isso me cansa e exaure todas as minhas forças! Ter que ficar explicando por que merecemos direitos iguais o tempo todo, esgota a paciência de qualquer uma! E eu estava evitando ter que fazer isso.

O blog estava com bastante acesso, as meninas estavam eufóricas e eu ainda não tinha saído com ninguém e nem escrito uma matéria que não fosse feminista (daquelas que apontam os defeitos dos homens, como não ligar no dia seguinte e achar que tão abafando).

É claro que as cobranças começaram:

Não dá pra você fazer parte de um negócio e não fazer! — Ruth estava mesmo me colocando contra a parede, mesmo que estivéssemos apenas sentadas em um bar tomando chopp.

Concordo. — Drica parecia um macaquinho treinado para fazer o que Ruth mandava, com seu coque sem um fio fora do lugar e batom nude.

Mas eu não tive oportunidade de conhecer ninguém! — disse procurando me defender.

Você nem está tentando! E aqueles sites de relacionamento? Todo mês você arranjava um e agora, não tem ninguém cadastrado lá? Ou você já transou com todo mundo?

Coloquei as duas mãos na cabeça ao ouvir a bronca de Ruth. Desesperada! Era óbvio que elas queriam que eu entrasse na dança e acompanhasse a brincadeira dormindo com qualquer um por diversão e não porque eu estava apaixonadinha ou querendo me casar. Era como se eu precisasse assinar um contrato de “devassa”, me tornar uma garota liberal que não tem medo de fazer sexo, nem de ser julgada pela sociedade por gostar de fazer apenas sexo, sem precisar ser pra casar e procriar.

Eu queria, confesso, mas não tinha coragem.

E o que eu vou fazer? Sair me atirando em cima de qualquer um? — perguntei aborrecida, cruzando os braços em cima da minha blusinha vermelha.

Exatamente! — Drica abriu um sorriso como se estivesse me dando a resposta 42.

Não consigo, sou tímida! — neguei veementemente.

Você não consegue ou não quer? — Ruth quis saber, advinhando que eu estava relutante em seguir com o plano. Sabe, passei a me perguntar se era mesmo isso que eu queria fazer… transar com qualquer um. Talvez no fundo, eu só quisesse um príncipe encantado.

Eu quero, mas não tenho coragem. — pronto, falei!

Ah, Leila, assim não dá! — Ruth cruzou os braços por cima do vestido coladinho prateado como suas argolas penduradas na orelha. — Você tem que sentir raiva dos homens, querer se vingar deles te tratarem como trouxa o tempo todo.

Eu tenho!

Não tem, não, ainda tá achando que vai encontrar o príncipe encantado, um cara que te trate bem, que queira casar. — Ruth brigou.

E qual o problema de querer isso?

Nenhum, mas boa sorte procurando um cara fiel, que não minta, que não suma, que diga que te ama e que não esteja só mentindo pra entrar com o pintão dele na sua calcinha. — Drica falou.

Isso se ela der sorte se for um pintão, porque o João, ó! — Ruth me lembrou do detalhe.

É verdade. Tudo no mundo dos homens gira em torno do tamanho do “pinto” deles. Sério! É como se todas as questões mais complexas da vida pudessem ser resumidas ao comprimento peniano. Tudo só depende disso! Mesmo quando você ama por amor, eles dão um jeito de competir com o pinto de outro cara por qualquer coisa. E de que adianta? Com pintão ou pintinho são todos iguais, tratando a gente como um buraco de uma mesa de bilhar.

Vocês tem razão. — eu por fim concordei com elas. — Eles são todos iguais, não importa se a cueca é P, M ou G. Aliás, nunca vi uma GG.

Tá perdendo a chance de ver por que fica aí com uma vergonha idiota. — Ruth passou bronca de novo, mas dessa vez, tinha um sorrisinho no rosto. — Olha, faz assim, se atira em cima de qualquer um nesse bar, eles todos estão aqui procurando sexo mesmo, e quando não te conhecem, não tem como falar nada pra ninguém, e se falar, posta que ele brochou, igual a Drica. Falar mal você também pode amor.

Isso me encorajou. Eu estava com medo de ser mal falada, mal interpretada… mas e daí? Eu também tinha o poder das palavras na minha mão. Peguei a minha tulipa de chopp e corri os olhos pelo bar a procura de um gato delícia que me fizesse ir a loucura e com o qual eu pudesse escrever o melhor post da história do Clube.

E lá estava ele, com os amigos, os cabelos castanhos claros arrepiados para cima, camiseta preta e uma calça jeans impecável, soltinha. Ele era bonito, tinha olhos verdes, parecia jovem e tão trivial quanto qualquer outro cara com quem já saí.

Quando cruzamos olhares sorri para ele. Paquerar em bar nunca foi nada complexo, o sorrisinho inicial é o equivalente a abrir a porta do apartamento, a pessoa responde se tiver a fim e se não tiver, vira a cara. Se ele virasse a cara, eu ia sorrir para outro, mas ainda bem que ele sorriu, ufa, lidar com um fora na primeira tentativa seria o diploma de fracasso.

Ele se chamava Renato, tocava guitarra em uma banda de Jazz e estava ali com os amigos. Que bonitinho, né? E que chato! Sabia que ele nem reconheceu quando começou a tocar uma música do Ozzy no alto falante do bar? Você pode não gostar de rock, nem saber nada sobre o Black Sabbath, mas a voz do Ozzy é única! Ainda mais quando toca “No more Tears”, vai.

O papo dele me irritava um pouco, homens são meios bobos quando estão paquerando as meninas, querem impressionar. Bebi toda a minha cerveja, ele quis me pagar mais e acabou me beijando. Dali, fomos para o carro dele e ele quis me levar para casa. Eu deixei, na porta nos despedimos e eu fui dormir.

Ok, não transei com ele.

Fracasso número um.

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