Capítulo 01

⠂⠄⠄⠂⠁⠁⠂⠄⠄⠂⠁⠁⠂⠄⠄⠂⠁⠁⠂⠄⠄23 de Outubro de 2015⠂⠄⠄⠂⠁⠁⠂⠄⠄⠂⠁⠁⠂⠄⠄⠂⠁⠁⠂⠄⠄

Olho-me no espelho retangular do banheiro terminando de prender meu rabo de cavalo e mexo a cabeça para os lados o fazendo balançar. Olho para o reflexo e vejo a loira por trás de mim, subindo um pouco mais seu short de malha para reduzir o tamanho dele.

 O que fazendo, Amy? — Pergunto rindo e me viro para olha-la melhor.

— O quê? — Ela ergueu o rosto dando de ombros e começou a alongar seus braços. — Se vão me obrigar a participar da aula de educação física que ao menos eu possa usar o short na altura que quero.

— Ah…Digo de forma longa e ponho os braços para trás caminhando para a saída do vestuário. — E isso não tem nada a ver com o Brian ter conversado com aquela novata mais cedo?

— Quem? — Ela usa um tom de desentendida enquanto olhava suas unhas.

— Ah, o Brian fez isso? Nem percebi, eu não ligo.

Ri baixo balançando a cabeça enquanto me dirigia para fora da quadra até o campo em frente. A maioria dos alunos já estava lá se alongando para praticar corrida na pista de obstáculos. Amy e eu sempre dávamos um jeito de fugir desse momento, mas estamos evitando fazer isso ultimamente porque não parece interessante reprovar por notas baixas em educação física. A mãe dela certamente a mataria.

— Olha lá o imbecil todo abestalhado conversando com um rabo de saia. — Ela disse olhando para frente e assim que dirigi meu olhar na mesma direção vi o rapaz de pele escura e cabelos cacheados conversando com a garota baixinha que entrou na escola recentemente.

— Pensei que não ligasse… — Parei de andar e ergui minha perna abraçando o joelho para me alongar.

— E não ligo. — Ela disse de forma apressada. — É só que… — Ela tossiu limpando a garganta e parecia buscar uma boa justificativa. — Odeio homens que ficam idiotas perto de garotas.

— Será que é porquê você gosta dele? — Passei a alongar a outra perna e ela negou se apoiando em mim para se alongar também. — Vocês são amigos desde sempre, todo mundo percebe que há um clima entre vocês dois, não sei por que nunca tentaram nada.

— Essas coisas estragam a amizade, e além dissoSe ele não fala nada eu também não falo… A hipocrisia da vida de quem gosta e não pode assumir, ai ai.

Ele te leva para os churrascos em família dele, você já é mais próxima da mãe dele, do que ele próprio, ele está dando os sinais…

— E eu lá sou automóvel para precisar de sinal para algo? Eu quero que ele chegue em mim, fale coisas fofas, me chame para sair, aí me beije após falar que se divertiu. E não que me chame de cara de sagui.

Sorri a olhando e me apoiei nela enquanto alongava as pernas para trás. Amy é minha amiga desde os nossos 7 anos, quando comecei a estudar aqui. Não sei quando ela começou a gostar do Brian, mas como a mãe dela trabalha na casa dos pais dele eles sempre foram bem próximos.

Não é incomum que ela discuta com os professores e apresente fortes argumentos para permitirem que os trabalhos em duplas sejam em trio, com nós três nele. Mas nunca rolou nada entre eles, Amy diz que isso vai estragar a amizade e tem medo que o Brian não goste dela da mesma forma que ela gosta dele, que eles estejam em sintonias diferentes de sentimentos.

Eu nunca questionei o Brian sobre isso, ele é mais aquele amigo que é amigo da minha amiga, quando a Amy não está perto, nós dois não temos muito assunto, mas ele é um cara legal, capitão do time de futebol, faz festas sociais legais na casa dele vez ou outra e dá carona para gente sempre que necessário.

— Amy… Como quer que ele te trate assim se sempre que ele tenta ser gentil com você, você age como uma troglodita?

Ela fechou a cara pressionando os lábios e cruzou os braços me olhando em silêncio por alguns segundos.

— Olha, eu vou fingir que você não disse isso. O meu comportamento estúpido é reflexo do comportamento estúpido dele. Eu dou-lhe o que ele me dá, nada a mais nada a menos. E quieta, ele vindo aí.

Ela jogou seus cabelos sobre o ombro e olhou para o lado oposto. Senti o sol saindo de trás da nuvem e coloquei a mão por cima dos olhos fazendo uma viseira olhando Brian correr até a gente.

E aí, Liz. — Ele me cumprimentou sorrindo antes de passar o braço sobre os ombros de Amy. — Carinha de sagui.

Pude sentir Amy puxando o ar de olhos fechados antes de empurra-lo.

— Cadê sua amiguinha? Num mais interessante a conversa não? Porque desde que você chegou não larga ela.

Cheiro de ciúmes. — Ele comentou a olhando fixo e sorriu de canto.

— Não fala comigo. — Ela disse levantando a mão. — Que eu não tô a fim de olhar para essa sua cara, e não quero nem ouvir sua voz pelo resto do dia.

— legal… — Ele olhou na minha direção e eu abri um pouco os olhos vendo ele sorrindo mais. — Vai ter uma festa legal hoje na casa de um conhecido meu. Você quer ir? Posso te pegar as 07 e te deixo em casa cedo, sei que seu pai não curte você até tarde nos lugares.

Pude perceber a Amy mudando a coloração de seu rosto de um branco para vermelho em segundo.

— O que quer dizer com “te deixo em casa cedo”?

AnAs 04 da manhã é cedo para você? — Rimos sabendo o que meu pai faria com ele se fizéssemos isso. — As 11 ou sei lá, quando quiser ir para casa te levo. Chama aquela nossa amiga loira, suponho que ela vá querer ir.

Ouvimos o professor assoprar no apito e ele saiu correndo para lá. Antes que eu desse um passo, Amy agarrou meu braço.

— Que amiga? — Ela sussurrou — O que você tá me escondendo, Liz?

Inclinei o rosto a olhando sem expressar muito.

— Amy .Toquei seu cabelo loiro. — É você, maluca. Trata teus ciúmes.

— Ah…Ela disse um tom envergonhado e me soltou. — Eu perdi um pouco a cabeça, mas passou, eu sou uma mulher confiante.

Ela disse antes de correr na direção do restante da turma para formarmos as equipes antes de prosseguir a aula.

                                                                            ****

— Eu já disse, Brian. — Amy falou sentada no meio do banco de couro do carro. — Se o erro em dar minha pontuação foi do professor, ele não deveria abaixar minha nota. Deveria agradecer por eu ser sincera sobre ele contar os acertos errados, mas deixar a nota que estava e não diminuir.

— Amy. — Brian disse se virando no banco do passageiro. — Não tinha como ele te deixar com quase 2 pontos a mais na prova. Seria desonestos com as outras pessoas que não iriam ganhar essa pontuação extra.

— E daí, meu filho? Azar o delas que não tiveram a sorte do professor se enganar no resultado.

Passei a mão pela testa vendo o motorista do Brian concentrado demais na estrada para parecer se importar com os dois, mas preciso admitir que minha cabeça estava começando a doer.

Eles não eram assim diariamente, mas como a Amy teve a crise de ciúmes hoje isso a deixou um pouco mais sensível, normalmente ela só para com isso após dormir ou após o Brian fazer algo fofo por ela, e cá entre nós, o Brian não sabe muito como ser fofo. Agradeci internamente ao ver o carro parando em frente a minha casa.

— Está sendo egoísta, Amy, além do mais, supera isso já pass… — Brian parou a frase assim que o carro parou e me olhou.

— Tchau, Liz, até as 07.

— Até. Tchau, Brian, Amy e

Douglas. — peguei minhas coisas descendo do carro e ouvi Amy se despedindo antes de dizer para Brian que ele teria que suportar ela o restante da tarde. 

Aliás, Douglas é o motorista do Brian.

Fechei a porta e caminhei até a entrada da minha casa, percebendo o carro se afastar. Parei no batente tirando meus sapatos para poder entrar em casa, e ao olhar para o outro lado da rua, vi minha vizinha Kelly molhando suas flores.

— Oi Kelly. — Acenei para ela com os sapatos na mão.

— Oi, linda. — Ela sorriu desligando a mangueira. — Como você está?

— Bem. E a senhora, e os meninos? Ela soltou um suspiro cansado e logo sorriu.

— Henry e Jake estão na faculdade, acredito que não irão vir para casa esse final de semana. E meu outro menino lá dentro me dando trabalho. — O outro menino a quem ela se referia era seu marido, Peter. — Quer um conselho?

Concordei rápido

— Assim que terminar seus estudos viaje, conheça o mundo, se divirta bastante, só depois pense em casar. Homens dão trabalho.

Sorri largo e concordei com ela.

— Irei lembrar disso. Até depois, Kelly

— Até, querida. — Ela ligou a mangueira voltando a suas plantas e eu entrei em casa guardando os sapatos no armário próximo à entrada, em seguida me dirigi até meu quarto para deixar minha bolsa lá.

A Kelly era uma boa vizinha, morava nessa rua antes mesmo do meu pai e eu virmos para cá. O marido dela é amigo de infância do meu pai, eles perderam um pouco o contato quando meu pai foi morar em outro estado, mas alguns anos depois que eu nasci, meu pai decidiu voltar para cá e foi o Peter, marido da Kelly, quem providenciou tudo.

Achou casas a venda e mostrou a meu pai, ajudou a dar a entrada, conseguiu o caminhão da mudança. Ele é um cara incrível, e a Kelly é uma baita de uma esposa. Ela engravidou do primeiro filho, Henry quando tinha minha idade, não deve ter sido fácil, mas sempre se mostrou ser uma ótima mãe.

Às vezes ela traz torta para meu pai e eu, ela sabe que vivemos de muito fast food e ela tenta ajudar de alguma forma.

— Liz? — Ouvi a voz de meu pai da porta e me virei deixando minha bolsa na cadeira.

— Oi, eu já ia descer, ainda está trabalhando?

— SimEstava escaneando alguns documentos. — Ele passou o olhar por meu quarto. — Isso aqui uma bagunça.

— É a minha bagunça, pai…

— Sua bagunça cheira a bacalhau e molho de tomate. Anda trazendo comida de madrugada pro quarto, não é?

— Talvez… Mas, pai… Vou sair mais tarde com o pessoal, posso ir, né?

— Quem é o pessoal?

— Ah, deve ser os de sempre. Amy, Brian e mais umas cinco ou seis pessoas.

Ele soltou um suspiro passando a mão pela testa.

— "Deve ser". — Ele fez menção a minha fala, — Irei pensar.

— Mas paaaaaai… Toda vez que o senhor fala isso, diz que não posso ir. Amanhã é sábado e…

Ouvi meu pai fechando a porta e senti meu queixo caindo me deixando boquiaberta. Na maioria das vezes ele não tinha muita paciência para ouvir meus “dramas adolescentes”, mas dessa vez talvez ele só não tenha aguentado continuar aqui sentindo o cheiro de peixe com molho.

Não lembro nem quando trouxe isso pro quarto. Não tem tanta importância agora, só vou torcer para que ele me deixe ir e me arrumar antes de exigir uma resposta, pode ser que isso faça ele sentir pena ao me ver arrumada e dê uma resposta positiva.

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