Descobertas

-Acorda amor.

Carlos abre os olhos sonolento, então percebe que sua esposa segura uma bandeja.

-Bom dia! Olha o que eu trouxe para você. 

-Ah, café na cama!

Carlos observa a esposa e não pode deixar de pensar que ela está agindo como se nada estivesse acontecendo.

- Que foi? Não gostou da surpresa?

-Obrigado querida. Claro que gostei.

- Então, coma. 

Ela deposita um beijo nos lábios dele e sai do quarto.

Carlos deixa  a bandeja de lado e vai atrás de Tailla.

Ele desce as escadas e para no terceiro degrau, observando a casa como se fosse a primeira vez.

 A parede de vidro que percorre parte da lateral da sala, e se mescla com a parede de tijolos da cozinha em uma forma graciosa, dando vista ao jardim e a piscina, que Tailla insistiu em construir. Ele não via necessidade de uma piscina, mas se deu por vencido quando a esposa insistiu. 

Passou a olhar, agora para a cozinha de móveis rústicos,  porém modernos, com os quais, agradou sua esposa, o sofá de couro branco formando um L, em frente a uma grande TV de tela plana. A casa era elegante e bonita. Tinha um aspecto de modernidade que muitas casas não possuíam. Ele havia contratado o melhor decorador para atender até o menor capricho da esposa. Ele a amava. Mas naquele momento muitas dúvidas permeavam sua mente. A voz de Tailla o tirou de seus devaneios.

-Oi.

-Oi.

-Tenho algo para te mostrar. 

Carlos fica curiosos e segue a esposa pela sala, até a cozinha, onde há uma caixinha sobre a mesa.

-O que é? 

-Abra- diz ela com um sorriso malicioso. 

Carlos abre a caixa e o que  encontra o faz sorrir.

Um par de sapatinhos de bebê. Ele sempre sonhou com esse dia. O dia em que se tornaria pai. A forma que ela lhe revelou, parecia a mais clichê de todas, mas ainda assim ele estava exultante. Todas as dúvidas desapareceram. Era óbvio que ela estava agindo estranho. Estava grávida. Grávidas agem estranho. Tem algumas que até comem tijolos. 

Por isso quando ele a procurava ela fugia, a gravidez deixa a mulher cansada e enjoada. Ele se sentiu um estupido por ter duvidado dela e acreditado nas mentiras de Luiz.

Ele começa a chorar e olha sua esposa com paixão.

-Um bebê? Nós vamos ter um bebê? 

-Sim querido, o seu tratamento deu certo. Você vai ser papai!

Carlos nunca se esquece o dia em que soube que não poderia ter filhos...

"-Já chegou querida?

-Sim...disse Tailla com olhar distante.

-O que há de errado ?

-O...Dr.Marcelo disse...ah...que...

-Fala logo Tailla. Está me deixando nervoso.

Ela baixou a cabeça e começou a brincar com os próprios dedos.

-Que comigo está tudo certo...que o problema é com você. 

-Co...comigo?

-Sim.

-Ele disse para que você tomasse esses remédios.

-Remédios? Repetiu Carlos como que para ter certeza do que ouvia.

Ele achou estranho um médico receitar medicamentos sem nem mesmo ver o paciente, mais se sua esposa dizia...

- Como um médico receita algo sem ao menos ver o paciente?

- Não se lembra dos exames que fez? 

Ele se lembrava. Mas ainda assim achava estranho.

- Lembro mas...

- Então amor. Não precisa se preocupar.

Então ele fez o que ela disse e não se preocupou. 

A voz de Tailla o tira de seus devaneios.

- Carlos? Não vai dizer nada?

-Oh...sim. Estou tão feliz, obrigada meu amor por tanta felicidade. - diz e se levanta, dirigindo-se a geladeira, pega uma garrafa de vinho e olha para a esposa.

-Comemorar?

Tailla revira os olhos. 

-É...sim, sim, claro.

(...)

Carlos está exultante, já fazem três meses que Tailla lhe contou da gravidez. Ela o tem evitado, mas ele entende, é por conta da gravidez. Ele conversa com o amigo, os dois fizeram as pazes, afinal, Luiz se desculpou e nunca mais falou sobre Tailla, ao menos até aquele dia. Mas foi Carlos quem começou.

- O estranho Luiz, é que a barriga dela ainda não cresceu nada, será que está tudo certo com o bebê? 

-Acho que sim amigo, deve ser por que ela é magra.

Luiz diz e revira os olhos, ele prefere não expressar sua opinião sobre Tailla e sua gravidez, pois sabe que pode perder a amizade de Carlos. Ele tem fé, que um dia o amigo descobrirá que a Tailla que ele ama, simplesmente não existe. 

-Bom, tenho que ir Carlão, nos vemos amanhã? Temos aquele carregamento para m****r para Manaus.

-Beleza! Vou direto para casa, quero chegar mais cedo e fazer uma surpresa para Tailla.

O que ele não sabia, era que quem seria surpreendido não seria ela, e sim ele.


Após deixar Luiz, Carlos entra em seu carro, um Audi A3 branco e se dirige para casa, mas antes passa em uma floricultura, e compra um buquê de rosas para a esposa.  Ao chegar em casa, o homem encontra a porta entreaberta e na intenção de fazer surpresa, entra pé ante pé. Mas o silêncio da casa o deixa desconfiado novamente, não sabe a razão, mas ele continua andando em silêncio. Sobe as escadas e chega no topo. Então ele começa a ouvir vozes que parecem exaltadas. Ele não as estava ouvindo lá debaixo, as vozes parecem vir do último quarto. Ele anda até lá.

-Não! -grita Tailla. 

-Como você pode ser assim filha? Enganando seu marido assim?

-Eu não vou abrir mão do dinheiro ! E há muito mais envolvido do que a senhora pode imaginar.

-Mesmo assim, dizer que está grávida quando você sabe que não pode acontecer é errado!

- Você nem é a minha mãe! Acho melhor ficar na sua. Se não fosse esse teatro ia fazer o que? Continuar vendendo esse corpo velho aí que ninguém quer?  Você tem sorte de eu precisar enganar o babaca do Carlos...

Ele perdeu o chão, mas ainda assim, continuou ouvindo.

- E se ele descobrir?

- Ele não vai.

- E quando a barriga não aparecer?

Carlos fica branco feito papel ao ouvir a declaração de sua sogra. Ou melhor, da mulher que ele achou ser sua sogra. Ela não está grávida...meu Deus...até minha sogra é uma mentira...por isso Tailla não tinha barriga... - pensou.

-E dai ?Você quer que eu diga para ele que não posso ter filhos?Que sou eu, não ele, quem tem o problema e estragar os meus planos? Nunca!

-Se você não tivesse feito aquele aborto, você poderia ter filhos agora.

-É? E o que você acha que eu iria fazer com aquele bebê, filho daquele maldito filho da mãe?

-Não sei...

Ele ainda está na porta, ouvindo sem palavras a discussão, ele não sabe o que fazer. Não sabe se fala com ela e estraga a farsa toda, ou se vai embora e a deixa para sempre.

Carlos sai andando, o mais rápido que pode, sem fazer barulho, pega seu telefone e sai para a rua. Já entrando no carro, disca o número da única pessoa que pode ajuda-lo nesse momento.

-Alo, Luiz? Preciso te ver agora...não só pessoalmente...sim eu te espero lá. Não demore.

Carlos desliga e segue para um café que fica próximo à sua empresa. Lá ele aguarda que seu amigo chegue.

A empresa de Carlos é uma transportadora de material para obras de construção civil, em todo o continente. Ele começou de baixo, com apenas dois caminhões, ele e Luiz dirigindo, hoje ele tornou Luiz seu sócio e possui mais de mil e duzentos caminhões na sua frota. Fora os de outras empresas que prestam serviço para a dele, a sua empresa se chama Aguillar transportes ltda e sua sede fica no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca em frente a qual agora ele está  esperando Luiz. 

Quando Luiz chega ele se levanta e aperta a mão de seu amigo.

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