Capítulo Cinco

                                                                 Handora

- Está tudo pronto? – perguntou Lucian. 

Olhei para as malas ao meu redor. Minhas roupas do closet estavam todas abarrotadas dentro de cinco malas gigantes. Bem, acho que sim, tudo estava pronto. 

- Sim. – respondi. 

Ele assentiu. 

- Ótimo. Você ficará fora um mês e espero que tenha juízo. Rimmon cuidará muito bem de você. E espero que quando volte você seja ainda mais poderosa do que é. – ele sorriu. 

Foi a minha vez de assentir e não dizer nada. Não seria muito bom dizer às coisas que estavam entaladas em minha garganta. Sorri e peguei a mão de Heron ao meu lado e ele me puxou para si. 

- E Heron cuide dela. Você está indo para manter a segurança dela e seu bem estar. Esteja ciente disso. – Lucian alertou com uma pontada de ameaça na voz. 

Heron não se abalou e sorriu. 

- Estou ciente. Até mais, Senhor. – ele disse e me puxou para o carro preto e sedã que esperava na porta da mansão. Dois seguranças Demônios colocaram as malas no porta malas e entraram no segundo carro sedã. Para “garantir’’ minha segurança.  

  - Adeus, Lucian. – falei e entrei no banco traseiro, e Heron se sentou ao meu lado. 

Assim que o carro ganhou vida, e o motorista saiu da mansão de Lucian, Heron olhou para mim e apertou minhas mãos. 

- Você é corajosa pelo que está fazendo. – ele disse. 

- Foi minha única alternativa. – respondi séria. 

- Você sabe que não foi a única. Podíamos... – ele não terminou olhando para o motorista Demônio. 

É claro do que eu sabia que ele iria se referir. Ele ia dizer que poderíamos ter fugido no dia em que vi Melahel com Lexi. Mas, eu não quis e então retornamos para a mansão. 

E para mim aquela ainda estava sendo a melhor decisão que eu poderia ter tomado. A de aceitar meu destino e não ficar fugindo para sempre. Eu não era covarde e sinceramente preferia encarar isso a ser uma ninguém. Sendo meu destino mal ou não. 

Encarei Heron. 

- É aqui onde quero estar. – respondi. 

Ele sorriu e beijou meus lábios delicadamente. Encostei minha cabeça em seu peito e ficamos assim durante várias horas. 

Desde que tínhamos dormido pela primeira vez, há dois dias parecia ter se formado um laço de respeito e sinceridade entre nós dois. Ainda mais forte do que quando éramos amigos. Óbvio que eu não o amava, e acho que nunca mais amaria outro alguém, mas ele era tudo que eu precisava agora. 

Ele tinha me dado forças quando nada mais me pareceu reconfortante. Quando a dor havia escurecido meu coração e o mundo tinha se fechado de vez para mim. E era tão bom tê-lo do meu lado que eu consegui de certa forma retribuir o sentimento que ele dizia sentir por mim. 

As horas se passaram mais e mais, e acabei adormecendo em seu colo. 

O centro de treinamento era em outra cidade não assim tão distante, mas levava algumas horas para chegar até lá, e quando chegamos, Heron me sacudiu levemente e chamou meu nome. 

Abri meus olhos e Heron me pegou no colo. 

- Não precisa, Heron. Posso andar. – falei. 

Ele assentiu e sai do carro. Enfim tínhamos chegado. 

Estávamos de frente para uma casa gigante com torres altas e janelas grandes. Era moderno seu desenho e feita com pedras cinza parecendo a de um castelo antigo. Ela era adornada por floresta, e não me impressionei com isso, afinal a propriedade de Lucian era escondida do mundo também. 

- Sejam bem vindos a meu campo de treinamento. – a voz de Rimmon soou e então ele abriu a porta da casa, que era feita de madeira antiga. Desceu as escadas de pedra e sorriu ao me ver. 

Enrubesci, lembrando-me das coisas que ele havia me dito quando o conheci na festa de Lucian. 

- Olá, Rimmon. – Heron o cumprimentou se postando na minha frente de um jeito de macho alfa. Fala sério.

- Heron... Que prazer enorme ao te ver. – Rimmon sorriu e apertou a mão de Heron e me deu um beijo no rosto. – Handora, você como sempre está linda. 

Olhei para minha calça jeans preta, botas e sobretudo. Não estava assim tão arrumada. 

- Obrigada. –murmurei hesitante. 

- Venham, vou lhes mostrar seus quartos e em seguida os campos de treinamento. Suas aulas e como vamos fazer de você um incrível Demônio. – ele sorriu.

Rimmon seguiu na frente, e eu e Heron atrás. Entramos na casa e ela parecia ainda maior de dentro. Seu hall era esplendoroso e de um piso polido e branco. Havia várias portas e uma enorme escada. Olhei para cima e tinha certeza que havia pelo menos cinco andares na casa. 

- Bem, aqui fica a sala de refeições. – ele nos levou até uma das portas, e abriu-a. Um grande salão de projetava com várias mesas espalhadas, uma cantina, banheiros e uma área de descanso. Tinha também uma grande geladeira com a porta de vidro mostrando que dentro dela tinha vários vidros cheios de sangue. 

Ele fechou a porta e nos levou para as escadas. 

- Cada quarto é uma suíte, com banheiro espaçoso, cama grande e um frigobar para os lanchinhos da noite. – ele riu, e parecia que ele estava apresentando um quarto de Motel.

Subimos três andares e no quarto, entramos em um corredor longo com várias portas de madeira escura. 

- Cada porta dessas é um quarto de um hóspede nosso. Temos no mínimo quarenta Demônios em treinamento. – ele disse e arregalei os olhos. – Fique tranquila, querida. Você é um caso especial aqui e eu mesmo serei seu treinador particular. Faremos treinamentos apenas eu e você. – ele disse maliciosamente e revirei os olhos. 

Ele parou diante da última porta do corredor. 

- Este é seu quarto. – ele abriu e eu fiquei surpresa. 

O quarto era duas vezes maior do que o meu na mansão de Lucian. E olha que era grande, mas esse era absurdamente espaçoso. Com cama king size, uma mesinha com computador, uma penteadeira, dois criados mudos ao redor da cama e um tapete bege parecendo caríssimo estendido no chão.   

As paredes eram de um marrom suave e a roupa de cama  dourada.

- Espero que goste. – ele entrou e olhou para mim. 

- Eu realmente adorei. – falei e puxei Heron para dentro. 

Rimmon fez uma cara de desgosto para Heron. 

- Bem, aqui temos uma regra estritamente proibida de casais dormirem juntos. Cada um tem o seu quarto separado. Tenho certeza que Heron vai adorar o quarto que separei para ele. É no primeiro andar. – ele disse. 

Ergui as sobrancelhas. 

- Mas, Lucian disse para Heron cuidar de mim. Dormíamos no mesmo quarto na casa dele. E para minha segurança, ele deve permanecer comigo. – falei. 

- Minha cara, aqui não é a mansão de Lucian. Sinto em dizer que dormirão sim, separados. Poderia formar brigas entre nossos guerreiros se soubessem que eu estaria mantendo os dois juntos. Terão que dormir separados e não me importo se ficarem juntos durante os dias. Mas, a noite cada um em seu quarto. – ele disse parecendo pela primeira vez, sério.

Heron abriu a boca para falar algo, mas se manteve quieto. 

- Bem, espero que você goste de tudo. Amanhã quero você na mesa do café da manhã às seis e não se atrase, por favor. Temos um longo mês pela frente. Boa noite. – ele sorriu de volta ao bom humor e caminhou para a porta. Mas, antes se virou para nós. – Os guardas trarão já já suas malas. E Heron, às oito quero você em seu quarto. Esse é o toque de recolher. 

Então se virou e saiu. Olhei para o relógio. Era sete e meia. 

- Não gosto desse cara. Tem algo errado com ele. E se eu descobrir que andou dando em cima de você sem que eu saiba, eu o mato. Demônio arrogante! – ele murmurou se sentando na cama. 

Sentei-me em seu colo.

- Fique tranquilo. – sussurrei. 

- Ficaria sim, se eu dormisse com você. – ele passou os braços ao meu redor. 

Sorrindo o joguei na cama e me joguei em cima dele. Beijei seus lábios com paixão e suas mãos apertaram minha cintura. Mas, algo estava errado. 

Senti algo subindo pela minha garganta e minha cabeça girou. Zonza, sai de cima de Heron e voltei a me sentar. Olhei ao redor e eu parecia ver duas penteadeiras à minha frente. Aquilo me deu náuseas e coloquei a mão sobre o estômago. 

- Handora? O que foi? – Heron puxou meu ombro. 

Olhei para ele e a tontura já estava passando. Meu estômago se acalmou e então tão rápido como aquele mal estar veio, foi embora. Respirei fundo e me levantei. 

- Não sei. Fiquei zonza de repente e senti enjoo. Isso é tão estranho. Não costumo me sentir assim. – falei olhando para Heron. 

Ele ficou preocupado. 

- Você comeu algo hoje? – ele disse. 

- Apenas no almoço. Não senti tanta fome assim. Fiquei a maior parte do dia dormindo. Não se lembra? – falei. E eu realmente tinha... Além de ter dormido até a uma da tarde, tinha me atrasado para a viagem. 

- Sim, sim. Acho que precisa comer algo. Vou pedir que te preparem alguma coisa. – ele disse. 

- Tudo bem. 

Ele se levantou e beijou minha testa, saindo do quarto. 

Encostei a porta e então tirei minhas botas e meu casaco. Um toque soou na porta e abri. Eram os seguranças com as malas. Eles deixaram perto da penteadeira e saíram silenciosos. Com preguiça de desfazer a mala, me deitei na cama esperando Heron. 

Meu estômago roncou, mas antes que Heron chegasse, eu adormeci novamente. 


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