Capitulo 2: Piratas

         Desde o dia em que as embarcações de Anthron começaram a singrar os mares do norte nenhuma embarcação militar, imperial ou pirata teve mais paz ou liberdade, os navios fantasmas do inferno como logo ficaram conhecidos atacavam indistintamente qualquer embarcação, mas eles não atacavam pelos motivos que as outras atacavam, militares atacavam como forma de defesa do seu império, companhias defendia seus carregamentos e passageiros, piratas queriam ouro, os navios de Anothron saqueavam os tripulantes, as pessoas era o alvo, cada embarcação que cruzava o caminho deles tinham a tripulação raptada para virarem mais soldados zumbis, e o navio quando não afundado era incorporado a frota do inferno, não eram belonaves etéreas ou que surgiam do nada como vindas das profundezas do oceano, eram reais, muito reais, sua fama de fantasma ficou em parte pela aparência sombria, em parte pela sua tripulação comandados por algum bruxo menor, eram os escravos controlados pela magia do mago sombrio, mais pareciam cadáveres de olhos estáticos, frios, pele pálida como se fosse de mármore, não morriam facilmente apresentando grande resistência mesmo contra os ferimentos mais mortais que não danificassem suas cabeças, não sangravam mas por outro lado eram ágeis e fortes, e para completar com as embarcações sempre haviam um ou dois dragões de fogo de médio ou pequeno porte.

         Arkady não se deixava intimidar por quase nada, por mais de vinte anos sempre foi o rei pirata absoluto dos mares do norte com três belonaves ao seu comando, porem depois que uma delas foi totalmente tomada há alguns dias resolveu se precaver, filho de um grande almirante que caíra em desgraça ao ser derrotado Arkady tornou-se um corsário ainda muito jovem, aos quinze anos já gozava das graças de seu capitão ao matar três soldados em um ataque, aos dezoito já era um dos melhores saqueadores, aos vinte e dois era o segundo no comando, aos trinta seu capitão pereceu em combate, ele desafiou o algoz de seu líder e ao derrotá-lo tornou-se capitão do Orca, sob seu comando, aplicando estratégias militares triplicara seus saques e em pouco tempo já era considerado o maior pirata dos mares do norte, agora aos quarenta e nove anos assistia a reviravolta que rondava o mar que julgava seu por direito, notava e entendia que uma nova era se erguia, não era mais ele o terror absoluto das águas salgadas, não eram mais seus irmãos que as embarcações dos impérios temiam e se mobilizavam entre acordos para combater, agora ele estava do outro lado, eles eram a caça, Anothron o colocara do mesmo lado da balança que seus inimigos, daqueles que ele saqueava e dos militares que o caçavam.

         Mas o destino quis ajudá-lo, achava até que seu protetor o capitão antecessor do Orca era o responsável pela sorte dele encontrar um mago tão poderoso como Daholk boiando no mar, desde que ele viera a bordo com seu aprendiz Delcio as coisas haviam melhorado, ele parecia conhecer a linguagem dos grandes animais marinhos, conseguia curar quase todas as feridas e doenças, conjurava nevoeiros e ventos bons com cânticos estranhos, conseguiram despistar três navios fantasmas  um dia graças a ele, alem disto era muito sábio e conhecia ilhas pequenas remotas onde podiam descansar, rotas marítimas comerciais onde podiam fazer boa pilhagem, por conta disto aceitou as suas exigências que eram poucas e razoáveis,primeiro, não deveria haver mortes desnecessária, ele mesmo cuidaria dos guardas que por ventura estivessem defendendo os navios, ele garantia vantagem sobre os navios cegando a todos com nevoeiros fortíssimos e até ataques de grandes feras do mar evitando lutas desnecessárias e a destruição dos navios, segundo, Arkady se encarregaria de treinar seu discípulo nas artes das lutas físicas, com espada estudos marítimos e militares, assim foi feito e mesmo com o pouco tempo que estavam lá o mago já havia cumprido tudo o que prometera, Arkady acabou fazendo uma amizade especial com Daholk e os dois passavam grande tempo conversando sobre muitas coisas e foi numa destas conversas que mago lhe fez uma  boa proposta:

         --Arkady, o quanto eu posso confiar em você?

         -- O quanto não me prejudicar mago!

         --Preciso da sua ajuda para algo muito importante, mas não será de graça, pensei em te conseguir muito ouro para você e seus homens poderem ficar fora do mar até conseguirmos acabar com este inimigo em comum!

         --Você fala no plural, com quem você esta afinal?

         --Eu sou parte de um grupo de pessoas que se preocupam com este mundo e que pretendem acabar com o reinado de terror de Anothron!

         --Eu tenho o que temer destas pessoas?

         --Muito pelo contrario, te dou minha palavra de que você só terá a agradecer, te devolverei seu mar!

         --Quer dizer o mar livre dos fantasmas?

         --Sim, nossa digamos associação só será de interessa dos magos e aqueles que estão por trás deles, você poderá continuar sua vida de lutas saques e enfrentamento com as marinhas sem a nossa intromissão, este tipo de assunto não é para os magos, mas te garanto que se nos ajudar será recompensado e logo, depois que me deixar no meu destino seguira seu rumo e não precisa me dizer o que fará!

         --Fale-me do ouro!

         --Muito o suficiente para você tirar umas boas férias até tudo melhorar, meu contato me indicou já tudo o que deve ser feito, um grande carregamento de ouro e jóias para um interceptador entre dois impérios, na verdade já esta no local, você só precisa pegar os mapas e sei onde, o restante deixe por minha parte, o que me diz?

         --Vou ser sincero com você, umas férias com muito ouro seria bom, eu aceito seu tesouro, e te levo até seu destino, mas não me importaria de prejudicar o bruxo maldito também!

         Isto tinha sido na noite anterior, por isto o mais jovem tripulante do Orca estava agora ricamente vestido com a mais fina roupa usada nas cortes do império em uma pomposa festa dada pelo barão Altasair de Corsat, da cidade costeira Siborbone a ultima cidade colônia de Hyperion e a mais longe da capital Sina, o jovem era perfeito para a missão dada por Arkady e concebida por Daholk, a empreitada os levariam a um tesouro grandioso, o resgate de um rei, duas noites antes Etriel conseguira entrar em contato com Daholk sabendo que o irmão do circulo secreto dos magos estava com uma tripulação de piratas que por sua vez eram conhecidos pela coragem impar e o mais importante, estava na mesma rota que o navio imperial de Eliel, planejou com Daholk usar o serviço dos saqueadores, grandes conhecedores do mar, seriam obviamente aliados valorosos, Etriel avisou Daholk sobre um carregamento de um grande tesouro desviado pelo barão que eles poderiam saquear sem fazer vitimas, o ouro certamente convenceria os piratas a ajudá-los.

         O príncipe disfarçado era perfeito, pois ainda mantinha a boa aparência de vida na corte diferente dos maltratados homens do mar, Daholk dissera aos piratas que o nobre era filho de comerciantes ricos que fora muito bem tratado antes de ser entregue aos seus cuidados para aprender as artes arcanas!

         O barão celebrava um grande acordo com traficantes que desviaram uma grande quantia de ouro e jóias de um dos impérios, era famoso por ter o navio mais rápido, bem armado e resistente da região e o os traficantes precisavam transportar uma riqueza inestimável em barras de ouro, jóias variadas, tapeçarias e prata, Etriel preferiu não dizer de onde havia vindo tanta riqueza para poupar Daholk e o Príncipe, pois o tesouro provinha de Morghot e fora desviado por um dos magos de Anothron, a riqueza do império destruído era tão grande que o bruxo maligno não se importara do desvio desde que o mago em questão se mantivesse fiel, o saque era ideal para os piratas, pois cobriria mais de três anos de saques normais do Orca, um pagamento justo pela ajuda dos piratas, só havia um empecilho, o local onde estava escondido o tesouro era secreto e isto nem Etriel sabia, mas ele sabia que os mapas estavam no palacete do barão e sabia também que uma pessoa falaria fácil para eles onde estavam os mapas se eles soubessem perguntar, ninguém sabia a localização somente o barão e para evitar problemas os mapas só seriam abertos quando o navio estivesse em auto mar, de lá seguiriam para o lugar secreto possivelmente uma ilha remota das muitas que haviam ali, para não ter nenhum contratempo o barão mandou que o navio passasse por uma checagem completa e partiriam em quatro dias os traficantes a estas horas já haviam deixado o tesouro seguro no local combinado enquanto isto festejariam os quatro dias até o navio estar pronto.

         O Plano de Daholk e Arkady era bem simples, roubar os mapas, ir até a ilha antes que o barão notasse e saquear o local, mas nenhum deles passaria despercebido na festa esnobe a não ser um jovem de boa aparência, típico de uma família respeitada com um criado inteligente, para apoiá-lo Dulock o esperto imediato de Arkady seria este criado, Daholk observara que Arkady tinha muitos documentos oficiais em branco na sua cabine, certamente roubados de navios imperiais saqueados, assim falsificou alguns para o príncipe, ele iria como filho de um rico e famoso barão do comercio marítimo de Behemoth para propor futuras transações lucrativas com o barão, levaria de bom grado presentes, jóias finas uma carta de seu pai de próprio punho, alugaram até uma bela carruagem, o restante dependeria somente da educação do jovem adquirida na corte e uma ajuda de certa poção na bebida da festa, o restante era se infiltrar, esperar o melhor momento, descobrir o local onde estavam os mapas e trocá-los por outras falsificações de Daholk, mapas lacrados com o sinete falso do barão em cera, o príncipe era a entrada Dulock como falso criado faria o restante ele havia sido arrombador antes de virar pirata.

         Warren sentia-se inundado por lembranças do passado em meio à rica festa no palacete do barão Altasair, tudo lembrava o castelo de sua família em Morghot, a riqueza na decoração, as roupas dos ricos convidados, os quadros e estatuas as tapeçarias, mas antes que pudesse cair na melancolia Dulock colocou a mão em seu ombro e falou:

         -- Hora de entrar em ação rapaz, eu notei que a baronesa não tira os olhos de você desde que chegamos, esta gente pomposa não se dão bem entre quatro paredes e pelo que ouvi falar ela gosta de garotos, vamos nos aproximar, vou te apresentar, depois de algumas bebidas você adiciona um pouco da mistura do mago no copo dela, mas somente quando estiverem a sós, a língua dela vai ficar soltinha ai conseguira tirar a informação que precisamos dela, procure não beber muito, esta pronto?

         Dirigiram-se ao pequeno grupo, mesmo com a quantidade excessiva de maquiagem a idade avançada não podia ser escondida no rosto da baronesa, devia estar com sessenta e dois ou mais, era muito branca, loira com algumas mechas de cabelo mais claras, olhos azuis claros e era magra, mas esbanjava alegria e animação, estava cercada por acompanhantes e convidados, sorria escandalosamente, era visível o quanto gostava das festas e de exagerar, Dulock aproximou-se fez uma reverencia mostrando seu sorriso mais cordial beijou a mão estendida dela e falou direto:

         --Baronesa, aceite meus elogios pela esplêndida festa, realmente maravilhosa, gostaria de lhe apresentar meu senhor o jovem Edgard de La Crox, filho único do barão do comercio do norte de Behemoth Edmond de La Crox, creio que a senhora achara por agradável a companhia do meu jovem senhor, ele é ainda tímido, coisa de jovens do alto circulo dele, mas me segredou achar encantadora a energia jovial que emana da nobre dama!

         --Mas que gentileza deste belo rapaz!

Ela falou isto estendendo a mão cheia de ricos anéis para Warren beijar ele o fez meio desajeitado para a diversão da fogosa mulher, Dulock já a tinha observado a algum tempo e também se informara com outros conhecidos, não se enganara, a baronesa era uma predadora voraz e enquanto seu marido saciava sua enorme ganância por riqueza ela caçava nas festas seus próprios tesouros, jovens para satisfazer seus desejos e como uma mulher dominadora os tímidos eram especiais e raros, um verdadeiro troféu!

         --Você me parece um jovem de muito bom gosto, o que esta achando de nossa humilde casa? Você gosta das obras de arte? Foram trazidas de todos os cantos dos três impérios, algumas vieram inclusive de Hagardia, em outro tampo antes daquele infeliz império cair em desgraça!

         Sentado ao lado dela ele arriscou falar:

         --É uma propriedade simplesmente fantástica, seu gosto é certamente melhor que o dos meus pais!

         Ela deu uma gargalhada satisfeita jogando a cabeça para trás e colocando a mão direita na coxa dele subindo rapidamente em direção da virilha, Warren pensou, “esta indo mais rápido do que eu pensei”!

         --Ha meu jovem, você é realmente muito educado, sabe eu estou entediada aqui talvez gostasse de conhecer o restante da casa!

         Falando isto ela se levantou bateu palmas e as pessoas que estavam ao seu redor convidados, damas de honra e empregados se dispersaram, Dulock aproveitou e se afastou também, já sabia em que janela deveria esperar, ela deu o braço para Warren que o enlaçou ao seu e deixou-se ser conduzido escada a cima, ele notara que ela já estava um pouco alterada então falou:

         --Se minha senhora não se importa gostaria de pegar mais uma taça do seu saboroso vinho para nos deliciar enquanto aprecio sua morada!

         --Uma excelente idéia jovem, este vinho veio de Hyperion uma safra riquíssima consumida até na corte de Greiton!

         Ela acenou para um dos serviçais e ele trouxe uma bandeja, pegaram as taças e subiram às grandes escadas, o barão fingiu não notar afinal ele pouco dava importância as escapadas de sua esposa, eram a estas alturas mais sócios que um casal, para ele nada valia mais que o ouro e as jóias e também preferia as suas jovens amantes que a sua velha esposa, este era seu maior erro afinal ela sabia de tudo o que acontecia na sua casa, conhecia cada centímetro, cada segredo! 

         Estavam no andar superior, à baronesa não parava de falar sobre a decoração de quadros a vasos e tapetes enquanto conduzia Warren por corredores e curvas, a musica ia ficando cada vez mais longe e ela cada vez mais perto, chegaram finalmente ao terceiro andar no fim de uma dos corredores mais longos, ela o conduziu a um quarto, já se mostrava meio alcoolizada com a voz um pouco embargada, cercou-o contra a parede perto de uma cama de casal toda enfeitada e depois de beijar a sua boca com violência falou:

         --Você pode abandonar esta timidez agora garoto, me mostre o que um jovem como você pode fazer! Meio assustado meio desconcertado ele falou:

         --Minha senhora! E se alguém nos ver? E o barão?

         --Meu velho marido não se importa mais com o que faço desde que não interfira nos seus negócios, alem do mais a cama dele já é muito bem aquecida pelas melhores cortesãs da cidade!     

         Ela soltou os cabelos e virou de costas para ele desabotoar seu vestido, ele aproveitou e rapidamente rasgou o pequeno envelope com um pó branco e virou o conteúdo dentro da taça dela enquanto ela falava:

         --Não seja por demais educado, arranque logo estes botões!

         --Estou muito excitado para fazer isto, mas primeiro queira terminar este bom vinho comigo, isto me deixará mais confortável!

         --Se isto vai te deixar mais quente para mim eu aceito, afinal não quero nenhum limite nos atrapalhando!

         Pegou a taça da mão dele e virou de uma vez na boca, jogou-a por cima do ombro e olhou para ele com desejo, ele retribuindo o olhar perguntou:

         --Tem certeza de que seu marido não vira para esta área da casa talvez para ir ao escritório? Quer dizer se for perto daqui ele pode nos ouvir!

         Com a voz já pastosa e meio cambaleante ela respondeu:

         --Não se preocupe, o escritório fica no segundo andar no sentido contrario ao nosso pelo menos uns cinco quartos à frente, é impossível ele nos ouvir de lá e alem do mais desconfiado como é não levaria ninguém lá nem iria com medo de ser seguido...

         Piscou os olhos como se estivesse fazendo um grande esforço para enxergar e falou enrolando a língua:

         --Acho que bebi demais!

         Sorriu e cambaleou para cima dele, apagou em seguida, ele a segurou no colo e levou até a cama, colocou-a deitada com certo cuidado e a cobriu, ela só acordaria no outro dia sem lembranças de nada.

         Dulock que escutara tudo do lado de fora já estava no beiral da janela do escritório tentando entrar, mas a janela estava trancada, praguejou e ouviu o barulho do trinco se abrindo e a janela se escancarou na sua frente, Warren colocando a cabeça para fora, Dulock perguntou:

         --Como entrou? Ela tinha a chave?

         Ele sorriu e mostrou dois pequenos ferros falando:

         --Eu aprendo fácil professor!

         --Há há há! Até ontem era um aprendiz de mago, agora já é um pirata arrombador, você vai longe garoto! Agora vamos à missão!

         Procuraram entre os vários papeis empilhados na grande escrivaninha, nas varias prateleiras com livros, em dois armários e uma cômoda, mas nada dos mapas, arrancaram quadros das paredes e nada de cofre, então Dulock reparou em uma estatua de uma mulher seminua presa a uma base quadrada do mesmo material, era toda branca de tamanho médio e se destacava da decoração, empurrou-a e notou que não era muito pesada como aparentava, empurrou mais a estatua se moveu e revelou atrás da base um pequeno cofre escondido, mandou Warren arrumar as coisas do jeito que encontraram enquanto arrombava o cofre com algumas ferramentas simples, arrancou a proteção da fechadura e com os dois ferros usados por Warren antes mexeu no maquinário por dentro em poucos segundos o cofre estava aberto, o barão confiava mais no esconderijo que na eficácia da fechadura, era um cofre muito simples de abrir, Dulock tirou do bolso interno do casaco cópias de mapas semelhantes pois era documentos de um tipo padrão não sendo difícil de se falsificar, alem do mais quando descobrissem o roubo já estariam longe com o tesouro, trocou os documentos e remontou o cofre, arrumaram tudo o máximo possível como estava e saíram trancando a porta, a primeira parte da missão esta concluída com êxito, e o príncipe Warren acabara de conquistar seu respeito e por em pratica a alguns truques que lhe poderiam ser úteis no futuro, alem do mais vivera uma verdadeira aventura e isto o ajudava a espantar seus medos e a se sentir útil pois ainda lhe doía a lembrança de ser o culpado pelo ataque do dragão a embarcação imperial que custou a vida de muitos bons homens e em especial a de Leal a quem nutria grande amizade, mas agora acabara de conquistar uma grande amizade e o respeito de um dos piratas mais temidos do mar do norte depois apenas de Arkady!

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