Capitulo 2

Me sentei em um banco aleatório do trem, parada e olhando para o lado de fora. triste? talvez. arrependida? não. 

Eu não podia continuar com a vida que tinha sem tomar uma decisão. Quando ela chegava bêbada em casa, eu que tinha que cuidar dos vômitos, alimentação, casa e ainda ter que dar o dinheiro que consegui com meu trabalho pra ela gastar com mais bebida. Isso tudo acontecia diariamente e eu não aguentava mais.

Espero que com minha ausência ela perceba o desastre que está acontecendo em sua vida que fez até me afastar. Mas o  que não sai da minha cabeça é o fato de reencontrar o meu pai. Não vejo-o faz muito, muito tempo e não vai ser fácil para nenhum de nós dois. Tudo bem que talvez eu nem o ache por que nunca entrei em contato com ele desde que minha mãe me levou embora quando era criança, nós sumimos, e supus que ele nunca mais soube da gente.

Ainda não me lembrando sobre minha infância com ele, a discussão sobre aquele dia vaga em minha cabeça as vezes.  

- Mas aonde você esta indo à essa hora? - Meu pai disse tentando acalma-la, enquanto ela me puxava pelo pulso. - Amélia se acalme.

- Eu vou embora e não adianta brigar e nem tentar me fazer ficar aqui. - Ela disse ríspida e fria. Ele ficou em sua frente na porta, seu peito subiu e desceu em um suspiro pesado e ela finalmente o olhou. - Saia da frente, por favor.

- Eu só quero uma explicação disso, e eu deixo você ir, mas minha filha fica comigo. - Ele olhou triste pra mim e voltou a olhar pra ela.

- Não tenho obrigação de lhe explicar alguma coisa. Motivos eu tenho e você como o homem que é nunca iria entender. - Ela o empurrou e me puxou pra fora da casa, o taxi já estava parado em frente. - Isa quer ir comigo, ela me disse. E uma filha tem que ficar com a mãe, se eu for pra justiça vai ser pior pra você.

Olhei pra trás por aluns segundos e vi meu pai aparecendo na porta e parando para nos ver entrando no carro. Eu nunca esqueci a expressão do seu rosto aflito e sem saber o que fazer.

Eu nunca consegui esquecer essa lembrança, já que é a mais forte e memorável que tenho desde então.

Ouvi o trem apitar depois de algum tempo adormecida. Ao olhar pela janela, meu corpo congelou do pé à cabeça e senti meu coração batendo com a mesma intensidade de quando saí de casa. Meus olhos foram preenchidos de memórias ao ver, de longe ainda e em movimento, a grande floresta verde, alta e escura que fica ao redor da cidade. É época de frio e as grandes árvores ficam cobertas com o manto branco da neve. Enfim o trem parou na estação e pude descer. Perdida, chamei um táxi e o mesmo parou quando me viu chamar sua atenção.

- Onde vai? - Ele perguntou olhando-me pelo retrovisor com olhos cansados.

- E-eu não sei... - Falei e me encolhi no banco de trás quando vi seu olhar confuso. - Faz muito tempo desde que andei aqui, não lembro de muita coisa...

- Ah, sim. Então dou uma volta com você e se reconhecer algo... 

- Sim, eu gostaria muito. - Falei com um sorriso.

- ...Claro que isso vai ter um custo. - Disse ele dando partida no carro. Eu já esperava, já que hoje em dia nem a gentileza é de graça.

Por incrível que pareça, eu acabei mesmo me lembrando de algumas coisas até mesmo insignificantes como algum cartaz muito antigo e acabado com anúncios na parede. Lembrei-me do parque no centro da cidade onde eu vinha brincar com minhas amigas e passear com meus pais em dias de  sol. 

Mas mesmo reconhecendo algumas coisas, a cidade estava muito diferente.  A população sempre foi pequena, e agora o numero de casas triplicou. Nós passamos por muitos lugares, mas nenhum me trouxe uma memória forte que me fizesse descer do carro. 17 minutos se passaram e o preço do taxi já estava aumentando demais e meu dinheiro é pouco, então pedi que parasse em uma pequena praça cujo a rua não tinha muito movimento, paguei e ele foi embora. 

Olhei ao redor e me vi completamente sozinha em uma rua deserta sentada em um brinquedo que me pareceu meio familiar. 

Um arrepio subiu dos pés a cabeça, quando lembrei onde eu estava. Era a rua da minha antiga casa.  Engoli em seco e me levantei do brinquedo e atravessei a rua, caminhando a passos lentos observando cada casa, cada jardim ou porta, cada detalhe que me viesse a memória minha antiga casa. Já estava anoitecendo e daqui há alguns minutos vai ficar escuro. Continuei observando cuidadosamente cada detalhe, até que parei.

Senti uma presença atrás de mim, algo que parecia fungar no meu pescoço. Virei-me com rapidez para trás então tinha nada. Fitei a imensa floresta e, por mais que eu quisesse parar de olhar, eu não conseguia. Árvores enormes e a escuridão me diziam que havia alguma coisa ali que eu não sabia o que era e nem via, mais tinha alguma coisa ali.

Uma luz forte brilhou no meio da escuridão exatamente onde estava olhando, bem ao longe. Eu não consegui parar de olhar e era frustante. Não conseguia pensar em mais nada a não ser nessa luz dourada misteriosa que consumiu meu corpo e me deixou paralizada, não por medo, mas algo diferente. 

Quando eu achava que ia apagar de vez, ouvi uma melodia. Isso me tirou do transe. Fiquei um tempo tentando assimilar o que tinha acontecido, recuperando minhas forças, e outra vez escutei a musica familiar. Olhei para uma casa cujo havia uma grande árvore bem cuidada e bonita, sendo regada por um homem. Era ele quem cantava a bela música que eu reconheci.

Caminhei no automático segurando meu coração dentro do peito, apertado. Ele regava a árvore e cantarolava, um homem que já tinha idade e seu físico é jovial, uma barba meio rasa e seus olhos ja estavam em mim. A canção parou e ele me observava curioso, talvez por ver que eu me encontrava com algumas lágrimas descendo. Na tentativa de falar alguma coisa, saiu apenas uma palavra que significam milhões:

- Pai? - Falei e seus olhos se arregalaram ao mesmo tempo que ele largou o regador no chão.

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