Capítulo Sete

FELIPE

SIMÕES

As aulas foram suspensas por 15 dias na faculdade, podendo ter uma prorrogação de mais 15 dias como uma medida de prevenção contra o coronavírus. O reitor, mesmo achando um exagero como qualquer pessoa que apoie cegamente as falas desonestas do atual presidente, cedeu uma pequena férias para que a comunidade acadêmica pudesse ter uma reclusão social após algumas manifestações de repúdio dos diretórios e centros acadêmicos de cada unidade sobre as aulas continuarem normalmente com uma epidemia rolando pelo mundo a fora.

O que os alunos fizeram para comemorar o pequeno recesso forçado? Isso mesmo, a porra de uma festa no estacionamento do Campus de exatas.

Mais burros que isso só quem votou em um jumento para presidência, e eu que vim para a muvuca universitária depois que a minha amiga me ligou chorando falando que estava passando mal em um banheiro.

Por isso é melhor não ter ninguém na nossa vida, porque aí você não tem responsabilidade com as burradas das  outras pessoas.

O pior é que já andei por todos os lugares dos cinco Campus e não encontrei um sinal da demente!

A Nathalia sabe que é perigoso beber em uma festa e pode acabar sendo estuprada ou morta e mesmo assim faz. Sinceramente, qual a porra da dificuldade em entender que mulher não pode sair sozinha e se dar ao desfrute dessa maneira desajuizada? Se duvidar, os caras não perdoam nem as mães e irmãs bêbadas, imagina se vão negar uma novinha desconhecida dando mole.

— Que bela merda que essa doida foi fazer. – Passei as duas mãos no rosto tentando manter a calma e olhei ao redor novamente na esperança de encontrar a Nathy, mas infelizmente, só vi mato.

A música eletrônica está distante e ao observar o lugar onde está acontecendo a reunião dos imprudentes, posso enxergar uma fumaça saindo por entre as árvores.

Maconha é quase tão importante quanto o oxigênio para a maioria dos acadêmicos desse antro de perdição.

Puts, pareço um idoso reclamando da nova geração.

Liguei mais uma vez para a minha amiga e dessa vez o celular deu desligado.

— É sério isso, porra? – Inquiro para mim mesmo no momento que penso no pior.

Eu não deveria ter deixado essa maluca sair de casa!

Resolvo andar de novo pelo campus em uma última tentativa de encontrá-la e quando estou quase desistindo e indo embora da universidade, encontro a Nathalia junto com uma outra garota, que reconheço ser a mesma pessoa que quase desmaiou no meio da pracinha há duas semanas atrás.

As duas estavam sentadas na grama com as costas apoiadas em uma árvore e nitidamente muito bêbadas.

Ao me ver, a namorada do Marcelo se assusta por alguns segundos e logo tenta disfarçar seu desânimo.

— Finalmente te encontrei, cacete! – Me aproximo da minha amiga e tento a levantar, mas ela nega com a cabeça e me empurra. — Você precisa ir para o nosso apartamento, tomar um banho e dormir, Nathy. Não era nem pra tu ter vindo para essa festa. Você sabe, né?

— Se eu for, você vai me comer igual naquele dia? – Nathalia questiona com malícia na voz e eu abafo um risada.

— Achei que você tivesse odiado. – Implico e tento puxá-la para que a mesma venha comigo, mas ela nega novamente.

— Eu gostei do sexo. – A confissão da garota não é exatamente uma novidade, afinal sei bem o quanto uma foda comigo é o paraíso para todas as mulheres que já tiveram esse prazer. — Você faz de um jeito bem gostosinho.

Modéstia a parte, sabia que era verdade, contudo, foder a minha melhor amiga não foi exatamente a uma opção astuta, especialmente levando em conta que dividimos o mesmo apê por conta da faculdade e esse acontecimento pode implicar no nosso relacionamento.

O apartamento é um presente da minha mãe e eu moro nele desde que completei dezoito anos e a Nathalia passou a morar comigo desde o início do período letivo por ser mais perto e mais confortável do que vir de ônibus ou metrô para a universidade. É um dos muitos privilégios em ser amiga do filho de uma mulher bem de vida, digamos assim.

— Obrigado por reconhecer meus dons sexuais na cama. – Falo rindo e finalmente, consigo carregá-la no colo.

Agora temos um problema, porque eu vim de moto e tem outra mulher na mesma situação de risco que a Nathalia e infelizmente, só posso ajudar uma delas.

Levei a menina que já estava nos meus braços até o lugar onde estacionei a minha moto e a deixei próxima ao veículo de duas rodas enquanto eu liguei para o Marcelo e avisei sobre o estado de embriaguez da sua namorada. Ele pareceu ter ficado puto e disse alguns palavrões antes de avisar que está vindo e honestamente, não sei se a chateação é por ter que vir buscá-la ou por ela estar comigo.

Costumávamos ser amigos há uns quatro anos, só que o Marcelo passou a se envolver com os negócios escusos do seu pai e eu não consegui me manter por perto durante essa transformação de vida dele.

Não julgo sua escolha, porque no fundo, entendo a pressão que é ser filho de um chefe de facção e como a família pode fazer pressão para seguirmos o mesmo caminho, entretanto, eu não consigo me ver próximo a ninguém que vá por esse caminho fácil.

Não aceito ficar perto de pessoas que acham normal usarem crianças e adolescentes para trabalharem no tráfico de drogas, acham que são os donos do mundo e podem fazer o que quiserem sem sofrer as consequências. Só quem nasceu e cresceu em uma favela sabe como é uma merda tudo que acontece ali dentro quando envolve os crimes praticados por bandidos.

Passei a minha infância e boa parte da adolescência vendo mulheres sendo agredidas com pedaços de madeiras, levando socos e pontapés na frente de toda a comunidade por motivos fúteis, desde ir para o baile funk sem a permissão do marido que estava preso até por conversar com alguém do morro rival.

Não basta o favelado ser pobre,  fodido e viver sob constantes ameaças de qualquer zé ruela que se acha mais do que é, ainda tem que se submeter às leis criadas por traficantes. Não sei o que é pior, ser governado pelo PT e Bolsonaro ou controlado por um monte de caras que não tem nem o ensino fundamental.

Todas as vezes que vejo essas pseudos feministas de internet defendendo marginal em cima de um palanque virtual, eu tenho vontade de lembrar que o principal motivo das mulheres pobres e negras serem oprimidas são exatamente por causa dos bandidos que elas ficam colocando como as vítimas da sociedade e muitas vezes os endeusando e sentando nas rolas ilegais. Aí depois que amanhece morta com a boca cheia de formiga, a família ainda tem a cara da pau de ir dar entrevista falando que era estudante e moça de família.

Uma coisa que eu aprendi é que quem defende traficante, não conhece a realidade ou é da mesma laia. Felizmente, não faço parte de nenhum desses grupos. Gente decente não se mete com bandido e fim de papo.

— Vai buscar a Louise. – Nathalia pede com uma certa dificuldade, me fazendo voltar a realidade e eu assinto.

— Fica quietinha aqui, sua louca.

Voltei para a parte isolada na qual a mulher está e imitei o mesmo processo que fiz anteriormente com a Nathalia.

Agora tenho duas bêbadas para cuidar.

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