Capitulo 5: Tribo Lackan

Fora um dia inteiro de caminhada até Cam e Yulla chegarem a uma pequena aldeia.

Ela nunca havia estado em uma aldeia e o que ela vira a fascinou.

Eram várias pessoas comuns, andando de um lado para o outro fazendo o que já era de sua rotina: alimentar os animais, limpar coisas, preparar a própria comida, plantar, colher. Ela se sentia confortável em estar ali, admirando a cena.

Todos que a viam a olhavam com preocupação, até ela se tocar que isso se devia ao fato do seu vestido estar manchado de sangue. Ela tentou cobrir aquilo com a mão para que ninguém se assustasse. Cam percebeu a preocupação dela.

– Eles não se assustam muito com esse tipo de cena.

Ela olhou para ele com um ar de interrogação.

– Muitos guerreiros dessa tribo aparecem muito feridos ou quase mortos.  Então...

– Você já veio muitas vezes aqui?

 – Ainda tentando saber mais sobre mim?

Ela resmungou.

– Responder a minha pergunta não vai te matar sabia?!

– Não duvide.

Eles continuaram andando sendo seguidos pelos olhos dos habitantes da tribo.

Pararam em frente a uma cabana cheia de cabeças de pessoas encolhidas. Yulla ficou assustada vendo as cabeças. Onde aquele maluco estava querendo deixar ela?

– Eu não entrarei ai.

– Não se assuste muito com as cabeças.  Ele faz isso apenas com os líderes de seus inimigos. Você não é filha de um dos líderes de outras tribos é? – Cam perguntou zombando dela.

Alguém abriu a porta antes de eles se aproximarem dela e Yulla agarrou o braço de Cam com força fincando as unhas na pele dele.

O homem velho, curvado e da pele caramelada que abrira a porta sorriu com um sorriso desdentado quando reconheceu Cam.

– Ora meu jovem caminhante, ontem mesmo eu sonhei com você.  Entre por favor. – Se afastou da porta para os chegados entrassem.

Yulla tirou a mão do braço de Cam e seu rosto ficou rubro.

– Hairof, eu venho aqui hoje para pedir um favor seu. Quero que você cuide dessa jovem como se fosse uma de suas filhas, cuide dela enquanto eu faço a minha jornada anual. 

– Oh, meu amigo, eu pensava que está jovem era sua esposa, mas vejo que estou enganado. Assim como me enganei a respeito de você ser escolhido para ser um dos caminhantes.

Yulla olhou para Cam e depois para Hairof sem entender nada.

– Camel nascera um menino forte em uma tribo amiga desta tribo, muito distante daqui. Um dia ele fora atacado por um lobo, as cicatrizes em seu pescoço não me deixam mentir, criança.

A jovem olhou para o pescoço de Cam instintivamente.

E lá estava realmente a cicatriz que o líder da tribo estava dizendo, ela não havia notado aquilo antes. Cam parecia incomodado com o olhar dela encima dele, pois logo deu um jeito de esconder as cicatrizes com as roupas e as mãos assim como ela fizera fora dali. Yulla olhou outra vez para Hairof. 

– Com uma força "sobrenatural" vinda direto da deusa, ele conseguira matar o lobo e salvar a própria vida. Quando o líder de sua tribo se reuniu comigo, ele trouxe Camel, orgulhoso por mostrar o menino que derrotara um lobo, que por coincidência é o símbolo de nossa tribo. Eu analisei a criança e vi que ele seria um bom caminhante. O que fez com que sua tribo o entregasse aos caminhantes quando completara 15 anos. No entanto ele não está mais com eles, infelizmente.

– Espere: o que são os caminhantes? - Yulla pergunta com a confusão em seus olhos.

– Isso não é importante. - Cam cruza os braços.

Yulla olha para Hairof quase pedindo explicações, mas Hairof abaixa a cabeça em respeito ao pedido em palavras diferentes de Cam. O assunto fora encerrado.

Hairof levantou a cabeça e disse:

– Vocês devem estar cansados e famintos. Pedirei que alguém traga algo para vocês.

Yulla olhou novamente para Cam, mas ele não estava mais do seu lado.

***

Yulla já havia ido dormir quando Hairof e Cam se sentaram na soleira da cabana do líder dos Lackan.

– Eu partirei em breve Hairof, sinto que estou sendo perseguido.  Cada momento perto de seres humanos me causam pavor e eu me recordo que eu quase havia sido o culpado pela morte dos caminhantes. – ele havia contado todo o seu problema para Hairof quando saíra dos caminhantes.

– Entendo o seu sofrimento meu jovem, mas você sabe, assim como eu, que não pode adiar o seu destino.

– Mas qual é o meu destino realmente?  Eu nem sei por que estou aqui na terra. Antes eu tinha Sefiron para seguir e tive que me afastar dele. Daqui a alguns tempos terei que me afastar de você também.

– E se isolar dos humanos como um animal? Não, você não foi designado para esse tipo de destino. Seu destino é grandioso.

– Então me fale sobre ele já que parece saber tanto.

– A deusa não me deu permissão para lhe contar, então não contarei. 

– Eu preciso ir agora.

– Eu entendo Camel. – Hairof se levantou e colocou a mão sob a cabeça de Cam, fez uma breve oração e antes de deixar o outro ir o entregou algo embrulhado em uma pele de lobo cinzenta. A pele do lobo que matara. - Você está pronto para carrega-la e usa-la caso seja necessário. 

Cam não respondeu, ele não precisava. Apenas encostou sua testa na testa de Hairof e em seguida sumiu da vista do velho.

                 

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