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Ao sair de casa, dou de cara com Gustavo e levo um susto.
— Que susto, peste! — falo, com a mão no peito.
— Estava com saudades?
— Sim, choro todos os dias com saudades de ser humilhada — digo com deboche.
O babaca ri.
— É uma péssima mentirosa. Sei que sou um homem bonito e atraente, nunca vai conseguir um namorado como eu.
— Deus te ouça! — digo, andando. O infeliz vem atrás.
— Se você perdesse 30 quilos, ficaria mais bonitinha.
Olho para o chão em busca de uma pedra para espantar esse encosto. Infelizmente, não acho.
— Se você parasse de beber tanta cachaça, teria um hálito muito melhor — digo, tapando o nariz.
— Vai morrer solteira. Homem nenhum quer uma mulher gorda e mal-educada.
Pego um sapato velho que vejo no chão e jogo na sua cabeça.
— Você que pensa, otário!
Acelero meus passos e ignoro seus xingamentos.
Assim que o ônibus chega, corro para entrar. Tenho a sorte ou azar de me sentar ao lado de um homem barrigudo com uma garrafa de cerveja na mão.
— Olá, princesa?
— Oi.