meu pao de manei
meu pao de manei
Por: Momede
Capítulo 1

Sempre gostei de malhar nas primeiras horas da manhã.

Quando acordo às cinco e quinze, me preparo para o dia que vem pela frente.

O horário que para mim, é propício para fazer exercícios se tornou essencial dentro da minha rotina.

O motivo?

Às seis e meia, a sala de musculação está mais vazia e não há desfile de corpos ou roupas de ginástica.

Nesse horário, realmente só malham, aquelas pessoas que se importam com a saúde e não somente com a aparência física.

Meu personal Tiago me proporciona sempre ao fim da aula de musculação, uma maneira de desacelerar meu ritmo, alongando e massageando minhas costas, enquanto deitada em cima de um colchonete vou pensando nas próximas tarefas diárias.

Por mais que eu saia arrasada da academia, Tiago faz questão de usar a ironia para dizer que na semana seguinte, pegará mais leve nos exercícios, o que de fato nunca acontece.

No entanto ao nos despedirmos, peguei meu Iphone e na tela havia uma chamada perdida seguida de uma mensagem no W******p, ambas de Abílio, o dono do jornal para qual trabalho há mais de vinte anos.

" Preciso falar com você. Esteja na minha sala às oito."

Corri para casa, onde tomei um banho e me arrumei impecavelmente para mais um dia no jornal.

....

Minha prioridade sempre foi ser reconhecida como a melhor jornalista investigativa do ramo e quando atingi o topo da carreira onde prêmios, bonificações e finalmente uma estabilidade financeira me proporcionou a oportunidade de ter coisas boas, fiquei conhecida também pela aparência.   

Minha avó sempre dizia que uma mulher bem arrumada e cheirosa é capaz de ganhar o mundo e que além disso, eu ainda estava em vantagem pois, era a neta mais bonita da família e consequentemente me tornando na fase adulta, uma mulher extremamente atraente.

É evidente que meus cabelos louros, os olhos azuis e a pele de pêssego herdados de vovó ajudaram na construção do conjunto, porém os cuidados com o corpo, com os dentes e com as unhas realçavam ainda mais toda a atenção que recebia dos homens e ás vezes das mulheres.

Diariamente fazia questão de me vestir com roupas elegantes, saltos finos de diversas cores.

Assim como bolsas caras que combinam com as blusas, estando com o cabelo sempre arrumado.

....

Pensando no assunto que poderia surgir com Abílio que era uma pessoa muito imprevisível escolhi peças do meu guarda roupa com cautela.

Salto creme, calça marfim, blusa preta marcando meus seios siliconizados dentro do sutiã de renda e cabelo em coque.

Brincos de pedras, pulseiras e claro... Meu perfume favorito, Eau de Toilette, a marca registrada da minha presença. 

Tudo isso não passava de um grande teatro, afinal pessoas bem sucedidas não poderiam andar de jeans ou all star, principalmente trabalhando em um jornal renomado, e sendo uma das jornalistas mais bem pagas do país.

A futilidade era exposta como uma arma diante da concorrência, composta por outras jornalistas que mal conseguiam pentear o cabelo ao sair da cama.

Inteligência e beleza andando lado a lado.

...

O café matinal era imprescindível ser na mesma loja de costume ao lado do meu prédio, onde a atendente me conhecia há pelo menos dois anos.

A menina, da qual nunca decorei o nome, ao me ver abria um sorriso simpático e acolhedor.

O atendimento era impecável, até porque o café servido na loja era de uma das marcas mais famosas do mundo, ou seja, os ingredientes eram fundamentais: Simpatia, bom atendimento e qualidade.

No fundo, o treinamento que os atendentes recebiam para oferecer aos clientes antes das oito da manhã, bons serviços, era o que me fazia gastar dinheiro diariamente com minha bebida, mesmo sabendo que não era todo mundo podia pagar vinte e cinco reais por um café.

Entretanto, não há dinheiro no mundo que supra a satisfação de ser bem atendida.  

- Bom dia dona Carla! Tudo bem? - Ela sorriu amistosamente. - O de sempre?

- Por favor. - Respondi pagando por minha bebida. 

Enquanto aguardava o café Verona ficar pronto, me atualizava com as notícias onlines da primeira parte do dia.

Bolsa de valores, terremotos, política, PIB, investimentos entre outras coisas sem muita importância.

- Carla!! - Escutei meu nome ser chamado pela mesma moça sorridente e logo vi a loja começar a encher.

Lhe agradeci de maneira cordial e como de praxe, entreguei em suas mãos uma gorjeta consideravelmente boa pela dose extra de café em meu copo, que o gerente não sonhava em saber.

Um acordo silencioso entre duas damas.

....

Ao sair da loja, meu celular tocou novamente e diversas notificações me bombardeavam com notícias de todo o mundo.

Peguei um táxi e fui direto para o prédio do jornal, um dos mais bonitos e cobiçados da cidade, onde somente empresas regidas por mega empresários tinham como adquirir salas ou andares inteiros.

O concierge abriu a porta principal de vidro, para que eu entrasse no edifício e passando por cada membro da equipe ainda no hall, era cumprimentada amigavelmente.

No elevador, apertei o botão do décimo primeiro andar, onde a vista da minha sala para a praia de Botafogo, me proporcionava a visão de um dos cartões postais mais bonitos do mundo.

- Bom dia, doutora Carla. Seu Albílio lhe aguarda na sala privada. - Disse a secretária.

Odiava o doutora, mas era uma maneira respeitosa e requintada de ser chamada pelos subalternos. Um status que valia apenas no mundo dos negócios.

Assenti com a cabeça lhe entregando relatórios do dia anterior.

....

Abílio na verdade, era o dono do edifíco chamado Titânium, a sede do jornal que valia bilhões no mercado financeiro.

A empresa contendo mais de dois mil profissionais dentro e fora do país, movimentava uma rede nacional de emissoria televisiva e estação de rádio, além de dominar a internet.  

Minha carreira profissional, começou quando ainda na faculdade, me inscrevi para a paletras que Abílio ministrava em diversas turmas.

Em uma das propostas feitas pelo empresário, durante os seminários, os alunos deveriam m****r um e-mail explicando os motivos de escolherem o jornalismo como profissão.

Nos auge dos meus vinte e dois anos, era uma sonhadora como qualquer outro jovem da minha idade que estava se formando e se preparando para encarar o mercado de trabalho.

Dentro da minha arrogância, enviei um e-mail detalhando os pontos principais em querer ser uma jornalista e principalmente porque ser da área investigativa.

Foram mais de dois mil e oitocentos e-mails, que aquele homem com carreira brilhante e bem sucedida, recebeu. 

Até hoje, não sei se realmente Abílio leu cada palavra, mas para a minha sorte ou por destino, fui chamada para uma entrevista.

Depois disso, surgiu um estágio e quando me formei fui contratada.

O empresário que fazia questão de ver de perto os pupilos, me ajudou a construir tudo o que tenho hoje.

....

- Com licença, Abílio. - Deparei-me com o meu chefe de oitenta e poucos anos que vestia terno Ermenegildo Zegna e sapatos Bruno Magli, praticando seu esporte favorito. - Um mini golfe eletrônico em sua imensa sala presidencial.

- Sente-se Carla. Precisamos conversar. - Disse dando uma tacada na bola.

Me acomodei em uma das poltronas, convicta de que estava sendo chamada para mais um serviço que somente eu, poderia realizar.

Era sempre assim.

Abílio, nunca, jamais me chamava para jogar conversa fora, principalmente quando era em sua sala. 

Ele me encarou, preparando-se para a próxima tacada e parecia escolher as palavras a serem ditas.

- Carla... Vou direto ao assunto! - Abílio arfou, dessa vez prostrado por errar o buraco em que a bola deveria entrar. - Tenho um trabalho para você e não é um dos mais fáceis.

Por fim, parecia cansado daquele jogo que não lhe ajudava a relaxar.

Sentou-se na cadeira, atrás da imensa mesa de vidro e girando seu corpo, olhou para a deslumbrante cidade carioca.

- Qual é o trabalho, Abílio? - Estava impaciente com sua hesitação, pois quanto antes eu soubesse o que tinha que fazer, mais rápido poderia começar a trabalhar.

Ele voltou a me encarar e após manter alguns segundos de suspense entregou-me um documento. 

- Você conhece o caso Sara Castro, não é?

Olhei para aquele homem tão inteligente e sorri sarcasticamente.

- E quem não conhece Sara Castro? - Dei uma olhada rápida nas folhas em minhas mãos.

- Preciso que você escreva um livro sobre o caso.

Olhei para Abílio, confusa.

- Não me olhe desse jeito, Carla. - Repreendeu-me. - É mais um livro no seu curriculum. 

Levantei da cadeira, tentando assimilar o que exatamente o diretor do jornal queria de mim.

- Não farei nada até que me explique, o que de fato quer com isso, afinal esse caso não foi tão simples assim.

- Eu sei e é por isso que quero um livro sobre esse crime.

- Abílio, você está me pedindo para escrever sobre a maior assassina dos últimos vinte e cinco anos. Não sei se estou pronta para isso.

Ele sorriu, convencido que eu aceitaria o trabalho, porém era provável que colocasse algumas condições. 

- Estou ciente de tudo o que passou. Em todos os momentos teve meu apoio, mas agora, preciso de alguém com o seu potencial para escrever essa história. Esse documento lhe dá acesso irrestrito à cadeia aonde a assassina está. 

Sentei novamente diante do idoso persuasivo.

- Abílio... - Sussurei - Essa mulher esquartejou a mãe e com os pedaços alimentou dois rottweilers.

- É por isso que quero esse livro. - Ele se manteve firme. - Olha... Passamos por muitas coisas juntos. Precisei tirar você do país por causa de denúncias políticas. Facção criminosa matou o seu marido. Você expos uma rede de pedofilia onde policias e desembargadores estavam envolvidos. Foi jurada de morte. Precisou atravessar a fronteira dentro da mala do carro... Carla...

- Chega Abílio! - Uma lágrima escorreu em minha face ao pensar em meu falecido marido.

- Eu posso inumerar todas as coisas que você fez em nome do jornalismo investigativo. Seus livros venderam mais de meio milhão de cópias em um único mês. As pessoas compram o que você vende. Elas lêem quando tem o seu nome na capa e esse caso da Sara Castro precisa de uma outra visão.

Ele me entregou um lenço para arrumar a maquiagem.

- Ninguém mais pode fazer isso além de você.

Respirei fundo, pensando rapidamente no que se escancarava a minha frente e joguei em seu colo a primeira condição.

- Quero vinte e cinco porcento a mais no meu salário para esse projeto.

Abílio me olhou, sorrindo sarcasticamente, sabendo que me convencer não seria tão fácil assim.

- Você é a jornalista mais bem paga do meu jornal. O que mais quer?

- Vinte e cinco porcento, já disse.

- Te dou cinco.

Gargalhei.

- Vamos Abílio, não sou estagiária.

- Ok... Dez porcento.

- É pouco. Terei que frequentar cadeia feminina diariamente. Valorize meu tempo e minha disposição.

Ele gostava desse jogo, talvez fosse por isso que sempre me chamava para missões difíceis como essa.

- Quinze...

- É pouco pensando nas revistas que terei que me submeter.

Ele riu, finalmente convencido.

- Tá. Te dou vinte e cinco porcento de aumento e você me entrega o melhor livro da sua carreira. Esse é o passaporte para sua aposentadoria.

Levantei da cadeira satisfeita e apertando a mão de meu mentor. Aguardia apenas o envio das clausulas do contrato para a nova remuneração e evidentemente do novo livro.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo