Capítulo 5

Isa

Acordei e levei um tempo para me sintonizar no tempo e espaço. Olhei ao redor, na penumbra do quarto desconhecido e tentei me mexer. Tinha uma coberta em cima do meu corpo que não era a minha, levantei e descobri duas coisas, uma, estava nua, duas tinha um braço moreno ao redor da minha cintura. As imagens da noite passada vieram em minha mente.

Senti meu rosto corar, meu corpo doer e uma satisfação vibrar por todos os meus ossos. Fui comida duas vezes muito bem, sério, as minhas experiências anteriores foram um nada perto do que vivi com Maurício, gostei da sedução lenta da primeira vez e a urgência da segunda. Transar dava energia, queria pular dali e fazer alguma coisa, mas meu companheiro estava dormindo tão gostoso que achei melhor fazer tudo bem silenciosamente.

Tirei seu braço de mim e me arrastei para outro lado. Levantei da cama e caminhei para a porta que não era a de entrada, abri e me deparei com um banheiro limpo e organizado, dei um passo no chão frio de azulejos pretos e me olhei no espelho. Minha pele morena tinha várias marcas vermelhas, principalmente ao redor dos seios. Sorri para imagem, usei o sanitário e fiquei na dúvida se voltava para o quarto e caçava minhas roupas. Resolvi fazer um café da manhã para o meu gigante moreno.

Será que ele vai se importar?

Isso é normal? 

Qual o protocolo pós-sexo?

Respirei fundo e achei melhor ir fazer o café, se ele achasse ruim pediria desculpa, me fingiria de egípcia e nunca mais o veria. É exatamente por isso que não gosto de dormir na casa dos outros, são tantos protocolos.

Respirei fundo e peguei uns shorts e uma camiseta que estava atrás da porta e vesti, queria tanto achar pelo menos o meu sutiã. Andar com os meninos balançando não era legal, mas a chance de acordar Mau Mau eram muitas, achei melhor não arriscar. Saí do banheiro e entrei no quarto e ele estava na mesma posição que deixei. Caminhei silenciosamente para fora e sai no corredor, iluminado. Olhei para mim e quase ri, estava muito engraçada com aquelas roupas, o calção folgado e a blusa comprida, apesar de sermos quase do mesmo tamanho o homem tinha um peitoral bem largo.

 Voltei o caminho que fiz na noite anterior, passei por um quarto que estava com a porta aberta, aparentemente feminino, deveria ser o da Emily. A curiosidade era grande, mas continuei meu caminho, mais a frente escutei barulho de chuveiro. Tinha mais gente em casa, dei uma olhada em mim e eu estava decente. Desci as escadas chegando à sala.

— Bom dia.

— Puta que pariu. — Coloquei a mão no coração e olhei para menina sorridente que apareceu do nada. — Acho que minha alma foi dar uma volta agora.

— Desculpa. — Essa deveria ser a Emily, os traços dela não negavam o parentesco com os homens, apesar de ser mais baixa que eu, tinha lindos cachos castanhos, olhos expressivos, pele dourada, perfeita para ser modelo com aquele rosto de anjo.

— Você deve ser a Emily?

— Essa sou eu. Você é quem e está com quem?

— Sou Isadora ou Isa, e estou com o Mau Mau, quer dizer Maurício. — Sorri para ela sem jeito.

— Mau Mau foi ótimo. — Ela retribuiu o sorriso. A mocinha vestia um shortinho e camiseta de pijama de ursinho, delicado igual ela. — Eu estava indo para a cozinha fazer o café, quer ir comigo?

— Só se você me deixar ajudar.

— Visita não vai para cozinha.

— Besteira. Me mostre o caminho. — Ela me levou para esquerda, onde entramos em um cômodo aconchegante, uma mesa de seis cadeiras, armários de madeira, eletrodomésticos brancos estavam dispostos no lugar e ainda tinha um bom espaço para transitar.

— Vou esperar Ethan descer, e mandar ele ir comprar pão, o esquecido não parou na padaria depois do plantão. — Ela revirou os olhos.

— Trabalhar a noite não é fácil.

— Você trabalha com o quê?

— Sou cirurgiã.

— Em qual hospital?

— São Paulo.

— Então conheceu os meus irmãos lá? — Parece que eu iria passar por um questionamento.

— Maurício, sim, Vê é namorado de uma amiga minha e o outro eu não sei quem é. — Dei de ombros.

Emily foi em um armário e tirou um caneco, enchendo-o com água e o colocando no fogo.

— Quantos anos você tem? Onde mora? Além de ser cirurgiã, faz o quê? — Dei uma risadinha e fui respondendo às perguntas.

— Tenho trinta anos, moro em um apartamento perto do hospital, meu pai é o diretor do lugar, além de cirurgiã, eu escrevo como hobby, tento ir à academia, ando de patins no condomínio, tenho um irmão mais novo, nunca fui presa, nem processada no serviço. Faço trabalho voluntário em uma clínica. — Emily parou que estava fazendo e me encarou. — Vou fazer um mochilão pelo Brasil, comprei uma moto para isso a pouco tempo, nunca fui casada, não tenho filhos, faço aniversário em novembro, dia dezoito e amo comemorar ele, cor preferida é vermelho, morro de medo de ciganos e prefiro a Marvel do que a DC.

Emily gargalhou. Tentei me antecipar a todas as perguntas que eu faria se meu irmão aparecesse em casa com alguém. Não quis dizer para ela que não tenho filhos porque não posso, não sou casada porque não acredito em casamento e que quero curtir a vida adoidado. Achei melhor guardar isso para mim.

— Bem, eu iria perguntar qual suas intenções com o meu irmão?

— Não sei. — Dei de ombros. — Como eu disse, vou fazer um mochilão pelo Brasil, Maurício é um cara bem legal, mas não sei te dizer o que o futuro nos reserva, vamos deixar as opções em aberto?

— Muito bem, não vou interferir, mas se você causar problemas vai se ver comigo, posso não ser tão grande quanto eles, mas sei acabar com quem os machucar. — Concordei com a cabeça.

— Está certa, faria o mesmo. — Olhei para o local, vi um liquidificador e tive uma ideia. — Que tal fazermos panquecas? Tipo no estilo americano?

— O que vai precisar? — Passei a receita para ela e enquanto foi buscar tudo caminhei até a pia e lavei as mãos de novo, mania médica. — Essa receita dar quantas panquecas? — Emily olhou por cima da porta da geladeira?

— Umas oito.

— Então é melhor fazer três receitas, os meninos comem demais, ainda mais que tem geleia e nutella na geladeira, se você colocar essas duas coisas eles vão pedir mais. — Concordei com a cabeça, já sabia sobre a fascinação por doces que eles tinham.

Começamos a trabalhar e a conversar. Emily estava na faculdade de fisioterapia, tinha dezenove anos e cuidava de tudo por ali, divertida e alegre, dava gosto de conversar com ela. Resolvi fazer ovo mexido com bacon e a menina esquentou uns pães de ontem no forno, ela me explicou que a quantidade que tinha não iria alimentar os meninos.

Quando estava quase terminando de arrumar a mesa, o enfermeiro bonitão apareceu só de shorts e com a camiseta na mão. Minha nossa senhora das mulheres loucas por gominhos, o abdômen dele era sarado, peitoral largo, uma tatuagem tribal no braço, um belo homem, mas faltava algo, que não sabia dizer até que por trás dele vi Maurício aparecendo, de calça e camisa.

Senti a minha boca secar e a calcinha que nem estava usando molhar. Uau, o homem era um gato com G maiúsculo, com a cara fechada e aquele olhar penetrante me dava vontade de ir lá e pular em cima dele.

— Bom dia, meninos. — Emily foi até os irmãos e ganhou um beijo de cada um.

— Que cheiro bom é esse? — Ethan olhou para mim e franziu a testa. — Doutora Isadora?

— Oiee. — Coloquei o prato com as panquecas em cima da mesa posta por Emily e fui cumprimentá-lo. — Que mundo pequeno. Você é o Ethan que o Vê tanto fala.

— É tudo mentira, não acredita em nada que o bobão, falou. — Ele deu um sorriso torto.

— Tudo bem. — O cumprimentei e fui até Mauricio. Oi!

— Bom dia, Isa. — Ganhei um beijo na testa. — Acordou cedo.

— Ah, sou um bicho madrugador, não gosto de ficar muito tempo na cama de manhã, e confesso que estava com fome, minha barriga estava fazendo barulhos horríveis e achei que ia te acordar, aí desci e encontrei Emily, fizemos o café da manhã, para um batalhão.

— Panqueca doce, torrada, ovos e café. — Emily apontou para mesa. Os dois irmãos maiores sentaram em seus lugares, Mau Mau puxou uma cadeira e esperou por mim. Ele ocupou a cabeceira. Nenhum dos menores se mexeu até que ele estendeu a mão para o irmão que estava à sua direita, e para mim.

— Ethan faz a oração. — O gigante moreno sorriu para mim e pegou a minha mão. Seguindo o exemplo, fechei meus olhos, segurei as mãos e fiquei quieta ouvindo a oração de agradecimento pelo alimento. Aqui era novo para mim, achei bonito. — Agora podemos comer.

— Certo. — Soltei as mãos deles e fui para o prato de panqueca na mesa. Peguei uma e a Nutella e fiz uma camada do creme em cima com todos me olhando. — Que foi?

— Nunca comi panqueca doce. — Maurício não tirava os olhos do meu prato.

— Aqui. — Peguei o prato e troquei o dele pelo meu. — Fique com o meu. — Fiz o mesmo processo com outra panqueca.

— Também quero. — Ethan me olhou com olhos suplicantes.

— Faça a sua. — Maurício disse.

— Por que, quero igual a sua. — Olhei para os dois homens sem acreditar.

— É sempre assim? — Perguntei para Emily.

— Você não viu nada, você acaba de colocar uma bandeira vermelha na frente de dois touros. — Emily deu de ombros.

Revirei meus olhos e fiz o mesmo processo passando o alimento para Ethan que sorriu convencido para o irmão. O café foi recheado de insultos, brincadeiras e muita comilança. Os meninos comeram praticamente quase todas as panquecas, os ovos e torradas, fiquei me perguntando para onde ia tudo aquilo. Quando terminamos, Mau Mau mandou Ethan cuidar da cozinha e não me deixou fazer aquilo, pois quem cozinha não lava, ordens da casa.

Emily foi para o quarto se trocar e ir à faculdade. Parecia que teria alguma coisa mesmo sendo sábado. Percebi que ambos os homens ficaram com cara azeda para a menção de que o namoradinho da irmã viria buscá-la, mas não falaram nada. O esporro que Agatha deu neles um tempo atrás deve ter surtido o efeito. Subimos para o quarto dele, afinal tinha que me trocar e pegar o caminho da roça.

— Foi difícil? — Perguntei para ele quando entramos no cômodo claro, Maurício arrumou o quarto e aberto a janela. — Cuidar deles? Sentei em sua cama e cruzei as pernas. — Vê me contou por cima a sua história.

— Sim. Em um momento estava curtindo a minha vida e no outro perdendo meus pais, tendo que lutar pela guarda dos meus irmãos, consegui nos sustentar. — Ele veio e sentou ao meu lado. — foi um desafio e tanto.

— Que você ultrapassou com louvor. — Ele concordou com a cabeça enquanto pegava minha mão.

— O que vai fazer hoje?

— Terminar de arrumar a minha mochila, acertar alguns pontos do itinerário, ter uma conversa com a pessoa que vai ficar de olho no meu apartamento e escutar sermão do meu pai dizendo como sou louca por fazer isso.

— Você tem certeza que é isso que você quer? — Fiz que sim com a cabeça — Pois bem. Nem todos têm maturidade para descobrir o que é melhor para si mesmo, tome cuidado, se precisar de ajuda é só me ligar. — Concordei com a cabeça.

Acho que aquela era minha deixa. Levantei e peguei a minha roupa, que estava dobrada no outro canto da grande cama e fui para o banheiro. Parecia besteira, mas me sentia tímida em me trocar em sua frente. Saí minutos depois descalça e o encontrei no mesmo lugar pensativo. Sentei ao seu lado e calcei as minhas botas.

— É nessa hora que te agradeço?

— Por quê? — Ele virou para mim.

— Pela boa transa?

— Boa? — Ele sorriu e segurou meu rosto em sua mão. — Se você considerou boa, então tenho que melhorar na próxima. — Dei um beijo em sua mão e abrir um sorrisão.

— Não posso, você vai ficar convencido. — Ele agiu rápido, muito rápido para um homem daquele tamanho. Quando vi já estava montando suas pernas e cara, cara com ele. A dorzinha nas minhas partes íntimas se fez presente e eu dei um gemido. Ele agarrou meus lábios no dele e me beijou, um beijo dominante possessivo, como se quisesse mostrar algo. Passei minhas pernas por sua cintura e colei nossos corpos. O homem sabia beijar, minha nossa senhora. — Tá bom. — Disse após recuperar o fôlego. — Foi uma excelente transa.

Ele concordou e me deu outro beijo de arrancar todo o ar dos pulmões. Levantei depois desse último, antes que caísse na tentação de arrancar as roupas dele e ter um Bis.

Maurício me levou até a porta e nos despedimos. Parecia estranho, mas algo dentro de mim, mudou, seja pela transa, ou pela família, ou pelo homem, enfim, algo mudou e foi para melhor, acelerei minha moto e cortei as ruas da cidade de São Paulo com o meu desejo renovado para aventuras.

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