81. UMA NOITE TORMENTOSA
VICTORIA:
Tudo o que ele dizia era verdade e não deixava espaço para discutir. A maneira como falava era uma estrutura rígida, inquebrantável. Mas à minha mente vinham as imagens do amor de meus pais e eu não me imaginava vivendo assim como ele dizia. Com os dentes cerrados, engoli a comida que tinha na boca antes de perguntar:
—Você acha que criar um filho entre duas pessoas que não sentem nada um pelo outro é sensato?
—Sentimos algo. Respeito, confiança. E acredito que isso é mais útil do que um amor mal compreendido que pode acabar arruinando nossas vidas —respondeu Ricardo, deixando o garfo sobre o prato, mas não parecia se alterar.
Fiquei em silêncio, mascando arroz sem sabor e pensamentos ainda menos agradáveis. Talvez ele tivesse razão. Talvez não. Mas não podia ignorar o vazio que começava a se formar entre nós.
—Você pode me contar sua história com Isabel? —perguntei de repente—. Pelo que diz o relatório do detetive, ela foi adotada aos dez anos, e você não. Depois fo