Não conseguia acreditar no que acabara de acontecer. Como não havia visto antes sua traição? Assim que pude, me levantei. As risadas zombeteiras de ambos ecoavam em meus ouvidos enquanto meu mundo desmoronava. Cada memória feliz agora se tingia de uma cor diferente, revelando sinais que meu coração se recusara a ver.
Com as pernas trêmulas e a dignidade em pedaços, me forcei a caminhar. Peguei as bolsas com os presentes que agora me pareciam mais uma prova da minha ingenuidade. Cada passo em direção à porta era uma tortura, mas me recusei a dar a eles a satisfação de me ver correr. Suas risadas me perseguiram até o corredor, onde finalmente as lágrimas começaram a cair descontroladamente. Após sair de casa, meu peito estava queimando de dor, mas minha mente já começara a calcular os próximos passos. Eu sabia a verdade e não ia me deixar render tão facilmente. Se aqueles dois achavam que me haviam vencido, não me conheciam de verdade. Apesar de toda a sujeira que haviam jogado sobre mim, algo ficou claro: estavam juntos em sua traição, mas isso não significava que estivessem unidos. Entrando no meu carro, dirigi sem perceber para onde estava indo. Precisava pensar no que fazer. Ana havia se agarrado a mim na universidade e, aos poucos, se meteu na minha vida, tornando-se minha melhor amiga, alguém em quem eu confiava cegamente. Ela me apresentou a Carlos. O garoto bonito da universidade, de uma família comum. Ele era tão atraente e se mostrava desinteressado, nunca aceitando que eu pagasse nada, o que me fez acreditar nele. Carlos e Ana haviam tecido uma rede de mentiras tão perfeita que, por um instante, me fizeram duvidar de mim mesma. Mas quanto mais pensava nos detalhes, mais claro se tornava a origem de tudo isso: ambos haviam planejado cada movimento com precisão. Dirigia sem rumo, com as mãos firmemente segurando o volante, quando meu subconsciente me levou ao único lugar onde poderia encontrar refúgio. Quando percebi, estava em frente à casa da pessoa em quem meu pai mais confiava. Um toque na janela do meu carro me fez olhar e encontrar o rosto gentil do meu tio. Abri a porta e, sem dar-lhe tempo para perguntar, me joguei em seus braços e chorei descontroladamente enquanto ele não sabia o que estava acontecendo. Ele apenas se dedicou a me dar tapinhas nas costas. Foi nesse instante que percebi algo: sentia-me muito segura em seu abraço, como me lembrava de me sentir nos de meu pai. —Tio, por favor, ajude-me. Não posso perder a empresa dos meus pais, que é o trabalho de suas vidas —disse a ele de repente. Meu tio me segurou com firmeza e, embora seu rosto refletisse preocupação, também transmitia uma calma que parecia me envolver. Ele olhou diretamente em meus olhos, tentando decifrar o furacão que se havia desencadeado dentro de mim. —Calma, menina —disse com um sorriso gentil—. Primeiro entre, respire fundo e depois me conta o que está acontecendo. Assenti em silêncio. Minhas pernas tremiam, mas deixei-me guiar até a porta. Assim que cruzei o umbral, a familiaridade da sua casa me atingiu com força. Era um espaço do qual sempre guardara as melhores memórias; um refúgio durante minha infância e, agora, talvez minha única esperança. Sentamos na sala e, quando ele me ofereceu um copo d'água, eu o peguei com as mãos ainda tremendo, bebendo devagar. Finalmente, decidi começar do começo: desde Ana, desde Carlos, desde os dias felizes que agora pareciam tão distantes. O rosto dele se endureceu à medida que eu falava e, embora ele não tenha interrompido nem uma vez, eu podia sentir que entendia a profundidade da minha dor. —O que me fizeram não tem nome, tio —disse enquanto as lágrimas começavam a se acumular novamente em meus olhos—. Eles planejaram tudo, brincaram comigo, manipularam minha vida, e tudo para ficar com a empresa dos meus pais. —Pois o primeiro que devemos fazer é encontrar o homem que te violou. Se conseguirmos provar que ele o fez, você não está sendo infiel dentro do casamento —disse enquanto guardava as fotos—. Você não se lembra de nada dele? Eu pagarei todo o dinheiro necessário para que ele te ajude. Carlos e Ana não têm mais dinheiro que nós. Faremos com que te ajude. Encontrar o homem que me violou? Um estremecimento percorreu todo o meu corpo ao lembrar daquela noite que eles haviam planejado para me destruir. Minha respiração tornou-se irregular e, por um momento, senti que o ar parecia insuficiente, uma prisão invisível construída pela dor e pela humilhação. —Não me lembro do rosto dele —confessei em um sussurro—. Tudo foi muito confuso. Sei que havia alguém naquela sala, tio. Sentia como se me tirassem a roupa. Mas, além disso, minha memória é um vazio. Oh, espera, tio! Esta manhã encontrei uma abotoadura de ouro com as iniciais R. M. Rapidamente saquei da minha bolsa e entreguei-a ao meu tio, que franziu a testa imediatamente. Ele se levantou sem dizer nada, se aproximou da janela e a examinou atentamente. Depois se virou para mim com uma expressão desconcertante. —Filha, você tem certeza de que a encontrou no quarto onde tudo aconteceu? —perguntou cautelosamente—. Não a pegou de outro lugar? As palavras do meu tio me preocuparam por alguns segundos. Mas tinha certeza de que naquela manhã a encontrei entre as coisas que ficaram espalhadas. Era um objeto isolado e estranho no espaço da minha confusão. —Sim —afirmei, embora com incerteza—. Tenho certeza. A encontrei lá. Estava no chão, ao lado das minhas roupas. Deve ter caído quando a tiraram de mim. Por quê? Meu tio segurou a abotoadura como se fosse uma bomba prestes a explodir. Seu rosto, normalmente sereno, se transformou em uma máscara de preocupação que só aumentou minha inquietação. —R. M. —disse em voz baixa enquanto analisava novamente as iniciais gravadas com precisão na superfície dourada—. Eu reconheço essas iniciais, filha. Não acredito que o dono dessa abotoadura tenha concordado com Carlos e Ana para fazer isso com você. Isso é maior do que você imagina. —De quem você está falando, tio? Você conhece o dono? —perguntei curiosa—. Quem é?