Flora Narrando
Fechei a porta assim que Evan saiu.
O silêncio tomou conta da sala, apenas interrompido pelo som suave do ar-condicionado e da cidade que começava a brilhar do lado de fora das janelas. As luzes dos prédios acesas, o céu escurecendo com tons azulados e alaranjados. Já era noite. E minha cabeça, pela primeira vez em muito tempo, não estava totalmente voltada ao trabalho.
Caminhei até o espelho lateral. Meus cabelos estavam levemente desalinhados, o batom exigia um retoque. Ajustei os detalhes com a precisão de quem conhece cada centímetro do próprio reflexo. Passei o batom com firmeza, prendi o cabelo em um coque impecável e me olhei mais uma vez. Fria. Calculista. Irretocável.
Apertei o botão do interfone.
— Juliana — disse, com a voz firme — remarque a reunião das dezenove horas para amanhã. Envie um comunicado a todos os envolvidos.
— Claro, senhora Flora. Deseja justificar?
— Diga apenas que tive uma mudança de agenda.
— Perfeito. Deseja algo mais?
— Não. Estou enc