Mundo ficciónIniciar sesiónLayla e as amigas lanchavam sentadas na cantina da faculdade. Entre risadas e comentários sobre o primeiro dia de aula, Samia percebeu que a amiga não parava de olhar o relógio.
— Layla, tá tudo bem? — perguntou, franzindo o cenho. — Desde que chegou, você não tira os olhos desse relógio. Mandou mensagem no grupo dizendo que teve um imprevisto, chegou atrasada... O que aconteceu?
Samia era a mais reservada do trio, mas tinha um faro aguçado para perceber quando algo estava errado.
— Aposto que aprontou alguma, — provocou Elçin, com um meio sorriso. — Anda, Layla, conta logo. O que fez pra chegar atrasada?
Layla desviou o olhar, tentando disfarçar o nervosismo. O pensamento ainda preso no homem que quase a atropelou — e na pulseira que ele prometera devolver.
— Não foi nada demais, — respondeu, fingindo leveza. — Um motorista distraído quase me atropelou, minha pulseira da sorte quebrou e está na joalheria. Agora, preciso esperar pra pegar de volta.
Samia arregalou os olhos.
— Como assim “quase te atropelou”? E você tá aí, tranquila? Explica isso direito.
Layla respirou fundo e contou tudo: o susto, a queda, e o estranho que insistira em levá-la para consertar a pulseira.
— Foi só isso, juro. Eu também estava distraída, e ele não viu quando cruzei a rua. O carro encostou em mim e acabei caindo. Mas nada sério.
Elçin balançou a cabeça, indignada.
— Layla, você é maluca! E ainda teve coragem de entrar no carro de um desconhecido?
— Calma, Elçin, — retrucou Layla, com um sorriso provocante. — O carro era caro, e pelo jeito dele... pobre ele não era.
— E o perigo? — insistiu a amiga. — Riqueza não livra ninguém de ser perigoso.
— Se eu soubesse que ia ouvir sermão, nem contava nada, — retrucou, brincando.
O sinal tocou, encerrando o intervalo. As três se levantaram, recolhendo os restos do lanche.
— Eu vou ficar esperando até esse homem chegar com sua pulseira, — avisou Samia. — Depois sigo contigo até em casa.
— Concordo, — reforçou Elçin. — Não confio nessa história.
— Tá bom, minhas queridas mães de plantão, — brincou Layla. — Agora vamos, antes que eu chegue atrasada de novo.
Cada uma seguiu para sua sala, mas Layla só conseguia pensar em uma coisa: queria que a aula terminasse logo, para poder ver Emir novamente.
***
Enquanto isso, Emir e Kerem conversavam no escritório. Ambos tentavam decidir o que fazer a respeito da chantagem que o publicitário enfrentava.
— Irmão, com todo respeito, — começou Kerem, sério. — A Sevda sabe tudo sobre você. E agora tá de namorico com o cara que sempre te odiou. O que foi que você fez pra ela virar a casaca assim?
Emir passou as mãos pelo rosto, exausto.
— Se eu dormi com ela por cinco anos e até hoje não entendi o que eu fiz, como vou te explicar? — suspirou.
Olhou o relógio. Faltavam quinze minutos para as treze horas. Precisava buscar a garota antes que ela resolvesse causar mais confusão — e torcia para que o pai dela não estivesse por perto.
— Tenho que ir, — disse, pegando as chaves. — Depois te explico. Bati o carro hoje cedo... quer dizer, alguém bateu em mim. E foi por isso que tô atrasado.
— Tá brincando? — Kerem levantou as sobrancelhas. — E mesmo assim vai sair pra encontrar alguém?
— É... digamos que é um encontro de emergência.
Kerem riu, incrédulo.
— Boa sorte, então. E vê se não se mete em mais encrenca.
Emir apenas acenou e saiu. Avisou Aisha que estaria fora e desceu para o estacionamento. Precisava resolver aquela história da pulseira, almoçar e, quem sabe, tentar aliviar a dor de cabeça que começava a latejar.
***
— Layla, — disse Samia, desconfiada, — eu acho que esse homem te enrolou. Vai perder sua pulseira da sorte e ainda vai ouvir o maior sermão da sua mãe.
Layla conferiu o relógio. Quinze minutos de atraso. Respirou fundo, já imaginando a bronca que levaria se chegasse sem a pulseira.
— Vou ligar pra minha mãe. Se ela perguntar, vocês confirmam que tô almoçando com você, Samia.
A jovem discou o número.
— Mãe, terminei a aula e vou almoçar com a Samia, tá? Primeiro dia de aula, a gente quer comemorar um pouquinho. Prometo chegar antes das três.
Do outro lado da linha, a mãe respondeu:
— Tudo bem, senhorita Layla. Mas não se atrase. Seu irmão precisa de ajuda com a tarefa, e seu pai ficou preso no escritório. E mande um beijo pra Samia.
Assim que desligou, Layla suspirou aliviada.
— Ufa... escapei. — De repente, viu um carro parar em frente à faculdade. — Meninas, minha carona chegou! E, por favor, nada de interrogatórios.
Antes que as amigas reagissem, Layla já estava no banco do passageiro.
***
Emir mal estacionara, e a garota já entrava no carro com naturalidade, como se o conhecesse há anos.
— Pensei que tivesse fugido com a minha pulseira, — disse ela, cruzando as pernas e colocando os pés no banco.
— Se puder tirar os pés daí, eu agradeço, — respondeu Emir, sem disfarçar o mau humor. — Vamos buscar sua joia. Fica pronta depois das duas. Eu te deixo na joalheria e tá tudo pago. Depois disso, cada um segue sua vida.
Layla apenas deu de ombros e colocou os fones de ouvido. “Além de ranzinza, é antipático”, pensou.
O silêncio dominou o carro, interrompido apenas pela música baixa no rádio. Emir dirigia com atenção redobrada — não queria mais confusões naquele dia.
Quando pararam em frente à joalheria, Layla tirou os fones e observou o local.
— Pelo menos trouxe minha pulseira pra um lugar decente, — comentou. — Vamos ver se esse senhor consegue consertar direito.
Lá dentro, o ourives se apressou ao vê-los entrar.
— Me perdoem pelo atraso, senhor. O par de alianças demorou mais que o previsto e, como o senhor não deixou contato...
— Brincadeira, — murmurou Emir, exasperado.
Layla arqueou a sobrancelha e interveio:
— Senhor, minha pulseira é especial. A gente volta daqui a uma hora. Assim o senhor tem tempo de fazer tudo com calma.
Antes que Emir pudesse protestar, ela já estava saindo. O joalheiro assentiu.
— Em uma hora, entrego como nova. E aproveito pra dar um polimento nos berloques.
Do lado de fora, Layla o esperava encostada no carro.
— Então? — perguntou, divertida. — Quanto tempo?
— Uma hora, — respondeu Emir. — Vou te deixar no primeiro restaurante que eu encontrar. Preciso descansar.
Layla o observou, percebendo o cansaço estampado no rosto dele.
— Posso te fazer companhia. Estranhos às vezes são bons ouvintes, sabia? — sorriu de leve. — Você me conta os seus problemas, e eu te conto como foi meu primeiro dia na faculdade.
Emir a encarou por um instante e, pela primeira vez naquele dia, sorriu de verdade.
— Tudo bem. — cedeu. — Eu pago o almoço.
— Ótimo, — respondeu ela, animada. — Mas o lugar, quem escolhe sou eu.







