Mundo ficciónIniciar sesión
— Acorda, garota! Ou vai se atrasar para a faculdade!
Layla se espreguiçou, os olhos ainda pesados de sono, e soltou um bocejo comprido antes de se sentar na cama. Olhou para a mãe, Eda, com um sorriso preguiçoso.
— Tudo bem, mãe... já estou levantando. Só mais cinco minutinhos, por favor.
Eda balançou a cabeça, rindo.
— Cinco minutos é tudo que você vai ter, mocinha. Mas nada de se atrasar logo no primeiro dia. Começar com o pé direito é importante.
Layla assentiu e se arrastou até o banheiro. Enquanto escovava os dentes, tentava conter a ansiedade pelo primeiro dia na faculdade de jornalismo — o início do sonho que carregava desde criança: contar histórias que mudassem o mundo.
***
A poucos quilômetros dali, Emir Divit, 36 anos, publicitário renomado e dono de uma das maiores agências da Turquia, despertava de um sono inquieto. Três meses haviam se passado desde a noite em que sua vida sentimental desmoronara.
Desde então, o amor havia se tornado para ele um conceito frágil, quase risível.
O relógio marcava nove e meia quando ele finalmente saiu da cama. Um banho gelado e um café forte seriam o suficiente para fingir que a noite em claro rendera algo produtivo.
***
Na casa dos Yılmaz, o café da manhã era um caos típico de segunda-feira.
— Layla, por favor, presta atenção no trânsito! E nada de usar fone de ouvido no volume máximo — alertou Eda, enquanto arrumava a bolsa da filha. — Você sabe como o movimento é perigoso essa hora.
Furkan, o pai, soltou uma risada discreta.
— Filha, aqui está o dinheiro do lanche da semana — completou Eda, entregando uma nota dobrada. — E se precisar de qualquer coisa, me avisa.
Ahmet, o irmão mais novo, resmungou entre um gole de suco e outro.
— Quando chegar à idade dela, a gente conversa, garoto — respondeu o pai, divertido.
Layla riu, ajeitou a mochila e beijou os pais no rosto.
Assim que saiu de casa, conferiu se a mãe não a observava pela janela, pegou o celular e conectou os fones. A música invadiu seus ouvidos enquanto ela caminhava animada. O trajeto até a faculdade levava menos de quinze minutos — tempo perfeito para despertar o corpo e acalmar os nervos.
***
Enquanto isso, Emir tentava encerrar mais uma ligação dramática da irmã.
— Bahar, minha querida, podemos conversar quando eu chegar ao trabalho? O trânsito está caótico, e com você chorando desse jeito, eu não entendo nada.
— Eu juro que tentei, Emir! — soluçava ela. — Mas o Aras não entende que eu quero focar na minha carreira. Ele só pensa em filhos!
Emir suspirou. Bahar era sua irmã caçula — e a única família próxima em Istambul.
Ele desligou e respirou fundo. O sinal abriu. Virou a esquina distraído — e, em seguida, ouviu um estrondo seco.
Um impacto.
— Que não seja um motoqueiro... — murmurou, freando bruscamente.
Ao descer do carro, encontrou uma jovem caída no chão, o joelho ralado e a expressão indignada.
— Menina, você não presta atenção por onde anda? — repreendeu, preocupado.
— Eu? O senhor que devia olhar pra onde dirige! É cego, por acaso? — rebateu Layla, furiosa. — Eu estava atravessando, e o seu carro veio feito um foguete!
Emir ficou sem acreditar. Pela posição, ele tinha a preferência. Aquela garota claramente não prestara atenção.
— Ah, claro. O som no último volume. Assim fica fácil não ver um carro vindo.
— Me poupe, senhor arrogante! — retrucou Layla, olhando para o joelho ralado. — E, pra piorar, olha o que o senhor fez! Minha pulseira da sorte quebrou. Hoje é meu primeiro dia na faculdade! Isso só podia acontecer comigo...
Emir ergueu as sobrancelhas.
Layla sabia que ele tinha razão, mas jamais admitiria. Se contasse em casa, levaria uma bronca épica. Então, sua mente inquieta encontrou uma solução.
— Tudo bem. O senhor me leva até a faculdade, arruma minha pulseira e eu esqueço que isso aconteceu. Combinado?
— Isso é uma chantagem? — Emir cruzou os braços, incrédulo.
— Chame como quiser. Mas se preferir, posso ligar para o meu pai. Ele é advogado. — Ela pegou o celular e começou a discar.
Emir passou a mão pelos cabelos.
— Fechado. — Layla sorriu, satisfeita, e entrou no carro.
Ele notou quando ela apoiou os pés no banco e mexia no celular como se estivesse em casa.
— Desculpa, senhor... é o costume. — Ela riu, sem graça.
O trajeto foi silencioso — tirando o som altíssimo que escapava dos fones de Layla. Emir se perguntava como uma garota tão pequena conseguia fazer tanto barulho, no trânsito e na vida.
Poucos minutos depois, estacionou diante da faculdade.
— Senhorita...
— Layla — completou ela, sorrindo. — E o seu nome?
— Emir.
— Pois bem, Emir, você está perdoado... quase. Me traga minha pulseira consertada às 13h, aqui na frente. Assim podemos ficar quites. E, por favor, não se atrase. Minha mãe é um terror com horários.
Antes que ele respondesse, ela inclinou-se e depositou um beijo rápido em seu rosto.
— Até mais, Emir. E não se esqueça: joalheria de confiança, hein!
Ele a viu correr pelo portão, completamente atordoado.







