Uma mãe para o meu Herdeiro - O casamento do Magnata
Uma mãe para o meu Herdeiro - O casamento do Magnata
Por: Bell J. Rodrigues
01

Ethan Blake. 

Dois meses se passaram. 

Sessenta dias se arrastaram desde o dia em que enterrei a minha esposa. Desde que minha vida perdeu a cor, o cheiro, o som… tudo que me lembrava que eu ainda era humano.

Carla se foi. E com ela, se foi a melhor parte de mim.

Desde então, tenho vivido no automático. Acordo, me visto, finjo trabalhar, atendo reuniões onde mal presto atenção. Assino papéis, participo de decisões importantes que não consigo sequer registrar na minha cabeça. Tudo ao meu redor continua girando, mas dentro de mim, o tempo parou. Fiquei congelado naquele quarto de hospital. Naquele último adeus.

E agora, como se o mundo achasse que ainda não fosse o bastante, a babá de Carlos também resolveu partir. 

O que senti naquele momento? Foi desespero. 

Não a culpo, claro que não. Ela tinha seus motivos. Família, problemas pessoais… mas a verdade era que eu mal conseguia sustentar a minha sanidade, quem dirá a de outra pessoa.

Carlos, meu filho.

Ele era só um bebê. Pequeno demais para entender o que aconteceu, mas grande o bastante para sentir. Pois ele chora a maioria do tempo, como se buscasse a mãe no vazio. E eu… eu não sei mais o que fazer.

Quando olho para aqueles olhos lacrimejados, sinto o mesmo que ele, a saudade de Carla, daqueles olhos doces dela, da sua voz me chamando no meio da noite. De como ela amava brincar com Carlos, cantar para ele. 

Tentei me concentrar hoje, mesmo que a minha mente esteja um caos, preciso me organizar. 

Preciso trabalhar. 

Hoje, durante uma reunião com os sócios na Blake Holdings, eles deixaram claro que minha vida profissional também estava por um fio. Que a rotina exaustiva, entre reuniões intermináveis e noites em claro acalentando meu filho, estava afundando o que me restava de energia e sanidade.

Coloquei minhas mãos sobre a mesa e olhei para um dos meus sócios. 

— Você precisa de ajuda em casa, Ethan. — Leonardo falou, direto como sempre. — Contrate alguém. Pelo amor de Deus, pelo bem do Noah. E pelo seu também.

Ele sempre foi assim, direto, descontraído. Não é atoa que é um dos meus melhores sócios, um dos meus melhores amigos. Ele é o vice-diretor da minha empresa principal do Brasil, a Blake Holdings. 

Não respondi. Só assenti. Naquele momento, qualquer resposta minha teria saído atravessada, amarga, e isso era tudo o que eu não queria naquele momento.

Não queria descontar em ninguém o que sentia, ainda mais nele. 

— Bom, vou para casa agora, nos falamos depois. - Saí da cadeira, acenei para todos e peguei minha pasta. 

Saí da sala de reuniões e fui até o estacionamento. 

Voltei para casa com um aperto no peito. 

Entrei no meu carro e, após dar a partida, dirigi apressado até minha mansão. 

Em poucos minutos estacionei o carro e dei a chave para um dos meus homens, todos me cumprimentavam e apenas assenti com a cabeça. 

Entrei rapidamente na sala de estar. 

O silêncio do lado de dentro das portas realmente machuca. Os corredores grandes da mansão, que antes tinham risos, passos apressados, cheiro de comida recém-feita… agora são só sombras e lembranças.

Ao subir os degraus e ir para o segundo andar, escutei algo. Que apertou meu coração. 

Era um choro. Aquele choro estridente que me arrancou do torpor e me jogou de volta para a realidade.

Apertei os lábios com força e corri até o quarto do Carlos, e lá estava ele: em pé no berço, rosto avermelhado, braços estendidos, pedindo ajuda em um idioma que só um pai devastado entenderia.

— Shhh… papai está aqui, meu amor. — murmurei, pegando-o nos braços, sentindo o calor do seu corpinho agitado contra o meu peito.

Balancei com cuidado, como Carla fazia. Eu observei seus traços e me perguntei se um dia ele vai lembrar dela. Do sorriso, do colo. Se vai lembrar do amor dela. Ou se isso tudo vai se apagar com o tempo.

Alisei o rostinho dele e disse. 

— Você é tão pequeno ainda... tão inocente, não deveria ter que passar por isso. — sussurrei, o abraçando com carinho.

Enquanto o embalava, peguei o telefone e comecei a ligar para alguns velhos amigos. Preciso de ajuda. Preciso de alguém que possa cuidar do meu filho como ele merece, como a mãe dele fazia.

Carlos começou a se acalmar no meu colo, me sentei em uma poltrona no quarto dele e então coloquei o celular sobre a orelha. A chamada foi atendida, então perguntei se meu socio poderia me indicar alguém para olhar o meu filho. 

— Não conheço ninguém de imediato, Ethan — falou Gustavo, a voz hesitante. — Mas vou ver o que consigo. Prometo… Assim que encontrar alguém, te ligarei, ok? Você não vai ficar sozinho nessa. — Como sempre, Gustavo foi o primeiro que propôs ajudar, eu o conheço há alguns anos, um corretor de imoveis de idade, sério, firme, mas que sempre está disposto a fazer o que for preciso para ajudar os amigos.

— Obrigado, Gustavo. Vou desligar agora, mantemos contato. — Me despedi. 

Desliguei a ligação e bloqueei o celular. Olhei para Carlos, que começou a soluçar entre um choro e outro. Me sinto um fracasso. Um homem com dinheiro, influência, poder… incapaz de confortar o próprio filho. De dar o que ele realmente quer, o que ele precisa.

Uma batida leve na porta me chama a atenção. É Marta, uma das funcionárias mais antigas da casa. Ela entra com uma mamadeira nas mãos.

— Fiz como a senhora Carla costumava preparar — falou, com a voz baixa, quase reverente.

— Obrigado, Marta — respondi, forçando um sorriso que não chegou aos olhos. — De verdade.

Sentei-me na poltrona do quarto e dei a mamadeira para Carlos. Ele pegou com mais calma dessa vez. Os olhos dele começaram a se fechar. Um suspiro escapou dos meus lábios. Finalmente.

Ele mamou rapidamente e seus olhos amoleceram. Coloquei a mamadeira sobre a comoda e deixei meu filho alguns minutos em meu colo, até escutar ele arrotar. 

Coloquei-o no berço de lado, o cobri com o cobertor de que ele mais gostava e beijei seu rostinho. Ele dormia tranquilamente agora. Após desligar a luz, saí do quarto do meu filho e caminhei até o escritório.

Esse lugar, antes cheio de projetos e sonhos compartilhados com ela, agora… se tornou minha maldição, meu pesadelo.

Me aproximo da estante. Meus olhos vão direto para a foto.

Minha Carla.

O sorriso mais bonito que eu já vi. Tão viva naquele retrato. Tão ausente em todos os outros cantos.

Me sentei na poltrona. Acendi o abajur, encarei o retrato mais de perto. A luz suave iluminou a moldura e o reflexo no vidro quase escondeu seus olhos azuis. Mas eu lembro. Como se ainda a tivesse diante de mim. Como se ela estivesse prestes a entrar na sala e reclamar da bagunça.

— Eu estou tentando, querida… — falei, ainda olhando para o retrato dela, com a voz falha. — Mas não sei se vou conseguir sozinho.

Fiquei ali, em silêncio, encarando aquele pedaço de lembrança. Meus olhos ardiam, mas as lágrimas não vinham. Fazia tempo que não descia uma sequer. Talvez porque eu tenha aprendido a sufocá-las.

A única coisa que me restava agora… era continuar fingindo que estou inteiro. Mesmo quando tudo dentro de mim ainda sangra.

Porque, no fim, o que importa é manter Carlos bem. Mesmo que eu tenha que fingir estar feliz, que eu tenha que fingir estar bem e tranquilo por fora.

Ele é tudo que me restou, é a única coisa que importa.

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