Primeiro encontro

8

Lisa Mary

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Retornei para casa e, finalmente pude descansar no conforto do meu lar. Estava há horas sem comer nada e fui cozinhar algo leve para não parecer inchada. Senti o cansaço me vencendo quando subi as escadas de volta para o quarto e meus olhos pesaram, indicando que eu precisava dormir, ao menos um pouco. Tomei um banho quente ouvindo “Oh! Darling”, e me deitei para dormir depois desse ritual. Parecia como em um sonho, eu me sentia um pouco menos conturbada diante de uma situação tão estressante quanto ter que assumir uma falsa personalidade.

Em um sono profundo, ouvi meu celular vibrando sobre a mesa de cabeceira e estremeci na cama, virando-me para o lado. Encolhi os dedos dos pés sob o cobertor, tentando me refugir do castigo em ter que despertar. Bati com a mão sobre o telefone e o arrastei pela mesinha até mim.

Quem deve ser agora...

Atendi aquela chamada e a voz no outro lado me fez despertar em um susto. 

—Oi, eu não sabia que horas ligar pra você, mas..., como já é fim do dia eu pensei que poderia ser bom te ligar quando as coisas já estivessem melhor pra você. —Meu silêncio o fez se questionar. —Se não está reconhecendo a minha voz...

Vicente. —Pulei da cama, encarando o meu reflexo de frente para o espelho. Cabelos avoaçados e pele avermelhada, era quase como se eu nunca fosse bem tratada na vida. Agitei a cabeça embaralhando os pensamentos autodestrutivos e engoli a saliva para falar com ele. —Oi... É, eu estava um pouco ocupada. Acontece que eu recebi algumas visitas de uns parentes que vieram me visitar... E terminei de fazer minha oração agora. —Corri em direção ao closet, cruzando o quarto.

—Ah, que bom... A família é sempre importante. —O barulho de carros me fez questionar os próprios pensamentos, mas eu não podia falar nada então os guardei para mim. —Escuta, não que isso seja necessário, mas... Eu estou no centro de Metz. Estou indo pra uma reunião e queria saber se... Se você gostaria de me encontrar quando eu saísse.

Passei os cabides rapidamente, jogando as roupas pelos lados do closet e puxei, violentamente, um vestido longo e sexie, apoiando o celular entre o ouvido e o ombro.

—Claro... Seria ótimo. Eu estou sem fazer nada mesmo, então... Vai ser bom sair um pouco. —Minha voz soara como um sorriso.

—Está combinado então. Em uma hora, provavelmente, essa reunião terminará. Onde busco você?

Eu me inclinei para o lado e analisei o meu quarto.

Pura bagunça.

Arregalei os olhos reparando a imensidão que tinha a desordem naquele cômodo e saí do closet, arrastando o vestido pelo chão.

—Olha... Eu encontro você. Tudo bem? 

—Tudo bem, a gente pode se encontrar naquele restaurante famoso que fica no coração de Metz. Você tem alguma alergia?

—Não, nada. —Esperei que ele falasse mais alguma coisa, mas a voz de outro homem pôde ser ouvida, motivando a desistência de Vicente naquela ligação.

—Ótimo, eu preciso ir. Tenho que me preparar pra reunião. Até mais, Lisa.

Nem deu tempo de eu responder e a chamada havia sido encerrada. Para alguém extremamente educado ele estava mesmo com pressa. 

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Era hora de trabalhar. Arrumei os cabelos soltos, alinhando os tufos volumosos e ondulados. O castanho claro realmente havia ficado bom em mim, e realçava os meus olhos claros. Passei hidratantes e essências sensuais para tornar tudo melhor. O vestido longo em seda com corte reto no busto realçou os meus ombros e tornou meu colo mais atraente. Eu estava tão sensual quanto discreta e isso era perfeito para a personalidade de Vicente. Não dava para ficar apenas na imagem canônica quando eu queria mais um milhão de dólares. 

Havia gastado quarenta minutos do meu tempo apenas me arrumando e me preparando para vê-lo, mas depois disso, finalmente saí de casa, dirigindo diretamente para o melhor restaurante, no coração de Metz. Vicente estava se referindo ao Chez Moi, restaurante luxuoso que eu havia apenas conhecido pelo lado de fora.

Enquanto dirigia, reflexos da memória me levaram até as conversas que eu havia tido com Charlotte uma semana antes daquele dia. Todos os seus ensinamentos sobre o seu irmão estavam vindo à tona, e eu me sentia um pouco mais segura com isso. Eu estava pronta para vê-lo. 

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8

Vicente François

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Depois que Lisa Mary foi embora, eu me senti inquieto. O almoço passou diante dos meus olhos e eu mal consigo me lembrar do sabor que a comida tinha. Os olhos de minha irmã permaneceram sobre mim, feito uma águia buscando sua presa. Ela era a graça entre nós dois e eu a amava por isso. Minha mãe conversou com o meu pai sobre alguns assuntos em relação à reunião que teria durante a noite enquanto Charlotte e eu recebíamos seu esposo de volta à França.

Literalmente arrancando o pedaço de pele no lábio inferior, esperava eles saírem do aeroporto quando, disperso, acabei me surpreendendo com o barulho que as portas traseiras fizeram com a entrada dos dois.

—Vicente, a gente deveria ter chamado um motorista ou sei lá. Alguém que possa morrer por nós, e não nós mesmos. —Disse Charlotte, passando o cinto. Ela me olhou pelo retrovisor e senti que estava buscando algo em meu olhar, ou, uma reação sobre seu comentário.

—Gosto de ser útil as vezes. —Falei com desdém. —Além do mais estamos em um comboio com quatro carros; dois na frente e dois atrás. Você quer algo melhor que isso? —Liguei o carro, indicando para os seguranças que eu estava saindo.

—É, Charlotte. Não tem nada demais em dirigir as vezes... Eu dirijo o tempo todo.

—Mas você é diferente. —Rebateu, encostando a cabeça no ombro de seu esposo.

—Por quê?

—Porque nós somos os François e isso é quase uma maldição. —Disse Charlotte e então eu acelerei, saindo dali. —Como foi a viagem?

Percebi meu cunhado virando a cabeça para a janela. Seu olhar era como se buscasse respostas nos pensamentos para responder intuitivamente. Ele passou as mãos pelas coxas e suspirou, relaxando os ombros.

—Ah... Negócios são tediosos. Foi a mesma coisa de sempre. —Virou a cabeça para ela novamente e deixou um beijo casto em seu rosto. 

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Eu me limitei em apenas dirigir e seguir o comboio pela nossa segurança. Ao voltarmos para a mansão François, minha irmã e seu esposo subiram para o quarto e foram “planejar a paz mundial”. Meu pai e minha mãe permaneciam no escritório folheando papeladas volumosas e eu, bom, não conseguia parar de pensar na garota nova. 

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A noite chegou. Em meu quarto, havia terminado de tomar banho. Olhando meu reflexo de frente para o espelho, a capa exterior fazia inveja. Aquela que cobria a pessoa solitária e perdida. Eu o havia ignorado por muitos anos, e agora, uma garota totalmente pura e ingênua estava trazendo-a à tona.

Estremeci, arrancando a toalha presa em volta da cintura e a joguei no chão. Eu detestava aquela conversa comigo mesmo. 

Atravessei o quarto e passei a palma da mão em frente ao sensor, abrindo as portas de meu closet. As roupas apresentadas para mim, apareciam como um rodízio, e não era um grande esforço pensar em peças atraentes. Terminando de me vestir, abotoei o último botão da camisa roxa, encarando meus olhos no reflexo do espelho. Uma ansiedade estranha tomou meus pensamentos e, entre outras coisas, a imagem perfeita do sorriso dela consumiu minha mente como um sabor, quase me proporcionando o prazer em sentir o gosto daquele beijo outra vez. 

Caminhei apressadamente até o banheiro, puxando o blazer de dentro do cesto. Segurei aquele pano, o aproximando ao rosto. O cheiro dela ainda estava no tecido... Inalei intensamente, fechando os olhos e, quase fui incapaz de soltar novamente. Eu me peguei desejando que ela estivesse na cama esperando por mim.

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Fui obrigado a disfarçar e sair do banheiro quando ouvi a voz de meu pai no lado de fora do quarto, batendo na porta.

—Vicente? —Corri até a porta e a abri, encarando os olhos teimosos de meu pai. —Você precisa ver isso antes de irmos. 

Meu pai esticou o braço em direção ao meu peito, entregando-me uma pasta preta com três papeis.

—O que é isso? —Uma ruga se formou em minha testa enquanto segurei a pasta, tirando a mão da porta.

—São das ações que eu falei com você hoje de manhã. Eles vão falar sobre isso hoje e eu não quero ter que começar outra discussão. Quero que dê um jeito de encerrar esse assunto sem trazer discórdia.

—Impossível. —Olhei para meu pai, ironizando a situação. —Não é que eu não queira fazer isso, mas eles parecem um bando de cachorros com osso, não largam nunca. —Dei um passo para trás, indicando para meu pai entrar.

A nossa conversa foi fervorosa. Meu pai queria que eu fizesse os milagres que ele tanto esperava de mim, mas tudo o que eu queria era encerrar uma noite tranquila ao menos por uma vez.

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Inclinado a ficar, ele não me acompanhou para a reunião e eu acabei saindo sozinho em um comboio com quatro carros. Parado em frente ao prédio onde aconteciam as reuniões da minha família, enterrei a mão no bolso e puxei o celular, ligando para ela.  

Quando a chamada terminou, eu pude me sentir um pouco mais seguro para descer e enfrentar aquelas pessoas que eu tanto detestava. Naquela noite eu subi até a cobertura e defendi os interesses de meu pai, mas quando a reunião acabou, mal pude me segurar dentro do elevador. Agitado, batia com o pé apressadamente, incapaz de desviar o olhar para fora do painel que subtraía os números até o térreo. As portas se abriram e eu acelerei os passos tendo meus seguranças me escoltando no estacionamento, até o carro. Saindo em um comboio, finalmente fui para o Chez Moi. As pessoas me conheciam e não demoraria muito para que a minha foto estivesse estampando os sites de fofoca, então, para evitar, fui para uma área privada e mandei que as outras duas mesas ficassem vazias até o momento em que eu saísse. Eu deixei a entrada de Lisa Mary liberada.

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E então, sem demora, ela chegou. Por cima do cardápio eu vi aquele vestido longo de alças finas e corte sensual no corpo de uma mulher que exalava beleza. Seus cabelos castanhos claros jogados sobre as costas davam um volume soberano àquela imagem. Senti um choque leve no peito quando ela se aproximou e a anfitriã saiu, deixando-nos à sós.

Eu me levantei e fui até sua cadeira, puxando-a para que ela se sentasse.

—Boa noite, você quer pedir alguma coisa especial? —Perguntei, sentando-me de frente para ela. Inalei discretamente, sentindo o perfume diferente e amadeirado.

—Não, tudo bem. —Respondeu tímida, pondo as mãos sobre as pernas. Lisa olhou em volta, estranhando as mesas vazias entre nós. —O que houve?

—Essa é uma área reservada e eu mandei que as outras duas mesas ficassem vazias. —Pus uma mão na coxa, encarando os olhos dela. —Eu acabei de sair de uma reunião difícil. Só queria ficar quieto e jantar com a minha... Amiga, depois disso. —Quase me engasguei quando afirmei o que éramos.

—Você se sente bem? —Ela se inclinou levemente sobre a mesa. 

Eu nem soube como reagir diante sua preocupação. 

—Estou acostumado, não se preocupe. É apenas um estresse que vai passar quando o dia amanhecer. —Afirmei com sinceridade, eu realmente estava.

Fiquei esperando que ela fizesse um pedido para nós dois, após desistir de saber como eu estava, eu a percebi pondo o cardápio sobre a mesa. Lisa não parecia à vontade e, isso me abriu espaço para questioná-la.

—Lisa, quer ir para outro lugar? —Arqueei as sobrancelhas, incomodado.

—É que... —Sorriu sem jeito, desviando o olhar sobre a mesa. —Eu não me sinto confortável sabendo que você está com problemas. Não é certo querer se divertir quando alguém em sua frente não está se sentindo bem. 

Eu petrifiquei. Pisquei para ela, ainda sem palavras. Uma garçonete se aproximou para anotar o nosso pedido, mas pus os cardápios sobre a mesa e uma gorjeta generosa dentro dele. Tanto Lisa, quanto eu, apoiamos as mãos sobre a mesa e nos levantamos prontos para sairmos.

—Senhor François, estão prontos para pedir? —Passou o olhar sobre a mesa e nos observou levantar.

—Não, tudo bem. Nós estamos de saída. Eu retornarei em um outro dia, mas hoje estou exausto. —Sorri para Lisa, flexionando o braço em sua direção. —Vamos? Onde você estacionou?

A garçonete não conseguiu, sequer, questionar os meus motivos e apenas se limitou a ficar em silêncio nos observando sair. 

—Eu estacionei em frente ao restaurante.

—Acho melhor você deixar o seu carro em um estacionamento pago. —Sorri para ela, percebendo meus seguranças se aproximarem para nos escoltarem.

—Por quê? —Franziu o cenho, olhando para mim.

—Porque eu pretendo levar você para provar um doce a base de álcool.

Pude notar o desespero no olhar de Lisa. A julgar pela sua pureza, era provável que ela nunca tivesse ousado de provar bebidas na vida e, eu estava pronto para lhe apresentar sob meus cuidados.

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