Encaro a porta fechada assim que minha secretária sai, e respiro fundo antes de virar para Filipo que já me encara com um ar de deboche.
— O que foi Filipo? — pergunto sem paciência.
— Você ficou com ciúmes da secretária gostosa — fala me avaliando.
— Cara, respeita a senhorita Campbell — peço.
— Pérola — ele fala o nome dela bem devagar para me irritar — Eu falei sério, o nome faz jus a beleza dela.
— Você é tão depravado — acuso — Ela é só uma garota Filipo, não faz o seu tipo.
— O meu tipo é mulher bonita — fala dando de ombros — E a Pérola é uma mulher — enfatiza a palavra mulher — Muito bonita.
— Fica longe — ordeno — Não vai brincar com a minha secretária.
— Eu sabia! — fala divertido — Você está interessado nela.
— Não estou, pelo amor de Deus, olha o que você está insinuando — o encaro com raiva — Ela é minha funcionária e é apenas uma garota — o lembro mais uma vez.
— Vamos fazer assim? — questiona e apenas reviro os olhos esperando que ele conclua — Você finge que é verdade que eu finjo que acredito.
— Vai trabalhar Filipo, você hoje passou de todos os limites — o lembro.
— Tudo bem — levanta as mãos em sinal de rendição — Já estou saindo.
Assim que ele se retira da minha sala, fecho os meus olhos e encosto na cadeira tentando relaxar meus músculos, a primeira coisa que penso é nela. Pérola, seu corpo quase despido no meu banheiro, perfeita, essa é a palavra para descreve-la, o conjunto de calcinha e sutiã rosa realçando sem em pela clara. Minha mão coçou com a necessidade implacável de tocá-la, de traçar todas as curvas do seu corpo marcando sua pele, fazendo-a se arrepiar.
Como é possível desejar tanto uma mulher?
Sim, eu sei que a Pérola é uma mulher e não uma garota, dei essa desculpa para o Filipo para tentar me convencer, é difícil admitir, mas aquele bastardo tem razão, estou interessado na minha secretária.
É algo incomum para mim, nenhuma mulher já teve tal efeito sobre o meu corpo, nunca alguém dominou minha cabeça dessa forma.
Suspiro inconformado, sinto uma enorme necessidade em beija-la, nunca me envolvi com as minhas funcionárias, muito menos com uma secretária.
Eu estou muito ferrado!
A senhorita Campbell chegou aqui muito jovem, menor de idade ainda, mas sempre foi muito competente, a Émile sempre falou muito bem dela, e desses dias em que está em seu lugar compreendo perfeitamente o porquê de tantos elogios.
O andar confiante, os olhos sempre atentos, a boca inteligente, a pontualidade. Conseguiu acompanhar meu ritmo com facilidade e eu não poderia desejar nada melhor até aquele momento. Agora desejo tocá-la, depois de tanto tempo, eu preciso por minhas mãos sobre ela sem hora para acabar para ver se esse desejo avassalador vai embora.
— Apolo!
A exclamação furiosa me fez abrir os olhos. Meu pai está parado em minha frente parecendo irritado.
Desde quando ele está aqui?
— Estou te chamando a um longo tempo e não me responde! — reclama.
— Desculpe, papai — resmungo empurrando minha cadeira para frente.
É ridículo, eu sei, mas tento esconder o volume em minha calça atrás da mesa, pareço um adolescente em plena puberdade.
— Estava no mundo da lua?
— Não, só estou cansado — minto.
— Parecia no mundo da lua — retruca — Vá para casa dormir se está tão cansado, a empresa não vai a falência se tirar um tempo para descansar.
O olho com impaciência e apontei para a pilha de documentos na minha mesa esperando para serem lidos, resolvidos e assinados.
— Sabe que pode me pedir ajuda sempre que precisar — fala sentando em minha frente.
— Papai, o senhor está aposentado a anos, me desculpe, mas perdeu o ritmo — digo.
Ele me encara ofendido.
— Olha aqui garoto, eu construir essa empresa, não estou enferrujado coisa nenhuma — recala emburrado — Mas já que não quer minha ajuda, se vira, moleque.
— Não queria te ofender — falo prendendo o riso.
— Filho desnaturado, quero um pedido de desculpas.
— Desculpa pai — peço.
— Assim é da boca para fora, quero ações.
— O que o senhor quer?
— Um neto — fala como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
— Fora de cogitação, peça outra coisa.
— Não quero outra coisa — o velho está com fixação, respiro fundo enquanto coço a cabeça, é melhor mudar de assunto.
— Cadê a mamãe?
— Saiu com a sua secretária — responde e fico surpreso.
— Com a Pérola?
— Desde quando a chama pelo primeiro nome? — questiona me olhando desconfiado.
— Não chamo — me apresso em responder — Só fiquei muito surpreso, desde quando minha mãe a conhece?
— Apolo, essa garota trabalha nessa empresa a dois anos, conhecemos ela, é uma jovem muito promissora e educada, sua mãe é apaixonada por ela, são amigas.
— Nunca soube dessa amizade.
— Você nunca reparou muito na garota, não teria como saber, nunca foi assunto em nossos poucos encontros familiares.
— Para onde elas foram?
— Almoçar no Antonius.
— E o senhor não foi, porquê?
— Vim visitar o meu filho, passar um tempo com ele — dá de ombros e sorri mostrando a dentadura com todos os destes brancos e alinhados.
— Apolo, vamos almoç... — Filipo para na entrada da minha porta assim que ver meu pai — Tio, quanto tempo — entra e abraça o meu pai — Como está?
— Bem, estaria melhor com um neto — diz e meu amigo me olha, balanço a cabeça fazendo sinal para ele não dá corda a essa conversa.
— O senhor já tem até cara de avô — meu amigo diz e sinto vontade de matá-lo.
— O que acham de irmos almoçar? — convido antes que aquela conversa vá muito longe, o Filipo vai me pagar — Estou faminto — minto.
— Vamos para o Antonius — Filipo fala.
— Não — digo rápido e os dois me encaram — Tem um restaurante novo na próxima quadra, vamos experimentar.
Saio da sala apressado, para não os deixar retrucar, não quero está na mesma mesa que minha mãe e minha secretária, não hoje, não enquanto a visão do seu corpo paira sobre a minha mente.
***
Demoro o máximo que posso no restaurante, como bem devagar, bebo meu suco lentamente e ainda peço sobremesa, meu pai me olha com a sobrancelha arqueada, não é comum me verem comer doce. Mas hoje se tornou necessário, quero ficar o mais longe possível da minha secretaria, preciso colocar minha cabeça no lugar e perto dela não é o melhor lugar. O almoço segue com uma conversa tranquila, sem meu pai me pedir um neto a cada garfada, quando finalizamos, minha última jogada de enrolação é ir ao toalete.
Me despeço do meu pai e entro no prédio com o Filipo, subimos de elevador, contra a minha vontade, diga-se de passagem, por mim poderíamos ir de escada, trinta andares não é nada como um cara atlético como eu.
— Você está estranho — Filipo comenta depois de um tempo — Aconteceu alguma coisa?
— Não — falo folgando a minha gravata — E você ainda vai me pagar.
— Por que?
— Você estava dando corda ao meu pai naquela conversa doida e cansativa em me pedir um neto — falo emburrado e o bastardo gargalha.
— Precisa relaxar amigo — ele sai do elevador em direção a sua sala rindo de mim.
Reviro os olhos, coloco as mãos no bolso da minha calça, quando o elevador abre em meu andar sigo em direção a minha sala, encontra Pérola sentada em sua mesa com os olhos atentos a tela do seu computador, assim que me vê sorri educadamente e se levanta.
— Precisa de alguma coisa senhor Beuamont?
— Me chame de Apolo — peço e ela sorri concordando.
— Tudo bem, Apolo.
Meu nome saindo por entre seus lábios me faz ter pensamentos impróprios inadequados.
— Com licença — entro em minha sala rapidamente e me jogo no sofá.
Eu estou muito lascado, preciso sair com outros mulheres e tirar Pérola da minha cabeça.
Tudo isso é culpa do Filipo!