Capítulo 5

Os sentimentos em meu peito se encontravam muito próximos de explodir, é natural sentir medo ou receio, é algo que todo ser humano carrega em seu peito e em seu interior, sabe qual é o problema? Sentir esse medo próximo de pessoas nas quais desejamos impressionar, ou daqueles dos quais desejamos mostrar toda a nossa imponência. Ao entrar na minha BMW, tudo o que consegui fazer por uns vinte minutos foi encarar o nada, pisquei algumas vezes recordando o que havia acontecido no elevador a poucos segundos, a minha total e completa humilhação. Por alguns instantes considerei a gentileza dela com o meu pânico; em seguida aquele sentimento de diminuição subiu para o meu peito, assim como uma raiva da qual eu não sei de onde surgiu. Comecei a socar o volante do carro com a buzina soando alto no estacionamento. Me remexi, bati, soltei maldizeres para aquele momento.

BIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

_ MALDIÇÃO! - Saia de meus lábios enquanto a fúria enchia o meu peito. - Sou Fernando Murbeck como posso ter um ataque estérico na frente de uma mulher tãoooo……. Tãoooooo….. haaaaaaaaa – voltei a bater no volante.

BIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

Ecoava da BMW que se remexia com meus movimentos bruscos, foi então que eu escutei uma batida soar em meus ouvidos, toc, toc… Olhei para o lado, um guarda me encarava espantado; arregalei aos meus olhos e então ajeitei o meu cabelo, em seguida abri o vidro olhando para ele com uma seriedade como se nada tivesse acontecido.

_ Está tudo bem com o senhor? - Questionou o homem me observando com atenção.

_ Está  - Falei curto e seco.

_ Há sim… - Respondeu ele ainda parecendo estar em dúvida – Achei que um inseto havia invadido o seu automóvel… mas acho que me enganei… - O encarei sem compreender então ele mesmo me respondeu – Abelhas… - Balançou a cabeça como se recorda-se algo.

_ Abelhas? - Questiono com um ar de incredulidade na face.

_ Sim, isso já aconteceu comigo… - Ele achou que a minha pergunta era um incentivo, o dia não poderia terminar mais estranho do que isso – Uma abelha.. Invadiu o meu automóvel então comecei uma luta brava e corajosa contra o inseto… - Novamente o guarda pareceu se perder em pensamentos, no entanto em um estalo ele retomou a palavra – Então quando o vi… se debater assim… - Ele me imitou feito um doido, sem parar e então se recompôs rapidamente dizendo – Achei que isso havia acontecido com o senhor também. - O homem piscou, só então percebi que o mesmo esperava uma resposta.

_ Oh, não… é… - Respirei fundo, o que diria para ele? O olhei me encarando e esperando uma resposta, soltei um suspirar e então falei – Era um inseto mesmo. - Observei ao nome dele no crachá e então retomei a palavra – Mais como pode ver eu venci a batalha senhor Abílio – Ele sorriu satisfeito para mim – Obrigado pela preocupação, agora se me der licença, preciso ir.

_ Há claro patrão, tenha uma boa noite.. - Fechei o vidro e então comecei a dirigir para casa.

No dia seguinte logo cedo a campainha da minha casa tocou, achei realmente estranho, no entanto a noite fora péssima e eu não preguei o olho, com ás últimas palavras dela martelando em minha mente, assim que abro a porta Daniel está parado em frente a mesma com suas mãos nos bolsos, assim que suas íris encontraram ás minhas uma incógnita se fez presente no meu rosto, dei espaço para que ele entra-se. Em seguida fechei a porta caminhando atrás do mais novo, parei no bar servindo um café para mim e para ele, entreguei a xícara nas mãos dele e em seguida me sentei na poltrona repousando meu pé em cima da minha perna, o encarei com um sobrancelha elevada.

_ O que o traz aqui tão cedo? - Ele tomou um gole do café que soltava fumaça devido a temperatura elevada.

_ Precisamos conversar… - Pisquei algumas vezes sem compreender.

_ Sobre? - Ele repousou a xícara em cima da mesa e então me analisou seriamente por vários instantes.

_ Sobre a Júlia. - Respirei profundamente, e então o olhei irritado.

_ Deixa-me compreender bem.. - levei o dedo até meu queixo passando as pontas dos meus dedos na pele áspera – Na minha chegada, você me mandou uma mensagem, nem veio me ver, mau nos falamos no trabalho, e agora você veio até aqui ás 6:00 horas da manhã para falar da minha secretária, é isso? - Daniel respirou profundamente passando a mão por seus cabelos castanhos claros em seguida me respondeu.

_ Sinto muito por isso… - Mostrei um sorriso sarcástico que o irritou – Ela é uma ótima funcionária, além disso é minha amiga, eu não quero que você a humilhe entendeu? - Balancei a cabeça lentamente na direção dele, notando a alteração em sua voz, não me movi da oposição que ocupava na poltrona, mas o respondi com um humor obscuro.

_ Entendo, ela tem uma importância enorme para você mais do que eu. - Daniel piscou fortemente, no entanto, meu olhar caiu por alguns instantes para o tapete negro embaixo dos pés dele, tombei minha cabeça para o lado com uma expressão fria em minha face em seguida retornei a falar – Eu quero que você vá embora. - Ele sorriu irônico para mim.

_ Fernando nunca fomos irmãos de verdade. - Ai essa doeu na minha alma – Sempre fomos diferentes, nunca concordamos em nada, brigamos a vida inteira, então não aja como se isso o magoa-se. - Me levantei da poltrona caminhando até a porta e em seguida a abri.

_ Não magoa – Só cria cicatrizes profundas penso – Pode ir. - Ele anda até a porta e para na minha frente.

_ E quanto a Júlia? - O encarei profundamente nos olhos.

_ Pelo pouco que a conheço, ela irá me mostrar a capacidade por si mesma, não precisa que você a defenda. Além disso quando ela souber sobre isso… - O empurrei para fora – provavelmente ficará brava com você. - Fechei a porta na face dele.

Caminhei até a enorme janela de vidro, parei diante da imagem em minha frente. Curitiba funcionava a todo vapor, os carros passando sob a paisagem, ônibus indo e vindo, todos muito preocupados com suas vidas, sem notar que no topo desse prédio de apartamentos, existe um homem extremamente rico, poderoso e completamente sozinho, sem ninguém; mesmo tendo tantas pessoas ao meu redor todos os dias, com uma alma fria e coração duro.  Os dias correram rapidamente, como uma válvula de escape em alta velocidade dentro de um veículo correndo e cortando o vento. Permaneci por tanto tempo dentro do escritório, perdi noites de sono assim como refeições, no entanto o tempo que não tenho com ninguém em especial, me sobra para ocupar com trabalho, em questão de semanas a empresa estava nos maiores meios de comunicação do país devido a dedicação na qual eu me concentrava. A paciência te leva a um certo ponto, o sangue vai te levar ainda mais.  A dor só vai endurecer seu coração. Alguém aí fora quer me ouvir? A tristeza é minha amiga, eu temo que o tempo me envelheça gentilmente, e eu andando sozinho por todos esses anos, parece que nós crescemos amigáveis. A felicidade é linda de se ver, mas não foi feita para mim. O evento não demorou a se aproximar, enquanto me arrumava para esse momento importante; do qual a empresa iria negociar com pessoas poderosas, tudo o que rondava na minha mente foi aquela única noite, onde uma única pessoa se mostrou gentil comigo, mesmo sendo a minha maior  humilhação. Desde aquele momento passei a observá-la com mais atenção, sua rotina era simples, assim como seus atos, ou a gentileza que dela emanava. Sua organização se mostrará precisa e profunda, assim como tudo o que fazia, agora eu compreendia porque Daniel a admirava tanto. Como esperado ela se tornou uma distração satisfatória, porém me pegava sempre condenando meu comportamento em observar seus movimentos, por isso a alguns dias a evitava sempre que necessário, no entanto hoje seria difícil fazer isso, ao vislumbrar enquanto Júlia caminhava em minha direção no meio de tantas pessoas, com seu vestido rosé, seus cabelos perfeitamente emoldurados em sua face, a maquiagem que realça seu rosto belo, deixando claro o quanto a mesma é absurdamente linda, senti o fôlego fugir dos meus pulmões por alguns instantes, até que ela parou a minha frente, a encarei com uma expressão concentrada, ela sorriu e então por alguns instantes meu peito se derreteu, acabei sorrindo em resposta enquanto piscava por revelando ás covinhas em minha bochecha, nosso momento foi interrompido por um casal que se aproximou de nós.

_ Boa noite senhor Murbeck – Disse a mulher na minha direção – É muito bom vê-la também senhorita Julia… - Ela pareceu sorrir mais largo.

_ Boa noite.. - Comprimento educadamente no entanto Júlia se mostra rápida ao dizer.

_ Boa noite senhor e senhora Belinatti, deixa-me apresentá-los melhor.. - Ela olhou para mim e deu uma piscadela – Este é Fernando Murbeck um dos maiores CEOs da atualidade, Senhor Murbeck, estes são Antonella e Anton Belinatti, dois dos maiores exportadores de madeira do Brasil. - A senhora sorriu satisfeita com a apresentação, sorri para ambos no entanto a senhora se direcionou para Júlia.

_ Chegou a pensar na nossa proposta querida Júlia? - Elevei a sobrancelha surpreso com a pergunta, voltei meus olhos para a minha secretária que me pareceu sem graça.

_ Na verdade estou refletindo ainda… - Ela respondeu, não pude deixar de interferir na conversa delas.

_ É  minha impressão senhora Belinatti ou está tentando roubar a minha funcionária? - A mais velha sorriu condescendente na minha direção.

_ Oh querido, foi essa a impressão que passei? - Ela sorriu largamente na minha direção – Pois era isso mesmo! - Ela piscou – Melhor cuidar dela, Júlia é como um tesouro escondido do qual todos os empresários desejam… - Sorri largamente para a senhora que sinceramente roubou minha admiração.

_ Não é necessário cuidar… - Os três olharam para mim – Não quando ela tem um emprego fixo, com um salário alto e a certeza de quê não será demitida… - Júlia me olhou fixamente surpresa com ás minhas palavras, ergui a taça na direção dos três e então falei educadamente – Me deem licença por favor, preciso ir falar com uma pessoa… - Meus olhos pousaram do outro lado do salão de onde meu pai me observava, Júlia permaneceu ali juntamente com a senhora Belinatti, no entanto quase pude ter certeza de quê ela comemorava em silêncio o meu anúncio.

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