Estou em uma nuvem de conforto da qual não quero sair, mas meu corpo dá um pulo involuntário de susto que me obriga a acabar de despertar. Ao abrir os olhos, percebo que meu apartamento está mergulhado nas sombras da noite. Tudo está apagado e escuro, eu havia ficado completamente adormecida.Confirmo que Loren ainda está no meu colo, ele ficou ainda mais nocauteado do que eu. Está descansando como se fosse um bebê, por isso não quero imaginar o quão cansado ele devia estar. Nem sei que horas são, pisco muito para poder focar minha visão, então estendo meu braço para tatear e pegar meu celular que havia deixado por ali.Pego-o e me surpreendo com a hora que indica, já passa das 12:00 AM. Também verifico que tenho muitas mensagens não lidas desde cedo, muitas, incluindo uma de Jesus. Ele tinha me escrito há cerca de uma hora, pedindo desculpas, mas surgiu uma emergência, que amanhã me devolveria o carro.Ergo minha sobrancelha e sorrio porque já imaginava qual era a "emergência", deixo
— Você não precisa se desculpar por nada, Sara. Também não é como se eu tivesse sofrido ao seu lado todo esse tempo, e mesmo assim não confessei por medo que você se afastasse de mim... o problema foi meu. Não seu, nunca foi... Mas paguei com você me afastando, inventando todas essas desculpas para não te ter por perto.Meu coração mal me deixa continuar ouvindo outra coisa que não seja ele. Com uma verdade em meus lábios.— Se você sabe... por que continua inventando-as? — digo, ele se surpreende muito — Estou aqui, Loren. Posso estar aqui a vida toda se você parar com isso.— Sara... eu... — ele menciona em um grande conflito.Coloco minha mão perto de sua boca e fecho meus olhos, me acomodando melhor para dormir.— Só pense nisso. Só pense nisso.Com isso, caio rendida ao sono mais rápido do que esperava. Lorenzo era quem devia tomar uma decisão, eu já havia tomado a minha......Volto a acordar no meu sofá, mas desta vez estou sozinha e com a luz do sol iluminando meu apartamento.
Odeio vomitar, é uma das coisas mais desagradáveis do mundo, mas aqui estou eu vomitando líquido transparente com sabor amargo. Loren está comigo há um tempo ao lado do vaso sanitário, segurando meu cabelo e dando tapinhas nas costas. Me sinto horrível.Embora com os últimos movimentos meu nível de mal-estar melhore um décimo. Apenas um décimo.— Quero morrer. Me sinto muito mal... — reclamo levantando a cabeça.— Por que você está vomitando? Levantou na madrugada para comer alguma coisa? — questiona Lorenzo.Ele pega papel higiênico, enrola e começa a limpar minha boca. Deve ser a situação mais romântica em que estivemos.— Nãoo, mas foi aquele bacon. Cheirava e parecia ruim. Estava estragado... — explico com o estômago revirado.— Estragado? Mas eu o provei, não estava estragado...Eu não deveria imaginar comendo-o, mas é o que imagino, aquela coisa gordurosa e terrível. Volto a querer vomitar, são apenas ânsia desta vez.— Algum membro da sua família ou amigo está doente? Poderiam t
Loren está olhando para o teste com uma expressão que não consigo decifrar. É como de incredulidade. Sinto como se estivesse caindo de uma montanha-russa quando ele vira o teste. Na telinha pode-se ler..."Grávida 3+"Minhas mãos vão novamente à minha cabeça e meus olhos se enchem de lágrimas. Me agacho no chão para chorar.— Meu bebezinho já vai para o jardim de infância... e eu nem sabia — gemo em um ataque de histeria impressionante.Ouço as risadas de Loren, ele tenta contê-las, mas continuam. Está rindo e chorando ao mesmo tempo, e quem sabe, também me dá muita risada. Começo a rir. Ele se agacha ao meu nível, seca meu rosto com sua mão com muita doçura.— Você é maluca... já te disse isso? — ele menciona.— Também estou psicologicamente grávida. Tudo é um sonho, depois... depois acordaremos numa cama sem pernas talvez ou numa simulação — dou uma teoria insana.— Essas possibilidades são melhores do que estar grávida de... um filho meu? — ele pergunta fazendo uma brincadeira que n
— Me fale sobre suas suspeitas, data da sua última menstruação...Natalia me faz um interrogatório, e com cada resposta que dou, vai morrendo minha esperança de que seja um falso positivo ou uma gravidez psicológica. Ao dizer-lhe o último, ela me diz que é melhor que eu vá para a maca, que fará um ultrassom.Sentada nessa coisa de terror, olho para a tela esperando ver um útero vazio. Natalia não fala e fico mais nervosa. Então, Loren vem segurar minha mão. Fecho os olhos com isso acontecendo, porque os fatos me dizem o que virá.— Você terá que abrir seus olhos para vê-lo, Sara, há um pequeno aí dentro... — comenta a médica.Novamente começo a chorar, era o que ela dizia, havia algo batendo ali dentro de mim. Natalia nos observa muito, entre Lorenzo que está preocupado comigo, e eu que não paro de chorar. Ela limpa o gel do meu abdômen e me passa outra toalha para que eu termine de fazê-lo.— Deixarei vocês a sós por um momento, estão me chamando... — mente Natalia para voltar à sua e
Aceitar que estou grávida e que isso implica uma vida se formando dentro de mim não tem sido fácil. É um estado parecido com atordoamento, com questionamentos que nunca tinha feito antes sobre a vida humana. Era algo semelhante a você ter um aspecto grandioso de tal processo e, simultaneamente, ter dois aspectos aterrorizantes.É exatamente nessa dinâmica que estou atualmente. Loren e eu estamos no meu sofá, ele está distraído assistindo ao filme que eu supostamente também deveria estar vendo com ele. Mas isso é impossível com o milhão de pensamentos que tenho na minha mente. Enquanto ele está sentado, minhas pernas estão repousando sobre as dele, e minha cabeça no braço do móvel.A naturalidade com que Loren está acariciando um dos meus joelhos e deixa sua mão no meu ventre é agradável, eu sei que sim. Foi essa posição confortante que me fez pensar no aspecto grandioso e nos dois aspectos aterrorizantes.O grandioso era que, durante esta gravidez, Loren me trataria como tem me tratado
— Você me ajuda com isso? Estou cansada de criar vida dentro de mim... — brinco.Loren ri, pega o controle da televisão para desligá-la, em seguida me pega em seus braços. Ele me carrega no estilo princesa para me levar ao meu quarto, esse que compartilhamos nestas noites, de forma romântica. Mas, esta noite quero mais, quando ele me deita na cama, volto a beijá-lo com mais intensidade. Loren afasta seu rosto de mim.— O que... você está fazendo?— Como assim o que estou fazendo? Os hormônios da gravidez estão me deixando mal... quero você para o que já deve adivinhar... — digo beijando seu pescoço agora.É como se Loren estivesse se contendo com todas as suas forças. O que não compreendo. Se me disse que cancelaria o casamento, somos um casal e esperamos um filho juntos. O que mais? Ele me separa suavemente dele.— Não quero me aproveitar de você neste estado... — confessa.Olho para ele com seriedade, depois não consigo evitar rir como se não houvesse amanhã.— Não é engraçado, Sara,
Isso é mais que interessante, diria que é extremamente bizarro. Jesus e Emma estão sentados em um extremo, e no outro estamos Lorenzo e eu. O silêncio é revelador, assim como é nossa postura. Posso dizer em favor do lado feminino que Emma e eu estamos mais desconfortáveis que qualquer outra coisa, enquanto o lado masculino tem tudo a perder nesta ocasião, esses dois estão se olhando de muito, muito mau humor.Como ninguém quer falar, temo que serei eu quem terá que quebrar o gelo, para descobrir para que esses dois pombinhos vieram juntos. Porque dei esses dias livres a Jesus, não é como se eu o tivesse chamado para trabalhar hoje.— E então? Qual é o tema principal da reunião de hoje? — digo tentando sorrir.— Bem... principalmente é... como você, Lorenzo, cancelará de maneira oficial nosso compromisso e casamento — menciona Emma com algum temor.Adoro que ambos os casais tenhamos chegado a um consenso tácito sem ter que discuti-lo. Ao mesmo tempo que incentivei Jesus a se perder com