Na casa da família Brandão, sem ter noção do que a filha passava, Carlos expulsou a rolha da garrafa de champanhe, que estourou, e todos comemoraram.
— Estamos salvos. Eu sabia que aquela menina um dia iria me servir e muito. — Regozijou-se ele. — Mas era eu quem devia ter me casado com Romão. — reclamou Raquel. — Pare de ser ingrata. Sua irmã está lhe fazendo um favor, mesmo depois de você ter roubado todo o dinheiro que ela nos enviou e você ainda está reclamando? — É mãe, mas agora é ela que está se refestelando com ele, o meu homem, o meu macho que deveria estar comigo. Carlos não teve dúvida, ao ouvir a forma vulgar com que sua filha estava falando, levantou a mão e acertou seu rosto com um forte tapa. As duas mulheres ficaram horrorizadas, nunca tinham sido agredidas desta forma. — O que pensa que está fazendo, Carlos? Como se atreve a b**er na cara da nossa filha? Não sabe que não se b**e na cara de ninguém, principalmente de uma mulher? — Ela não é ninguém, é a minha filha e se eu não a corrigir, quem corrigirá, você? — Puxa, pai, eu tô sofrendo… — Choramingou Raquel. — Porque quer. Você plantou o que está colhendo. Resolveu fazer um aborto nestas clínicas clandestinas, acabou perdendo o útero e ficando estéril. Gastar o dinheiro que não tinha para poder salvar a própria vida. Você pensa que é fácil para mim, como pai, engolir essa situação e ainda usar a própria filha mais velha, para encobrir os erros da mais nova? — Mas pai… — Enche a boca de champanhe e fique calada. Não quero mais ouvir sua voz, quero desfrutar da satisfação de nosso plano ter dado certo e nossa vida futura melhorar. Raquel calou-se, procurando não se lembrar de que seu amado estava na cama com sua irmã. Conhecia bem a prática dele, sabia que nenhuma mulher o resistia e que sua irmã também não resistiria, tinha medo de perdê-lo para ela. Na cabeça distorcida de Raquel, todo o dinheiro que sua irmã ganhou e mandou para casa, era sujo. Ela não fazia ideia de tudo que uma arquiteta famosa, cheia de prêmios no exterior, podia ganhar e que a irmã tinha sua própria empresa e muito sucesso na profissão. A noite passou e quando amanheceu, Lia acordou sem acreditar que aquilo tudo, realmente aconteceu com ela. Não queria abrir os olhos para não ter a certeza da realidade. Porém, seu estômago roncou e ela não podia mais adiar se levantar e encarar de frente o que estava por vir. — Acordou, preguiçosa? Já passa das dez, preparei o café. — disse Romão da porta e saiu. “Ainda ousa me chamar de preguiçosa, depois de tudo que me fez passar, que estúpido.” Pensou ela. Vendo que havia um roupão ao pé da cama, vestiu-o, levantando-se e sentindo seu corpo dolorido, assim como sua área entre as coxas, ardida. Andou com dificuldade até o banheiro e conseguiu tomar um banho, lavando-se bem, apesar da dor. Percebeu que havia um spray íntimo para aliviar a dor e usou, sentindo um alívio imediato. Escovou os dentes e quando saiu do banheiro, vestida com o roupão, notou que ele havia colocado a mala dela no quarto. Pegou uma roupa qualquer e vestiu-se rapidamente, com medo de que ele entrasse. Saiu do quarto e já estava na sala que era conjugada com a cozinha. Viu-o sentado à mesa, tomando seu café da manhã, sem esperar por ela. Foi até lá e sentou-se na cadeira vaga, notando sobre a mesa, a jarra de café, torradas, ovos mexidos e embutidos. — Bom dia. Foi você quem preparou tudo? — Qual o problema? Não está bom o suficiente para a princesa? Ela levantou o rosto e olhou para ele com a testa franzida, por que ele a tratava assim, como se ela fosse uma mulher qualquer, arrogante e cheia de exigências? — Eu não sei o porquê desta imagem que você faz de mim e nem quero saber. Perguntei por perguntar... Ela serviu-se de uma torrada e uma xícara de café, apenas. Levantou-se e foi comer sentada na poltrona da sala. Se era para ser implicante, não iria comer olhando para a cara dele. Romão conjecturava em seus pensamentos: “Ela parece arrogante, porém não parece esnobe. Raquel disse que ela ganhou a vida como prostituta, mas era virgem. Depois que viu a essência do contrato e que foi enganada, até tentou fugir, mas quando percebeu que não teria escolha, não fez escândalo ou tentou argumentar. Quem é esta mulher? Será que Raquel conhece bem a irmã?” — Não gosta de ovos mexidos? — Não gosto de comer olhando para uma carranca, perco o apetite. — Continue com esse comportamento e só terá pão e água. — Controlar a minha vida também faz parte do contrato? Ela viu o contrato jogado sobre a mesa de centro e pegou-o, já havia terminado de comer a torrada e só segurava a xícara de café. Só então, leu o contrato que não tinha lido por completo. Depois de um tempo, deixou-o de lado, tendo percebido que a única diferença do que seu pai havia dito, era o fato de que teria que ter um filho no prazo de um ano. — Quando eu engravidar, poderei sair daqui e ter minha vida normal, como diz o contrato? Levantando-se, ele sentou-se na poltrona em frente a ela, achou melhor conversarem e esclarecerem como seria o próximo ano. — Não pense que gosto de ficar com você. Esse filho é exigência da minha mãe e quando for confirmado que está grávida, te levarei para minha casa e minha mãe cuidará de você. — Você mora com sua mãe? — Não, minha mãe mora comigo. Lia observou-o sentado, com uma perna cruzada sobre a outra e percebeu que ele ocupava muito espaço. Não pelo tamanho da poltrona, mas pela postura e autoridade que deixava transparecer. Mesmo com aquela expressão arrogante, ele continuava bonito. Estava vestido casualmente, com uma calça de moletom e uma camiseta de manga, mesmo assim, parecia elegante. Seu cabelo curto, que ontem estava muito bem penteado, hoje estava normal, caído na testa, dando-lhe um ar mais jovial. Porém, apesar da boa aparência, causava-lhe nojo, pois sua personalidade e caráter, eram muito feios. — Não preciso de uma ama seca me cuidando, sou uma mulher adulta e independente. Vou cumprir o contrato e ter esse filho. — Não pense que ficaremos casados e dividiremos a guarda, esse filho será só meu. Depois do que ele fez na noite passada, ela não queria ter mais nenhuma relação com ele, nem ser mãe desse filho. Sempre que olhasse para a criança, lembraria da violência que sofreu. Só ela sabia como se sentia, tendo que olhar para ele de frente, como estava agora. — Ficaremos trancados aqui durante quinze dias? Isso é cárcere privado. — Você ficará, eu não. É só uma medida de prevenção para você não fugir. Não tenha dúvida de que, se você tentar, sofrerá as consequências. — O quê, vai me bater? Existem formas melhores de torturar alguém. Bem, agora já está na minha hora. Tem suprimentos na cozinha, se vira para fazer o que comer. Ele saiu e trancou a porta. Ela ouviu o som do carro partindo e ficou furiosa, pois ele estava usando o carro dela. Não tinha muito o que fazer e estava muito dolorida para ficar andando, mas o ambiente era pequeno e ela examinou tudo. Não tinha nada para entretê-la, inclusive, não tinha levado sua bolsa com seus documentos e o celular. Estava totalmente incomunicável. — Desgraçado. Me colocou em cárcere privado e não terei provas para processá-lo depois.Chegando em casa, Romão viu que, sua mãe, andava de um lado para o outro na sala, perturbada com a presença de Raquel, sentada no sofá. — Que bom que você chegou, meu filho, deu tudo certo? — Claro que sim, mamãe. — Ela reclamou ou fez escândalo, como foi? Enquanto a mãe falava, Raquel levantou-se e grudou-se em seu braço, emburrada. — Foi bem mais tranquilo do que eu esperava. — olhou para Raquel. — Aliás, aproveitando que você está aqui, precisamos conversar. — Ela não só está aqui, ela se mudou para cá. Chegou com duas malas e se instalou no seu quarto. — Obrigado, mãe. Vamos para o escritório, Raquel. Ele segurou-a pelo braço. Amava-a por sua doçura e delicadeza, por sempre o apoiar sem ligar para o seu passado de Dono do morro, mas se instalar em sua casa, no seu quarto, sem pedir permissão? Foi um grande erro. Agora que ele estava casado, como o grande empresário que é, não pode deixar nenhum escândalo desse tipo vazar e atrapalhar seus negócios. Também tinha o fato
Romão ficou intrigado, não sabia no que acreditar. Uma mulher forte que se dedicou a carreira, ganhou muitos prêmios, mas deixou a família em dificuldades financeiras, não parecia muito justa. Estava indeciso. Não era um homem bom, obtinha o que queria sem pedir licença, mas gostava de se ver como justo. Desde quando liderava o contrabando e o tráfico no morro, mantinha tudo em ordem com mãos de ferro. Sempre protegeu mulheres e crianças de maldades e abusos. Agora se tornou um abusador por acreditar em uma mentira. Será que sua menina era tão descrente da competência da irmã que não acreditava em sua capacidade de conquistar sucesso profissional? — Então, sua filha é uma arquiteta profissional e ganha a vida com seus projetos? — Creio que sim. Não sei muito sobre sua vida no exterior. É impossível alguém ter tanto dinheiro só desenhando riscos num papel. — Raquel disse, entrando no escritório, despeitada e não querendo que seu namorado descobrisse a verdade. Romão a olhou sério
Romão levantou-se para sair, mas a governanta o chamou. — Senhor Ferreira, o buffet do casamento deixou aqui algumas caixas com bolo e salgadinhos, o senhor não gostaria de levar para sua esposa? Ele parou um instante para pensar e chegou à conclusão que seria uma ótima desculpa para voltar a cabana, ainda neste dia. Havia prometido que a procuraria dia sim, dia não, mas podia aparecer com uma desculpa. Queria vêla e colocar o plano de sua mãe em prática. — Prepare uma boa embalagem que vou levar para ela. Obrigada, Zuleide. Chegando à cabana, surpreendeu Lia, que estava deitada no sofá. Sentia-se apática e ainda dolorida, mas sentou-se rapidamente, percebendo que a porta da frente abriu. Havia ouvido o som do motor de seu carro, chegando, mas pensou que era ilusão de sua cabeça, já que ele prometeu voltar só no dia seguinte. Quando ele apareceu, ela olhou-o com olhos arregalados e medrosos, não suportaria mais uma sessão de sexo como a do dia anterior. — O que faz aqui
O susto e a expressão dele diziam tudo: ele não acreditava no que Raquel era capaz de fazer e fez contra os próprios pais. — Como assim, do que você está falando? Raquel não é assim. — Só depois que eu cheguei, descobri que todos os e-mails e fundos que enviei para ajudar a família, foram interceptados por Raquel. Ela apagou os e-mails e transferiu todo o dinheiro para sua conta particular. Encontrei uma situação tão caótica na casa, que precisei comprar comida ou passaríamos fome. Enquanto isso, Raquel desfilava com uma bolsa de marca da moda e joias caríssimas. — Eu dou a Raquel o que ela quer, portanto, isso não significa que ela usou o seu dinheiro. — Eu tenho provas, fui ao banco e segui o dinheiro. Mas se você quer continuar se enganando, o problema é seu. Romão não pensou duas vezes, levantou-se e saiu como um foguete, deixando Lia sozinha, saboreando o bolo do casamento. O jantar ficou totalmente esquecido. Entrando no carro, antes de ligá-lo, lembrou que o carro
Lia não quis deixar ele perceber sua mágoa e frustração com seus pais. Tudo teria sido diferente se eles tivessem contado a verdade, ela poderia até conceder seus óvulos para eles terem um filho. — Não se preocupe, cuidarei deles. Conversei com a Raquel e creio que ela vai pôr a cabeça no lugar. — Ela confessou que pegou o dinheiro ou deu uma desculpa? Para nós, ela disse que se deixasse o dinheiro na mão do papai, ele ia gastar tudo sem resolver questão nenhuma. Romão olhou para ela e lembrou que Raquel falou a mesma coisa para ele, então, era uma desculpa ensaiada, o que aumentou a desconfiança e desagrado dele. — Sim, basicamente foi isso que ela falou, mas não negou que pegou o dinheiro. Disse que o dinheiro estava em uma conta conjunta da família e todos eles podiam mexer e ela gastou com suas necessidades para que ele não gastasse de forma negligente. — É uma desculpa aceitável, já que ela não negou, tira a culpa do roubo, mas não nos leva a nada continuar com essa discuss
Cláudia foi para o corredor da ala cirúrgica e sentou para esperar a amiga sair da cirurgia e saber o que aconteceu. Não demorou muito e logo a maca passou, levando a paciente para o quarto, então foi falar com a doutora. — Como ela está, doutora? — Você é parente? — Sou a advogada responsável por ela. — Ela foi abusada, precisou levar alguns pontos, mas ficará bem. — Meu Deus, isso é terrível! — Exclamou indignada, mas não fez mais comentários, esperaria para falar com Lia, primeiro. — As leis mandam denunciar qualquer crime de abuso. Por isso, já enviamos os dados para a delegacia da mulher. Obrigada doutora, vou conversar com ela e decidir o que fazer. — Pode solicitar o prontuário e a descrição dos procedimentos, fale com a assistente social. Mas a senhora sabe qual é o procedimento legal nesses casos. — Sim, eu sei, vou contar a ela, mas será melhor esperar. Obrigada, daqui em diante é comigo. Claudia seguiu para o quarto, chegou quando tiravam a maca, entrou e encontr
Romão fitou seu rosto, depois desceu pelo corpo e voltou ao rosto, sem acreditar no que ela estava falando. Como uma simples transa gostosa, poderia ter feito tal estrago? — Não entendo…como assim, você precisou levar pontos? Foi só uma transa… — Eu não sei como era com suas outras mulheres, mas comigo, foi muito difícil, me rasgou. Eu estava sentindo tanta dor, que não aguentei nem tomar banho. Coloquei uma toalha entre as pernas, pois sangrava muito e procurei pela chave do carro que vi você colocando dentro do bolso e vim para o hospital. Você pode conversar com a médica, caso não esteja acreditando nas minhas palavras. O discurso dela foi muito convincente, ele ficou repassando tudo que fez e não entendia onde tinha errado. Costumava ser bruto em suas transas, mas nunca nenhuma mulher reclamou ou se feriu a ponto de parar no prontosocorro. — Isso nunca aconteceu… pensei que você estivesse gostando. Ele terminou a frase na hora que a porta abriu e a médica que a operou, entro
O médico colocou as luvas e abriu seus joelhos dobrados, debruçando-se para examinar. Romão aproximou-se para ver também e o médico notou. Era exatamente o que queria, não precisava examinar nada, mas o fez para que o marido se convencesse de que a coisa era séria. — O que é isso, doutor, o que fizeram com ela? — Ela sofreu um abuso sexual. O ato foi tão duramente infligido, que rasgou seu períneo e parte da entrada vaginal, foi preciso dar vários pontos para que cicatrize e volte ao normal. — Uma relação sexual pode fazer isso? — Não uma relação normal, essa foi muito violenta. Inclusive, arranhou a parte interna da vagina, causando sangramento abundante. Foi o senhor quem fez isso? O médico terminou o exame e tirou as luvas, sempre olhando para o homem, que não respondeu. — Está tudo bem, doutor? — Lia perguntou, querendo mudar o foco do médico. — Sim, está tudo normal, apesar do inchaço. Pode se vestir. Romão andou até a janela e ficou olhando para o lado de fora, com as