A noite estava quente e agradável, perfeita para relaxar após um dia exaustivo na residência. Saímos do hospital em grupo: eu, Jonas, minha colega de residência Clarice, e dois outros colegas, Ricardo e Paulo. Estávamos rindo e conversando, aliviados por termos sobrevivido a mais um dia caótico.
— Acho que merecemos um brinde — disse Clarice, levantando sua garrafa de cerveja. — À nossa sanidade!
— À nossa sanidade! — repetimos em coro, rindo.
Eu estava cansada, mas a companhia dos meus amigos fazia todo o esforço valer a pena. Jonas, meu namorado, estava ao meu lado, seu braço envolvendo meus ombros. Ele era extremamente inteligente e ambicioso, mas seu ciúme constante era algo que eu preferia ignorar. Nos conhecemos na faculdade, e depois de alguns anos como amigos, acabamos evoluindo a relação.
— Preciso ir para casa — disse, sentindo o cansaço se apoderar de mim. — Amanhã será outro dia difícil.
Jonas me olhou com preocupação.
— Eu te levo. Não quero que vá sozinha a essa hora.
— Obrigada — respondi, apreciando o gesto.
Nos despedimos dos outros e caminhamos até o carro de Jonas. Durante o trajeto, ele falava sobre os planos de carreira e as oportunidades que ele acreditava que surgiriam em breve. Eu ouvia, mas minha mente estava vagando, pensando no chuveiro quentinho e na cama confortável que me esperavam em casa.
— Sabe, Alice — disse Jonas, de repente. — Eu estive pensando sobre nossa situação. Talvez devêssemos considerar morar juntos. Facilitaria nossa rotina, especialmente com as longas horas que passamos no hospital.
Fui pega de surpresa pela sugestão.
— Morar juntos? Isso é um grande passo.
— Eu sei, mas estamos juntos há um tempo — Três anos, mais exatamente. — Parece o próximo passo lógico, não acha? — Ele olhou para mim com expectativa.
— Talvez — respondi, hesitante. — Vamos pensar sobre isso, ok? Só não agora, eu estou tão cansada!
Chegamos ao meu apartamento, e eu agradeci a Jonas pela carona. Quando me virei para entrar, algo chamou minha atenção. Havia uma cesta de vime na minha porta, e de dentro dela, ouvi um pequeno ruído. Meu coração deu um salto de ansiedade e excitação.
— Jonas, olha isso! Acho que alguém deixou um cachorrinho! — exclamei, já me abaixando para pegar a cesta.
Mas quando levantei o tecido que cobria o conteúdo, meu mundo parou. Não era um cachorrinho. Era um bebê. Um bebê de no máximo seis meses, com grandes olhos curiosos e bochechas rosadas.
— Meu Deus, é um bebê! — sussurrei, sentindo meu corpo tremer.
Jonas estava ao meu lado em um instante, olhando o bebê com a mesma expressão de choque que eu.
— Que raios...? Quem deixaria um bebê aqui?
Eu estava sem palavras. Olhei ao redor, como se esperasse que alguém aparecesse e explicasse tudo. E então vi um bilhete preso à lateral da cesta. Com mãos trêmulas, peguei o papel e comecei a ler em voz alta.
— "Alice, este é seu filho, Ian. Ele tem seis meses. O pai é Bernardo Orsini. Cuide bem dele. A verdade sobre como ele veio a este mundo está entrelaçada com o passado que você deixou para trás. Não há tempo a perder. Ele precisa de você."
Jonas ficou em silêncio por um momento, tentando processar o que acabara de ouvir. Então, a raiva e o ciúme começaram a tomar conta dele.
— Bernardo Orsini? Isso é ridículo! Como você pode ter um filho com outro homem e não me contar nada sobre isso? — Ele estava claramente desconfiado e furioso.
Meu coração batia descontroladamente.
— Jonas, eu juro que não sei de nada disso. — Olhei para o bebê, que agora estava começando a chorar suavemente. — O que eu faço?
— Como não sabe? Você tem um filho com um dos homens mais poderosos do país e não sabe? — Jonas estava andando de um lado para o outro, sua frustração evidente. — Isso não faz sentido, Alice. Tem que haver uma explicação.
— Eu realmente não sei, Jonas! — exclamei, desesperada. — Precisamos descobrir o que está acontecendo, mas agora, a prioridade é cuidar desse bebê.
Jonas passou a mão pelos cabelos dourados, claramente irritado e confuso.
— Não sei, Alice. Precisamos ligar para a polícia ou para o conselho tutelar. Não podemos simplesmente ficar com ele.
Eu sabia que ele estava certo, mas algo dentro de mim me dizia que não podia simplesmente entregar o bebê a estranhos. E o nome... Bernardo Orsini. Ele era um nome conhecido no mundo dos negócios, um bilionário poderoso. Como ele estava envolvido nisso? E por que esse bebê estava aqui, na minha porta?
— Eu... eu vou cuidar dele esta noite. Amanhã podemos decidir o que fazer — disse, finalmente, sentindo uma determinação que não sabia que possuía.
Jonas não parecia convencido, mas ele suspirou e assentiu.
— Tudo bem. Mas amanhã vamos resolver isso. E eu vou querer uma explicação, Alice. Como você pode ter um filho com alguém sem saber?
Eu assenti, pegando a cesta com cuidado e levando o bebê para dentro do meu apartamento. O pequeno Ian, como dizia o bilhete, se aconchegou nos meus braços, seu choro diminuindo.
Coloquei a cesta no sofá e comecei a procurar algo para alimentar o bebê, encontrando uma lata de fórmula e uma mamadeira que haviam sido deixadas na cesta. Enquanto preparava o leite, Jonas continuava a andar de um lado para o outro, claramente incomodado com toda a situação.
— Isso é loucura, Alice. Não podemos simplesmente assumir a responsabilidade por um bebê assim. E esse tal de Bernardo Orsini? Você o conhece? — A voz de Jonas estava carregada de ciúme e frustração.
— É o cara... da inteligência artificial que está todo mundo falando, não é?
— Sim, mas eu quero saber se você o conhece?
— Para um minuto e se escuta, Jonas! — Tentei manter a calma enquanto alimentava Ian. — Você me viu grávida, por acaso? Claramente eu não sou mãe dessa criança.
Jonas parou de andar e me encarou.
— Amanhã nós vamos procurar esse tal de Orsini. E eu vou querer todas as respostas, Alice. Não posso acreditar que isso está acontecendo.
Depois de alimentar Ian, tentei colocar em ordem meus pensamentos. Quem teria deixado esse bebê aqui e por quê? E como Bernardo Orsini se encaixava nisso? As perguntas giravam na minha mente, mas por enquanto, a prioridade era cuidar de Ian.
O apartamento estava silencioso agora, exceto pelo som suave da respiração de Ian. Sentei-me no sofá, ainda tentando processar tudo. Jonas sentou-se ao meu lado, mas o espaço entre nós parecia um abismo. Ele estava claramente incomodado, seu olhar fixo no chão.
— Alice, você sabe que eu te amo, certo? — disse ele, finalmente quebrando o silêncio.
— Eu sei, Jonas. Eu também te amo. — Respondi, tentando encontrar algum conforto em suas palavras.
— Mas isso... isso é muito para processar.
— É só algum tipo de brincadeira idiota.
Enquanto balançava Ian para fazê-lo dormir, olhei para seu pequeno rosto e senti uma conexão inexplicável. Este bebê precisava de mim, pelo menos por esta noite.
Quando minha mente finalmente começou a relaxar, uma parte do bilhete que eu havia ignorado me voltou a memória: “A verdade sobre como ele veio a este mundo está entrelaçada com o passado que você deixou para trás.”
— Merda! — Murmurei, quando uma conexão assustadora entre mim, Bernardo Orsini e o passado se encaixou como peças perfeitas de um quebra-cabeças. — Merda!
Não era possível! Era?