Capítulo 03– Confissão

Acordei já querendo voltar para dormir outra vez, só que infelizmente o dever me chama. Levantei e tomei um banho, dessa vez não tão rápido quanto ontem, tomei um banho de verdade, me preparei e sai do quarto.

Encontrei Elle sentada no balcão da cozinha. Já tinha me esquecido que ela estava aqui.

Ela parecia muito abatida, como se nem tivesse dormido e as olheiras em seus olhos eram a prova disso. Ela estava com o celular na orelha, pela expressão em seu rosto dá para notar que estava tendo uma discussão com Jason.

Passei por ela indo pegar os cereais e o leite. Os coloquei em uma tigela e sentei na mesa começando a comer.

Meu apartamento não é muito grande, tem dois quartos, cozinha, banheiro e uma sala espaçosa. Isso já foi um lar de verdade quando meu pai era vivo, depois dele falecer tudo isso isso desmoronou.

— Ele não pode fazer isso comigo! — Elle andou até mim e sentou na minha frente. Esperei ela respirar fundo e começar a falar. — Você acredita que o Jason está me ameaçando? Disse com todas as letras que se eu interromper essa gravidez, o nosso namoro acaba, já o meu pai, está me obrigando a tirar essa gravidez, isso se eu ainda quiser que ele pague meus estudos.

Bem...

— E o que vai decidir? A decisão é tua, só saiba que sou totalmente contra a esse aborto.

— Eu não quero Bella, um filho nunca esteve nos meus planos, você sabe, e eu não vou ter ele só porque o Jason está me ameaçando.

Suspirei cansada, Elle está decidida e se Jason não fez ela mudar de ideia, não serei eu a fazer isso.

— Tudo bem, eu preciso trabalhar — Me levantei da cadeira, mas para fugir dela do que outra coisa. — Depois a gente se fala.

— Provavelmente quando chegar já não estarei aqui, meu pai está vindo me pegar.

— Tudo bem então, sabe onde deixar a chave.

Peguei na minha bolsa e sai de casa.

Elle é minha amiga, então eu vou apoiar qualquer decisão que ela tomar, mesmo não apoiando totalmente.

Cheguei na porta do prédio onde moro, meus olhos quase caíram ao chão pela imagem na minha frente.

Não acredito.

Ele acenou para mim, eu automaticamente acenei de volta e caminhei até onde seu carro estava parado.

— O que faz aqui? — Perguntei confusa, assim que ficamos cara a cara.

— Bom dia para você também querida, vim buscar você, sobe.

Sem que tivesse nenhum controle sobre o meu corpo, entrei no carro e coloquei o cinto.

Não consigo acreditar que ele veio até aqui me buscar.

— Porque veio? — Perguntei quando ele deu partida.

— Só não quis que se atrasasse outra vez.

— Não precisava se encomodar.

— Não é incômodo nenhum Isabella, estarei a disposição para te pegar sempre que for possível,  a gente trabalha no mesmo lugar.

A diferença é que você é o dono e eu a secretária.

— Eu não quero que as pessoas pensem mal de mim chegando com você...

— O que importa as pessoas Bella? Eu não ligo para isso e você não devia ligar também.

— A empresa proíbe qualquer tipo de relacionamento entre funcionários, e se... Hoje é a segunda vez que chegamos juntos, não quero que as pessoas pensem mal de mim ou façam fofocas por aí, sou muito discreta e quero continuar assim.

Ele não me respondeu. Continuou conduzindo até que chegamos no estacionamento da empresa. Ele se virou para mim e me encarou.

— Posso segurar sua mão? — Assenti e ele de imediato segurou minhas mãos. — Eu não me importo com as pessoas, vou continuar te pegando em casa, isso se permitir, só farei se você deixar.

Fiquei calada.

Porque ele faz questão de me pegar em casa? Eu não quero criar ilusões. William é um cara que uma garota se apaixona facilmente, eu não quero me apaixonar e me iludir com um cara que mal conheço, mas seus pequenos gestos estão me fazendo sentir um frio na barriga, algo que nunca senti perto de qualquer garoto.

— É melhor não — Desci do carro antes que ele começasse a falar.

Entrei na Empire correndo, para que ele não me alcançasse.

Os dias foram passando, William não voltou a falar comigo ou me pegar em casa, passou por mim várias vezes, mas em nenhum momento se aproximou. Chegava na Empire e se trancava na sua sala, saia no fim do dia e nem olhava para a minha cara.

A melhor coisa que podia ter acontecido foi ele se afastar, mas porque estou sentindo como se faltasse algo em mim? Droga!

Eu não conheço ele, mas passo maior parte do tempo pensando nele, minha cabeça é uma droga!

Como alguém pode entrar na cabeça de alguém tão rápido? William está na minha mente como se tivesse tomado conta do meu cérebro, dos meus pensamentos.

— Eu disse para você que aquele lugar era espetacular — Christiane, a secretária do William, falou me tirando do transe.

Quando olhei para frente, William estava saindo da sua sala com ela.

— Não imagina o quanto me diverti ontem, obrigado pela companhia Chris.

Chris? Companhia?

— Não tem de que Will, sempre que precisar se divertir é só me chamar.

Will?

O interfone tocou chamando minha atenção, peguei e atendi.

— Wagner?

— Venha por favor.

Me levantei ainda olhando para os dois que estavam a poucos metros de mim, abanei a cabeça e fui até a sala do Wagner.

— Sim?

— Eu vou ficar até tarde, se quiser pode ir para a faculdade.

— Não precisa de mais nada?

— Não... Como está a Cassie? — Perguntou tirando os olhos do papel e pousando em mim.

— Bem... Eu acho — Me limitei a responder. — Eu vou então, já que não precisa de mais nada.

Sai da sala rapidamente.

Cassie é minha mãe, não gosto muito de falar sobre ela.

William ainda estava com Christine na porta da sua sala, que era de frente para a do Wagner.

Porque ver eles dois conversando está me incomodando? Ele é livre de falar com quem quiser. Comecei a arrumar minhas coisas, pronta para ir embora. Ainda tenho tempo de ir para casa e mudar de roupa, se calhar tomar um banho e comer alguma coisa, ainda são 16:22, ainda tenho tempo até 18:00.

Christine também começou a arrumar suas coisas, ela foi contratada faz alguns dias, ainda não temos qualquer tipo de intimidade. William voltou para sua sala, ainda olhou de relance para mim, mas desviou o olhar quando percebeu que eu também estava olhando para ele.

Nem uma semana tem que conhece a Christine e já saem juntos? Homem é tudo igual mesmo.

Ele nunca te prometeu nada! — Meu subconsciente atrevido me diz.

Isso é verdade, ele nunca me prometeu nada. Eu é que confundi as coisas por conta da sua simpatia, achei que talvez ele pudesse querer alguma coisa, já que era isso que parecia... Ou o que fantasiei na minha mente.

— Até amanhã Bella — Chris disse antes de entrar no elevador.

— Até a manhã Chris.

Suspirei irritada. Será que eles estão tendo um caso?

Isso é da minha conta? Não.

Mas... E se eles estiverem tendo um caso? William é muito bonito, o sonho de qualquer uma, então não duvido que estejam tendo um caso.

Olhei para frente e William estava lá parado, me encarando como sempre fazia. Meus olhos não desviaram dos dele em nenhum momento, continuei perdida naquele mel que eram os seus olhos.

— A gente pode... Conversar? — Perguntou quebrando o silêncio entre nós.

— Se não tiver nada a ver com o trabalho, melhor não.

— Vem — Foi em direção a sua sala e mesmo não querendo ir atrás dele, minhas pernas me guiaram até lá.

Assim que entrei, senti suas mãos me puxando e me prensando contra a parede gelada do seu escritório. Não tive tempo de raciocinar, porque sua boca colou na minha de seguida, não consegui afasta-lo. Era suposto eu afasta-lo, mas não tive forças. Sua língua pedia passagem para entrar em minha boca e quando me dei conta, já estava correspondendo ao beijo.

O melhor beijo que já dei na minha vida. Sua boca tinha o gosto de menta, sua língua suave passeava por todos os cantos da minha boca, minhas mãos seguraram seu rosto com força e as suas estavam coladas na minha cintura, me impedindo de me afastar dele. Ficamos nos beijando, até que por um momento ficamos sem ar.

Ele mantinha seus olhos fechados e a cabeça apoiada na minha testa, sua respiração quente e ofegante batia forte em meu rosto, seu perfume invadia minhas narinas sensíveis.

O que estou fazendo?!

Me afastei dele rapidamente, sentindo que a qualquer momento meu coração ia pular para fora.

— Porque está fugindo disso? — Perguntou enquanto caminhava até mim, me fazendo recuar automaticamente. — Você me quer tanto quanto eu te quero.

Isso não é verdade, eu o quero sim, mas bem longe de mim... Mentira!

— Eu não... Eu não posso William, você é praticamente um desconhecido para mim.

— Porque você quer, eu posso ser tudo o que você quiser. Não vê o quão louco estou por ti? Desde o momento em que esbarrei em você naquela cafeteria, eu olhei para os seus olhos e vi que nunca conseguiria me afastar de você.

Que reação ter diante dessas palavras?

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