Laís chega à sua casa ainda “andando nas nuvens”. O encontro havia sido perfeito! Ela se deita na sua cama, lembrando-se dos melhores momentos. No dia seguinte, ao chegar ao trabalho, faz tudo como fazia todos os dias. Os irmãos chegam e logo vai até eles para passar as agendas. Primeiro Augusto, que sorria satisfeito pelo encontro perfeito, depois Arthur. Ao entrar na sala, seu “bom dia” foi respondido com um grunhido.
— Como foi seu encontro ontem?
— Bom, maravilhoso, apesar do seu esforço em atrapalhar.
— Eu não quis atrapalhar, é que...
— É quê...?
— Você conhece meus defeitos, sinto dizer que melhor que eu mesmo, e meu irmão não tem defeitos, é o homem ideal pra você, responsável, inteligente, leal — confessa e dá um suspiro. — Eu só queria te mostrar que estou tentando de verdade.
A morena sente sinceridade nas palavras do Castro mais velho.
— Eu sei que está.
— Eu te peço desculpas por ontem, prometo me controlar nos próximos encontros.
— Tudo bem, agora, deixa eu te passar a agenda.
A manhã foi tranquila. Na hora do almoço, a jovem sai com Allana pra comprar roupas novas, gastando suas últimas três comissões e metade do salário, mas sente que vale a pena, nunca gastava além da conta, ganhava bem, andava bem-vestida, porém economizava cada bônus, cada dinheiro extra, pois queria uma casa maior, queria ter um bom “pé de meia” e aquilo era uma extravagância. Colocou as sacolas embaixo da mesa e, às 17h, levantou-se e foi pra casa.
Às 20h estava pronta, esperando Arthur, que chega com roupas casuais.
— Acho melhor eu me trocar. Para onde vamos?
— Não precisa se trocar, vamos a um parque de diversões.
— Isso não se parece com você.
— Você disse para eu não usar os mesmos truques — revela e sorri.
Ela usa um vestido longo e sapatos altos de bico fino.
— Acho melhor você trocar apenas os sapatos
— Jeans e camiseta então.
Em quarenta minutos eles estavam em um parque de diversões.
— Há anos que não vinha em um. — Ela corre como criança pelo parque. Arthur vai um pouco atrás, admirando a empolgação da pequena.
— Vem! — Ela faz sinal com as mãos, apontando para os brinquedos. O homem anda até ela, e os dois correm pra dentro do parque.
— Em qual você quer ir primeiro?
— Escolha você.
— Então, vamos na montanha-russa!
Mais tarde, eles se sentam para comer.
— Eu nunca imaginei ver você comendo um cachorro-quente! — Arthur ri.
— Minha família não era rica, meus avós eram, na verdade, ainda são. Uma coisa espantosa sobre o sangue asiático, é que vivemos bastante. Pois bem, meu pai não se casou com a mulher que lhe foi prometida, então, a família não o apoiou financeiramente. Eles então compraram uma casinha no interior com muito trabalho. Foi onde eu e Guto crescemos. Quando ele se formou na faculdade, me convenceu a abrir a Castro Ilimitada. Nossos pais nos ajudaram vendendo a casa, trabalhamos arduamente dia e noite até termos dinheiro para devolver a casa deles e comprar as outras quatro casas em volta. — Os olhos de Arthur se enchem de lágrimas. — É um lugar especial pra mim e pro Guto também. Se hoje eu gasto comprando pijamas de mil dólares, é porque já comi muito cachorro-quente de cinco reais. E a sua história? Me conta!
Laís ri.
— Meu pai e minha mãe se conheceram na faculdade. Minha mãe fazia Letras, e meu pai, Engenharia. Eles se casaram e tiveram duas filhas. Minha mãe morreu em um acidente de carro quando eu tinha nove anos e Allana era apenas um bebê. Meu pai cuidou da gente, sempre fomos muito unidos, porém ele começou a namorar, e namorar, e namorar... Em menos de dois anos foram várias namoradas, e não anda parando em casa. Eu e Allana estamos pensando em nos mudar pra ficar mais perto do centro e dar liberdade pra ele. Quero que ele seja feliz, mas confesso que sinto falta de tomar café da manhã em família, ou de seu cheiro pela casa. — Ela sorri triste e logo muda de assunto. — Comi dois cachorros-quentes, estava com muita fome — diz com um sorriso nos lábios, sem notar que havia mostarda no canto da sua boca.
— Tem uma coisinha aqui… ele aponta para o rosto do dela.
— Onde? — diz, tentando limpar.
— Bem aqui, deixa que eu limpo! Ele segura o rosto da pequena e passa a ponta da língua no canto da boca dela.
Uma onda de calor atravessa Laís, que logo se distancia. Ele abre um longo sorriso.
— Bom, está na hora de irmos para a roda-gigante.
Os dois entram na cabine de mãos dadas, Laís admira as luzes da cidade. Eles alcançam o lugar mais alto do brinquedo, então, a roda para de girar.
Ele se aproxima, passa o braço pelas suas costas e a abraça.
— Olha pra lá... 5, 4, 3, 2, 1
Neste momento, vários fogos começam a passear no céu.
Alguns fazendo desenhos de flores, e outros, com as iniciais A&L dentro de um coração. Ela nunca havia visto nada tão adoravelmente brega, mas ama tudo aquilo. Seus olhos brilham de emoção, Arthur vira o rosto da morena com a ponta dos dedos e se aproxima, mirando aqueles lindos olhos. Pousa, em seus lábios, um pequeno beijo, que vai aumentando a intensidade aos poucos.
O show pirotécnico acaba, a roda-gigante volta a funcionar. Os dois vão de mãos dadas até o carro, não dizem uma única palavra até a casa de Laís.
— Até amanhã!
— Amanhã é sábado, não tem trabalho!
— Nós poderíamos...
— Amanhã é meu segundo encontro com Augusto.
— Meu Deus! Aquilo era uma tortura — pensava Arthur. Ela o havia beijado... Por que não acabar com aquilo ali?
Ele respira fundo e diz:
— Até domingo.
Arthur está cheio de sentimentos confusos, quer aquela mulher como nunca quis outra. Nunca havia passado por isso; normalmente, era o contrário, as mulheres eram quem se jogavam ao seus pés. Ao chegar ao apartamento, depara-se com Augusto sentado no sofá.
— Como foi o encontro?
— Perfeito.
Augusto faz uma careta.
— Ao contrário de você, eu não atrapalhei. Então, amanhã faça o mesmo que fiz hoje e se controle.
— Eu a quero, Augusto, de verdade, realmente a quero. Eu... Eu nunca me senti assim, ela faz meu peito doer quando está triste e faz meu coração bater mais rápido quando sorri, parece que...
— ... Está faltando o ar.
— Como você sabe?
— Por que eu sinto a mesma coisa.
— Pela primeira vez, em toda a minha vida, eu não sei o que fazer.
— Não cabe a nós escolhermos, a decisão é dela. — Augusto se levanta e vai até o elevador.
— E se eu não quiser esperar?
— Aí, ou você desiste, ou respeita a decisão dela. Ou vai acontecer o que nunca aconteceu até hoje.
— O quê?!
— Você vai ficar sem mim também.
Arthur fica estático, olhando o irmão entrar no elevador.