Depois de desligar o telefone, desci a montanha sozinha e voltei pra nossa casa.
Fui visitar a avó do Felipe.
Ela e minha avó foram colegas de um grupo de balé anos atrás, e construíram uma amizade profunda, uma amizade que ultrapassava os laços familiares.
Quando eu tinha oito anos, fui diagnosticada com um grave problema cardíaco.
Na época, a família Valentino controlava o hospital particular mais avançado do norte de Chicago, e minha família me mandou para lá, em busca de tratamento.
Os pais de Felipe me trataram como se eu fosse filha deles, e sua avó me ensinou pessoalmente as tradições e sabedorias da família.
Ela chegou até a insinuar publicamente que eu seria a futura senhora da família.
Mas tudo isso terminou esta noite.
Fiquei diante dela, me inclinei levemente e disse em voz baixa:
— Vovó, eu vou embora.
Ela me olhou com ternura nos olhos:
— Querida... você sofreu demais.
Suspirou, ficou em silêncio por um momento e então tirou de dentro da manga um anel com esmeralda.
Colocou-o devagar no meu dedo anelar.
— Leva com você, Silvia. Onde quer que esteja, você sempre será parte da família Valentino.
Olhei para o anel, sentindo um turbilhão por dentro.
Felipe não voltou para casa naquela noite. Mais uma vez.
Às quatro da manhã, a tela do celular se acendeu.
Era uma mensagem da Liliana.
“Ao meu leãozinho que eu mais admiro, obrigada por ver as estrelas cadentes comigo e fazer um pedido. Você é minha razão pra continuar vivendo.”
A mensagem vinha com uma foto:
Sob o céu noturno, uma estrela cadente riscava o horizonte.
Felipe e Liliana estavam abraçados, sorrindo para a câmera com os dedos entrelaçados em um gesto de desejo.
A legenda da foto dizia:
"Pedido realizado."
Logo em seguida, ela apagou a mensagem.
“Desculpa, Silvia. Mandei errado.”
“Felipe disse que essa foto é muito importante, pediu pra eu enviar pra ele. Você não ficou chateada, ficou?”
Não respondi. Nem olhei direito a foto. Só desliguei o celular.
Naquela noite, comecei a arrumar minhas coisas.
Eu ia embora.
No dia seguinte, por volta do meio-dia, Felipe finalmente voltou.
— Silvia, ontem a situação da Liliana estava muito grave. Eu não podia deixá-la sozinha...
Enquanto falava, ele me entregou uma caixinha de presente, delicadamente embrulhada.
— Amor, isso aqui é o presente que preparei para você no nosso aniversário. Eu não esqueci. Você sempre disse que queria um colar assim...
Abri a caixinha. Dentro, havia um colar de diamantes da Harry Winston, deslumbrante.
Mas eu reconhecia o modelo.
Liliana tinha o mesmo.
Só que o dela era com diamantes rosas. Mais caro.
Felipe notou que meu rosto não demonstrava nenhuma alegria, e sua voz ficou ainda mais tensa:
— Silvia, você tá chateada?
Sorri de leve, a voz distante:
— Liliana tá doente. Você cuidar dela... é natural.
Ele suspirou baixo:
— Ainda bem que você entende. Afinal, a gente tem um caminho longo pela frente... Mas a Liliana... ela não tem muito tempo. Ela ainda tem tantos sonhos...
Ele parou no meio da frase. Os olhos começaram a se encher d’água.
Olhei pra ele e sorri com ironia:
— Se tá tão preocupado com ela, então fica com ela. Claro que eu não me importo. Afinal... ela é uma pessoa prestes a morrer.
— Só espero que, quando ela morrer, você não passe os próximos anos chorando no túmulo dela. Eu não quero ficar esperando você sozinha pelo resto da vida.
Disse isso, e me virei para sair.
Mas Felipe, de repente, agarrou meu pulso com força:
— Silvia, o que você quer dizer com isso?