Meu retorno ao trabalho foi, no mínimo, estranho. Pessoas que antes mal falavam comigo faziam questão de me cumprimentar, como se o que eu tivesse feito fosse algo extraordinário.
Mas, para mim, aquilo não parecia um ato heroico. Eu vim de uma região do Rio de Janeiro onde, sempre que havia tiroteios ou invasões, fosse da polícia ou de traficantes rivais, a gente se apoiava. A população inocente era sempre a que ficava no meio do fogo cruzado.
Acho que foi por isso que tomei aquela decisão no hospital. Quem entrava ali, no mínimo, acreditava estar em um lugar seguro. Um ambiente voltado para salvar vidas, não para tirá-las.
E eu amava meu trabalho. Amava o que aquele lugar representava. Quando vi o medo nos olhos das pessoas e um homem armado pronto para matar, não hesitei.
Não pensei em mim. Pensei nos outros. Nas crianças. Nos pais. Nos idosos. Em todos que estavam ali desprotegidos. Hoje, as pessoas me olhavam com admiração, como se eu fosse corajosa. Mas, no fundo, eu só fiz o que