Um contrato de casamento: Thomas e Fiorella estão em busca do mesmo objetivo, comandar um grande hotel-cassino em Las Vegas. Enquanto ele luta para que sua família desista da venda, ela é a principal interessada em comprá-lo. Seus pais tentam encontrar uma solução pacífica, mas Thomas tem um plano melhor: um casamento falso que beneficiaria ambos os lados. Ele quer aumentar o seu patrimônio, Fiorella precisa se livrar de um ex-namorado chantagista, que ameaça publicar suas fotos intimas e comprometedoras. Mas até a concretização do pacto, no altar, há um ano de fingimento pela frente. Será esse tempo capaz de transformá-los de inimigos a amantes?
Ler mais1 ano até o casamento
Thomas
—Pai, mãe, posso falar com vocês?
—Claro, filho. Entre!
—É... Eu ouvi uma conversa pelos corredores da empresa, de que estão acertando a venda do hotel cassino de Las Vegas. Achei estranho não ter sido informado e ter sabido apenas pela boca de terceiros, isso é verdade?
—Bastante coisa aconteceu em seu período de férias, querido — Minha mãe disse, apontando para a cadeira ao seu lado. Me sentei e, por um segundo, admirei a vista da placa de Hollywood, pela janela da sala da presidência.
Meus pais não estavam mais a frente da empresa, há alguns anos, mas eles ainda assumiam a liderança toda vez que Theresa, minha irmã mais velha, precisava viajar a negócios.
—Se lembra que eu te informei de alguns problemas de administração acontecendo desde a morte de seu tio, antes que saísse de férias? — Ele questionou, me fazendo prontamente assentir com a cabeça — Eu e sua mãe não temos experiência com a parte administrativa, até seu tio falecer, nossa única preocupação era com engenharia em si, com os nossos projetos de construção. Mas você sabe muito bem disso.
—Acha que ele tomou decisões erradas, quando decidiu expandir a empresa para fora do mercado de engenharia? Quer dizer, foi isso que nos fez crescer e trouxe renome para nossas construções.
—Foi a decisão certa para o momento, até porque, para sermos empresários do ramo, sabíamos que haveria serviço administrativo e burocrático para ser feito, por nós ou por terceiros. O que nenhum de nós contava era que — Ela fez uma pausa longa, junto com um suspiro. Meu tio foi mais do que seu irmão, era seu melhor amigo, o grande responsável pelo início do relacionamento de meus pais — Que o câncer voltaria e o levaria embora.
Ele nunca se casou ou teve filhos, sempre morou conosco e ajudou a cuidar de mim e de meus irmãos. Boatos corriam que ele era apaixonado pela minha mãe e a perdeu para meu pai, mas essa não era bem a verdade.
Meu tio era gay e, graças aos meus avós preconceituosos, nunca teve coragem de se assumir. Ele sempre gerenciou a empresa da família, mesmo a contragosto de seus pais. Tio John foi o grande responsável por transformar a Cox Engeneering em muito mais que apenas construções.
—Estamos sem saída, meu filho.
—Estamos falindo? Porque até um mês atrás, não tínhamos problemas financeiros.
—Não, é claro que não! Você e sua irmã tem mantido as finanças da empresa de pé, vocês sabem disso muito melhor que eu. Porém, tenho conversado com Tessa e é coisa demais, compramos muitas empresas menores e hoje não temos gente de confiança para administrar todas elas, não faz sentido mantê-las.
—A gente já tem vendido algumas delas, nos últimos meses — argumentei — Vocês sabem que eu não tenho interesse em passar por cima de Tessa para assumir a presidência, mas precisamos mesmo nos desfazer do hotel? Eu não posso me responsabilizar por ele? Eu consigo fazer isso e manter minhas responsabilidades com o resto da empresa. Las Vegas não é tão longe de Los Angeles e...
—Na verdade, já é um pouco tarde para isso. Eu iniciei um acordo e não há como voltar atrás, pelo menos não 100%, mas se esse hotel é tão importante para você, acho que podemos tentar negociar.
—Por que iniciou tudo isso sem me falar? Eu amo aquele hotel, passamos boa parte da minha infância por lá, durante os projetos de construção e reforma. Ele me traz infinitas memórias e provavelmente é o lugar mais importante do mundo, para mim, o lugar que mais me lembra um lar.
—Filho, eu... Me desculpe, mesmo! Eu só, muitas vezes, não consigo entender o seu apego por aquele lugar. De qualquer forma, nós não deveríamos ter começado a tratar desse assunto, sem antes termos conversado com você. Foi um erro nosso!
—Na verdade, acho que há uma solução — Minha mãe parou para pensar — Se lembra de uma reunião que tivemos há uns dois anos atrás, com o dono da Vacchiano Company?
—Hum, eu estava na faculdade, então não o conheci. Mas sei que misturam negócios e advocacia, comprando empresas falidas, as colocando de volta no mercado e enriquecendo em cima delas, não é isso?
—É. Eles são praticamente os Kardashians do mundo empresarial, a mídia cai tanto em cima deles, quanto cai sobre nós. Nossos nomes estampam revistas de fofocas do mesmo jeito.
—Maldita hora em que os sites empresariais começaram a falar sobre vida privada. Agora qualquer um que tenha uma empresa grande entra no hall da fama e vira subcelebridade — meu pai esbravejou.
Os encarei por breves segundos, tinham se perdido no assunto importante. Só de pensar em perder o domínio que temos por aquele hotel, minhas mãos começavam a suar.
Eu não podia explicar o meu apego ao lugar para eles, nem para ninguém. Na verdade, não saberia se alguém no mundo seria capaz de me entender. Era uma conexão que não fazia sentido, se posta em palavras.
—Como eu ia dizendo, dessa vez os Vacchiano que nos procuraram, para um negócio fora do que eles estão acostumados a lidar. Não querem comprar o hotel porque ele está falindo, nós sabemos que ele ainda gera um tremendo capital, a intenção é dá-lo de presente de formatura para a filha deles.
—Isso parece... Legal.
—E é. A menina sonha em ter sua própria rede e o pai dela decidiu ajudá-la a dar o primeiro passo, antes do planejado.
—Então realmente perdemos ele? Já assinaram contrato? Não há possibilidade de fazer uma contraproposta, diminuindo a autonomia deles?
—Vamos com calma, é nosso único hotel e todos os detalhes estão sendo acertados de forma lenta e detalhada. Mas o que me chamou atenção, é que quando nos procuraram, não pensavam em comprar o hotel, apenas em fazerem uma parceria para colocarem a menina como CEO.
—A menina? Falam dela como se ela tivesse acabado de sair das fraudas. Isso vai acabar não dando certo, como uma garota que nem terminou a faculdade vai conseguir comandar tudo aquilo?
—Thomas, acalme-se, sua mãe tem razão — meu pai me encarou pensativo — Quando viram que nossa intenção era vender o hotel, embarcaram em nosso plano. Mas talvez, ainda tenha como voltar atrás e fechar o acordo inicial.
—Eles podem não aceitar, sairiam em desvantagem — argumentei.
—Então, se isso é realmente importante para você, vamos arrumar uma forma para que eles tenham a vantagem que estão esperando e, ainda assim, você possa continuar ligado ao hotel. Não podemos agir de má fé e retirar a proposta de venda, não é dessa forma que a nossa empresa funciona, não é assim que acreditamos que as coisas podem ser. Mas nós podemos lutar por um acordo funcional para ambas as partes.
Fiorella 318 dias até o casamento Conseguia observar o meu peito subir e descer, conforme minha respiração se mantinha tão pesada, que eu sentia medo do meu coração não aguentar. Olhei em volta, observei o ambiente e tentei colocar a cabeça no lugar. Tudo parecia um pouco raso, naquele momento. O banheiro era pequeno e, por ser exclusivo do camarote, era único: sem divisão entre masculino e feminino, sem cabines. O ambiente era escuro, acompanhando todo o resto da decoração da balada, Havia algum tipo de luz avermelhada que deixava tudo quente e abafado, ali dentro. Caminhei até a pia, encarando o meu próprio reflexo no espelho e notando que minhas bochechas estavam coradas, meu batom ainda continuava levemente borrado e meu cabelo não parecia mais tão arrumado como antes. —Você está bem? —Thomas se aproximou, sussurrando, Provavelmente estava com medo de alguém passar por perto da porta e ouvir o nosso diálogo. E apesar da musica ser estrondosamente alta, do lado de fora, eu
Thomas 318 dias até o casamento A batida sensual me deixou desnorteado, tomando conta do espaço. Eu não sabia o que fazer, não sabia como mexer o corpo, pelo menos não enquanto os meus dedos pareciam muito bem acomodados na cintura de Fiorella. Estávamos dançando, eu e ela. A música era lenta e os dois passos que nos separavam eram o suficiente para que, sempre que ela dobrava levemente os joelhos e requebrava o quadril, seu corpo se encostasse no meu, de maneiras que não deveríam se encontrar. Ela passava a mão pelos cabelos e os fios loiros, hora ou outra, se espalhavam pelo meu peito. Fiorella parecia estar no mesmo ponto que eu, um limbo, confusa, o que não deixava de ser extremamente sexy. Não sabia dizer o que acontecia, mas sabia que estávamos nos tornando ótimos atores, no fim das contas. Havia uma nova atmosfera cercando o camarote, mais precisamente em volta de nós. Era como uma nuvem cinzenta, mas ao mesmo tempo avermelhada, que trazia calor, que me dava arrepios e
Fiorella 318 dias até o casamento Eu podia imaginar Thomas tendo qualquer tipo de reação, quando Kyle surgiu em nossa direção, mas não pensei que precisaria arrastar o meu falso namorado até as escadas, para voltarmos ao camarote em segurança, antes que aquela briga se tornasse mais do que falada. As minhas pernas voltaram a fraquejar, quando subi as escadas junto com Thomas e com os meus amigos. Eu ainda conseguia ver Kyle gesticulando e reclamando, em todas as vezes que olhei para trás, apenas para ter a certeza de que ele não tinha dado um jeito de passar pelos seguranças e vir atrás de nós. O que quer que estivesse sendo dito, era abafado pelo som. Eu estava desgastada e a bebida não conseguiu apagar a irritação do meu corpo. Eu não conseguia entender onde Kyle queria chegar ou o que ele queria de mim. Não fazia sentido nenhum, parecia pura vontade de infernizar a minha vida. —Nós vamos resolver isso, Fiorella— foi a primeira coisa que Thomas me disse, assim que voltamos a
Thomas 319 dias até o casamento Perdi as contas de quantas vezes fui até o bar, buscar bebidas para Fiorella e seus amigos. Eles já haviam a passado no número de drinks, mas eu já não podia afirmar que a minha falsa namorada continuava totalmente sóbria. E algum deles aumentou o som da cabine de camarote, pouco antes de todos se juntarem na pista privada. Eu não fazia o tipo dançarino, mas me mantinha por perto, debruçado sobre o vidro de proteção da sacada e me oferecendo para serví-los, sem que precisassem interromper o seu momento divertido. A ideia de se juntar aos seus colegas de faculdade que estavam no andar debaixo se tornou natural, mas eu sabia que lá precisaríamos ser mais cuidadosos. Havia duas vertentes para a nossa mentira: fingir para os amigos de Fiorella era duplamente fácil e difícil. Fácil porque nós sabíamos que, se eles desconfiassem de algo, não iriam fazer nada contra nós, provavelmente apenas nos questionariam, ou nem isso. E se Fiorella confiava neles,
Fiorella 319 dias até o casamento Enganar os meus amigos não era uma missão fácil. Precisar fingir, na frente deles, só me fez confiar na minha escolha de ter aberto o acordo para a minha família. Era desgastante demais mentir para pessoas que te conhecem, que podem perceber quando você não está sendo verdadeira. E eles se importavam, demais. Então havia todo um trabalho de convencê-los de que eu estava em meu juízo normal e, convenhamos, se eles soubessem da farsa, teriam mais um motivo para acreditar que eu andava um mentalmente desequilibrada. E honestamente, decepcionar a minha família já era o suficiente. Eu não precisava fazer meus amigos me olharem com outros olhos, também. E acredito que o discurso tenha convencido, porque meus amigos pareciam animados com a "hora dos presentes". Mas antes, Maya parecia preocupada ao me alertar: —Você sabe que nenhum de nós tem dinheiro, não como você tem! Eu então, não teria nem um teto se você não tivesse me oferecido um. Queria poder c
Thomas 319 dias até o casamento O arrependimento me atingiu muito rapidamente: assim que vi os amigos de Fiorella passando pela porta. Eu havia criado o plano mais imbecíl possível. Na verdade, todo o nosso acordo era de uma instabilidade tamanha, mas nós dois sabíamos que fazer as pessoas acreditarem no relacionamento deveria estar no topo de nossa lista de prioridades. Um banheiro, trancados, sozinhos, parecia menos perigoso para o início de uma noite de balada. Ainda estávamos frios, ela ainda estava sóbria. Não, teríamos que dançar juntos, precisaríamos gerar um falso clima e, aí sim, nos prenderíamos em um cubículo, juntos, Não era uma boa ideia e nós dois parecíamos entender isso. A preocupação de Fiorella também era notável. Se eu, que pouco a conhecia, conseguia identificar, imaginava que seus amigos logo notariam o desconforto. E ela levantou da cadeira para receber cada um deles com um abraço e agradecer, de forma um pouco robótica e automática, as felicitações pelo
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