Capítulo VII.

Milena Bianco.

— Milena, sabe o que eu estava pensando? — Henrique pergunta, chamando minha atenção.

— Olha, você pensa? — recebo um leve tapa na testa. — Ok, vindo de você, eu tenho até medo, mas pode falar. — digo, me ajeitando na cadeira. 

Sempre que podemos, nos juntamos e vamos almoçar no restaurante da avó da Alexia e hoje, assim que saímos do colégio, viemos para a casa da nossa amiga. Como tivemos apenas os três primeiros horários, chegamos e ficamos fazendo hora, e porque não um pouquinho de bagunça, no quarto de Alexia. 

— Assim, você já percebeu o quanto o olhar de Clara parece meio diferente para você? Tipo, sei lá, faz uns dias que ela fica te olhando, te lançando uns sorrisinhos do nada...

— Não sei, quer dizer, eu percebi sim, um pouco... mas sei lá, pode ser que seja paranoia minha. A Clara nunca iria me olhar do jeito que eu quero. — deito a cabeça no colo de Alexia. — O máximo que eu posso chegar a ser para ela, é uma aluna mais próxima, que acabou conquistando o carinho de seu filho e trabalha com seu pai. 

— Pior que ontem, na hora em que ela foi te entregar o convite do aniversário, eu percebi... amiga, vocês ficaram se olhando, sabe, tipo naqueles filmes em que os personagens ficam todo bobinhos? — Alexia, exagerada como sempre, começa a falar. — Aí depois, você foi e deu um beijo na bochecha dela e ela sorriu mais ainda e ficou encostada no carro, te olhando se afastar. E outra, vocês andam flertando descaradamente dentro da sala, Milena! Só um cego pra não ver o quanto a professora Herrera está na sua. — aceno de maneira negativa, porém acabo sorrindo só de me lembrar do sorriso de Clara. 

— Sem exageros, Alê. A Clara apenas está sendo um pouco mais simpática comigo mas, provavelmente, isso não quer dizer nada. Eu não quero me iludir e vocês não estão ajudando, sabiam? Estão me fazendo ver coisas onde não tem nada. — suspiro, cruzando meus braços contra o peito. 

— Quem quer apostar que, ainda nesse fim de semana, no aniversário do Heitor, acontece um beijo entre essas duas? — Cecília pergunta e o resto do grupo, menos eu, levanta a mão.

— Ai gente, não é assim também! — argumento, me sentado. — Se a gente for parar para pensar, isso é um absurdo... é não faz o mínimo sentido. — argumento. — Eu tenho um baita crush pela Clara, mas quem nunca teve um quedinha por algum professor ou professora em alguma altura da vida? Não é porque eu me derreto toda por ela, que vamos ter alguma coisa... sinceramente, eu fico sim imaginando e sonhando com o dia que vou ver aquele rostinho bem pertinho do meu e falar que beijei aquela boquinha linda, mas duvido muito, que isso vá acontecer assim, agora, ainda mais om ela me dando aula. — digo, me jogando deitada no colo de minha amiga novamente. — Eu só queria que ela me quisesse... — por fim, reclamo, não economizando na expressão emburrada. 

— Crianças, venham! — vovó bate à porta, interrompendo a conversa. — O almoço está pronto e eu separei uma mesa especialmente para vocês.

O assunto acaba e nós descemos para o restaurante, enquanto fazemos nossa refeição, ficamos conversando sobre as mais variadas coisas. Por fim, após terminarmos de almoçar, ajudamos Alexia a arrumar a pequena bagunça que fizemos e após me despedir de Anna, Valentina e Cecília que vão embora, uso o quarto da minha amiga para me arrumar, já que hoje, eu volto para a livraria. Mesmo estando ainda com o braço engessado, conversei com Sr. Heitor e entramos em um acordo, o trabalho não é pesado e eu já estou em boas condições para atender os clientes.

Me despeço de Alexia e Henrique me acompanha até a livraria, já que é caminho até seu trabalho.

— Tchau, Milena! — deixa um beijo em minha bochecha. — Bom trabalho, se cuida. 

— Pra você também, Rick. — sorrio. — Até amanhã.

Entro na livraria e logo atravesso o balcão, cumprimento minha colega de trabalho, Rebecca, e guardo minha mochila no pequeno armário próprio para colocarmos nossos pertences. A porta da sala de Sr. Heitor está fechada, então penso que é melhor deixar para cumprimentá-lo depois. Dando início ao meu expediente, começo a colocar alguns livros no lugar, organizar alguns outros itens em uma prateleira, até o movimento começar a aumentar e o entra e sai de clientes prender toda minha atenção. 

Quase meia hora depois, a porta da sala de Sr. Heitor se abre e de lá sai meu chefe, Clara e uma outra mulher. Pronto, vê-la ali, é o suficiente para despertar o meu nervosismo. Continuo parada onde estou, me fazendo de desentendida e finjo estar lendo a sinopse de um livro qualquer, porém não dá certo por muito tempo, já que logo o senhor se aproxima de mim, e me cumprimenta de maneira animada. 

— Milena, que bom que voltou! — me abraça da forma que dá, por conta do meu braço imobilizado. — Como está?

— Estou bem e o senhor? — sorrio. — E também muito feliz por ter voltado.

Olho para o lado e vejo Clara ainda à uma certa distância, conversando com a tal moça loira. As duas conversam empolgadas e só após alguns minutos, a morena se aproxima e a outra mulher, permanece parada, parecendo apenas observar nossa interação. Quem será?

— Oi Milena. — Clara sorri, colocando as mãos nos bolsos de sua calça jeans. 

— Olá, professo... quer dizer, Clara. — retribuo o sorriso, vendo a falsa expressão seria em seu rosto. — Tudo bem? - me apavoro um pouco, quando Heitor nos deixa a sós.

— Sim, estou resolvendo os últimos detalhes do aniversário de Heitor... está uma correria danada, mas vai valer à pena. — fala e eu acho tão bonitinho o brilho em seus olhos ao falar de qualquer coisa relacionada ao seu pequeno. — E você? Esta bem?

— Sim, estou bem... —  fico em silêncio por alguns segundos. — e Heitor? Estou com saudades daquele espoletinha, por favor, diga que mandei um abraço. 

— Claro, pode deixar, entrego seu abraço. E ele também está com saudades, todos os dias tem perguntado de você. — céus, eu não tenho a mínima estrutura para ver essa criatura mordendo o lábio inferior desse jeito. Socorro! — Bom, eu preciso ir. Depois a gente se fala. Tchauzinho, Mi.

Que? Eu ouvi certo? Ela me chamou pelo meu apelido? Ela disse “Mi"? Caramba! Ela me chamou de “Mi". Não foi Milena Bianco, não foi Milena, foi apenas “Mi". Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus!

— Tchau Clara. — digo segundos antes dela se virar e sair.

Não consigo desviar meu olhar de Clara, à medida em que ela se distancia, segundos depois, a mulher se despede do pai e sai do estabelecimento. Ainda fico alguns segundos parada e posso imaginar minha perfeita cara de boba. Quase tenho um ataque de vergonha quando ouço um pigarrear de Sr. Heitor ao meu lado. Quando e como ele saiu de lá da porta e veio parar aqui e eu não percebi?

— Você e minha filha têm algo em comum... estão quase sempre com a cabecinha no mundo da Lua. — sorri. — No que será que essas meninas tanto pensam, quando saem assim do ar? - pergunta e sai, me deixando mais besta ainda.

Agradeço pelo resto da tarde ser bem movimentado, fazendo assim com que eu não tenha tempo de pensar em mais nada. O entra e sai de pessoas na livraria, algumas pedindo ajuda, outras apenas para dar uma olhada, logo me fez esquecer qualquer outra coisa que não seja o mundo literário.

(. . .)

Enfim, o tão esperado sábado chegou. E mesmo que, por toda a semana, eu esteja esperando muito pelo dia de hoje, não imaginava que ficaria tão ansiosa para mais um momento com Clara fora do colégio, mesmo que não seja nada demais e tenha outras dezenas de pessoas no local. E claro, também quero matar a saudade de Heitor, já que não o vejo desde a sua visita no hospital. Tirando o fato de ser filho de Clara, eu realmente me apeguei muito a ele, sempre gostei de crianças, isso não é segredo, mas Heitor é um menino tão carinhoso, tão meigo e tenho certeza absoluta que nesse mundo, não há ser humano que resista àqueles dois olhinhos verdes, àquelas bochechas rosadas e àquela carinha, com aquele sorrisinho sapeca.

Enquanto encaro o teto do meu quarto, duas batidas na porta me tiram de meus devaneios. Logo em seguida, duas criaturas exageradamente animadas para um sábado de manhã, adentram meu o cômodo, quase me fazendo pular da minha cama.

— De pijama até agora, Milena?! — Cecília se joga na cama que eu estava há alguns segundos.

— Lógico!? — digo de maneira óbvia. — Sábado é feito para isso, acordar tarde e ficar de pijama até depois do almoço. — dou de ombros, entrando no banheiro. — Não que precisem, mas por que não avisaram que vinham?

— Realmente, nunca precisamos avisar. — nenhum pouco convencida, né? — Vai trocar de roupa, que nós vamos arrumar isso daqui. — diz, um pouco mais alto. — A gente vai sair. 

— O que? Sair para onde, maluca? Nós não combinamos nada... — grito de dentro do banheiro. — ou combinamos?

— Sem muitas perguntas, Emma. — é Cecília quem responde. — Já falamos com a tia Estella, agora vai se arrumar logo, que não temos o dia todo. 

— Não! — abro a porta.  — Não se vocês não falarem onde nós vamos e o que iremos fazer. 

— Meu Deus, como você é chata, Milena! Nós vamos ao shopping, Anna e Valentina vão nos encontrar lá. — Alexia diz enquanto guarda algumas coisas no meu armário.

— Fazer o que no shopping, gente? Uma hora dessas, ainda por cima. 

— Você precisa de algo além dessas suas roupas de caminhoneira para o aniversário do pequeno Heitor. Hoje, Clara Herrera, verá o mulherão que Milena Bianco é, fora daquele colégio. 

— Sem chance, vocês são loucas! — me jogo na cama novamente, mas logo sou atingida por um travesseiro jogado por Alexia.

— Por favor, Mi! Nós só queremos te ajudar, poxa! — a morena diz, cruzando seus braços em frente ao corpo. — A professora Herrera só te vê, ou com o uniforme do colégio, ou com o uniforme da livraria... deixa a gente soltar essa mulher maravilhosa que há em você, vai!

— Isso não vale! Vocês são chantagistas. — rolo os olhos com a expressão de cachorro sem dono das minhas amigas. — Eu vou me arrumar.

Enquanto falamos algumas besteiras sobre nossa semana, eu me arrumo para o tal passeio no shopping. Passo pela sala, onde mamãe e Phellipe assistem TV, quer dizer, meu irmão joga seus brinquedos para cima, enquanto mamãe tenta assistir o noticiário local.

— Bom dia, mãe! — deixo um beijo em sua bochecha. — Bom dia, meu príncipezinho! — o pego no colo, deixando vários beijos em seu rosto. 

— Só elas mesmo para te tirarem do quarto num sábado antes do meio dia, né? - mamãe diz, e só então me lembro que, até agora, não fazia a mínima idéia de que horas eram. — Meio dia e dezesseis. — Estella fala, como se tivesse lido meus pensamentos.

— Sábados para mim são sagrados. — me defendo.

— Meninas, depois venham almoçar aqui, tá bom? Vou fazer para sobremesa, aquele pudim de chocolate que vocês adoram. — mas que tipo de traição é essa, dona Estella Bianco?

— Claro, tia Estella. Pode deixar que a gente vem sim. — Alexia manda um beijo no ar. — Agora nós vamos indo, até mais. 

— Tchauzinho, tia Estella. — Cecília faz o mesmo que a morena. — Tchauzinho, Lipe.  — brinca com o garotinho no meu colo.

— Tchau, meu amor.  — após deixar um beijo carinhoso na testa de Phellipe, o coloco no chão. — Tchau, mamãe. Te amo. 

Como não é tão longe, seguimos para o shopping andando mesmo. Entre conversas e risadas, o nosso percurso dura mais ou menos meia hora. Assim que chegamos no local, antes mesmo de entrarmos, encontramos Anna e Valentina. Nos cumprimentamos e, à pedido meu, nossa primeira parada, é na praça de alimentação. 

— Vocês são tão afobadas, que me arrastaram até sem café da manhã. —  digo ouvindo meu estômago roncar. — Agora já que estamos aqui, eu vou me alimentar com toda a calma do mundo...

Escolhemos uma mesa e nos sentamos, logo engatamos uma conversa animada e como apenas eu não tomei café da manhã antes de sair, me alimento com algumas besteiras, enquanto ouço as quatro traíras traçarem uma "rota de compras para Milena". Depois de mais de meia hora, já devidamente alimentada e após jogar os restos de embalagens no lixo, sigo minhas amigas, me sentindo apenas uma cobaia pronta para ser usada em um experimento qualquer. 

— Primeiro, nós vamos procurar algo para vestir essa beldade aqui... — Alexia aponta para mim.

Entramos em uma primeira loja e começamos a demorada e árdua procura por entre as araras. Mesmo não sabendo porque toda essa campanha e esse alarde delas, também acabo me empolgando com minhas amigas, enquanto andamos pelas diversas lojas do local. Ficamos vagueando pelas inúmeras araras de roupas, num eterno ciclo entre, minhas amigas me mostrarem algo, eu fazer uma careta em negação e elas quererem me matar. Isso dura por mais duas, três lojas e quase uma hora depois, Anna quase nos mata do coração, correndo pela loja e gritando com um vestido em mãos.

— Meninas! Achei! Gente, olha se não vai ficar maravilhoso na Mi?! — se aproxima, mostrando toda orgulhosa o seu achado.

E realmente, dessa vez, Anna acertou em cheio. Encaro a peça nas mãos da minha amiga, é simples, do jeito que eu gosto, nada que chame muita atenção, em uma cor rosa bem clarinho e as mangas longas com alguns detalhes em renda. Percebo Anna, Valentina, Alexia e Cecília me encarando, esperando pela minha resposta.

— Eu achei lindo! — sorrio. — Vai ser esse. 

— Ótimo! — Alexia e Anna fazem um high-five. — Agora o resto, é com Cecília. —  aponta para a ruiva que concorda.  —  A maquiagem, ué... está achando que vai com essa carinha de derrota aí? — fala ao ver a minha expressão confusa.

— Ah não... — falo baixinho. 

— Sem reclamações, Milena. — Cecília me dá alguns tapinhas nas costas. — Você vai ver, no final, depois que tiver pronta, vai gostar.

Passamos mais um tempo no shopping, as meninas também compram algumas coisas e depois seguimos para minha casa. Quando chegamos, ficamos na sala mesmo, conversando enquanto minha mãe termina o almoço. Meu pai saiu logo depois de mim e levou Phellipe com ele, já em sua corrida rotina de trabalho, não tem muito tempo pra isso e durante os finais de semana, procura compensar sua ausência, principalmente, com o pequeno, mas lógico, não excluindo nossos momentos de pai e filha também.

— Sério, eu não estou entendendo essa empolgação de vocês... — sussurro, enquanto ouço Cecília e Alexia fazendo planos como se meu rosto fosse uma tela em branco, ou como se eu simplesmente não estivesse aqui. — é só um aniversário infantil. Vocês são doidas!

— Sim, é um aniversário infantil, no qual a mãe da criança aniversariante é a pessoa pela qual você tem a maior queda do mundo... você precisa estar, no mínimo, apresentável, amiga. E como eu, quer dizer, todas nós, estamos com as expectativas altíssimas em relação à essa festa, deixa a gente ser feliz em paz e depois você vai ver que é muito negativa, isso sim. — Valentina fala e eu apenas suspiro. Não adianta discutir com essas teimosas. 

—  Meninas, venham! — minha mãe aparece na porta da sala. — O almoço está pronto!

— Hum, comidinha da tia Estella... fica difícil seguir a dieta assim. - Ruby e seu jeito espalhafatoso adentram a cozinha.

— Dieta pra quê, Alexia?! — mamãe à encara com os olhos semicerrados. — Está querendo sumir, é? — rumos. 

Almoçamos entre conversas aleatórias e muitas risadas. E lá pro meio da tarde, nos despedimos, na verdade, por pouco tempo, já que as meninas vão para casa agora, mas mais tarde irão voltar para nos arrumarmos juntas e esperarmos por Henrique para, enfim, irmos. E socorro! Com o passar do tempo, eu vou ficando cada vez mais ansiosa, mais nervosa e por mais que tente me distrair de todas as formas possíveis, os minutos parecem estar passando extremamente de vagar. 

(. . .)

— Ótimo! — Cecília  exclama me olhando, enquanto segura uma de minhas mãos no ar. — Não é me gabando não, mas você está uma deusa, Milena. 

— Milena! Se a professora Herrera não te quiser, deixa que eu quero, tá bom? — Valentina fala, enquanto termina de se arrumar em frente ao espelho. — Quero só ver se hoje a Clara também não vai ficar babando por você.  

— Agradeça aos céus pelas amigas que tem, Milena. — ainda segurando minha mão, alexia me faz girar. — Conseguimos transformar a rainha das caminhoneiras, em uma princesinha. 

— Vocês são ótimas. — dou um leve empurrão em Valentina, ficando de frente ao espelho. — Uau, vocês são ótimas mesmo! — exclamo ao me olhar. — Quando vocês dizem que eu sou “caminhoneira" é um exagero, mas vocês mandaram muito bem. 

— Você está linda, Milena. — Anna diz, sentada em minha cama. Já pronta. — Estamos todas prontas e lindas, agora só falta o Rick...

— Não falta mais! — Henrique aparece na porta do meu quarto. - Uau, eu morri, fui pro céu e ninguém me avisou? — brinca. — Quanta gata para tão pouco espaço.

— Você também está um charme, Rick! — digo o olhando de cima a baixo. — Acho que agora podemos ir, né? — olho as horas no celular.

No convite, o horário está escrito às 19:00h, mas como sabemos que festas de aniversário, ainda mais de criança, nunca começa na hora marcada, decidimos nos arrumar com calma, e mesmo assim, agora que estamos todos prontos e prestes à sair, são pouco mais de 19:15h. Então, pedimos dois carros de aplicativo, nos despedimos da minha família e vamos esperar na porta da minha casa. Os dois carros chegam praticamente juntos e assim, nos dividimos nos dois veículos, seguindo para a festa do pequeno Heitor. 

Chego a perder as contas, de quantos suspiros profundos eu dou, enquanto o percurso de pouco mais de vinte minutos é percorrido. Só sei que minhas as mãos estão suando e em todas as vezes que eu penso que estou prestes à ver Clara, sinto meu coração acelerar. Claro, eu sei que não irá acontecer nada mais, mas é Clara Herrera, eu vou fazer o que? Essa mulher precisa fazer o mínimo para mexer comigo. Porém, tenho em mente, é apenas um aniversário infantil. Só isso. Não vai rolar nada demais.

Enfim, chegamos ao nosso destino e, assim que descemos dos carros, na porta do salão de festas e nos encontramos novamente, já é possível ouvir o som da música infantil tocando dentro do local. Meus amigos engatam uma conversa sobre algo que viram no caminho e eu me acabo me desligando completamente por alguns segundos, ficando alheia à tudo. Poucos passos e estamos dentro do espaço, entregamos nossos presentes para a simpática moça que está na portaria e seguimos. A primeira coisa que meus olhos fazem é procurar por Clara, mas antes mesmo que eu dê mais alguns passos, um mini super homem aparece correndo e praticamente se joga em meus braços, ou melhor, no meu braço que não está não quebrado.

— Tia Mi! Que saudades! — seus pequenos braços envolvem meu pescoço. - Você melhorou? — olha para a tipoia em meu braço. — Ainda não, né?

— Já estou quase boa, garoto. —  sorrio. — Isso aqui é só pra ajudar a melhorar mais rápido... —  afirmo e ele acena de forma positiva, compreendendo.  — Só um minuto, deixa te abraçar direito. — o arrumo em meu colo, da melhor maneira que consigo. —  Meus parabéns, Heitor, tudo de melhor na sua vida e que você seja sempre esse garoto adorável. Que papai do céu e os anjinhos dele conservem esse seu coraçãozinho bom e cheio de amor. Eu gosto muito de você, tá bom? —  deixo um beijo em seus cabelos. — Mas me diga aqui uma coisa, por que não me contou que era o super homem? — sussurro próximo ao seu ouvido e ele dá uma gostosa gargalhada.

Coloco o menino no chão e cada um, Alexia, Henrique, Cecília, Anna e Valentina, o cumprimentam pelo seu aniversário e logo também se encantam pela pequena criatura falante e de bochechas rosadas. Ainda abaixada, conversando com Heitor, que me conta animadamente, tudo o que já fez até agora, estranho o silêncio repentino de meus amigos, mas logo após alguns segundos, quando o inconfundível perfume de Clara Herrera se faz presente aos meus sentidos, sinto o meu coração acelerar bastante e um arrepio percorrer por todo meu corpo. Me levanto quase que num pulo e quando me viro, dou de cara com a visão mais extraordinária, mais espetacular, mas deslumbrante que me lembro de ter presenciado até o momento. 

Caralho! Eu me encontro sem palavras!

Clara Herrera é uma mulher linda e extremamente atraente, e isso é inegável e não é novidade nenhuma, mas Clara Herrera, vestida de Mulher Maravilha, é uma cena que eu nunca, jamais quero apagar da minha memória. Sério! Chega a ser surreal de tão linda. Sinto que meu cérebro perdeu toda a capacidade de formar qualquer frase, então apenas abro e fecho minha boca algumas vezes, sem conseguir dizer nada. Fico que nem uma boba encarando a mulher que sorri é também me parece bem surpresa. 

— Que bom que vocês vieram! — fala após alguns segundos. — Ali estão as mesas... — aponta para o lado esquerdo do salão. — fiquem à vontade, tá bom? – diz de maneira simpática. 

Por alguns segundos, os nossos olhares se encontram e ambas ficamos em silêncio, ela, eu não sei bem porquê, mas eu, por estar totalmente travada e impactada com a beleza dessa morena. Quando saio de meu pequeno transe, ouço meus amigos à agradecerem, e mesmo sentindo que estou mais vermelha que um tomate, faço o mesmo. Por fim, nos viramos e seguimos rumo às mesas, com Heitor nos seguindo e segurando minha mão. 

— Tia Mi, você tá muito bonita! — o pequeno diz, me olhando, enquanto ainda andamos. 

— Ah, muito obrigada, senhor aniversariante. Você também está muito bonitão, um charme. — ele sorri e a minha vontade é apertar essas duas bochechinhas rosadas. 

Ainda meio embasbacada, me sento no lugar que escolhemos e, com o olhar, procuro por Clara que agora conversa com alguns outros convidados. Como essa mulher consegue ser assim tão linda? Agora, já não estando tão perto, foco a minha atenção em cada detalhe daquela obra de arte em forma humana. Céus! Eu estou perplexa, abismada, até agora! A fantasia de Mulher Maravilha parecer ter sido feita especialmente para a morena que, além de tudo, se equilibra impecável e perfeitamente em um salto vermelho. Ah! E por falar em vermelho, lá está ele, o inseparável batom, de forma impecável, desenhando seus lábios que, junto daquela cicatriz em seu lábio superior, torna sua boca tão atrativa, tão exuberante, desejável.

Não demora muito para Heitor descer de meu colo e se dispersar de nós, correndo para se juntar às várias crianças que estão no local. Acabo sorrindo ao vê-lo brincando, visivelmente radiante com a comemoração de seu aniversário. 

— Milena, aproveita que a Clara está vestida de Mulher Maravilha e pede para ela mostrar os poderes dela pra você. — Henrique, que está ao meu lado, fala me dando alguns tapinhas nas costas.

— Mi, desculpa tirar o foco da sua Mulher Maravilha, mas eu preciso falar... — Alexia diz, enquanto mantém seu olhar perdido. — que deusa é essa irmã da professora Herrera, né? Socorro! Que ruiva linda! Olha lá, a mulher anda e parece que está desfilando. — apoia o rosto em uma das mãos, nem fazendo questão de disfarçar a expressão boba. 

— Kelly é, realmente, muito bonita. — digo. —  E muito simpática também, vai direto lá na livraria, nunca conversamos muito, mas sempre me trata muito bem quando me vê.

E por falar no Heitor  pai, logo ele aparece em nossa mesa. Com um abraço, cumprimento o senhor que, me enche de elogios, o apresento aos meus amigos e um tempo depois, ele se afasta e vai para uma mesa próxima à nossa e se senta ao lado de uma mulher que, julgo eu, ser sua esposa e mãe de Clara e Kelly.

Por alguns minutos, sigo me distraindo em uma conversa aleatória com meus amigos. Mas, depois de um certo tempo, começo a me sentir meio inquieta, onde uma euforia meio diferente começa a tomar conta de mim. Me levanto, digo ao grupo que vou ao banheiro e me afasto da mesa. Realmente, vou ao banheiro, mas depois de sair de lá, ainda não volto para a mesa, decido dar uma volta pelo salão, coisa que, até então, não havia feito. Enquanto ando, passo por um painel, onde um fotógrafo tira fotos das crianças e sinto uma mãozinha puxando a barra de meu vestido. É Heitor, com um sorriso encantador, me chamando para tirar fotos com ele. E assim o fazemos, tiramos muitas fotos, em várias poses, fazendo caretas... enfim, de diversas maneiras. Por fim, ele volta à correr com os coleguinhas e eu, à andar pelo local, com minha atenção presa em alguns detalhes da decoração. Vou caminhando até a área externa, que também é um lugar muito bonito. 

Olho para cima e percebo que a noite está estrelada e por alguns segundos, me perco olhando os pontinhos cintilantes no céu. Por conta de um vento meio frio que passa pelo local, cruzo meus braços contra o peito e continuo andando à passos lentos e por fim, paro próxima a um pequeno, mas muito bem cuidado jardim. Por alguns minutos fico perdida em meus pensamentos, olhando as várias espécies de flores presentes ali até, mais uma vez, sentir aquele perfume. O perfume que anula a fragrância de qualquer flor existente e que eu posso reconhecer em meio à centenas. Ouço o também conhecido barulho dos saltos, mas não me viro de imediato. 

Instintivamente, fecho os meus olhos quando o perfume parece ainda mais forte. O som dos saltos cessa, e então olho para o lado e tento não parecer uma grande idiota ao mirar Clara, parada a poucos metros de mim. Mas céus! É impossível me manter normal, ao poder observar, agora mais de perto, essa mulher tão deslumbrante dessa maneira. Ao passo que Clara sorri, meus olhos percorrerem por todo seu corpo, começando em seu rosto, até chegar em seus pés. 

— Gostando da festa, Mi?! — eu preciso me acostumar e tentar não dar um treco todas as vezes que ouvir meu apelido saindo dessa boca. 

— Sim! Está tudo muito lindo... — tento não gaguejar ao falar. — Heitor deve estar maravilhado! —  sorrio, me encostando em uma pilastra que está atrás de mim.

— Ah, eu faço de tudo para agradar o meu pequeno... — encaro o contraste de seu batom vermelho com os dentes extremamente branquinhos quando ela sorri. Pelo amor de Deus, essa mulher é perfeita!

Alguns segundos de silêncio e eu me viro para frente novamente, voltando meu olhar para as flores em minha frente. Segundos depois, ouço um leve suspiro sair da boca de Clara.

— Você está linda, Milena. — a voz da mulher sai baixa, quase num sussurro, mas mesmo assim é o suficiente para que eu tenha um ataque no mesmo momento. 

Volto meu olhar para a morena e agora, é ela quem encara o jardim. Eu ouvi certo? Clara Herrera acabou de me elogiar? Do nada? Não dá para acreditar! E isso só me deixa mais nervosa do que eu já estou. 

— Obrigada! Você também está linda. — respondo e quando olho de soslaio, vejo um sorriso contido se formar em seus lábios. — À propósito, devo dizer que, não poderia ter feito melhor escolha de fantasia. 

— Por que? —  me lança um olhar curioso. 

Muito bem, Milena! Agora você se vira e sai dessa. 

— Bom, eu acho que combinou com você...  — dou de ombros e ela acena, rindo.

— Não me convenceu muito, mas ok. — fala de forma descontraída, me fazendo rir também. — Eu queria te falar, que esse vestido... — seu sorriso vai morrendo, enquanto ela se aproxima a passos lentos. — também combinou muito com você, Milena.

 Meu Deus do céu! Socorro! O que é isso!? O que está acontecendo?

— Mostrou ainda mais a garota linda que você é, evidenciou a sua beleza...

Ok, eu estou há um fio de surtar! A minha cabeça está toda bagunçada. Repito, eu vou surtar! Eu estou delirando, é isso? O refrigerante fez algum efeito em minha mente e agora eu estou vendo coisas, porquê não é possível que isso esteja mesmo acontecendo. 

Tento ser mais forte que meu nervosismo e volto à encará-la, procuro pelos olhos castanhos de Clara e logo me perco na imensidão que eles me apresentam. Juro que nesse momento, eu consigo ouvir cada batida do meu coração. Mais um suspiro meu, quando ela dá mais alguns passos em minha direção e continuamos mantendo o contato visual. Agora estamos tão perto, que seu perfume já parece ter tomado conta de mim. A cada segundo, eu creio mais e mais que isso é um momento de delírio. Sem muito esforço, posso sentir a respiração quente de Clara, fazendo o resto de meu juízo descer por água abaixo.

Eu acho que nunca experimentei uma mistura tão intensa, de tantas sensações juntas antes. Deixo meu olhar passear pelo seu rosto, oscilando algumas vezes, entre seus olhos e seus lábios, sentindo minhas pernas bambearem, ao ver que ela faz o mesmo. Será que vai acontecer, o que eu acho que vai acontecer? Tudo isso me leva a crer que sim. E de coração, torço para que tudo não seja apenas um sonho realista, fruto da minha fértil e ansiosa imaginação. Tento pensar, me lembrar do próximo passo, mas meu cérebro parece ter, simplesmente, entrado em pane. Então vejo Clara findar qualquer distância que há entre nós duas, dando mais um, agora o último passo na minha direção, ela quase cola nossos corpos e minha mão automaticamente segura firme sua cintura. De forma automática, eu fecho meus olhos de leve ao sentir seu carinho em meu rosto e, em seguida um leve roçar de lábios faz um arrepio percorrer todo meu corpo de uma só vez.

Eu estou prestes à beijar Clara Herrera! Ainda não consigo acreditar!

Sem muito o que pensar, aperto um pouco mais sua cintura e após passear com meu olhar pelo seu rosto mais uma vez, vendo seus olhos quase se fechando, enfim, tomo seus lábios da maneira que tanto desejo desde que a conheci. O beijo começa meio tímido, nossos lábios se procuram de maneira sutil, delicada, ainda se conhecendo. Sinto uma das mãos de Clara que, até então, está em meu rosto, se encaminhar para minha nuca e posso sentir a morena aprofundando o beijo. Minha respiração falha levemente quando sinto a língua de Clara invadir e explorar cada canto da minha boca. Céus! Isso é melhor do que qualquer coisa que eu já imaginei, eu não sei nem explicar. Quando o ar se faz necessário, finalizamos o beijo com alguns selinhos e uma troca de sorrisos. E por falar em sorriso, vocês não imaginam o tamanho do meu. 

Eu estou em choque! De verdade, eu não sei nem explicar o que estou sentindo. É sério que eu acabei de beijar Clara Herrera, a minha, inacessível, paixão platônica desde o primeiro ano?

Sério, ainda bem que estou escorada na pilastra, pois se não, já teria caído no chão, pela maneira que minhas pernas estão tremendo. Ela sorri, aquele sorrisinho que aparece não só em seus lábios, mas também marca seus olhos que, se fecham levemente. Ela se aproxima novamente e dessa vez, é Clara quem me puxa e dá início à outro beijo. Sua mão sai da minha nuca, sobe alguns centímetros e se emaranha em meus cabelos. 

Por favor, que isso não seja um sonho! Que isso não seja um sonho! Que isso não seja um sonho! 

Após alguns minutos, as nossas respirações ofegantes são os únicos sons ouvidos. Encaro a mulher a minha frente, que sorri abertamente, enquanto sua mão, de maneira suave, refaz o caminho até meu rosto, fazendo um leve carinho. Não consigo pensar em nada para dizer e nem quero correr o risco de falar algo e estragar esse momento, que mais me parece um sonho. Tenho certeza absoluta que há uma expressão surpresa e ao mesmo tempo completamente boba, estampada em meu rosto. Eu só sei olhar para Clara e sorrir e para a minha felicidade, ela faz o mesmo, se aproveitando de nossa proximidade para me dar mais um selinho demorado, segurando, delicadamente, meu rosto entre suas mãos. 

Mais alguns minutos se passam, voltamos à nossa posição anterior, ambas encarando o pequeno jardim, enquanto eu ainda permaneço com um sorriso gigante rasgando meu rosto e sinto meu peito prestes à explodir, num sentimento extremamente gostoso, ao ver Clara do mesmo modo. 

Ouço passos apressados e logo uma pequena criatura se aproxima correndo, chamando pela mãe.

— Mamãe, mamãe, mamãe! — para, dando vários pulinhos próximos à Clara. — A tia Kelly disse que a gente vai cantar parabéns agora, mamãe! Ela tá te procurando! — diz a puxando pela mão. — Vem, tia Mi! Vem cantar parabéns pra mim! — me puxa também.

A morena me olha e sorri, com isso tenho a certeza de que, pelo menos nesse momento, nada precisa ser dito. Não sei o que está se passando na cabeça de Clara mas, para mim, nada nesse mundo vai se igualar às sensações que tive enquanto ela estava em meus braços. Aqui, na minha mente, isso sempre foi um desejo distante. Bem distante, aliás. E bom, agora cá estou eu, me tremendo por inteira porque acabei de beijar Clara Herrera. Ainda não me parece verdade.

Volto para a mesa, meus amigos estão em uma animada conversa sobre algo que, por ora, nem tenho muita curiosidade. Tudo o que eu menos queria agora, era chamar a atenção deles para mim, mas acho que a quantidade exagerada de suspiros que dei desde que voltei, faz com que aconteça justamente ao contrário.

— Sumiu, Milena... — Henrique diz. — pensei que tinha caído no vaso e descido com a descarga. 

— Não, seu ridículo, eu saí do banheiro e fui dar uma volta lá fora. — me ajeito na cadeira. — Por fim, acabei me distraindo.

— Uma distração muito boa, pelo visto. Porque quando você saiu daqui, não estava com um sorriso desse tamanho.

Realmente, eu devo estar sorrindo feito uma boba. Mas, cá entre nós, no meu lugar, quem não estaria se desmanchando em sorrisos também? Suspiro. Por alguns segundos, me pego com medo do escândalo que meus amigos podem fazer ao ouvir o que eu tenho à dizer, mas mesmo assim, sinto que se não compartilhar isso logo eu vou acabar explodindo. 

— Milena, por um acaso, você usou droga? Por Deus, que cara de lesada, garota. —  Valentina brinca. — O que tinha lá fora que você voltou assim?

— A pergunta na verdade deveria ser quem estava lá fora, né Tina? – Alexia me lança um sorrisinho malicioso. — E para a Milena estar desse jeito, aposto qualquer coisa que esse alguém se chama Clara Herrera.

— Tá bom, vocês querem saber o que houve? — respiro fundo, vendo os cinco concordarem acenando. Bando de curiosos! — Mas vocês precisam me prometer que não vão contar para ninguém, ok?

— Claro né, Milena?! — Henrique fala. — Não é por acaso que somos melhores amigos e sabemos os segredos mais escondidos um do outro. Vai, fala logo o que está te deixando assim, toda aérea. Tem mesmo algo à ver com a sua querida paixão platônica?

Agora não tão platônica assim, né?!

— Bom, eu...

Quando estou prestes à falar, sou interrompida por Kelly passando em nossa mesa e nos chamando para aproximarmos para cantar os parabéns para Heitor. Me aproveito da situação e dou um leve cutucão em Alexia, que nem disfarça e parece uma besta olhando para a ruiva.

Próximo à mesa, vejo Heitor subir em uma pequena escada de uns três degraus, o menino olha para todos e é impossível não sorrir ao ver seus olhinhos brilhando de entusiasmo. E por falar em sorriso, ao seu lado, Clara é só sorrisos também. E olhar seu sorriso me fez sorrir mais ainda, se é que isso ainda é possível. As luzes são apagadas, e então todos juntos começam a cantar o tão conhecido ‘parabéns pra você’. A felicidade de Heitor é uma das coisas mais lindas do mundo de se presenciar. Assim como os outros presentes no local, não seguro uma risada quando, na parte do ‘com quem será’ Clara faz uma pequena careta.

Ficamos por quase mais uma hora na festa. Logo a maioria das crianças que estavam correndo no local, parecem se cansar e logo vão se aninhando no colo de seus pais, que aos poucos começam a se despedir. E com Heitor não é diferente. De longe, vejo ele no colo de Clara, já coçando os olhinhos, enquanto mexe nos cabelos da mãe. Eu e meus amigos nos levantamos e vamos rumo a morena afim de nos despedir. E eu sinto que meu coração acelera de novo, só de me aproximar da mulher.

— Professora Herrera. — Henrique à chama e ela se vira, sorrindo. — Nós já vamos indo, viemos agradecer pelo convite novamente. 

— Estava tudo muito lindo e nós amamos conhecer o seu pequeno, ele é uma fofura. — Alexia fala. 

— Espero que vocês tenham gostado. — morena se levanta, com certa dificuldade e instintivamente me ofereço para pegar Heitor que, no mesmo instante, abraça meu pescoço. — Acho que eu também vou indo, já que o aniversariante capotou, né?! — rimos, e meu sorriso congela no rosto quando nossos olhares se cruzam.

— Eu levo ele até no carro para você. — digo, voltando a sorrir. 

Após um leve e disfarçado tapinha de Alexia em minhas costas, vejo meus amigos se afastarem. Volto minha atenção à Clara que, por alguns segundos, me encara em silêncio. 

— Juro que não demoro. – fala, me lançando uma piscadinha e se afasta.

Poucos minutos depois, Clara se aproxima com uma bolsa e uma pequena mochila. Em silêncio, eu à acompanho até o carro e coloco Heitor em sua cadeirinha. A mulher que, antes, estava do outro lado, guardando algumas coisas, logo se aproxima e eu fico parada meio sem saber o que fazer.

— A festa estava maravilhosa, Clara. — vejo ela se escorar em seu carro. — Muito obrigada pelo convite.

— Eu quem agradeço pela presença!  — que sorriso, meu Deus! Que sorriso!

— Bem, eu vou indo... —  aponto para o rumo em que meus amigos estão. — ate mais. 

Clara se aproxima e meu coração volta a bater acelerado. Eu sei que não vamos repetir a cena daqueles minutos passados, mas mesmo assim, ter Clara tão pertinho me causa sensações indescritíveis. Quando ela se aproxima, meus olhos automaticamente se fecham e o cheiro de seu perfume, mais uma vez, me invade. E o beijo que, antes, sempre fora na bochecha, agora é deixado no canto da minha boca. Suspiro e sorrio. Ela sorri também. 

Esse dia deve estar sendo um sonho, só pode!

— Até mais, Milena. 

Sigo de encontro ao meu grupo. Na pequena bolsa que trouxe comigo, pego meu celular, vendo que no visor do mesmo marca pouco mais de dez horas da noite. Em silêncio, me aproximo de meus amigos e os sigo, mesmo sem ter a mínima noção de onde eles estão indo. Por um tempo, tento seguir me fazendo de desentendida e fingir que não estou percebendo os olhares de todos eles voltados para mim. Nos encaminhamos à uma pracinha que há perto do local e que, mesmo estando um pouco tarde ainda está bem movimentada. Nos assentamos no chão mesmo, em uma parte de grama baixinha e eu até agradeço mentalmente, quando nos distraímos em outros assuntos aleatórios. Mas no decorrer da conversa, eles começam a comentar sobre a festa de Heitor e, num determinado momento, a atenção é novamente para mim.

— Milena, nós demos um tempo pra você respirar, porque parecia que a qualquer momento você iria explodir, principalmente depois de se despedir da Clara... mas agora, já passou um tempinho, né? — Henrique fala. —  Parece que você tinha algo para nos contar naquela hora em fomos interrompidos antes do parabéns. — ÷ ele lembra. — Então?

— O babado parecia ser fortíssimo, porque você estava e agora está de novo mais vermelha que um tomate. — Valentina diz, me fitando com seus olhos semicerrados. 

— Ok, se vocês pararem de me olhar desse jeito, eu conto. Novamente eu peço, não contem pra ninguém, é super sério e ninguém mesmo, principalmente daquele colégio pode sequer ouvir isso. — digo e eles concordam, já impacientes.

— Por acaso alguém aqui já contou algum segredo um do outro, Milena? — Cecília fala. — Vai, tá me deixando até preocupada. É alguma coisa com a professora Herrera?

 — Certo, eu vou falar... —  suspiro. — se lembram na hora que eu disse que iria no banheiro? Então, eu realmente fui, mas depois... —  conto detalhe por detalhe do que aconteceu, até chegar ao momento do beijo.

Chega a ser engraçado, meus amigos me olham como se estivessem assistindo à um filme, a cada frase que eu digo, revivendo àqueles momentos tão mágicos, posso ver cada um deles ficando mais boquiaberto. Termino o relato e todos continuam em silêncio, apenas me encarando atônitos.

— Então foi isso que aconteceu e por esse motivo eu estou aérea desse jeito... foi surreal, galera. Vocês não tem noção! 

— Meu Deus, eu tô boba! — Alexia é a primeira a se pronunciar, após alguns segundos em completo silêncio. Gente, eu não estou acreditando! 

— Pelo visto, eu já posso pensar melhor na minha para adivinhar o futuro. —  Valentina diz, animada. — Uau! Eu disse que esse beijo ia sair hoje! — comemora.

— Ai, ainda estou digerindo essa notícia! Meu Deus, que bomba! Mas me conta, Milena, ela beija bem? Tem pegada? Fala, menina. Conta tudinho! — Henrique se empolga. — Como foi?

— Ah, foi... sei lá, mágico, maravilhoso, incrível. — suspiro, apoiando meu rosto entre as mãos. — Sério, só de lembrar, meu coração acelera e eu fico toda boba. — sorrio, fechando os olhos. — Vocês mesmo sabem o quanto eu desejei isso, quantas vezes já me imaginei beijando ela... mas isso superou tudo que eu já havia imaginado até hoje. — mais um, dos meus incontáveis suspiros. — Ai, ela é tão linda! E até agora eu não estou acreditando em como tudo isso aconteceu.

Ainda ficamos na praça conversando por, mais ou menos, uma hora e depois seguimos para a casa de Valentina. Seu pai, que sempre é muito simpático com a gente, permitiu que nós passeemos a noite por lá e assim vamos fazer. Quando chegamos, fazemos tudo do jeito que mais gostamos, colocamos alguns colchões espalhados pela sala, e nos deitamos amontoados. Ainda ficamos entre conversas e brincadeiras até boa parte da madrugada e, aos poucos, um a um vai se rendendo ao cansaço. Pra variar, ao ficar perdida entre meus pensamentos e sentimentos, acabo sendo última a conseguir pegar no sono. 

Mas enquanto ainda estou acordada, apenas com meus olhos fechados, começo a refletir sobre tudo o que aconteceu em meu dia. Por mais que eu tenha sonhado com um momento assim desde que conheci a professora Herrera, a verdade é que eu, realmente, não esperava que isso realmente fosse chegar a acontecer. Quer dizer, até agora eu estou sem acreditar. Juro, em todas as vezes que a cena se repete em minha mente, por alguns segundos, eu entro em choque e depois começo a sorrir, de novo, feito uma idiota. 

Digamos que eu nunca tive dificuldade para ficar com alguém que fosse de meu interesse. Bonita, tenho boa conversa e, principalmente, quando quero, sou um poço de simpatia, mas nunca passaram ficadas normais, sempre tive em mente que não poderia parar minha vida por uma paixão platônica.

Mas e Clara? O que será que sentiu? Será que ela gostou do meu beijo? Aliás, o que será que deu nela para fazer isso? Quais podem ter sido seus motivos para me beijar, de repente, durante a festa seu filho? São tantas, mas tantas perguntas que se passam em minha mente, que tudo parece entrar em choque e, todas as dúvidas e pensamentos entrarem em choque entre si. 

Há algo que, além de tudo, me deixa ainda um pouco mais angustiada ao me questionar. Como serão as coisas no colégio agora? Como será no momento que eu e Clara nos vermos? Meu Deus, será que ela vai me ignorar? Fingir que não aconteceu nada? Minha espinha gela e eu travo só de pensar que isso pode acontecer. Tento não pensar nessa possibilidade e com o passar dos minutos, tento também desligar todos meus pensamentos. Aos poucos, o sono também vai chegando para mim, então, me ajeito entre Alexia e Valentina e, por fim, acabo dormindo.

Que dia, meus amigos. Que dia! 

Emanuelle Oliveira

Capítulo novo pra vocês! Espero que gostem! <3

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