Capítulo 5 - Xeque

Fiquei mais um dia todo na enfermaria e aquilo estava me deixando estressada.

Eu não via a hora de receber alta para poder ao menos ficar no meu quarto.

Fiz alguns exames e a enfermeira vinha sempre para checar como eu estava e me dava alguns remédios.

Minha garganta ainda ardia um pouco, como se estivesse machucada, mas minha voz estava voltando ao normal aos poucos.

Meu mal-estar melhorou depois que eu comi um pouco e bebi bastante água, mas tudo o que eu comia ou bebia era inspecionado antes.

Logo comecei a me sentir mais forte, e eu precisava estar forte, pois tinha coisas para resolver.

Meus dois tios, meu primo Mateus, Marcelo e Patrícia... Todos foram me ver, mas eu quase não falei com eles, apenas os tranquilizei dizendo que estava me sentindo melhor. A conversa séria eu estava guardando para depois, quando eu me sentisse pronta.

Logo pela manhã do outro dia eu finalmente fui liberada, então mandei que chamassem Felipe e o esperei no meu quarto, deitada na cama.

Ele não demorou muito para chegar e fiquei aliviada ao ver o seu rosto.

- Oi. - ele cumprimentou ao fechar a porta atrás de si e vir em minha direção. - Está melhor?

- Estou sim.

Dei a ele um sorriso fraco, o que fez minhas palavras soarem falsas.

Fisicamente eu estava melhor, mas emocionalmente eu estava um caco.

Felipe se sentou na cama e acariciou o meu rosto. Fechei os olhos ao seu toque e suspirei.

- Conseguiu fazer a pesquisa que eu te pedi? - perguntei em voz baixa.

- Sim, e você vai ficar feliz em saber que em casos como esse a sua palavra é lei. Você é uma rainha e pode decretar qualquer tipo de punição para qualquer pessoa que tenha te feito mal de alguma forma, ou até se a pessoa simplesmente tiver ofendido você.

- Mesmo se for um membro da família real?

- Sim, mesmo se for um membro da família real. A única coisa que ele tem direito é um tipo de julgamento em que ele deve provar sua inocência publicamente. E depois dessas provas serem mostradas você ainda poderá escolher a punição, mas fará isso em público também.

Pensei um pouco no assunto, relembrando tudo o que Kevyn havia me falado.

- Ótimo. - murmurei.

- Bom, acho que é melhor eu ir agora...

Felipe se levantou, mas eu o segurei pelo braço.

- Espera. - pedi.

Puxei ele para mim e o beijei.

Felipe soltou um gemido e segurou meu rosto entre as mãos, mas logo se afastou.

- É melhor eu ir.

Fiz um beicinho, mas eu sabia que ele tinha razão.

Ele me deu um selinho e saiu, me deixando sozinha ali com os meus pensamentos e planos.

Mais tarde eu tomei um banho, coloquei um vestido simples preto, uma sandália baixa e também coloquei a minha coroa na cabeça. O peso dela nunca me foi tão incômodo como naquele momento, mas eu precisava usa-la.

Pedi para que toda a minha família fosse convocada, assim como quatro de meus guardas pessoais.

Fui até a sala de estar e esperei sentada no sofá.

Precisei reunir toda a coragem que havia em mim para seguir em frente.

Ele tentou me matar. Lembrei a mim mesma. Eu não podia vacilar, pois era a minha vida que estava em risco.

Coloquei em meu rosto uma máscara fria, com a boca séria e os olhos sem nenhuma emoção.

Kevyn foi o primeiro a chegar, depois dos meus guardas, mas pouco tempo depois estavam todos ali.

Me levantei e os encarei, mantendo a postura firme.

- Quero dizer a todos que, apesar da tentativa recente de regicídio, eu estou muito bem. - comecei - Infelizmente eu perdi o meu filho e levarei um tempo para me recuperar totalmente de tudo isso. Estou tomando todas as precauções possíveis e estou tomando todos os remédios, meus alimentos também são todos testados antes que eu coma, por isso acho que, com o tempo, tudo vai ficar bem.

Olhei para o meu tio Sebastian com um meio sorriso.

- Porém... - continuei - Eu não conseguirei dormir em paz enquanto a pessoa que fez isso estiver em pune. Então...

Dei um sinal para os guardas, que já sabiam o que fazer.

Cornélio e Pedro se aproximaram de meu tio e o seguraram pelos braços antes que ele sequer percebesse o que estava acontecendo.

- Sebastian, você está sendo preso por traição, tentativa de regicídio e assassinato, e aguardará em sua cela até o seu julgamento.

Meu tio ficou totalmente desesperado e tentou se soltar dos guardas, mas não conseguiu.

- O quê? Você não pode fazer isso! - ele gritou.

- Já fiz. - retruquei com um sorriso.

Foi então que Mateus se levantou e se colocou de joelhos na minha frente.

- Alice, por favor. O que está fazendo? Meu pai não fez nada. Você deve ter se enganado, ele nunca faria uma coisa dessas. - implorou ele.

Mas eu sabia que faria.

Encarei Mateus com uma expressão tão fria quanto estava o meu coração naquele momento.

- Levem ele. - falei para os guardas.

- Não! - Mateus gritou e tentou correr em direção ao pai, mas Felipe e Marcelo o seguraram - Me soltem! Vocês não podem fazer isso! Me soltem!

Em meio aos gritos e protestos de Mateus, meu tio Lucas me encarava sério e também surpreso.

- Tem certeza disso? - ele perguntou quando olhei para ele.

- Tenho. - respondi com convicção.

- Alice, você pode não estar pensando direito. Essa é uma acusação muito séria e, sendo provada ou não, trará consequências horríveis para a nossa família. Ele é seu tio. Meu irmão, e irmão do seu pai.

- Isso só torna o que ele fez ainda mais grave. - respondi.

- E você tem provas? - meu tio quis saber.

- Tenho testemunhas. - falei, não querendo revelar muito.

Mateus ainda se debatia, tentando se soltar de Felipe e de Marcelo então eu pedi para que o soltassem.

Ele veio em minha direção com uma expressão furiosa e parou bem em minha frente, me encarando nos olhos com toda a raiva que tinha.

Encarei ele de volta sem medo algum.

Parecia que ele queria dizer algo, uma ameaça talvez, mas pensou melhor e me deu às costas, saindo da sala.

Eu sabia que havia feito a coisa certa, mas naquele momento parecia que eu era a bruxa ali.

Respirei fundo.

Meu tio Lucas também parecia querer defender o irmão, mas não disse mais nada.

Sendo tão observador como ele era, talvez já desconfiasse que Sebastian estava aprontando algo, ou talvez ele até já soubesse. Eu não poderia mais confiar em ninguém e se as coisas continuassem a se desenrolar dessa forma eu acabaria por prender toda a minha família, mas esperava eu que não chegasse a esse ponto.

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