Capítulo II

O sol já estava alto quando levantei da cama, fiz meu ritual habitual, banho, momento de contemplação, café e oficina. Eu já tinha acostumado com meus dias sendo sempre iguais, eu fazia as mesmas coisas e não tinha do que reclamar, minha vida era calma finalmente e eu estava feliz com isso.

 Mas hoje quando sai de casa e soltei uma gracinha, jurando que a mulher que vi de relance no quintal vizinho era Julia, meu mundo foi abalado. Os cabelos castanhos, ondulados, brilhavam ao sol, assim como seus olhos claros, isso me fez perder um minuto observando ela, que parecia até mesmo uma miragem.

 Julia tinha me dito que uma amiga viria morar com ela por esses dias, mas tinha esquecido de mencionar que a mulher era terrivelmente gata. A pele branca marcada pelas sardas em evidência, principalmente quando ela ficou irritada com meu comentário.

 Agora quando a mulher se virou completamente em minha direção foi realmente covardia, não sei se encarei mais sua comissão de frente ou de trás, porque ela era um furacão para desestabilizar qualquer homem. Os seios fartos, assim como a bunda redonda e empinada. Não consegui evitar secá-la com os olhos e desejar ver ela como veio ao mundo.

 — Alicia. — testei seu nome em meus lábios e gostei do som dele. Peguei meu celular no bolso da jaqueta, assim que me aproximei da moto. — Posso saber porque não disse que sua amiga era uma gata? — enviei um áudio para Julia e sai em disparada pelas ruas tranquilas e calmas.

 A única coisa que tinha sobrado da minha antiga vida, era aquela Harley-Davidson que eu estava montado. De resto tudo na minha vida havia mudado drasticamente, desde que eu a perdi...

 O som do meu celular tocando, avisando que eu tinha uma nova mensagem, calou meus pensamentos assim que eu alcancei a oficina.

 Tinha comprado aquele lugar assim que cheguei a cidade e tinha sido a melhor coisa que tinha feito na minha vida. Quando minhas lembranças eram dolorosas de mais ou sufocantes a ponto de não me deixar dormir, eu me refugiava ali.

 Julia: fique longe dela seu safado, já foi assustar minha amiga com suas baixarias. Porque ela me mandou mensagem perguntando se eu estava transando com você. Já estou puta que não consegui ficar em casa com ela hoje, vou matar Levi por me fazer trabalhar hoje.

 O áudio dela era caótico, dava para sentir sua raiva, assim como ouvir os animais da fazenda ao fundo.

 Levi era o dono do lugar e desde que Julia foi trabalhar lá os dois não se bicavam, o homem precisava dela mais do que tudo, mas não a elogiava nem que sua vida dependesse disso. Já tinha dito a ele que qualquer dia ela o largaria e arrumaria outro emprego, mas como aquela era uma das poucas fazendas de criação de cavalos por ali e a que pagava melhor, ele não acreditava em minhas palavras.

 Jack: já vi que não vai sair para dançar hoje a noite, não é? Levi te ama, por isso não fica um dia sem você. Se quiser posso ir fazer companhia pra sua amiga.

 Julia: esse velhote babaca ainda vai morrer, apenas com a força do meu pensamento. Vamos sair se Alicia estiver com vontade e não, você não pode fazer companhia a ela. Te conheço bem e ela está grávida e fugindo de homens.

 Grávida? Eu engoli em seco e sacudi a cabeça, nem toda bunda do mundo me faria me envolver com uma mulher grávida. Estava fora de cogitação me envolver sério com outra pessoa, nunca mais iria abrir meu coração novamente.

 Eu gosto de sexo casual e podia apostar que era tudo o que ela não queria agora, com toda certeza Alicia tinha muita coisa na cabeça agora.

 Jack: não está mais aqui quem falou. Nos vemos a noite.

 Deixei o celular de lado e abri a oficina, o dia hoje seria como todos os outros, muito trabalho pela frente para manter a cabeça ocupada e os pensamentos tristes longe. Eu gostava de ficar ali a maior parte do tempo, isso me mantinha longe de problemas.

 Já passava das sete quando decidi dar por encerrado o dia e voltei para casa, estava sujo de óleo de carro e tinha graxas nas mãos, mas aquilo me trazia um sentimento bom.

 Estacionei na entrada de casa e desci da moto, Julia chegou no mesmo minuto e pela forma como jogou o carro de qualquer jeito no meio fio, eu podia dizer que estava muito irritada.

 — Longo dia? — questionei dando meu melhor sorriso para acalmá-la, mas isso não surtiu efeito hoje.

 — Eu juro que não aguento mais, estou a um passo de surtar com Levi e mandá-lo se foder! — ela bateu a porta e pisou duro para dentro do quintal. — Quem ele pensa que é para me manter até essa hora, de um sábado, que era minha folga! Aquele filho da puta mimado.

 — Estou começando a achar que você tem sentimentos por ele, querida.

 — Sentimentos? Sim, ódio, raiva, revolta, desejo de matar. — ela numerou cada um na mão enquanto gritava. — Acredita que ele me fez ficar lá até agora, monitorando o manga larga novo que ele comprou, sendo que qualquer um poderia ter feito isso. A porra do cavalo não tinha nada!

 — Mas ele queria a melhor pessoa lá, para o caso de algo acontecer...

 — Não venha defender ele! — ela interrompeu meu deboche e não teve como não rir, mas a porta abriu me chamando a atenção.

 — Vocês estão querendo acordar a vizinhança toda? Porque acabaram de me acordar com essa gritaria.

 Alicia estava parada na porta, com a cara amassada de sono, ela usava uma calça de moletom e uma blusa por cima, ainda sim não conseguia parar de encará-la e pensar nas coisas mais erradas possíveis.

 — A vizinhança já está acostumada com a bagunça quando ele chega, aquela moto barulhenta não deixa ninguém em paz.

 — Mas bem que você gostou de montar nela. — falei com um sorriso sacana, mesmo que estivesse falando com Julia, meus olhos continuaram focados em sua amiga.

 Vi o exato momento que Alicia desviou o olhar para onde a moto estava estacionada e suspirou, então olhou para mim e revirou os olhos entrando de uma vez e me presenteando com a visão de sua bunda, marcada no moletom.

 — Tem um pouco de baba na sua barba. — Julia provocou vendo que eu ainda olhava para onde a amiga tinha seguido. — Já vi que vou ter que te comprar um babador.

  Me limitei a erguer o dedo do meio para ela e entrar em casa, afinal não conseguiria negar, a mulher era feita para mexer com a cabeça de um homem.

 Tomei um longo banho antes de jantar, quando subi para o quarto torcia para que a noite fosse longa e que meus fantasmas me dessem uma folga. Era exaustivo fugir deles, não só durante o dia, como a noite também. Mas eu sabia que fugir era melhor do que encarar, já tinha feito isso uma vez e o lugar escuro e triste que fui parar não quero voltar nunca mais.

 Nem ao menos acendi as luzes, apenas me arrastei em direção as janelas, para fechá-las e poder deitar de vez, mas a imagem que eu vi me paralisou.

 Na janela do andar superior da casa de Julia, eu vi a sombra de uma mulher através da cortina, as luzes acesas lá me davam o vislumbre de tudo, aquele não era o quarto da minha vizinha e a silhueta da mulher com corpão não deixava duvidas sobre quem era.

 Alice arrancou a blusa por cima da cabeça e os seios balançaram com o movimento, a imagem dos mamilos empinados me fizeram salivar, mesmo que só pelo contorno, e eu me debrucei no parapeito querendo ver mais. Ela se abaixou, descendo a calça e eu fiquei duro com a sombra perfeita desenhando seu corpo curvilíneo.

 — Porra! — resmunguei quando ela se debruçou pegando a calça no chão e deixando os seios pendurados e o bumbum para o alto.

 Não consegui evitar de fantasiar em tomá-la por trás naquela posição. Julia estava certa, eu ia precisar de um babador se aquela seria minha nova visão de todas as noites.  

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