Olivia
O dia está bastante entediante, mas, como não quero preocupar o meu pai, não saio de casa. Eventualmente, a noite chega e eu durmo.
— Querida, acorde.
Sobressaltada, abro os meus olhos e vejo meu pai sentado na minha cama enquanto tenta me acordar.
— Pai? Que horas são?
— São 2:40, querida. Temos que ir. Já colocamos as malas no carro. Vista-se e desça.
Ele se levanta e me deixa sozinha para me trocar. Estou confusa. Por que estamos levantando no meio da madrugada para sair? Mesmo assim, eu levanto e visto uma calça de moletom e o casaco com capuz, pois quero me sentir confortável durante a viagem. Consigo sentir como Skye está ansiosa e nervosa, e isso me deixa nervosa também, porque nunca senti essas emoções vindo dela.
Descendo as escadas, noto que o Matt está colocando algumas armas em uma bolsa. E, como lobos, nunca usamos armas de verdade. Somos uma arma. Isso só aumenta a minha frustração e nervosismo quando vejo o meu irmão fazendo isso.
— Armas? — Pergunto.
— Quero garantir nossa segurança. — Ele olha para mim enquanto tenta esboçar um sorriso forçado. — O papai já está no carro. Vamos.
Saímos e vimos o nosso pai dentro do veículo com as luzes apagadas. Logo, Matt entra e senta-se no banco do passageiro e me acomodo no banco de trás. O papai dirige lentamente para longe da casa, e tenho a sensação de que nunca mais a verei. Quando chegamos à fronteira do nosso território, dois patrulheiros aparecem, com uma figura alta que, a princípio, não conseguimos ver quem é. Ao nos aproximarmos, vejo que é Carter e, então, o papai abaixa um pouco a janela.
— Sr. Moore. Que bom vê-lo chegando aqui sem ser detectado! — Carter cumprimenta o pai, que acena com a cabeça.
— Obrigado, Alfa. Por tudo. — O meu pai agradece.
— Ainda não sou Alfa, então apenas Carter. Desejo a vocês uma boa viagem e um futuro seguro.
— Obrigado, Carter. Você é um bom homem.
Eles apertam as mãos, e então o pai volta a dirigir. Logo, saímos do território e ele liga os faróis do carro ao chegarmos na estrada principal.
Quatro horas depois de deixarmos o território, o meu pai faz uma parada em um posto de gasolina para abastecer. Quando termina, ele volta para o carro e vira-se para me olhar.
— Querida, vou pedir que faça algo muito difícil, e isso fará com que se sinta fraca por um tempo, até chegarmos à Alcateia da Lua de Sangue. — Diz ele, me olhando.
— O que devo fazer, pai? — Pergunto.
— Precisamos renunciar ao nosso lugar como membros da Alcateia da Floresta Negra. Mas será apenas até chegarmos à Alcateia da Lua de Sangue, então o Alfa deles nos convidará para entrar.
— Mas por quê? Não é preciso fazer isso só para visitar outra alcateia. — Retruco. Algo está errado, e saberei o que é.
— Precisamos sair da Floresta Negra. O Alfa não está em seu juízo perfeito. E ele está interessado em você. — Senti repulsa no momento em que meu pai contou.
— Mas ele é tão velho! Como ele pode achar que eu gostaria disso? — Pergunto.
— Ele não se importa com isso, Liv. — Diz Matt, usando meu apelido.
— Os seus avós maternos conversaram com o Alfa deles, e ele nos ofereceu um lugar lá. Ele é um Alfa jovem, mas muito, muito forte. Todos estaremos seguros lá, inclusive você, querida. — O meu pai explica.
— Ok, pai.
— Conversaremos mais quando chegarmos lá, certo? — O meu pai indaga e eu apenas concordo com a cabeça.
Então, todos renunciamos ao nosso lugar na Alcateia da Floresta Negra. Primeiro o pai, depois Matt e, por último, eu.
— Eu, Olivia Moore, filha de Klaus e Nora Moore, renuncio ao meu lugar como membro da Alcateia da Floresta Negra e escolho me tornar uma loba sem alcateia.
Sinto muita dor quando o vínculo com a alcateia se rompe. Por um momento, solto um gemido de dor.
— Sei que está doendo, querida, mas é melhor assim. — Diz meu pai para me confortar, e eu assinto.
Depois que tudo termina, o pai volta a dirigir. Então, o toque de um telefone quebra o silêncio. Matt olha para o celular do pai.
— É o Alfa Colton. — O meu irmão avisa.
O pai deixa tocar até cair na caixa postal, então o próprio telefone de Matt começa a tocar. Quando ele não atende, o meu também começa a tocar, anunciando uma chamada de um número desconhecido.
— Não atenda. Salvem suas fotos e qualquer outra coisa importante na nuvem, depois desliguem os celulares e joguem todos os aparelhos pela janela para não poderem nos rastrear. — O meu pai ordena.
Fazemos exatamente o que ele manda.
— Mas ele não sabe para onde estamos indo? — Questiono, enquanto jogo meu telefone pela janela.
— Não completamente. Falei para ele que estávamos visitando alguns parentes da sua mãe. E ele sabe que ela tem duas irmãs que se mudaram para outras alcateias quando encontraram seus companheiros. Então, pode ser qualquer lugar. — O meu pai menciona
Ao assentir, eu me dei conta de que muito planejamento foi necessário para isso.
Sei que não é exagero. Sempre percebi como o Alfa Colton me observava, e isso sempre me deixava desconfortável.
Depois de mais três horas de viagem e uma parada para ir ao banheiro, saímos das estradas principais e entramos em uma área com a floresta mais incrível que já vi. No horizonte, avistei as imensas montanhas que se erguiam ao longe e uma cachoeira. Ninguém diz nada por um bom tempo, e eu apenas olho pela janela, abaixando-a para sentir o ar fresco. Prendo a respiração quando vejo algo enorme se mover rapidamente entre as árvores, e o cheiro de pinho e caramelo atinge meu nariz, mas, antes que visse direito, já tinha desaparecido.
Em algum momento, o meu pai estacionou o carro no meio do nada, e, no instante em que vou perguntar sobre o motivo de termos parado, vejo quatro homens grandes saindo da estrada. Dois são claramente guerreiros, mas os outros dois são ainda maiores, sendo um deles bem mais alto do que o outro.
Os dois guerreiros permanecem onde estão, mas o menor começa a caminhar em direção ao nosso carro. O pai nos olha e nos diz para ficar no carro, depois sai. Eles apertam as mãos quando se encontram na frente do carro. Conversam um pouco, e o pai caminha com ele para encontrar o outro homem. Tento observá-lo bem, mas parece que ele evita olhar para nós. Logo, o pai volta ao carro e sorri ao entrar.
— Aqueles eram o Beta e o Alfa. Eles estavam correndo quando sentiram a nossa presença. Vamos seguir o Beta, enquanto o Alfa retorna à alcateia para nos esperar. — Papai avisa.
— Ele é um lobo enorme, não é? — Matt comenta.
— É sim! Aliás, eu nunca senti um poder como o dele, então sejam respeitosos. — Responde o pai, ligando o carro para seguir o grande lobo cinza no qual o Beta se transformou.