Giovanna
Seus dedos se entrelaçam entre os meus cabelos, os puxa com veemência e faz a minha cabeça se inclinar para trás e consequentemente fico empinada para receber mais das suas investidas. Uma sucessão de movimentos fortes e bruscos se iniciam e eu não seguro os sons desconexos de um prazer doloroso. Uma onda quente se levanta, transformando-se em uma parede gigante que cai sobre mim e eu penso que irei me afogar nessas águas profundas. Andreas ergue uma perna minha, encontrando uma maneira de aprofundar-se ainda mais e de chegar no meu ponto G. Gritos de puro prazer escapam da minha garganta, enquanto ele urra feito um animal louco e feroz, enlouquecido e irracional. E depois disso, vem a calmaria e a exaustão.
***
Na manhã seguinte...
Os sons de batidas na porta do quarto me fazem abrir uma brecha preguiçosa de olhos pesados e cansados, e mesmo com a minha visão um pouco turva, faço uma varredura pelo cômodo. De repente me dou conta de que este não é o meu quarto e muito menos a minha cama. Logo algumas cenas ardentes de uma noite inteira de sexo selvagem invadem a minha mente como uma onda de flashes de pura luxúria. Seus toques urgentes e possessivos, os risos sacanas abafados, palavras sujas sussurradas ao pé do ouvido.
Viro o rosto para o lado e percebo que o dia já está claro e solto um grunhido de desagrado quando as batidas na porta persistem. Portanto, me viro na cama e percebo que estou sozinha. Atordoada, me sento no colchão e olho ao meu redor, soltando uma respiração consternada. Depois, me arrasto para fora da cama e ponho o meu vestido que está largado pelo chão, mas a minha calcinha não está em nenhum lugar. Bufo e vou abrir a porta.
— Bom dia, Senhorita! — Lanço um olhar confuso para um rapaz usando um uniforme vermelho-vinho em pé na minha frente.
— Ah... é... bom dia!
— Eu trouxe o seu café da manhã como o Senhor Castellini pediu.
— Senhor... Castellini?
Ele não me responde, apenas larga um carrinho prateado abarrotado de comida bem no centro do quarto e sai em seguida. Com um suspiro alto, fecho a porta e olho ao meu redor, percebendo um pequeno envelope largado em cima de um criado mudo. Curiosa, aproximo-me para pegá-lo.
"Sei que estava esperando um trisal espetacular. De verdade, eu adoraria dividi-la, mas você precisa saber que não costumo dividir a comida que está no meu prato. A propósito, a noite foi fabulosa e acredito que essa quantia deva pagar pelo seu tempo precioso."
— Mas que filho da puta! — xingo irritada quando vejo algumas notas grandes dentro do envelope e fervendo de raiva, me sento na cama, pego o meu celular e jogo uma pesquisa no G****e:
"Andreas Castellini, médico renomado. Atualmente é o CEO na clínica Centro Médico Silvia Castellini.
Digito o nome Clínica Silvia Castellini e descubro que é um nome em homenagem a sua falecida esposa.
— Mas o que é isso? — questiono interessada, dando atenção para um anúncio em especial e mordo meu lábio inferior. — Ok! — sibilo, abrindo a minha caixa de e-mail e envio o meu currículo para a única vaga disponível para clínico geral na clínica. Contudo, hesito na hora de enviar.
Fecho os meus olhos e respiro fundo.
Vamos lá, Giovanna, você precisa estar por perto para encontrar uma maneira de fazer justiça.
Clico em enviar.
***
Algumas horas depois...
— Olha só você, amiga! — Alba cantarola animada demais assim que adentro o nosso apartamento. — Você precisa me contar quem era aquele gostoso com aquela barba estilo lenhador da noite passada.
É apenas um imbecil escroto que precisa aprender uma lição de bons modos. Resmungo mentalmente.
— Me diz que ele tem uma pegada forte e que ele te fez gozar a noite inteira?
Você não faz ideia! Volto a resmungar.
— E aquela barba, menina! Ela é macia? É cheirosa? Gio, fala alguma coisa...
Fecho a porta na sua cara e ávida, me livro da minha roupa para ir tomar um banho demorado. Debaixo do chuveiro, consigo sentir o seu aperto febril em minhas carnes. O seu corpo ardente e suado colado no meu. E droga, até consigo escutar os seus urros, e sussurros estrangulados. O meu corpo inteiro reage a essas lembranças e mordo meu lábio para reprimir um gemido.
— Merda, Gio! — retruco contrariada comigo mesma. Portanto, saio do banho e começo a me secar. E em pouco mais de meia hora estou arrumada, maquiada e preparada para fazer a segunda maior loucura da minha vida.
— Para onde você vai? — Alba questiona, olhando-me de alto a baixo.
— Eu vou até o hospital — ralho colocando o meu celular e carteira dentro da minha bolsa.
— Mas você não está de folga hoje?
— Estou. — Ergo os meus olhos e encontro o seu olhar interrogativo. — Eu preciso conversar com Diego.
— Com o chefinho? O que você tem para falar com ele em plena folga, Giovanna? — Aproximo-me da minha amiga e beijo a sua bochecha rapidamente.
— Depois eu te conto tudo. Eu preciso ir. Beijo! — Não lhe dou a menor chance de revisar com outro questionamento e saio do apartamento rapidamente.
Entrar no Ospedale San Fiore minutos depois e ver alguns rostos conhecidos me deixa com o pé atrás em minha decisão. Contudo, saber que os assassinos do meu irmão podem sair impunes é revoltante e se tornou algo maior do que o meu próprio futuro. Talvez até maior do que eu. Em cinco anos trabalhando e estudando nesse lugar, me fez criar laços difíceis de deixar para trás. Entretanto, eu preciso fazer justiça pela única pessoa que fez tudo por mim nessa vida e nesse momento nada mais me importa. Nem mesmo a equipe que Diego Marino me prometeu para uma carreira promissora como cirurgiã cardiovascular.
— Giovanna? — A voz cheia de surpresa do meu chefe me desperta. — O que você está fazendo aqui?
— Eu preciso falar com você.
Vou direto ao ponto. Seus olhos me avaliam por alguns segundos, mas em resposta ele meneia a cabeça fazendo um sim para mim.
— Venha para a minha sala, Giovanna.
Como dizer para o meu chefe e melhor amigo que preciso ser demitida, porque preciso ir trabalhar em uma clínica particular – coisa que ele bem sabe; eu odeio. Diego assim como Alba sabem do meu amor pelo meu trabalho, de cuidar dos necessitados e não da burguesia. E agora eu preciso da sua carta de recomendação sem ter que lhe dar muitas explicações.
— Você tem certeza de que quer fazer isso? — Ele inquire ainda sem acreditar. — Giovana, você está a um passo de ser promovida, garota. Está perto de terminar o seu curso e eu até já falei sobre o desempenho com a equipe de sócios do hospital.
— Eu sei e sinto muito, Diego. É que... eu realmente preciso fazer isso.
— Você precisa? Mas, por quê? — Reviro os olhos para o seu questionamento. — Ok, já entendi, sem detalhes. — Ele bufa. — É uma pena que esteja me pedindo isso, Gio. Você e a Sienna são as melhores médicas que temos aqui. Vamos ficar desfalcados sem você aqui.
— Eu... realmente sinto muito!
— Tudo bem, eu vou redigir a melhor carta de recomendação que qualquer profissional na sua área já recebeu. Eu duvido que você não seja aceita nessa clínica. — Sorrio.
— Obrigada, Diego!
— Só um conselho. Procure por Madalena Campare, ela com certeza aprovará a sua admissão na clínica. — Sorrio outra vez. — Bom, só me resta te desejar boa sorte, Gio.
Sorte. É, eu vou precisar dela também.