SAVANNAHChegou o dia do funeral de Raul, o pai de Willow. O ambiente é pesado, carregado de tristeza e silêncio. Familiares, amigos e vizinhos juntam-se no cemitério, todos de olhar baixo, cada um a tentar encontrar palavras para consolar Suze e a pequena Willow. O céu está nublado, como se até o tempo respeitasse o luto.Observo Willow, tão triste e cabisbaixa ao lado da mãe. De mão dada com Suze, caminha como se fosse uma adulta, o rosto sério, os olhos inchados de tanto chorar. O meu coração aperta-se ao ver aquela menina a enfrentar uma dor tão grande.No final da cerimónia, aproximo-me delas. Willow olha para mim, os olhos vermelhos, e sem dizer nada, atira-se para os meus braços. Abraço-a com força, tentando transmitir-lhe algum conforto. Suze agradece em voz baixa:– Obrigada por terem vindo. Por tudo.– Não há nada que agradecer, Suze. Estamos aqui para o que precisares.Não há muito a dizer nestes momentos. Então, tiro uma pequena caixa azul de veludo do bolso e estendo-a a
RYDERQuinta-feira chega com um gosto amargo. Depois da morte de Raul, o marido da Suze, sinto que o rancho inteiro ficou mais pesado. Acordo cedo, como sempre, e deixo Savannah dormir. Vejo-a cada vez mais esgotada, mais calada, mais distante. Não quero pressioná-la. Sei que, quando estiver pronta, vai desabafar comigo. Por agora, dou-lhe espaço.Faço as minhas tarefas no rancho, o sol já não queima como antes – Outubro está à porta. Bear acompanha-me, sempre fiel, a correr atrás de mim entre os currais e os campos. Tento concentrar-me no trabalho, mas a cabeça não para.Quando chega a hora do almoço, dirijo-me à casa principal, já a imaginar o cheiro da comida quente da minha mãe. Hoje, sei que ela, Savannah, Harper e a minha avó Beth vão até ao brechó da Lucille para ver vestidos para a Gala Beneficente. Por isso, demos o dia à Savannah.Entro assobiando uma música, de bom humor, e digo alegremente:– Boa tarde!Lavo as mãos e, quando me viro para me sentar, noto que todos estão co
SAVANNAHOs dias passam depois daquela confusão e continuo a dormir na casa principal. Todos, no dia seguinte, disseram o quanto estavam preocupados comigo. Peço desculpa, admito que talvez tenha sido um movimento demasiado dramático da minha parte desaparecer assim, sem avisar ninguém e só deixar um bilhete misterioso para trás. O telemóvel esqueci-me, só reparei quando já lá estava.Eu e o Ryder ignoramo-nos. No dia seguinte, ele tentou falar comigo, mas acabou em discussão.- Só queria perceber porque não me disseste nada, Savannah. - O tom dele era tenso, mas mais magoado do que zangado.- Porque não confias em mim! - rebato, já com a voz a tremer. - Sempre que te conto algo importante, acabas por duvidar de mim, por me magoar.- Não é verdade! - Ele ergue a voz. - Só fiquei assustado! Não sabia onde estavas, não atendias o telefone, pensei que te tinha acontecido alguma coisa!- E por isso achaste que eu estava com outro homem? - atiro, ferida. - És ridículo, Ryder. Não quero fal
RYDERDesde que eu e a Savannah fizemos as pazes, sinto-me outro homem. Mais leve, mais inteiro. É como se tudo voltasse a encaixar-se, como se o rancho, o trabalho e até o ar tivessem outro sabor.Hoje está um daqueles dias bonitos, céu limpo, sol ameno, e as mulheres pediram-me para as levar até Creekville. Têm o encontro marcado no brechó da Lucille para escolherem os vestidos para a Gala Beneficente.No carro, o ambiente é animado. Elas vão mostrando as fotos impressas dos modelos de vestidos que querem experimentar. Tento espreitar para ver qual foi o que a Savannah escolheu, mas ela afasta logo a foto da minha vista.– Nem penses, Sawyer. É surpresa. Não vais ver antes do tempo.– Só quero garantir que não vais escolher um vestido que te esconda – digo, a sorrir, já a imaginar Savannah num vestido justo, a realçar cada curva. Só de pensar nisso, fico logo meio louco.Ela ri-se, mas não cede. Quando estaciono em frente ao brechó, todas se despedem de mim, agradecendo. Savannah fi
SAVANNAHFinalmente chega o tão esperado dia da gala beneficente. Acordo cedo, o coração a bater mais depressa do que o normal. A casa principal está cheia de movimento – eu, Harper, Rose, Beth, Suze e Willow reunimo-nos para tomar o pequeno-almoço juntas. Os homens levantaram-se mais cedo que o normal, para as tarefas do rancho. Depois mais tarde, irão ver o local do evento para ajudarem com os últimos detalhes. O ambiente é de nervosismo e excitação, cada uma a falar das expectativas para a noite. Convidei Suze e Willow para se juntarem a nós, e fico feliz por as ver incluídas nesta manhã especial.– Vai ser como uma princesa, mamã! – diz Willow, de olhos brilhantes, quando lhe conto que vai ter direito a cabelo, manicure, pedicure e maquilhagem como nós. Suze sorri, emocionada, e agradece-me baixinho.– Não tens de agradecer, Suze. Hoje é para nos sentirmos todas especiais.Depois do pequeno-almoço, seguimos juntas até ao salão de Creekville. O salão está animado, cheio de mulheres
Narrado por Ryder SawyerEu nunca gostei muito de igrejas.Não que eu não acreditasse em Deus. Eu acreditava. Minha mãe sempre dizia que a fé era o que segurava um homem de pé quando tudo o mais falhava. E eu entendia isso. Mas igrejas me davam uma sensação estranha. Um silêncio pesado demais, como se o mundo estivesse esperando alguma coisa de mim.Mas naquele dia, eu estava ali.De terno preto, a barba recém-aparada, o nó da gravata apertando minha garganta. Com as mãos fechadas, os dedos roçando no tecido grosso das calças. Esperando.A capela era pequena, feita de madeira rústica, com vigas expostas no teto e janelas que deixavam a luz quente da tarde entrar. Rosas brancas e girassóis decoravam o altar, entrelaçados com fitas creme que minha mãe insistiu que ficariam bonitas. O cheiro de lavanda e madeira polida enchia o ar.Mas nada disso importava.O que importava era que ela ainda não tinha chegado.Passei os olhos pela capela, tentando me distrair. Tentando encontrar algum ros
Narrado por Savannah Wilder O horizonte se estendia como uma promessa distante. A estrada cortava os campos secos, esticando-se até onde meus olhos podiam alcançar. O céu estava tingido de laranja e rosa, o sol afundando lentamente no horizonte. E eu dirigia sem olhar para trás. O rádio tocava baixinho, mas eu escutava cada palavra. "Ain't no love in Oklahoma..." Luke Combs sempre soube colocar em palavras o que estava entalado no meu peito. "I keep runnin' but I'm standin' still Pray for peace but I need the thrill" Apertei os dedos no volante, sentindo o nó na garganta crescer.Porque era verdade. Não havia mais amor para mim em Oklahoma. Não depois que minha mãe se foi. Engoli seco e olhei para o banco do passageiro. A única coisa que me restava dela estava ali: uma velha caixa de sapatos cheia de fotografias amareladas e um colar que ela usava todos os dias. Agarrei o pingente entre os dedos, sentindo o frio do metal. — Eu tô tentando, mãe... — sussurrei, s
A IntrusaRyderO gosto amargo do uísque ainda impregnava minha boca quando acordei. A dor latejava no meu crânio como um maldito martelo, lembrança da garrafa de Jack Daniel's que eu havia esvaziado na noite anterior. Ressaca e cansaço eram velhos conhecidos, tão familiares quanto o ar que eu respirava.Me arrastei para fora da cama, os músculos protestando a cada movimento. O quarto estava escuro e abafado, cheirando a uísque e solidão. Passei as mãos pelo rosto áspero, tentando afastar a exaustão. Vesti um jeans surrado e uma camiseta preta antes de calçar as botas gastas.O rancho me esperava, como sempre.Desci as escadas do estábulo, o cheiro de feno, couro e terra úmida invadindo meus sentidos. O sol já estava alto demais no céu. Eu estava atrasado, e isso me irritava profundamente. Detestava falhar, mesmo que fosse apenas comigo mesmo.Foi ao virar o corredor para o piso inferior do estábulo que meu dia tomou um rumo inesperado.Lá estava ela. Uma completa estranha.De costas