— Acorde, Srta. Banks. — Uma voz suave disse, e o tom dela me envolveu como um carinhoso afago, fazendo-me sentir, pela primeira vez em muito tempo, segura, e isso era algo do qual eu não queria acordar tão cedo. Abaixei o rosto, me aninhando contra o calor que aquecia minha bochecha. Um cheiro doce, amanteigado e amadeirado invadiu minhas narinas, e eu soltei um suspiro de aprovação, encantada com a fragrância. No entanto, um resmungo de desaprovação interrompeu meu contentamento, antes de eu ser jogada de forma abrupta de costas. A queda foi suave, mas ainda assim desagradável.
— Mas que diabos! — Soltei um xingamento ao me levantar bruscamente, ainda tentando entender o que estava acontecendo ao meu redor. Estava deitada em um sofá, em uma sala mal iluminada. De repente, uma luz intensa invadiu o ambiente, fazendo meus olhos se estreitarem. Virei o rosto na direção da claridade, lutando contra o impulso quase animal de rosnar para ela como uma vampira recém-desperta. Uma grande figura se destacava contra a luz intensa que entrava pela janela panorâmica, manipulando as cortinas que acabara de abrir. Logo reconheci quem era: o detetive presunçoso, o Sr. Collins. No instante em que o vi, tudo voltou com força brutal. Os acontecimentos do dia anterior me atingiram como uma onda furiosa, trazendo consigo uma mistura sufocante de raiva, medo e confusão.
— O que você fez comigo? Como chegamos aqui? — Perguntei, gesticulando para o ambiente e me levantando de uma vez.
— Não tenho tempo para te mimar, então vou te dar a versão resumida. — Ele começou, enquanto desabotoava a jaqueta e a pendurava no encosto de uma cadeira de couro. — Meu nome é Deacon Collins, sou o diretor do Instituto Grey e você é a mais nova aluna daqui. Diga-me, o que sabe sobre sua linhagem? — Ele perguntou. Meus olhos ficaram fixos em suas mãos enquanto ele desabotoava os punhos da camisa e arregaçava as mangas, revelando antebraços impressionantes. No entanto, um pigarro discreto me arrancou do transe em que eu estava mergulhada.
— Ah... — Comecei, corando por ser pega olhando. — Desculpe, estou um pouco perdida aqui, não me sentindo muito bem… — Suspirei profundamente e me deixei cair novamente no sofá, enquanto minha mente girava, tentando processar tudo o que estava acontecendo.
— Dada a sua situação, vou assumir que você não sabe de nada. Aqui, no Instituto Grey, nossos alunos são... Especiais. — Ele continuou.
— Espera, especiais? — Interrompi. — Acho que há um engano. Eu não sou especial... Passei em todos os exames, mas não tenho nada de diferente.
— Se você me deixar terminar, Srta. Banks…
— Josie. — Corrigi, não gostando de como ele usava "Srta. Banks", como se fosse uma forma de me diminuir.
— Srta. Banks. — Ele repetiu. — Se você me deixar falar por dois minutos sem me interromper, eu explico tudo e, depois disso, você pode ir embora. Nossa instituição foi criada para os chamados Greys - uma raça de super-humanos. Embora sejamos muito mais poderosos que os humanos comuns, também somos poucos, e por isso fundamos nosso próprio reino dentro do mundo humano. Isso nos permite viver em paz. De alguma forma, você escapou da nossa rede e cresceu entre os humanos. Ainda não sei como isso aconteceu, mas vou iniciar uma investigação para descobrir. Por ora, o importante é que você está aqui - e está segura. Sei que é muita coisa para processar de uma só vez, então não vou te sobrecarregar hoje. Minha assistente vai te designar a um dormitório e te parear com um dos nossos alunos mais intelectuais para acompanhá-la em estudos extras fora das aulas regulares. Também vou agendar sessões com nossos tutores. Alguma dúvida? — Ele disse, sem nem sequer sorrir.
— Ah, você é bom. — Ri. — Sou apaixonada por esse tipo de programa! Costumava assistir isso o tempo todo. — Falei, entre risos. Levantei e comecei a explorar o ambiente, procurando por câmeras escondidas. Não podia acreditar que estava participando de um programa de pegadinhas! Fiquei me perguntando quem teria me indicado... Só poderia ter sido a Freya, minha melhor amiga da faculdade. — Foi a Freya que te mandou fazer isso? — Perguntei, rindo.
— Srta. Banks! — O ator que fazia o papel de Collins gritou, batendo a mão na mesa, o que me fez rir ainda mais. Me aproximei dele e comecei a examinar os botões da camisa, procurando por alguma câmera escondida. Então, vasculhava a camisa dele com a ponta dos dedos, procurando por fios ocultos. Num piscar de olhos, ele prendeu meus pulsos, fazendo-me ofegar de surpresa ao apertá-los com força, interrompendo minha exploração. Olhei para ele, e seus olhos estavam fixos nos meus, intensos.
— O que diabos você está fazendo? — Perguntou, quase como um rosnado.
— Procurando seu microfone? — Engoli em seco.
— Não tenho microfone, isso não é uma pegadinha. Você é nova aqui e tem muito a processar, então, desta vez, vou te dar um desconto. Mas, se você tocar em mim novamente, haverá punições. Você entendeu? — Ele avisou com uma voz baixa e ameaçadora, e o som da sua respiração pesada me fez morder a língua - a vontade de provocá-lo sobre o tipo de punição que ele tinha em mente era quase irresistível. Mas então, como se pudesse ler meus pensamentos, seus olhos brilharam em um azul intenso. Naquele instante, me lembrei de como haviam brilhado antes... Quando ele me ordenou que dormisse. Uma ordem à qual meu corpo simplesmente não conseguiu resistir. O pânico começou a se espalhar dentro de mim, apertando meu peito com força sufocante. Ele estava dizendo a verdade... Não estava?
— Você me fez dormir. — Disse, com a respiração trêmula. Ele assentiu em resposta. — O que mais você pode me obrigar a fazer? — A pergunta escapou dos meus lábios, alimentada pelo medo de me ver tão exposta ali, diante dele.
— Qualquer coisa. — Ele sussurrou, emitindo uma voz rouca. Podia jurar que seu rosto havia se aproximado ainda mais do meu, e, por algum motivo que eu não compreendia totalmente, sua resposta não me causou medo como deveria - ao contrário, despertou em mim uma excitação inesperada. Mas antes que eu pudesse entender o turbilhão de sensações que me invadia, uma porta se escancarou, rompendo o transe que ele havia lançado sobre mim. Imediatamente, ele soltou meus pulsos e recuou um passo, como se, de repente, eu tivesse se tornado repulsiva. Virei-me depressa, procurando com os olhos a pessoa responsável por interromper aquele momento.