Xenois
O ar noturno está um pouco frio enquanto dirijo para casa, um pequeno presente embrulhado no banco do passageiro ao meu lado.
É tarde — quase meia-noite — mas finalmente cumpri minhas obrigações no hospital e na festa do Riley.
Agora, posso finalmente ir para casa e ver Ollie. Vou me desculpar por ter perdido sua festa de aniversário, dar para ele o boneco de ação que comprei, e prometer levá-lo pescar neste fim de semana.
Luna vai ficar brava, mas vai superar. Ela sempre supera quando se trata disso. Pelo bem do nosso filho.
Verifiquei meu telefone e fiquei um pouco confuso ao não ver mensagens novas da Luna.
Meu telefone tem estado estranhamente silencioso por horas. Normalmente, Luna teria ligado ou mandado mensagem várias vezes até agora, me fazendo saber exatamente o quanto decepcionei ela e Ollie.
Talvez ela esteja finalmente aceitando que como Alfa, tenho responsabilidades que vão além da nossa família imediata e não posso sempre estar lá para cuidar deles não importa o quanto ela queira que eu esteja.
A casa da matilha está escura quando chego, o que é estranho. Normalmente, Luna deixa luzes acesas para mim. Dei de ombros pensando que ela esqueceu depois de colocar Ollie na cama e ir dormir cedo. Provavelmente vou compensar amanhã com alguma coisa. Tirar um dia de folga e passar com eles.
Ollie concordaria e me perdoaria e Luna definitivamente entenderia também.
Entrei silenciosamente, colocando minhas chaves e o pequeno presente na mesa enquanto olhei ao redor e notei que todas as luzes dentro estavam apagadas e não havia som de nada sendo feito ou movido.
Há algum tipo de peso no ar, como se algo estivesse errado que meu lobo imediatamente sente, mas não consigo identificar exatamente. A conexão entre minha companheira e eu estava surda e eu não conseguia obter uma leitura dela, mas novamente havia sido silenciada por muito tempo dos dois lados enquanto a fechávamos para evitar distrações.
— Luna? — grito, acendendo luzes enquanto me movo pela casa, ficando mais agitado enquanto procurava em todos os lugares por qualquer sinal deles. — Ollie?
Sem resposta. Ninguém respondeu de volta.
Verifiquei o quarto do Ollie primeiro — vazio, a cama ainda estava arrumada e não parecia que ele tinha dormido nela esta manhã.
Também verifiquei o escritório da Luna que também estava vazio. Verifiquei os jardins e estavam quietos também.
Franzindo a testa finalmente, empurrei a porta do nosso quarto e a encontrei sentada na beirada da nossa cama, ainda usando as roupas que tinha pela manhã.
Seu rosto estava vazio, olhos vagos enquanto parecia estar olhando para nada em particular e suas mãos estavam moles no colo.
— Onde está Ollie? — pergunto, sentindo medo subir pela minha espinha.
Ela não se move, não pisca ou registra que alguém está falando com ela.
Apenas olha direto para frente como se eu não estivesse lá.
— Luna — digo mais forçadamente, meu tom de Alfa escapando enquanto entrei completamente no quarto. — Onde está nosso filho?
Finalmente, ela olha para mim, e o vazio nos seus olhos me faz dar um passo para trás em choque porque nunca tinha visto esse olhar nos olhos dela.
Está cheio de veneno, ódio e repulsa apenas fixados em mim. Ela me encarou como se eu fosse lixo aos olhos dela.
Abri minha boca para jorrar desculpas, tentando dar desculpas para ela sobre por que não voltei cedo quando ela me interrompeu.
— Ele se foi — sussurrou, sua voz tão baixa que mal consegui ouvir.
— Se foi? O que quer dizer, se foi? Para onde você o levou? — Meu medo se transformou em raiva enquanto pensei em diferentes cenários.
Ela me deixou? Levou meu herdeiro e se escondeu em algum lugar? Era algum tipo de brincadeira tentando tirar meu filho de mim porque perdi uma festa de aniversário boba?
— PARA ONDE DIABOS VOCÊ O LEVOU? TRAGA-O DE VOLTA AGORA — gritei enquanto ela me olhou calmamente. Não se incomodando com meu tom enquanto respondeu.
— Ele está morto, Xenois.
As palavras me atingiram como um golpe físico, expulsando o ar dos meus pulmões enquanto cambaleei para trás.
Procurei em seus olhos esperando que fosse algum tipo de piada, mas uma parte de mim sabia que era verdade. Ela não mentiria sobre isso, mas eu estava preso na negação.
— O quê? Isso é impossível. Ele estava bem esta manhã — disse balançando a cabeça tentando me agarrar a alguma coisa.
— Esta manhã — Luna repete, sua voz oca enquanto riu. Sua risada parecia me assombrar enquanto parou e me encarou.
Seus punhos estavam cerrados dos lados enquanto me olhava.
— Quando foi a última vez que realmente o viu? Quando foi a última vez que passou mais de cinco minutos com seu filho?
Cambaleei novamente, minha mente correndo, tentando me lembrar.
Semana passada? Duas semanas atrás? — O que aconteceu? — exigi, minha voz quebrando.
— Nós te vimos — disse, se levantando lentamente da cama. — Na cidade. Na tela grande. Celebrando o aniversário do Riley no aniversário do Ollie.
— Houve um acidente. Fui atingida por um carro, mas o empurrei para fora do caminho. Depois ele desmaiou ali mesmo na praça. Seu coração parou na ambulância.
— Não — balanço a cabeça me recusando a acreditar nisso.
— Não, isso não pode estar certo. Onde ele está? Para onde o levaram? — Já estava me virando, pronto para rasgar a cidade inteira para encontrar meu filho.
— No necrotério — Luna disse, e a palavra me parou completamente. — Enquanto você estava celebrando o aniversário do Riley com sua outra família, eu estava identificando o corpo do nosso filho.
Meus joelhos cederam, e afundei no chão, desespero jorrando de mim.
— Por que não me ligou? Por que ninguém me contou?
— Te liguei dezessete vezes — Luna diz, sua voz se elevando pela primeira vez.
— Deixei mensagens. Mandei o Beta te procurar. Você estava inalcançável. Ocupado demais celebrando.
A acusação era dolorosa, mas verdadeira. Tinha desligado meu telefone durante a festa, não querendo interrupções da matilha e da Luna. Sabia no fundo que ela ligaria e desliguei o telefone porque senti que Riley era mais importante no momento.
Tinha ignorado a tentativa do Beta de falar comigo, assumindo que era assunto da matilha que podia esperar até o dia seguinte.
— Isso é sua culpa — sussurrei olhando para ela, desesperado para afastar a culpa esmagadora que senti nos ossos.
— Você deveria ter cuidado dele. Por que não notou que ele estava tão doente?
Luna se move mais rápido do que já a vi, sua mão estralando no meu rosto com força sobrenatural. — EU IMPLOREI PARA VOCÊ! — ela grita, sua compostura finalmente quebrando enquanto se jogou em mim me batendo, chorando enquanto continuava falando.
— Por meses, te disse que algo estava errado! Pedi para me ajudar a encontrar médicos melhores, para usar suas conexões! Mas você estava ocupado demais com Riley e Sophia para se importar que seu próprio filho estava morrendo!
Ela está certa. Deus me ajude, ela está certa.
A febre. A perda de peso. A fadiga que Luna continuava mencionando. Tinha descartado tudo, disse para ela que estava exagerando, que era apenas uma doença. Uma mera enfermidade que logo passaria. Mas não passou e a dor de me ver com outra criança deve ter causado um ataque cardíaco que ele não sobreviveu.
— Onde ele está? — pergunto, minha voz quebrando, enquanto passo uma mão pelo rosto.
— Preciso vê-lo.
— Você está atrasado demais — Luna diz, agarrando o peito de repente. — Você sempre está atrasado demais.
Ela cambaleou um pouco, seu rosto se contorcendo de dor enquanto ofegou. Alcancei ela instintivamente, a segurando quando desabou contra mim.
— Luna? O que há de errado? — comecei a entrar em pânico mais uma vez ao perceber que algo estava terrivelmente errado.
Seus batimentos cardíacos estão erráticos, sua respiração laboriosa.
— Ataque cardíaco — ela ofega, seus dedos se cravando na minha camisa. — Conexão de companheiros... quebrando.
— Não, não, não — implorei a reunindo em meus braços.
— Fique comigo, Luna. Por favor. Não posso perder vocês dois.
Seus olhos estavam nos meus e pude ver a resolução e gratidão nos olhos dela apesar da dor.
Ela estava feliz por estar morrendo, me deixando para sempre. Feliz que eu perdi tanto minha companheira quanto meu filho.
— Você nunca nos mereceu. Éramos bons demais para você. Se eu tivesse outra chance — ela sussurrou lentamente pausando para respirar.
— Eu nunca ficaria com você. Salvaria meu filho da sua indiferença. Pouparia nós dois da dor de amar alguém que nunca nos amou de volta.
— Eu te amei — insisti, lágrimas descendo pelo meu rosto. — Eu amo Ollie. Por favor, Luna.
Mas ela está se esvaindo, seu corpo ficando mais pesado em meus braços. Com seu último suspiro, ela olhou atrás de mim, talvez para onde Ollie está esperando por ela.
— Da próxima vez — prometeu, um sorriso nos lábios e lágrimas descendo livremente do lado dos seus olhos — seremos livres.
E então ela se foi, o corpo da minha companheira ficando frio em meus braços enquanto a conexão entre nós quebra completamente, deixando um vazio gritante na minha alma.
Uivo minha dor para a casa vazia, mas não há mais ninguém para ouvir.
— Por favor não faça isso comigo. Luna, por favor. Você não pode me deixar — implorei enquanto a balancei de um lado para o outro, pressionando beijos pelo seu rosto enquanto ela não responde.
Respirei fundo e reuni meu juízo.
Não, ela ainda estava dormindo. Isso tudo era uma pegadinha. Ollie sairia do esconderijo e ela acordaria.
Ou... isso era um sósia. Minha companheira estava lá fora se escondendo de mim e eu a encontraria.
Só precisava do meu telefone.
O objeto toca como se estivesse me ouvindo e atendi. É meu Beta Thorne.
— Alfa — sua voz está baixa, soando enlutada.
— Não tenho tempo para assuntos da matilha. Preciso que encontre meu filho. Luna está aqui... ou talvez um sósia e está se fingindo de morta nos meus braços e sei que não é verdade. Reúna todos os homens, tranque a cidade — disse enquanto havia um soluço do outro lado da ligação.
— Luna voltou para casa para te esperar... ela está... morta? — sua voz quebrou nisso.
— Para de brincar comigo, Thorne... ela não está morta. Encontre meu filho. Ela vai acordar quando o vir. Talvez Alfa Zade ou Alfa Elijah o sequestraram. Sim, eles sequestraram. Só preciso começar uma guerra. Eles vão trazê-lo. Reúna meus homens.
— Alfa Xenois, seu filho está no necrotério. Houve um vídeo que viralizou, uma criança morta na praça e encontramos. Procuramos as câmeras de segurança e encontramos a filmagem. Fui ao necrotério e confirmei o corpo dele. Luna estava muito abalada para dizer qualquer coisa. Disse que queria ir para casa e te esperar. Tentei ligar, mas foi atendido pela Sophia que me disse para não te incomodar que você estava colocando Riley para dormir. Ela saiu e foi para casa — disse enquanto cada palavra me quebrava ainda mais.
— Não, você está mentindo. Isso tudo é um jogo?! Seu filho da puta. Você está dormindo com minha companheira? É por isso que está dizendo tudo isso? — gritei.
— Sinto muito, Alfa — disse enquanto a ligação encerrou quando joguei o telefone no chão gritando enquanto segurei forte a Luna.
— Tá bom, você ganhou. Você ganhou. Só volte, por favor. Volte para mim. Vamos à Disneylândia com Ollie amanhã... não, hoje à noite. Eles vão abrir para mim. E... e... Vamos provar todos os tipos diferentes de algodão doce. Todas essas coisas, lembra? Fizemos elas. Sempre fizemos elas... por que parou? Por que não consigo me lembrar? Deus, o que eu acabei de fazer?
Gritei enquanto a segurei forte, seu corpo frio ao toque enquanto desabei completamente, a realização caindo sobre mim.
Tinha perdido os dois.