Eu ia dizer que queria, sim, me casar com Leonel.
Mas me lembrei das palavras do Senhor Duarte:
— Já que escolheu o Leonel, respeito sua decisão. Mas por enquanto, não conte a ninguém. Quando tudo estiver resolvido, todos vão saber.
Hesitei. Engoli as palavras.
Leonel também não disse nada. Só me olhou de leve, com um traço de decepção nos olhos.
Eu entendia o cuidado do Senhor Duarte.
Afinal, a família era grande, e todos de olho na herança.
Então, não discuti mais com Caio. Deixei que rissem à vontade.
Simplesmente me virei e fui embora.
Lorena veio no mesmo carro que eu.
Ficava balançando o pulso, exibindo a pulseira.
O brilho quase me cegava.
— Mesmo que você se case com o Caio, nunca vai ter o coração dele.
Na frente dos outros, Lorena parecia um anjo.
Mas quando ninguém via, mostrava os dentes.
Ao olhar pra ela, lembrei da cena da vida passada — peguei os dois na cama.
Ela se encolhia nos braços de Caio como um coelhinho assustado.
Ele a protegia com o corpo inteiro, como se eu fosse atacá-la.
Fiquei tão abalada que desmaiei na hora.
Depois disso, meus pais a mandaram estudar fora.
Casou-se com um ricaço que morava no exterior.
Viveu bem melhor que eu.
Nesta vida, decidi deixar ela com Caio.
Queria ver qual fim teria dessa vez.
Sorri de leve.
— É. Se não tenho o coração dele, pra que querer o corpo? Espero que você cresça logo e se case com ele. Que sejam muito felizes, pra sempre.
Ela pareceu se perder por um segundo.
Depois arqueou a sobrancelha e riu:
— Pode fingir o quanto quiser. Mas fingido ou não, o Caio só me ama.
Passado um tempo, chegou o festival de junho.
Meu pai pediu que eu levasse presentes para o Senhor Duarte.
Assim que entrei na mansão, dei de cara com Lorena, que não aparecia havia dias.
Vestia alta-costura, com joias combinando.
Parecia uma princesa.
Ao me ver, ela sorriu de leve.
— Gostou da roupa? E das joias? Foi o Caio que me deu. Eu disse que não gostava de coisa tão chamativa, mas ele insistiu. Disse que só eu merecia usar isso.
Franzi a testa, impaciente. Quis me afastar.
Mas ela se colocou de novo na minha frente.
— Irmã, só queria compartilhar minha alegria com você. Por que tá tão fria comigo? Eu sei que você tá com inveja, mas sentimentos são assim mesmo, ninguém controla.
E começou a chorar.
Estendi a mão pra afastá-la, mas ela se jogou no chão, chorando ainda mais alto.
— Irmã, por que me empurrou? Eu sou sua irmã!
Nesse momento, Caio apareceu.
— Isadora, o que você pensa que tá fazendo?! — Gritou, me olhando com raiva. — Vai bater até na própria irmã? Perdeu completamente o senso?
Olhei pra ele. Depois olhei pra Lorena. Ri, sem humor:
— Lorena, eu não esperava que, com sua tenra idade, você fosse capaz de usar meios tão desprezíveis.
Caio me deu um tapa com força.
— Não admito que fale assim da Lorena!
Meu rosto ardeu. Fiquei com vontade de revidar, mas vi os convidados ao redor.
Era o jantar da família Duarte. Não podia fazer escândalo. Engoli a raiva e encarei os dois.
No canto dos olhos, Lorena sorria.
Caio, percebendo que tinha exagerado, tentou se aproximar. Mas o braço já estava preso por Lorena.
— Ai, Caio. Acho que entrou areia no meu olho. Vê pra mim?
Convidados que passavam olhavam pra nossa direção, cochichando:
— Aquela não é a filha mais velha da família Martins? Bater na irmã pra roubar homem? Que vergonha...
Caio olhou pra mim com desprezo:
— Isadora, pede desculpa pra Lorena agora. Que azar o meu ter me envolvido com uma mulher como você.