Sorri. No fundo, quem não queria esse casamento era eu.
No dia da minha festa de aniversário, só depois que todos os mais velhos já tinham ido embora, Caio apareceu, acompanhado de Lorena, como se estivessem desfilando.
O rosto dela estava ruborizado, e no pescoço dele, marcas vermelhas gritavam o que tinham acabado de fazer.
Se fosse na vida passada, eu já teria perdido o controle. Teria chorado, gritado, exigido explicações. Um era o homem que eu amava, a outra, minha irmã. Eles nunca pensaram em mim?
Mas agora, tudo que fiz foi lançar um olhar breve e voltar à conversa com quem estava ao meu lado, sem mover um músculo.
Caio percebeu que meus olhos pararam por alguns segundos nas marcas suspeitas. Num impulso, colocou Lorena atrás de si, como se quisesse proteger ela. Mas por mais que esperasse minha reação... ela não veio.
Incomodado, forçou um sorriso e disse:
— Isadora, não tá fingindo maturidade só porque tem medo de eu desistir do casamento, né? Se for isso, até que é uma boa. Afinal, sou o futuro chefe da família Duarte. Nunca vou ter só uma mulher. Vou ter várias, lindas e devotadas. Mas hoje você se comportou direitinho. Então toma, um presente.
Enfiou a mão no bolso e tirou uma caixinha de veludo. Ia me entregar, mas Lorena foi mais rápida e arrancou da mão dele.
— Que linda! É aquela pulseira de edição limitada, né? Super difícil de encontrar!
Caio puxou de volta e disse, com um sorriso:
— Gostou? Então é sua.
Lorena fingiu recuar:
— Imagina, é o presente de aniversário da minha irmã, não posso tomar.
Enquanto falava, não tirava os olhos de mim. O orgulho transbordava do seu rosto.
— Ah, que isso, pode aceitar sem culpa. Ela gosta de qualquer coisa que eu dou mesmo. Depois eu arrumo outra coisa pra ela.
As risadinhas ao redor vieram na hora.
E foi então que as memórias voltaram, como um tapa. Uma lembrança antiga me invadiu de repente. Eu realmente já fui assim. Qualquer coisa que viesse dele, eu achava maravilhosa.
Lembrei de uma vez em que fui até a casa dos Duarte e acabei me molhando na chuva. Ele me jogou uma blusa qualquer. Eu guardei aquela blusa por anos.
Até que um dia, ele me viu cheirando o tecido, escondida.
Cuspiu na minha direção e disse:
— Que nojo. Você não tem vergonha?
Meu segredo de adolescente, exposto daquele jeito, me deixou morrendo de vergonha.
Senhor Duarte deu duas bengaladas nele:
— Que jeito é esse de falar com uma menina?
Caio deu um sorriso debochado e ficou quieto. Mas depois espalhou a história para todo mundo. Virei motivo de piada.
Pensei nisso e só senti desprezo. Virei as costas, pronta pra sair.
Caio me barrou.
— Já ficou ofendida? Já cansou de fingir? Sabia que uma mulherzinha venenosa como você não sabia disfarçar por muito tempo.
Vi a mão dele apertando meu pulso. Me soltei com força.
— Senhor Caio, seja respeitoso.
Ele ficou surpreso.
— Respeito o quê? Você não queria casar comigo? Vamos dividir a cama e vai continuar se fazendo?
— Quem disse que eu ainda quero casar com você?
O salão ficou em silêncio.
E então, vieram as risadas.
— Vai casar com quem? Me ama tanto, vai querer outro? O único que sobra é o Leonel. Aquele que quase ficou paraplégico, vive doente, dizem até que é impotente. Vai passar a vida como viúva?
Todos me encararam, esperando.
De repente, empurraram Leonel pra dentro.
Ele parecia fraco mesmo, preso à cadeira de rodas.
Mais risos. Dessa vez, cheios de malícia.