Cap 08

Trisha McNa

Chego em casa e sinto o cansaço me pegar, mas antes preciso dar uma olhada em alguns papéis então os espalho sobre a bancada da cozinha meus olhos estão atentos enquanto analiso cada um deles, desde casos concluídos até os em andamento.

Na geladeira não há nada então me sirvo de água e continuo minha leitura e anotações, escuto um barulho e logo vejo um Tyler bem aborrecido entrando na minha cozinha e indo direto na geladeira sem nem olhar em volta ou falar comigo. Não demora muito o escuto reclamar com a cara enfiada lá dentro.

– Não tem nada para comer nessa casa?

– Oi maninho, estou bem sim já que perguntou, e você como está? Mas é claro fique à vontade para fuçar minha geladeira vazia e ignorar a minha existência. – Respondo ironicamente e ele faz cara de magoado. Deveria ser ator e não cantor essa porra, o pé no drama já tem.

– Gêmea do mal eu realmente não estou para brincadeiras hoje. – Ele responde fechando a porta da geladeira e se sentando ao meu lado na cadeira da bancada da cozinha. – E você não me respondeu.

– Eu não como em casa só no hospital ou na casa dos nossos pais então não compro muita coisa.

– Não compra nada né? Só tem água e um pedaço de bolo que já está ali a anos.

– Deixa de ser exagerado eu me mudei esses dias. – Largo meus papéis e os organizo para ler mais tarde já que meu irmão não parece estar disposto a ir embora.

– Há quanto tempo aquele bolo está ali então? – Ele pergunta levantando uma das sobrancelhas com um sorriso debochado.

– Eu sei lá! Nem sabia que tinha bolo lá dentro. – Digo por fim.

– Eu imaginei que não sabia mesmo. O que você está fazendo em casa?

– Não me deixaram ficar no hospital, tive que vir para casa. – Dou um longo suspiro cansado.

– Por quê?

– Extrapolei as horas de plantão.

– Quantas horas extrapoladas?

– Meio que o triplo do permitido. – Falo baixinho.

– Meu Deus, quantas vezes veio para casa essa semana?

– Nenhuma? – Lanço a pergunta/resposta me encolhendo um pouco dando meu sorriso de quem quer perdão.

– Céus Trisha! Você vai ficar doente. – Ele passa a mão no cabelo tirando alguns fios da testa. – Você tem dormido pelo menos?

– Às vezes.

– Como assim?

– Quando estou exausta a ponto de desmaiar eu durmo.

– Você está louca! O que quer com isso? Se matar?

– Olha Ty, eu só não quero ter que pensar... Não quero ter que lembrar... Não quero ter que sentir... Aí me enfio no trabalho jogando toda minha energia nas minhas crianças. – Desabafo já sentindo meus olhos ardendo com as lágrimas contidas.

– E com isso está se transformando em uma máquina?

– Se o meu sofrimento puder salvar aquelas crianças eu vou sim. Tudo o que eu puder fazer para que a vida delas seja salva eu vou fazer. – Digo por fim e me levanto. – Olha, eu estou cansada e nem sei ainda o que você veio fazer aqui.

– Eu vim comer, mas aqui não tem nada pelo que já vi, te encontrei aqui por acaso, pensei que estava trabalhando. A propósito por que não tem móveis direito aqui? Só a cozinha é completa e você nem sabe cozinhar.

– E por que não foi na casa de Miguel ou do Andrew? Lá você ia achar comida com certeza.

– Eu estava no estúdio tentando compor algo e fiquei com fome, aqui era mais perto. Você não me respondeu, por que não tem móveis decentes nesse apartamento?

– Eu nem fico aqui Tyler, tenho o que preciso, coisas na cozinha que as meninas colocaram, uma cama e roupas no closet, um sofá que nem vou sentar e uma televisão que não vou assistir, enfim...  – Mostro meu celular para ele. – Sabe que hoje em dia existe delivery de comida né? Então não preciso saber cozinhar e você poderia ter ido para a sua casa.

– Eu sei, mas não queria ficar mais lá no estúdio e nem sozinho na minha casa, só saí andando irritado e frustrado demais para pensar direito. – Ele passa as mãos na cabeça bagunçando ainda mais o cabelo loiro. – Não sai nada maninha, absolutamente nada, nem uma mísera rima, estou travado a meses.

– Já tentou fazer terapia? As vezes te ajuda com esse bloqueio.

– Não tinha pensado nisso, talvez eu realmente deva procurar ajuda profissional, desde que eu escrevi minha primeira letra com treze anos isso nunca tinha acontecido comigo.

– Se eu puder te ajudar em alguma coisa saiba que pode contar comigo, não que eu saiba escrever músicas ou coisas do tipo.

– Obrigado, vou tentar esse negócio de terapia. – Ele pega o celular e digita algo para alguém.

– Saiu sem seguranças? – Fui ignorada, pois ele continuou digitando, só quando terminou é que me respondeu.

– Não dá para sair na rua sem ser reconhecido se eu não me disfarçar, em menos de uma quadra comecei a ser seguido por um monte de fã, seu prédio era o mais perto para vir correndo.

– Você correu até aqui?

– Mais ou menos. – O olho séria e ele ri.

– Tá bom, corri e um monte de louca correu atrás, foi bem divertido na verdade.

– Deus! Eu já saio nas colunas sociais só por ser filha do nosso pai e já fico irritada, imagina você que já tem o mesmo fardo que eu e ainda é um cantor famoso o que piora mil vezes a exposição.

– Eu gosto na maioria das vezes, mas hoje eu realmente queria um pouco de paz sabe. E eu quando estou irritado fico com fome.

– Hanna Montana de Chernobyl você sempre está com fome, não precisa ficar irritado para que isso aconteça. – Ele dá de ombros e eu começo a rir de sua cara de sacana.

– Vamos pedir algo? Depois você vai descansar.

– Ok mamãe. Vamos pedir um japa.

– E um vinho. – Ele diz já pegando o celular.

– Pede dois, uma garrafa para cada. – Seu sorriso aumenta consideravelmente, o gato da Alice no país das maravilhas ficaria com inveja.

– Vamos estrear sua sala vazia. – Ele se levanta num pulo.

– Deixa de ser chato! Tem sofá e TV já está ótimo.

– Tá, tá... Se você diz. – A gente chega na sala e ele se j**a no sofá já se deitando.

– Tira esse sapato sujo do meu sofá novo. – o repreendo com as mãos na cintura.

Ele mal se mexe e tira os sapatos com os pés mesmo, sorte a minha que ele não tem chulé pois ele os colocou no meu colo assim que me sentei.

A bebida foi o que chegou primeiro, mas ao invés de duas garrafas ele pediu seis, três para cada é um bom número. Corro na cozinha e depois de abrir quase todos os armários achei taças e as levei para a sala junto com o saca rolhas.

– Vamos brindar ao que? – Pergunto enquanto ele abre a primeira garrafa.

– A fossa! – olho feio para ele que ri. – que foi? Você tá aí sofrendo por um bosta, já deveria estar curtindo e experimentando bocas e camas.

– Ei!

– Que foi? É verdade.

– Eu não quero relacionamento e não estou sofrendo pelo Lucca e sim pelo que me deixei sujeitar.

– Ele te manipulava, te usava. Você não viu por que é a vítima de um relacionamento abusivo. – Ele me olha nos olhos. – A culpa não é sua e nunca vai ser. Você se livrou! Você sobreviveu, agora é partir para a caça.

– Já falei que não quero relacionamento.

– Quem falou em relacionamento? Pega e não se apega, é assim que tem que ser. Segue o pai aqui que é sucesso.

– Tá bom pai, vou pensar sobre isso.

– Já passou um ano, deve estar virgem de novo.

– CALA A BOCA IDIOTA! – Grito rindo enquanto ele gargalhava.

– Qual é? No mínimo está com teias e aranhas aí.

– Para que inimigo né? Já tenho você para acabar comigo.

– É eu sei e nem precisa me agradecer. – Ele levanta uma das mãos. – Toca aqui gêmea do mal.

Demos o nosso soquinho e pouco tempo depois a comida chega. E te digo que meu querido irmão é exagerado, comprou comida para no mínimo cinco pessoas, isso se pensarmos em pessoas comuns como eu, já ele que come como se tivesse ficado amarrado por dias ou semanas talvez seja pouco... Começamos a beber e comer assistindo clipes de músicas na televisão.

Na quarta garrafa nós dois já estávamos fazendo duetos das músicas que estavam tocando em pé no sofá, tá bom... estávamos gritando as músicas e pulando no sofá.

Na quinta garrafa ele chorava porque quebrei o seu caminhão de madeira favorito na cabeça dele quando éramos crianças, a propósito meu apelido de gêmea do mal veio daí, muito desnecessário ele nem precisou ficar muito tempo no hospital.

O que eu posso fazer, ele estava me irritando e eu usei o que estava mais perto para bater nele. Fiquei de castigo um mês, um mês inteiro sem sobremesa, uma grande injustiça. Nós tínhamos sete anos e pelo visto ele não tinha esquecido e nem perdoado.

Um homem desse tamanho fazendo drama.

Na sexta garrafa mal aguentávamos ficar de pé, mas eu estava bem o suficiente para falar do meu chefe bonito e gostoso, o pior é que se estivéssemos em condições de andar teríamos ido lá no apartamento dele para Tyler "arranjar" ele para mim, como fazíamos na adolescência. Vou agradecer por não andar de tão bêbados amanhã.

Não preciso nem dizer que ressaca de vinho é a pior que existe.

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