Química bandida
Química bandida
Por: Laila neves
Capítulo 1

LIS

O som alto do baile ecoa por toda a rua enquanto subo, não há uma vez que eu suba aqui que não me arrependa depois, mas o que eu não faço por Kaylanne se sentir feliz, não tá escrito.

— Ele não vai ficar sabendo de nada, fica tranquila mona. Que medo é esse? — ela pergunta com a maior cara de sonsa do mundo, andando ao meu lado.

— Vitor nem sonha que estou aqui, se ele contar pra minha mãe, estou fudida. — ela cutuca meu ombro quando duas motos passam, eu desvio o olhar para o segundo, mas ele me encara de uma tal forma, que eu trato logo de virar o rosto — tu viu aquele fuzil? Bobear é mais alto que eu, pelo amor de Deus, Kaylanne.

— Eu nunca vi uma bicha tão medrosa quanto tu, relaxa. — ela troca a mochila de ombro, enquanto o homem não para de me encarar — O que tu disse pra sua mãe?

— Falei que vinha estudar, então nada de fotinha e nem storie. — estalo a língua no céu da boca, a noite vai ser longa, é isso não é nem o começo.

Eu quebro a esquina da casa de Kaylanne com ela, tentando lembrar o que foi que ela me disse para me convencer a ir ao baile com ela, eu namoro, tenho pais super protetor, meu Deus. Parece que o errado sempre me chama e eu estou aqui, mais uma vez.

— Se Vitor...

— Aí, Lis! — ela me interrompe — para de falar nesse menino chato!

— Um dia quero que me conte por que odeia meu namorado! — cruzo os braços na altura do peito, ouvindo os roncos das motos que passam por nós, sempre nós encarando.

— Compartilhamos do mesmo sentimento, ele não gosta de mim e eu menos ainda dele, simples. — ela me olha debochada e sorri.

— Ele nunca disse que não gostava de você.

— Porque ele é um sonso, pelo amor de Deus Lis, ele chupa seu peitinho quando te beija?

— Kaylanne!

— Ah, me erra. Com aquela cara de sonso que ele tem, deve nem saber te beijar. — ela destranca o portão da casa grintando pela mãe — termina com ele logo, você nem gosta dele.

— Eu gosto sim! — afirmo.

— Gosta, igual eu gosto de estudar. Só vou por que sou obrigada, mesma coisa esse teu namoro aí. — ela puxa meu braço como se eu fosse uma boneca de pano — vem, quero te deixar toda bonitinha pra ir curtir um baile.

Kaylanne é o tipo de pessoa que sempre diz, doa em quem doer, desde que não doa nela, tudo de boa, sem papas na língua, soltando tudo que quer falar sem se importar, e eu gosto disso nela, apesar de tudo.

Estamos no último ano do ensino médio, apesar de eu ter a conhecido no ano passado, nossa amizade é como se fosse de muitos anos atrás, aquela verdadeira conexão que ninguém é capaz de romper.

Estudamos pela manhã, a tarde faço balé e a noite, ela vive tentando me arrastar para toda e qualquer festa que rola onde ela mora.

Eu moro no asfalto, mas não, não sou rica ou coisa assim, temos uma condição de vida razoável, mas dizer que eu amaria morar aqui pela comunidade, seria cômico demais, minha mãe surtaria só de imaginar ou pensar em morar aqui.

Ela ama a Kaylanne, mas odeia que eu venha aqui, então sempre tenho que tá arrumando alguma desculpa, ou quando ela tem que viajar e passar alguns dias foras, e eu tenho que comprar meu irmão de 19 anos para não me dedurar para ela, por que tá pra nascer um homem mais fofoqueiro que ele.

Já meu pai, mora em Pernambuco com minha querida e amada madrasta e seu time de futebol de filhos, que eu nem sequer conheço, são meus irmãos também, mas eu nunca nem falei com eles.

A boa notícia é que eu não tenho um padrasto, por que ouvir uma mulher que mora lá no quinto dos inferno se metendo na minha vida como se fosse minha mãe, já é demais. E ter uma macho dentro de casa achando que é meu pai, eu surtaria, já não basta meu irmão achar que é meu guarda-costas pessoal.

Já o Vitor, ele tem 18 anos, namoramos desde meus 15 anos. Mas cassete, ele é o tipo nerdzinho que só vive em função do computador, que falta pouco pedir aquela merda em casamento, se não fosse por mim em sua vida.

Já minha amiga, colocaria ele em foguete pra lua, sem volta, se fosse possível. Os dois não se bicam, ou melhor, ela não bica com ele, por que ele nem percebe o quanto ela o odeia. E eu, finjo demência na mesma intensidade dele.

— Mãe, a Lis vai dormir aqui. — Kaylanne avisa aos gritos, tão escandalosa — vamos ao baile.

— Oi, Lis! — ouço ela gritar lá do quarto.

— Oi, tia. Tudo bem? — respondo.

— Estou bem, meu amor. Fique a vontade!

— Obrigada!

Eu entro no quarto de Kaylanne, vendo a bagunça de roupa em cima de sua cama, sabendo que ela tentaria de qualquer forma me enviar dentro desses seus minúsculos shortinhos, que ela sempre usa.

Dito e feito, ele j**a um short em meu colo e eu pego aquele pedaço de pano negando com a cabeça.

— Eu não vou usar isso!

— Vai sim! — ela roda o quarto vindo em minha direção com um croped, que se eu levantar os braços, meus peitos pulam pra fora — colocar essa raba pra jogo, só volto pra casa quando amanhecer.

— Você quer que eu vá pelada, é isso? — pergunto e ela me olha com a maior cara de sonsa.

— Sim!

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