capítulo 3
Depois de um mês em recuperação, Renzo foi buscar Juliana na ala de tratamento.

A sala estava cheia. Amigos e parentes dela se amontoavam ali, e quando viram Renzo chegar, os olhos brilharam de empolgação.

— É o alfa do Clã Garra da Cinzelume! É ele mesmo, o alfa!

— Ele se importa tanto com a Juliana, chegou até antes da hora.

— Quando será que ela vai virar luna? Tô ansiosa demais por esse dia!

Juliana, toda corada, pediu que parassem:

— Gente, quietos. — Murmurou, lançando um olhar a Renzo. — Ele já tem uma luna. Se ela ouvir essas coisas, vai acabar se irritando comigo de novo.

Um dos lobos presentes torceu os lábios, cheio de desdém:

— Ai, Juliana, você é boa demais. Se aquela mulher não tivesse se enfiado no meio, você já era nossa luna há muito tempo.

— O Renzo sempre te amou. A intrusa foi ela.

— Ela te ataca há tanto tempo e até agora não desistiu! Aquela aí nunca teve postura de luna. É mesquinha, insegura e totalmente inadequada!

Ao ouvir aquilo, senti vontade de rir de tão absurdo que era.

Foi o Renzo quem me procurou primeiro, quando descobriu que eu era sua companheira. Foi ele quem insistiu pra sermos marcados. E foi ele quem me pediu pra ser sua luna.

Se eu cometi um erro, talvez tenha sido amar esse homem.

Renzo, que tinha toda a obrigação de esclarecer as coisas, não disse nada. Ficou em silêncio, deixando as mentiras se espalharem como erva daninha.

Estava ocupado ajudando Juliana a arrumar suas coisas, tentando parecer um macho confiável. Nunca fez isso por mim.

Depois da cerimônia de marcação, Renzo vivia dizendo que me amava. Mas nunca demonstrava esse amor nas atitudes.

Eu dizia pra mim mesma que, quando o perigo aparecesse, ele estaria ao meu lado. Que aí, ele mostraria o verdadeiro vínculo entre nós.

Agora eu entendia: ele nunca ia me proteger.

Porque ele era o próprio perigo.

— Alfa, todo esse tempo, Juliana nunca aceitou se marcar com ninguém. Você sabe por quê, né? — Disse um lobo, piscando pra Renzo, como se quisesse que a marcação acontecesse ali mesmo, diante de todos.

Renzo não respondeu.

Mas eu sabia. Lá no fundo, ele devia concordar com tudo aquilo. Só não tinha coragem de admitir.

Renzo levou Juliana para uma de suas residências privadas.

Eu nem sabia ao certo quando isso começou, mas com o tempo ele passou a ter várias casas dentro do território e sempre que a gente brigava, batendo a porta na minha cara ele se trancava em uma delas.

Eu nunca entrei em nenhum desses lugares. Juliana, por outro lado, entrou como se sempre tivesse pertencido ali.

Renzo sempre quebrava as próprias regras por ela. Ela era o verdadeiro amor da vida dele. Eu já devia ter enxergado isso há muito tempo.

Enquanto ele arrumava a cama, Juliana se aproximou por trás e o abraçou pelas costas.

Encostou o rosto no dorso dele com carinho, como quem vivia um romance recém-nascido com seu alfa.

Eles ainda lembravam que eu existia? Que eu era a luna dele?

Renzo se mexeu um pouco, tentando se afastar, com um gesto hesitante.

Mas Juliana o apertou com mais força e disse, com doçura:

— Renzo, eu sei que você ainda guarda mágoa por eu ter ido embora, mas eu tinha meus motivos.

— Minha mãe sempre teve a saúde frágil. Aquele velho alfa ameaçou a vida dela pra me obrigar a obedecer. Eu não tinha saída.

— Mesmo depois de ceder, eu nunca aceitei ser marcada por ele. Meu coração sempre foi seu. Por favor, me perdoa.

Juliana falava com uma tristeza tão bem ensaiada que parecia ter sido tirada de uma tragédia antiga. Uma mártir doce e valente, vítima do destino cruel.

Seria isso que ainda mantinha Renzo preso a ela?

Renzo deu um sorriso leve e respondeu, com uma calma desconcertante:

— É mesmo? E eu achando que você preferiu o alfa do outro clã, porque ele era mais forte. E por isso nem cogitou pedir minha ajuda. Só foi embora.

Juliana se engasgou, pega de surpresa. Mas era esperta.

Sabia que, mudando de assunto e falando de mim, Renzo esqueceria tudo na hora. Ele já mostrava, diante de todos, o quanto estava farto de mim.

Com a voz embargada, ela disse:

— Entendi. Então é isso que você pensa de mim. Você me odeia. E por isso deixou a Liana me humilhar.

— Mesmo que ela tenha tentado me entregar pra matilha de lobos renegados... — Disse Juliana, com os olhos marejados de dor — mesmo que ela tenha escondido o antídoto enquanto eu estava doente, só pra me ver morrer, você não se importou, não é?

— Se essa é sua forma de se vingar de mim, parabéns, conseguiu. Meu peito tá doendo tanto que mal consigo ficar de pé.

Mentiras. Cada palavra dela era uma mentira calculada.

Eu passava meus dias ocupada com as tarefas de luna no clã. Não tinha contatos fora, muito menos acesso a dinheiro pra negociar com lobos errantes.

E o motivo pelo qual não entreguei o antídoto era simples. Eu também precisava dele. Era a minha vida em risco.

Não era egoísmo. Era instinto de sobrevivência. Eu jamais tive o tipo de pureza que sacrifica a si mesma por alguém como Juliana.

Ela não tinha nenhuma prova do que dizia. Bastava uma investigação séria e tudo seria esclarecido. Eu estaria limpa.

Mas Renzo, ele sempre acreditou nessas farsas baratas.

E não, ele não era indiferente a Juliana.

Assim que ela despejou essas mentiras no ouvido dele, ele convocou uma reunião de clã. Me colocou diante de todos — betas, omegas — e me julgou publicamente.

Disse que eu era cruel como uma serpente, venenosa por dentro, autora de crimes imperdoáveis.

Depois disso, ele mesmo entrou em contato com os lobos errantes. Deixou que me arrastassem pra uma floresta isolada, onde me atacaram e me humilharam.

Do alto de uma rocha, Renzo observava tudo com frieza. Me viu nua, sangrando em forma de loba, e ainda teve coragem de rir.

Apontou as cicatrizes no meu corpo e disse:

— Isso é a marca da sua traição. Se você ousar tocar na Juliana de novo, eu conto tudo isso pra cada lobo que você já conheceu.

Caída no chão, em prantos, gritei que era inocente. Perguntei por quê, por que meu alfa faria isso comigo?

Mas pra ele, minhas palavras não passavam de vento. Ele não queria verdade. Queria punição.

E o mais cruel era que Juliana não sabia de nada. Renzo nunca contou. Por isso ela ainda podia bancar a vítima.

O que ele queria com isso? Ser o herói calado que protege Juliana nas sombras?

Mas o que eu realmente não entendia era: se ele nunca me amou, por que me marcou? Por que me fez sua luna?

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