Ao mencionar o nome de Frederico Pires, a voz de Vanessa Rocha, sem perceber, ficou mais baixa:
— Daqui a uma semana, resolvo tudo por aqui.
Depois de conversar mais um pouco, Vanessa desligou, guardou o celular e voltou para o salão reservado.
O ambiente estava repleto de gente, o burburinho era intenso. No instante em que ela empurrou a porta e entrou, as conversas cessaram por um breve momento, mas ela agiu como se nada tivesse percebido e foi diretamente se sentar ao lado de Frederico.
Ele lhe lançou um olhar de soslaio, desviando parte da atenção do papo animado para ela e comentou, com aquele seu ar despreocupado e preguiçoso:
— Amor, que ligação foi essa tão demorada?
Antes mesmo que Vanessa respondesse, outra voz se apressou em cortar o silêncio. Não havia um francês sequer no ambiente, e ainda assim um dos presentes disparou em francês:
— Fred, quando é que você e Amanda vão se casar, afinal?
Na mesma hora, Vanessa apertou o copo, os dedos ficaram brancos de tanta força. Frederico continuava tranquilo, lhe lançou um olhar antes de responder em francês:
— O casamento está marcado para daqui a quinze dias, minha família que decidiu a data.
Todos imediatamente se viraram para Vanessa.
Um dos amigos, levantando as sobrancelhas com curiosidade, comentou num tom provocativo:
— Mas se você vai casar com a Amanda, o que vai fazer com a Vanessa? Vão terminar?
— Não. — Frederico balançou lentamente a cabeça enquanto girava o vinho no copo, bebendo com calma antes de prosseguir. — O casamento é só para agradar à família. A única que eu gosto mesmo é a Vanessa.
A declaração arrancou uma gargalhada geral, e logo o ambiente se encheu de piadas e provocações:
— Fred, quem diria que você é desses apaixonados? Com tanta diferença entre vocês, está levando isso a sério mesmo, hein?
Frederico se virou de novo para Vanessa. No olhar dele havia tanta ternura e paixão que parecia impossível de dissipar. Nenhum som saiu dos lábios, mas ele disse tudo com aquele olhar.
Alguém, admirado com aquela expressão devotada, provocou ainda mais:
— Acho que é amor de verdade, viu... Mas será que ela realmente não entende francês?
O comentário foi jogado ao vento, mas não demorou para que outros rissem, entrando na brincadeira:
— A família da Vanessa não tem grana para curso de idioma. Relaxa, pode falar qualquer coisa, duvido que ela entenda um pio.
As piadas atravessavam o salão como flechas, mas ninguém reparava na mudança sutil no respirar de Vanessa, nem no modo trêmulo com que ela apertava a taça, os nós dos dedos pálidos.
Ninguém imaginava que ela, na verdade, dominava o francês.
Afinal, Vanessa nunca era uma simples Cinderela. Na realidade, era a filha única do homem mais rico do país.
Durante cinco anos de namoro, Frederico a mimou ao extremo, exceto pelo fato de nunca a apresentar à família. No início, Vanessa acreditou que era por causa da diferença de status. A família Pires era lendária em Oeiras, quase uma dinastia.
Por isso, ela havia feito planos desde o início e planejava confessar sua identidade a ele: ela era, na verdade, a única filha do homem mais rico, mas não queria viver sob a proteção de seus pais para sempre, então decidiu esconder sua identidade e sair para ganhar experiência.
O destino, porém, prega as suas peças. Três dias antes, ela encontrou um convite de casamento sobre a mesa do escritório dele.
A noiva era Amanda Fonseca, filha da família Fonseca. E o noivo, inacreditavelmente, era Frederico.
Descobriu, então, que enquanto ele lhe sussurrava palavras doces ao ouvido, já havia aceitado o casamento arranjado pela família.
Enquanto a mimava, Frederico organizava o casamento perfeito com a moça certa aos olhos dos pais.
Naquele instante, Vanessa percebeu que não valia a pena dizer mais nada.
Agora seguiram caminhos bem distintos. Ele seguiria com o casamento, ela assumiria os negócios da família, ambos prontos para um futuro brilhante, mas separados.
Depois de alguns brindes e boas risadas, o grupo estava animado, mas já era tarde e era hora de encerrar a noite. Todos se despediram e Vanessa foi a última a deixar o salão. Ela tinha acabado de dar alguns passos no corredor quando ouviu alguém atrás dela, chamando com uma voz desconhecida:
— Srta. Vanessa!