Parte lll

Em nosso quarto, Elisa parecia pensativa como, se algo a estivesse incomodando. Perguntei-lhe o que estava acontecendo, demorou um pouco para que me respondesse.

_Li o bilhete que a Marli escreveu pra você, _Droga, o bilhete! Eu deveria ter destruído o pedaço de papel, mas... _acho que sei o motivo da depressão de nossa amiga. Expliquei a ela que minha avó havia encontrado o bilhete no corredor e entregou-me com a mesma observação que acabara de fazer. Elisa me deu um abraço e me beijou no lado esquerdo do rosto. Pegando um dos seus comprimidos me ofereceu um, eu aceitei. Elisa passou sua mão esquerda em meu rosto e disse:

_Não se preocupe, sei que nossa amiga está doente. O que me preocupa mesmo é o fato de ter sido o Douglas quem achou o bilhete na sala de leitura. Como ele simplesmente me entregou, sem nada dizer, pensei que fosse pra mim, então eu o li.

Sim, fora Douglas quem viu minha avó achando o bilhete no chão do corredor. Lembrei-me de o ter visto pegando algo sobre a poltrona na sala de leitura e guardando-o em seu bolso. Na verdade, era o bilhete que ele achara. Apesar de preocupado, dormi como uma pedra. Só fui acordar no dia seguinte devido ao barulho que faziam no corredor. Levantei-me a muito custo para saber o que estava acontecendo. Quem estaria fazendo aquele barulho infernal? Quando abri a porta Elisa apareceu. Eu nem sequer havia percebido que estava sozinho no quarto. Ela parecia assustada, estava ofegante e muito pálida.

_Marcos, já faz tempo que estamos chamando sua avó e até agora ela não respondeu ao nosso chamado.

_Mas por que a estão chamando a está hora? _Perguntei meio contrariado.

_Acontece que sua avó sempre foi a primeira a se levantar, só que hoje ela ainda não deu as caras pra fora do quarto.

Comecei a ficar preocupado. Cheguei em frente à porta de seu quarto e dei três batidas fortes. Não obtive resposta. Não sei se por instinto, medo, ou seja, lá o que for, resolvi arrombar a porta. Por um acaso vocês acreditam em coincidência? Naquele dia eu acreditei.

Sobre sua cama estava minha avó. Deitada de barriga para cima e com o rosto virado em direção à porta. Aproximei-me e levei um susto ao vê-la toda manchada de sangue que parecia ter escorrido de seu peito. Fiquei um pouco tonto, se não fosse Elisa me segurar com certeza eu cairia ali mesmo. Mas me recuperei ao ouvir o grito que ela soltou enquanto segurava meu braço. Eu não sabia o que fazer. O cheiro de sangue era muito forte. Minha avó não respirava mais, estava morta. 

Douglas tomara todas as providências cabíveis. Ligara para seu pai e até para o nosso ilustre visitante da noite anterior, que compareceu logo de imediato ao local. Olhei bem para seus olhos e lhe fiz uma pergunta:

_Você acha que a nossa conversa de ontem fora sugestiva? _Sua resposta não veio de imediato.

_Não... sei, talvez tenha sido. Sinceramente, ainda não sei...

Mesmo meio atordoado fiz o possível para reparar na situação do ambiente onde minha avó até a noite anterior dormia. Reparei que a janela estava aberta, apenas encostada. Não havia sinal de luta ou qualquer indício que demonstrasse bagunça. Parecia que tudo estava em seu devido lugar. Eu e um fotógrafo policial nos aproximamos da janela, e ao olharmos para o lado de fora não encontramos sinal algum que demonstrasse uma possível escalada pela parede. Sinal que quem matara minha avó não saíra ou entrara por ela, a não ser que fosse um ótimo atleta. Havia apenas marcas de lama seca no muro que ficava nos fundos da casa, provavelmente feitas por meninos que costumavam entrar no quintal para roubar goiabas ou pegar suas pipas. Douglas e as meninas estavam do lado de fora, no corredor. Resolvi me juntar a eles. Quando estava saindo do quarto reparei que em uma pequena cômoda no canto da parede havia alguns objetos como: frascos de perfumes, pó de arroz, um pequeno crucifixo de cor preta, um porta-retratos com uma fotografia em preto e branco onde estavam estampadas três pessoas; uma mulher branca e um homem negro, meus pais, ambos de baixa estatura e magros. No colo do homem uma criança, era eu na idade de dois anos de vida. Lágrimas quiseram sair de meus olhos, mas não deixei. De repente algo me chamou a atenção quando olhei para o assoalho perto da porta. Minha avó sempre fora uma pessoa muito asseada, não admitia se quer um grãozinho de pó sobre seus moveis. O chão de sua casa era impecavelmente limpo. Mas ali naquele lugar para onde eu estava olhando e com certeza vendo, havia algo fora do normal. Algo que minha avó com certeza não permitiria. Tentei usar meu raciocínio, mas confesso que não obtive êxito algum devido ao choque que havia sofrido ao encontrar uma pessoa morta dentro da casa onde eu e meus amigos estávamos hospedados. A porta do quarto era somente fechada por um trinco de ferro semelhante ao do fato relatado pelo policial na noite anterior. Reparei que o mesmo estava lubrificado.

Estranhei tudo aquilo, mas preferi não dizer nada. No corredor Elisa estava abraçada à Marli. Douglas me lançou um olhar de interrogação e veio em minha direção. Ele queria saber o que estava acontecendo dentro do quarto, e se já haviam descoberto alguma coisa.

Quando me preparava para dar uma resposta ao meu amigo o policial Jorge surgiu na porta e deu uma leve tossida. Olhou profundamente para os olhos de Douglas e lhe fez uma pergunta:

_Por que o interesse? Douglas sentindo-se um tanto ofendido nos deu as costas e entrou em seu quarto trancando-se lá.

Enquanto a perícia estava sendo feita, recebemos ordens para não irmos embora até que tudo fosse apurado. Seria feito um interrogatório sobre o que havia acontecido assim que terminasse o enterro. Marli pareceu ofender-se.

_Acha que iríamos embora antes do enterro? O policial limitou-se a olhar seriamente nos olhos de minha amiga Marli.

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