Wolf - Capítulo cinco.

POV LUNA SWAN

Meu irmão se aproximou o suficiente para sussurrar ao meu ouvido.

—Não vamos nos separar de novo, não estamos mais em segurança depois do ataque à aldeia das Longhairs. Sem riscos desnecessários, irmãzinha.

Enrijeci em apreensão. Lucca me guiou até uma região quieta da floresta, permanecemos em silêncio até alcançarmos uma área segura para conversarmos com privacidade.

—Me conte o que pensa.

Me sentei na raiz de uma árvore antiga. Puxei minhas pernas até pressioná—las em meu peito.

—Nosso vilarejo é o mais próximo da aldeia destruída da raposa, não acredito em coincidências.

Meu irmão ocupou o lugar vago ao meu lado. 

—Ela foi ferida por prata banhada em acônito. Isso é usado na caça de lobos e não de Longhairs.

—Acredita que éramos o alvo?

Deitei minha cabeça no ombro de Lucca, ele cheirava a casa, a segurança e o conforto.

—Eu não sei. Odiaria ter que fugir de novo, finalmente estamos nos estabilizando aqui.

Lucca olhou para o céu sobre nossas cabeças, os pensamentos voando.

—Sinto falta de casa.

Segurei o colar pendurado ao redor do meu pescoço, o pingente era a cabeça de um lobo uivando. Lucca tinha um igual, o último presente que ganhamos dos nossos pais antes de presenciarmos o assassinato. Uma pequena lembrança afetiva do lar.

—Você é minha casa, nossa família é meu lar, não aqueles que nos caçam há anos. 

Meu irmão rompeu em um suspiro pesado, som que manifestava todo o peso e cansaço que ele suportava há anos.

—A rebelião nos quebrou, Luna.

—Os próprios lobos causaram a rebelião—não escondi a amargura em minha voz.

—Tudo era diferente antes, sabia?

—Não sinto falta de algo que não me lembro.

Lucca rodou o pingente em sua mão.

—Eles roubaram seu direito de nascença, sua herança ao assumir a matilha dos Crescentes. Eles tiraram tudo de nós, Lucca.

—E um dia eles irão pagar, eu te prometo isso. A dívida será cobrada e a justiça feita.

—Essa é uma promessa, irmão?

—É um juramento, irmã. Nós vingaremos aqueles que foram mortos injustamente.

Passei o restante da manhã e início da tarde conversando com Lucca, sendo atualizada sobre os últimos acontecimentos dos meses que passei transformada. Nada que pudesse despertar meu interesse, somente nascimentos de filhotes e casamentos de parceiros. Meu irmão foi interrompido quando Arthur nos encontrou, e o macho não parecia nada contente.

—O que houve?

Ansiedade fluía do lobo, ele se mostrava bastante inquieto.

—A raposa acordou.

Não esperei um segundo sequer antes de correr na direção de casa, subindo as escadas, pulando os degraus. Becky me xingou quando entrei rapidamente no quarto, quase causando um infarto em Melissa. Parei há alguns metros de distância da raposa, ela não se sentia segura na presença de lobos, era bem óbvio.

A Longhair estudou meu rosto, buscando uma resposta para as dúvidas em sua mente. No fundo da imensidão azul dos olhos da raposa, eu reconheci o luto e o medo que ela tentava esconder de cada um de nós, mas eu conhecia muito bem a dor que agora ela carregava no peito, a dor de ter sua família morta brutalmente, seus entes queridos sendo arrancados dos seus braços. Um tipo de dor que não diminuía com o tempo, somente se acostumava.

"Ela presenciou o massacre do próprio povo, não podemos esquecer disso."

—Quem é você?—Perguntou num sussurro, ressentida com minha presença.

—Meu nome é Luna Swan, e esse é meu irmão, Lucca—apontei para o lobo ao meu lado. 

Lucca era uma sombra ameaçadora em meus ombros, sua desconfiança não passou despercebida pela raposa. Ela não sabia o motivo pelo qual meu irmão nunca baixava a guarda perante desconhecidos.

—Vocês salvaram minha vida, obrigada—sua voz saiu fraca, sem força.

A Longhair fitou as próprias mãos retorcidas sobre suas coxas, como se não suportasse olhar em minha direção.

—O que aconteceu com seu povo?—meu irmão não foi exatamente gentil com sua pergunta.

Ela levantou o queixo, os cabelos sujos cobrindo parte do rosto ainda machucado.

—Como pode me perguntar isso, quando foi sua raça que nos atacou, lobo?

Lucca endureceu com a acusação.

—Você foi atacada por lobos?

Os olhos da Longhair dispararam em minha direção.

—Eu não entendo o motivo pelo qual salvaram minha vida.

Arthur surgiu na porta, mas se recusou a entrar no quarto, observou a Longhair com desprezo nítido em sua feição áspera. 

—Me faço a mesma pergunta.

O macho se encostou na ombreira da porta.

—Filho, por favor—pediu Melissa em voz baixa.

Dei um passo à frente e a Longhair empertigou. Não arrisquei me aproximar mais e ela se recusar a nos contar a verdade.

—Não somos os responsáveis pelo ataque à sua aldeia, vivemos em paz há meses. Estamos buscando respostas sobre os culpados e puni—los pelo que fizeram, impedindo que façam o mesmo entre outros clãs.

Os olhos da Longhair pareciam perfurar os meus.

—Como posso confiar em você? Uma loba?

—Você tem outra opção, por acaso? 

—Somos os únicos capazes de te ajudar—finalizou Lucca, controlando seu próprio gênio.

Sarah se aproximou com o bálsamo novamente e com um sorriso gentil no rosto, entregou o pequeno pote para a raposa.

—Não lutamos tanto para salvar sua vida para te matar, não faz sentido, sabia?

A raposa pegou o pote e o cheirou, as narinas dilatadas.

—É bálsamo para suas feridas, te ajudará na cicatrização.

Mesmo desconfiada, a Longhair aceitou o bálsamo, murmurando um agradecimento em voz baixa. Ela encheu o dedo da pasta fedida e levou até o ferimento em sua clavícula, sibilando pela ardência.

—Fomos atacados por um bando de lobos furiosos. Minha líder tentou acalmar a fúria daqueles animais, mas foi em vão. A matilha caçava dois irmãos nascidos em uma linhagem especial da sua raça.

Um punho envolveu meu coração.

—Os lobos nascidos desta linhagem são identificados por uma marca de lua crescente na nuca. E quando afirmamos que nunca tínhamos os visto, os lobos nos atacaram com fúria e impiedade. Eles estavam em maior número, não fomos capazes de nos protegermos. Todo meu povo foi morto injustamente, assassinados a sangue frio.

Busquei o rosto do meu irmão, avistando—o tão petrificado como eu, imóvel. Fechei as mãos em punhos, cravando minhas unhas com tanta força contra minha pele que sangue escorreu entre meus dedos e pingou no chão.

—Eles me machucaram até me deixarem inconsciente, pensaram que eu estava morta e fugiram. Depois de algumas horas vocês apareceram e salvaram minha vida.

A raposa estava certa em nos desprezar, eu não a julgava. Todo seu morto foi assassinado por minha culpa, vidas inocentes ceifadas injustamente.

Cerrei os dentes com força para controlar minhas emoções e engoli o nó em minha garganta. Não podia sucumbir.

—Você tem um nome?

Ela bateu os cílios dourados.

—Ballard.

Era definitivo. Havíamos sido encontrados depois de seis meses vivendo naquela matilha. E agora, todos estavam em constante perigo porque nossa localização foi descoberta. Meus joelhos ameaçaram falhar diante daquela ameaça.

"Não importa quem virá atrás de nós, os mataremos sem piedade. Não seremos capturadas, nunca!"

—Eu não acredito!

—Merda.

A Longhair encolheu os ombros.

—O que foi?

Uma inquietação incomum dominou meus pensamentos, minha mente se tornou um lugar barulhento, eu mal conseguia reconhecer a voz da minha própria loba. Sarah tocou meu braço com cuidado, como se notasse a agitação dentro de mim.

—Ela merece saber—falou baixinho.

—É arriscado—protestou Lucca.

—Ela não é confiável—proferiu Arthur entre dentes.

—Eu estou aqui, ouvindo vocês perfeitamente—a Longhair se manifestou.

Joguei meus cabelos para trás, esfregando o nariz. Busquei silenciar meus pensamentos agitados.

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