Catherine Fairway era uma jovem do reino de Cannehor e vivia uma vida normal na fazenda de seu pai adotivo - ou tão normal quanto seria possível quando você é capaz de controlar a natureza.Cath foi adotada por um humilde fazendeiro, Luke Fairway, aos nove anos, após ver seus pais biológicos morrerem. Apesar do trágico assassinato ter chocado todo o reino, essa lembrança e todo o resto de sua infância foram apagadas da mente da menina, e esta nunca soube de onde viera. Tudo o que sabia sobre sua antiga vida era que nascera com um dom incrível: controlar os quatro elementos. Durante oito anos, Catherine viveu pensando ser a única pessoa a carregar a magia dentro de si, mas, ao ser convidada para competir pela mão do príncipe no castelo, descobriu o quanto estava errada. O que era para ser apenas uma "competição estúpida", em sua visão, acabou por se tornar um mar de confusões e revelações. Em poucas semanas, Catherine se viu cercada de inimigos que desejavam destruí-la por algo que nem ela mesma entendia: seu passado. Seria possível que suas lembranças apagadas fossem tão perigosas? Seria possível que a história de alguém tão jovem poderia guardar tanto ódio e intriga?A menina não entendia a razão de tudo aquilo estar acontecendo, e só com o conhecimento de seu passado poderia ser capaz de derrotar todos que a ameaçavam. Não importava o quanto isso a assustasse, ela precisava descobrir o que acontecera há tantos anos."O passado pode ser assustador, minha querida, mas nada me dá mais medo do que o futuro que você está prestes a enfrentar".
Ler maisEra esta a razão da estadia dela e de sua família no castelo: assinar um acordo com a família real a fim de que juntassem sua filha com o pequeno e jovem príncipe em matrimônio, quando possuíssem idade suficiente. O acordo proporcionaria a todos muitos benefícios, principalmente na renda e no status de ambas as linhagens.
O sr. e a sra. Beaumont eram uma família nobre de Cannehor, e seu renome, respeito e fama dentre o povo provocavam na realeza certo interesse político; além disso, eram a principal opção da corte para um dia casar o príncipe com sua futura rainha. Portanto, todos acharam muito mais prático e benéfico forjar logo uma aliança através do casamento, e aqui estavam.
— Querida, não acha que vão procurar por nós eventualmente? — O sr. Beaumont perguntou.
— Ah, Simon, fique quieto. Há tanto tempo não nos divertimos! Sente-se e aproveite um pouco — ordenou a esposa em resposta, abrindo a cesta de palha.
— Está bem, Samantha. Mas eu ainda pressinto que algo dará errado.
— Você sempre acha isso, meu amor — riu. — Além disso, não há com o que se preocupar. A guarda real está a metros de distância. Se qualquer coisa acontecer, basta gritarmos. Agora, pare com esse medo irracional e vamos descansar um pouco.
Ambos sentaram-se na toalha estendida, começando a examinar a comida.
— Catherine! — Chamou seu pai. — A comida está te esperando.
— Já vou, papai.
Catherine saiu da floresta e foi até o centro da clareira, onde uma toalha xadrez de piquenique, branca e vermelha, estava posta. Sobre esta, no lado direito, encontrava-se uma cesta de palha, contendo frutas, queijos, pães e doces diversos, junto com uma garrafa de vinho e duas taças — pegas, com certeza, da cozinha real; no lado esquerdo da toalha, uma mulher morena deitava-se, olhando para o homem ao seu lado com ternura.
Os cabelos castanhos de Samantha contrastavam com seus olhos verdes, fazendo-os parecer mais escuros. O homem, por sua vez, fora o responsável por dar à Catherine os cabelos vermelhos enrolados, os quais eram acompanhados por sardas presentes em todo o seu rosto e olhos similares aos da esposa.
A menina sentou-se entre o pai e a mãe e deixou sua pequena coroa na toalha, logo atacando a cesta de doces. Enquanto comia toda a geleia de um pote, perguntou à Samantha a verdadeira razão de estarem ali.
— Hoje, mais tarde, te diremos tudo o que deseja saber, meu amor. Só tenha um pouco mais de paciência, sim?
— Tudo bem, mamãe. Mas estou curiosa.
— Eu sei, querida — disse seu pai. — Estamos ansiosos para lhe contar, mas o rei implora para que esperemos.
Catherine concordou e, após acabar de comer seu doce, arrastou-se para a beirada da toalha, ficando de costas para seus pais. Colocou a mão na grama, e moveu-a suavemente por cima das folhas. O capim, agora seco pela dureza do frio outonal, tornou-se verde lentamente sob seus dedos, adquirindo vida e cor. Quando retirou sua mão, olhou em volta, e a vida restaurada agora se estendia por toda a clareira, indo além dos limites da floresta. A menina sorriu e olhou para seus pais, a fim de compartilhar o grande avanço que estava tendo com seus poderes mágicos.
Mas, ao virar-se, ouviu um grito agudo, e o que viu chocou Catherine. O corpo inerte de seu pai estava deitado na grama, com os braços espalhados, os olhos arregalados, e a camisa clara manchada de sangue. No lugar de onde deveria ser seu coração, o cabo de uma faca estava afundado, mostrando uma pequena parte da lâmina de metal reluzente. A menina tropeçou para trás, apoiando-se nas mãos. Seguiu os olhos para sua mãe, que estava ajoelhada de costas para um homem, com uma arma de fogo pressionada em sua garganta.
A menina gritou tão alto que sua garganta ameaçou explodir, e o homem recuou. Ele usava uma roupa preta e seu rosto estava coberto com um capuz, mas era possível ver pouco de suas feições: não passava de um homem magro e muito, muito alto, com olhos negros e cheios de ódio. Catherine aproveitou seu momento de distração e tateou a grama às suas costas, procurando algo para usar como arma, e encontrou uma pedra, grande o suficiente para causar algum dano se jogada corretamente. Mas, como poderia ferir alguém, quando era apenas uma criança inocente e indefesa?
Não. Não indefesa. Tinha seus poderes, lembrou-se. E precisava usá-los, de algum modo, para salvar sua mãe. Então, atirou a pedra, mirando no rosto do rapaz, mas acabou acertando o estômago, por conta de sua altura exagerada e a evidente fraqueza da menina. Uma janela de surpresa abriu-se para ela enquanto o homem era atingido pela dor e se afastava da mulher. Catherine aproveitou, concentrando-se para fazer uma rajada de vento atingi-lo, mas só conseguiu fazer com que fosse lançado alguns metros para trás. A arma em sua mão atingiu a grama, mas não sem antes fazer uma bala acertar a cintura da mulher. A menina correu para socorrer sua mãe, que agora tossia, seus pulmões procurando por ar fresco. Uma grande mancha vermelha de sangue formava-se em sua roupa, aumentando mais a cada segundo.
Catherine moveu-se na intenção de ajudar sua mãe a se levantar, mas ela a afastou, procurando a filha com o olhar. Os olhos de Samantha refletiam seu medo e desespero, e, olhando para eles, a menina percebeu o que sua mãe queria dizer antes mesmo de abrir a boca: salve-se. Vá embora e não olhe para trás, eles diziam. Mas ela não conseguiria. Não poderia fugir e deixar sua mãe para morrer, não quando havia uma chance de salvar a ambas. Olhou para o corpo morto de seu pai, que já se tornava pálido, e lágrimas escorreram por seu rosto. Não poderia aceitar que aquilo acontecesse consigo e com Samantha.
Pelo canto do olho, viu o homem se recuperando. Sua janela de surpresa — os poucos segundos que conseguira com aquela pedra e a rajada de vento — estava se fechando. Precisava agir, e logo. Posicionou-se ao lado da mulher, pronta para carrega-la se fosse preciso, mas, ao invés de usar a filha como apoio, Samantha a abraçou, os joelhos falhando e o sangue escorrendo por seu corpo.
— Eu te amo — sussurrou ela, segurando o rosto de Catherine. — Prometa para mim... — tossiu — prometa que usará seus poderes apenas para o bem.
— Eu prometo — chorou, olhando para a ferida de sua mãe. — Eu te amo.
— Vá. Vá e não pare, por nada, não importa o que ouça.
— Perdoe-me... Eu sinto muito.
Afastou-se da mãe, limpando as lágrimas, e deu-lhe um último olhar para gravar seu rosto nas lembranças. O homem agora se rastejava na grama, com um ferimento na cabeça, procurando sua arma no chão. Os instintos de Catherine gritavam para que corresse, mas todo o seu corpo estava tenso, congelado e em choque. Fechou os olhos e levou alguns segundos para se recuperar. Não podia ficar ali. Eles estavam condenados, e, se não saísse logo daquela clareira, ela também estaria. Portanto, ficou de pé, sem olhar para frente, e fez o que seu subconsciente mandava: correu. No meio do caminho, ouviu um grito ao longe e o barulho de um tiro, mas não parou, mesmo sabendo que sua mãe havia caído, depois de muito lutar. Continuou correndo, como nunca antes, sem olhar para trás, por mais de uma hora.
Andou sem rumo até sair da floresta e esbarrar com uma plantação de vinhas, onde um homem de meia idade trabalhava, colhendo uvas e dirigindo-se à pequena casa de madeira alguns metros adiante. A casa que, agora, seria seu lar, por muito tempo.
A rainha olhou em volta, procurando seu marido no meio da multidão de convidados. A cerimônia do casamento e da coroação havia acabado, mas, apesar disso, não havia tido tempo de conversar com o rei em particular porque a festa apenas começara. Enquanto estava distraída, uma pequena criaturinha engatinhou até o seus pés e puxou seu vestido, fazendo-a olhar para baixo.Um emaranhado de cabelos castanhos e roupas macias brincava com a flor de plástico em seus sapatos brancos. As mãozinhas pequenas atrapalhavam-se com as pétalas do enfeite e, quando a rainha mexeu os pés levemente, o garotinho sentado no chão olhou para cima com grandes olhos verdes.— O que está fazendo aqui, mocinho? — perguntou ela com a voz doce, abaixando-se para pegar a criança no colo. Limpou sua bochecha suja de chocolate, arrancando dele um sorriso banguela. — Você é muito novo para andar sozinho, pequenino. Onde estão os seus papais?— Ah, você o achou! — exclamou alguém atrás dela. — Graças aos céus.O conde co
Jonathan voltou com uma bela bandeja grande de comida, alguns minutos depois que Matthew e eu encontramos a profecia sinistra. Quando percebeu nosso humor, o príncipe quis imediatamente saber o que havia nos deixado tensos. Enquanto eu comia, o conde o explicou sobre o livro e o mostrou o aviso que recebi, e John pareceu mais confuso do que jamais esteve.— Então... Não estamos livres? — perguntou, me olhando com tristeza. Deixei de lado a bandeja e me senti infinitamente mel
EanEu encarei enquanto o príncipe andava de um lado para o outro, exalando preocupação e arrependimento ao murmurar palavras sem sentido para si mesmo. Com um suspiro pesado, sentei-me no banco de pedra e encarei as árvores, desejando poder ver além da escuridão. A luz fraca da lua iluminava apenas um pouco do jardim onde estávamos, refletindo nas gotas de orvalho das flores e folhas e da grama no chão.
Era uma manhã fria. O cemitério de Darkot Village, onde os gêmeos moravam antes de se mudarem para o castelo, estava vazio com exceção de nosso grupo. Ean preferira enterrar a irmã aqui, mas sem as cerimônias e os genéricos convidados que nunca foram realmente próximos de Íris. Nós éramos tudo o que ela tinha.— Você não quer dizer nada? — perguntou o príncipe, abraçando-me por trás enquanto eu observava o guarda murmurar palavras que e
Encarei aquele sorriso diabólico por muito tempo antes de engolir em seco e focar em seus olhos. O preto em sua íris era tão profundo que despertava em mim um medo surreal. Eu desci o olhar até suas mãos, que seguravam com força os braços da minha melhor amiga.— Pela segunda vez naquele dia, eu amarrei uma bolsa com suprimentos para a viagem na sela do corcel mas, diferentemente de antes, eu não montaria em Maximus. Íris havia trazido alguns cavalos até a fazenda consigo e escolhera os mais fáceis de serem domados, o que excluía o grande garanhão branco que se tornara meu amigo. Mais CapítulosCapítulo 31
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